PANDEMIA!
Em tempos de pandemia este
interior profundo tem sido um oásis, um paraíso, sem casos, sem aflições
excepção feita às contingências que a faixa etária elevada traz acoplada.
Desde 11 de Março que temos a
lamentar a morte, por suicídio do Ti Herculano no passado Domingo de Páscoa, o
AVC que deu ao José Tarrinha (Tan Tan) que, ainda hoje se encontra
hospitalizado com prognóstico reservado e ontem a notícia de que o Domingos Brito
(Pinta) estava infectado com o Covid-19, assintomático, em quarentena e
confinamento na habitação.
Qualquer destes episódios é de um
dramatismo incomensurável.
No primeiro caso o suicídio
leva-nos a reflectir e a questionar sobre quanto seria o desespero para um
homem com mais de noventa anos se suicidar por enforcamento. Quanta dor física
e, porventura, espiritual deve ter assolado uma pessoa que era afável com toda
a gente, vivia confortavelmente com a sua esposa de uma vida e que, aos olhos
de todo o povo não teria razões para ter tomado tão drástica decisão. Acresce
que, sozinho, preparou na sua adega todo o artefacto necessário ao
enforcamento. Forte dor desespero, solidão. Só pode ter sido.
No segundo caso é um
acontecimento próprio de um território desertificado. Não se vê ninguém, nem no
povo, nem no campo. Está tudo velho e, consequentemente rareiam os contactos. O
Zé foi para o campo sozinho. A sua esposa foi para a França para consultas e
outras actividades relacionadas com filhos e netos. Ninguém teve conhecimento
de que o Zé tinha ido trabalhar para o campo. Ninguém se apercebeu que faltou
em casa para almoçar. Ninguém deu conta de que poderia estar a passar-se algo
de anormal mas estava. Segundo se sabe por indicações clínicas deu-lhe um AVC logo
pela manhã (nove horas) e esteve incontactável até ao anoitecer. Foram os
filhos de França que ao fim do dia, desesperados por terem feito imensas
chamadas não respondidas para o telemóvel do pai que decidiram telefonar a uma
vizinha para tentarem saber o que se passava. A vizinha procurou no terreno
onde sabia ser habitual o Zé ir com as ovelhas e deu com ele inconsciente e
semi-paralisado do lado esquerdo. Chamou o INEM que o conduziu ao Hospital da
Covilhã onde ficou internado desde há 15 dias.
Desespero é o da mulher e dos
filhos que tiveram que pedir um documento ao Hospital para os deixarem
atravessar as fronteiras de França, Espanha e Portugal que estavam e estão
fechadas, devido à pandemia e agora são confrontados com o impedimento de
visitar o seu doente. Apenas sabem dele através do telefone o que não é muito
confortável mas, a segurança profiláctica assim o exige, Um problema
complicado.
Ontem aparece a notícia de que
havia um caso Covid-19 no concelho de Penamacor o que deixou toda a gente em alvoroço.
Nunca se pensou ser