Estou triste. Muito triste. Destroçado, mesmo. Tenho muitos e bons amigos que ainda não me deram tempo, nem espaço para assentar, ideias, espírito, raciocínio.
Perdi o meu Herói. O meu Guia. A minha referência. O meu Orgulho. Perdi o meu PAI.
Morreu de velhice, de cansaço da vida. Eventualmente de preocupação. Deixou-me na madrugada de ontem e foi sepultado ontem, pelas 11 horas da manhã.
O desandar da roda começou no dia 26 de Dezembro passado quando, no seu passeio matinal tropeço num paralelo da calçada, mais saliente, e estatelou-se no chão sem que a minha mulher, o conseguisse amparar.
Ah! é preciso dizer que o meu Pai ia todos os dias, pelas 8H30, mais a minha mulher, tomar o seu cafezinho ao café/pastelaria, cá da terra. Não ia comigo porque eu não posso tomar café e levanto-me, geralmente, mais tarde. Passou três semanas de dores e sofrimento físico. Mas, passadas as dores mais lancinantes, veio à tona a sua força de vontade e de viver, sem dar trabalho, e voltou a pedir para ir ao café. Tudo seguia o seu curso normal, com os achaques próprios de quem tem noventa anos.
No final de Fevereiro comecei a endereçar convites aos meus familiares e amigos para que, com antecedência, programassem as suas vidas de forma a poderem estar presentes na festinha que tinha programado para os 90 anos da minha mãe, que os completa, hoje mesmo. Tinha a confirmação de cerca de sessenta pessoas e o restaurante reservado para tal conjunto de pessoas. Tudo programado ao pormenor. Com a cumplicidade do meu pai e a ignorância da minha mãe. Era para ser surpresa para ela.
A minha mãe, no passado dia 20 deste mês (Domingo), quando calçava os sapatos para irmos almoçar desequilibrou-se e caiu desamparada fracturando o colo do Fémur. Foi nesse dia hospitalizada. Disseram-me que a cirurgia iria ter lugar na quarta-feira dia 23. Assim aconteceu. Contactei familiares, amigos e o restaurante a cancelar a festinha deixando-a em suspenso para uma melhor oportunidade.
Iniciámos uma corrida diária para Castelo Branco para visitar a minha mãe que, felizmente, tinha sempre imensas visitas. E o meu pai dizia-me: "olha filho fico cansado com estas viagens, mas eu gosto muito de ir ver a tua mãe e ela também gosta muito de me ver a mim, por isso vou todos os dias.
Na quarta-feira passada, faz hoje oito dias, a minha mãe foi operada e às 12h30 temos notícia, através da minha sobrinha Ana, Terapeuta da Fala naquele Hospital, e pela prima (minha irmã, porque foi criada comigo até aos sete anos - médica de profissão em Viseu) que a cirurgia tinha corrido muito bem e a minha mãe estava bem disposta, pelo que a visita das 14H30 poderia ser normal. Mal soube a notícia disse ao meu pai que a mãe tinha sido operada e que tudo tinha corrido bem.
Quando íamos na viagem, pelas 13H20 já íamos em viagem quando o meu pai, que falava muito pausadamente, disse-me: - "filho esta noite pedi a Nosso Senhor que hoje quando chegássemos ao Hospital já encontrássemos a tua mãe operada e bem disposta. E não é que Nosso Senhor me fez este Milagre?" Dizia estas palavras com as mãos postas em sinal de oração.
Comovido, com as lágrimas a encharcar os olhos, mostrava com muitas atitudes simples como adorava a minha mãe. Fizeram em 30 de Setembro de 2010, sessenta e oito anos de casados. Nunca lhe ouvi uma altercação para além do normal. Nunca os senti zangados a sério. Viviam um para o outro, para os filhos (chamavam a tratavam a minha mulher como filha) que, sendo eu filho único, para eles era terem dois filhos (eu e a minha mulher), para as netas, para os irmãos, sobrinhos e amigos.
Num dia, depois dos beijinhos da chegada, entre os beijinhos da despedida, o meu pai meteu a mão ao bolso e retirou uma amêndoa do pacote e meteu-a na boca da minha mãe. Passava a hora e meia de visita de mão dada com a minha mãe.
Domingo, dia 27 deste mês, fomos à visita e tivemos lá muitas visitas de familiares e amigos. Estiveram lá as minhas filhas (duas netas, únicas e muito amadas) que passaram os fim-de-semana e seguiam viagem de regresso a Lisboa, pois a sua vida é lá, logo após a visita que terminou às quatro da tarde. A minha mãe pediu às netas que quando chegassem a Lisboa informassem as enfermeiras para lhe dizerem que chegaram bem. (Viajar de carro neste País é uma aventura).
Nós regressámos a casa, jantámos, ficamos a ver um bocadinho de televisão e o meu pai disse-me: "filho vou-me deitar, mas dá-me um bocadinho porque quero ir primeiro à casa de banho". Respondi: Vá pai que eu já lá vou ter consigo ao quarto. Passados um dois minutos vou ver o que se passava e já o meu pai estava no quarto a desapertar a fivela do relógio. Ajudei-o a tirar a camisa, as calças e a prepará-lo para ir para a cama. Ele tinha uma cama ortopédica hospitalar facilitadora para o deitar e levantar, segurando no suporte que permite a ajuda das mãos. Com o meu auxílio que já era hábito ajeitou-se, embrulhei-o, aconcheguei-lhe as mantas e fiz a pergunta sacramental: "Pai está bem? Fica bem? Apaga a luz ou quer que eu a apague?" Resposta: - estou bem filho podes ir deitar-te tranquilo e eu apago a luz.
Em função desta rotina diária subo ao primeiro andar onde com uma música de fundo dou seguimento à leitura de um dos livros que estou a ler neste momento, até fazer horas para eu adormecer, cerca da meia-noite. Adormeci e voltei a acordar cerca das 4H40 da manhã. Fui à casa de banho do 1º andar e, no regresso, vejo luz no rés-do-chão. Pensei: - O meu pai deve estar na casa de banho dele. Desci e vejo o quarto aberto, luz do candeeiro de cabeceira acesa e a luz da casa de banho, também acesa. Pensei que o meu pai estivesse a fazer alguma necessidade fisiológica. Tinha a porta entreaberta. Bati e chamei: Pai! Não obtive resposta. Tentei abrir a porta e senti alguma, pouca pressão. Entrei de lado e dei com o meu pai estendido no chão com a cabeça perto da porta. Chamei, tentei levantá-lo mas desisti logo porque o senti gelado. Chamei o INEM. Passado cerca de 20 minutos chegou a ambulância que confirmou a minha suspeita, o meu pai tinha falecido.
Foi sepultado ontem pelas 11 horas da manhã, dia 29.
Estou destroçado por dentro. A minha razão e a minha Fé dizem-me que o meu pai viveu feliz, morreu feliz. Não sofreu. O meu coração não aceita esta perda! Estou desesperado. Desconsolado. Angustiado. Nem sei qualificar o meu sentimento. Apenas sei que estou triste. Muito triste. Os olhos marejados e o coração apertado. Não que dizer. Não sei falar. Não sei o que dizer. Apenas que me perdoem o desabafo e aceitem as minhas desculpas por não acompanhar os vossos espaços, meus seguidores amigos.
Um abraço fraterno e muito amigo para todos.
Amigo Zé,
ResponderEliminarSei que está a sentir-se pequenino, como uma criança frágil que precisa de mimo... É assim que ficamos quando perdemos um pai ou uma mãe! Chore tudo o que tiver que chorar, pois alivia. Eu pertenço ao grupo de pessoas que choram muito pouco, e depois fico com um nó na garganta e uma pedra no peito!
Ainda bem para si, que teve um relacionamento tão estreito e amoroso com os seus pais, pois é uma dádiva que nem todos possuem.
Tente aceitar a partida dos seus ente-queridos como algo normal que faz parte da vida. É apenas uma mudança de estado.
Desejo-lhe paz de espírito!
Beijos
Ana Almeida
Perante a tua dor, nem sei que te diga, Zé.
ResponderEliminarEstes são momentos duros, em que a profunda ligação que nos une aos nossos impede a racionalidade. E talvez seja melhor assim, pois há um tempo para cantar, outro para chorar.
Tento, mas as palavras não me saem. Nem sei que te diga mais, a não ser que poderás contar comigo para o que der e vier.
Força, amigo, pois tu és um herói da estirpe do teu pai!
Um forte abraço
Os meus profundos sentimentos, Zé. Lamento, lamento muito. Um grande abraço.
ResponderEliminarBeijo, Zé!
ResponderEliminarConta comigo para o que precisares.Eu sei o que é sentirmo-nos órfãos na idade adulta.
Um abraço daqui até aí. Sente-lo? :(
Meus profundos sentimentos Zé, sei o quanto é sentir essa dor.
ResponderEliminarAna,
ResponderEliminarMuito obrigado pelo carinho e amizade. Preciso muito de vós. Vou ver se posso ir, a pouco e pouco, retomando o contacto.
Beijinhos
Caldeira
Agostinho companheiro,
ResponderEliminarEu sei que posso contar contigo e preciso muito.
Vamos juntar as nossas forças. Muito obrigado pelo tua amizade.
Grande abraço
Caldeira
Catarina,
ResponderEliminarMuito obrigado pela solidariedade.
Grande abraço amigo.
Caldeira
Em@,
ResponderEliminarSinto o abraço. Preciso muito dele. Agradeço-te o carinho e a amizade.
Beijinhos
Caldeira
Arnoldo
ResponderEliminarOs meus agradecimentos pela amizade. Preciso dela para superar a dor.
Grande abraço.
Caldeira
Zé,
ResponderEliminarA perda, a partida de alguém far-nos-á sempre sofrer... Fica-nos um vazio tão cheio de dor que nos conduz a uma inqualificável tristeza. São momentos muito difíceis, dolorosos, muito tristes...
Dar tempo ao tempo, preencher esse vazio com os momentos ternos que viveu com seu pai, com o seu herói... nem sei das palavras em momentos como este.
Saiba que lhe desejo a si e aos seus familiares muita força... lamento muito e deixo-lhe os meus profundos sentimentos.
Um enorme abraço, beijinhos plenos de muito carinho.
Felizes os que a Morte encontra amados até ao fim!
ResponderEliminarJunto-me ao seu sofrimento pela perda daquele que foi/é/será o seu Modelo.
Já perdi o meu e sei pelo que está a passar. Sentidas condolências com a minha solidariedade fraterna. Que estendo a sua Mãe, a quem o seu Pai vai fazer muita falta.
Que Deus os console e abençôe, neste momento de saudade e tristeza.
Zé,
ResponderEliminarEntrei sem bater à porta para te trazer Miguel Torga, pois tenho a certeza que gostas dele. Aqui te fica a Bucólica:
A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra duma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai erguer uma videira
Como uma mãe faz a trança à filha.
Um grande abraço
Zé, porque nestas alturas, saber-se que há alguém ao nosso lado, mesmo que em silêncio, mesmo que longe ou virtualmente falando,é importante, vim deixar-te um beijinho e um abraço daqui até aí.
ResponderEliminarDepois vai ao mail.:)
JB,
ResponderEliminarObrigado pelo carinho e pela amizade. Preciso muito desses mimos. Quando eu me refizer logo passo para estabelecer contacto.
Beijinho.
Caldeira
Amigo Serrano,
ResponderEliminarBem-Haja pela amizade e pelas palavras sábias e sensatas. Vamos tentar implorar ao nosso Deus que nos dê alento e força para superarmos esta dor.
Grande abraço
Caldeira
Agostinho,
ResponderEliminarObrigado amigo. Esolheste muito bem o poema do Torga. Entra alma dentro.
Grande abraço companheiro
Caldeira
Em@,
ResponderEliminarMuito obrigado pelo carinho. Recebi o Mail e já respondi. A vossa amizade é preciosa.
Beijinhos.
Caldeira
Zé Caldeira,
ResponderEliminarJá hoje pensei várias vezes em ti e nos teus. Está tudo bem?
Deixo-te um abraço
O pai é filho também,para sempre menino.
ResponderEliminarNão sei que dizer, deixo um abraço sentido.
Deixo outro beijo e um abraço daqui até aí,
ResponderEliminarEm@
Passando para lhe desejar muita força, tenha fé em Deus, Ele lhe ajudará nesses momentos.
ResponderEliminarZé,
ResponderEliminarSó passei para lhe deixar um grande abraço, cheio de carinho.
Força, para si e seus familiares!
Beijinhos
Zéeeeeeeeeeeeee!
ResponderEliminarabreijo.
Em@
A todos os meus amigos que passaram e deixaram mensagens quero agradecer o carinho e a amizade. Para além do falecimento do meu pai e de todas as demais contrariedades ainda tive de ser internado no passado dia 4 para fazer uma cirurgia. Parece que correu bem e estou de volta a casa. Sinto-me combalido e com poucas forças mas tenho Fé que vou resisitir. Vamos ver se consigo escrever qualquer coisas ainda hoje ou, talvez amanhã.
ResponderEliminarBeijos e abraços
Zé eu é que peço desculpa por ter estado ausente quando tu mais sofrias. Nestes momentos, tão difíceis, uma palavra pode reconfortar-nos. Apenas isso te podemos dar mas espero que tenha o dom de te roubar alguma da tristeza que sentes.Ter vivido e morrido feliz, acompanhado por ti já foi muito bom. Há tantos velhinhos que morrem sozinhos, sem amor!!! Conseguirás descobrir que a morte pode até ser uma dádiva, já que permite-nos ter o descanso eterno. Um dia vocês vão-se reunir e poderás estar com ele novamente. Beijinhos e espero que estejas melhor.
ResponderEliminarBrown Eyes,
ResponderEliminarMuito obrigado pelo carinho e amizade. Peço desculpa só hoje ter passado por aqui e não ter visitado o vosso espaço. A cabeça ainda não funciona e o físico também não ajuda.
Beijinhos
Caldeira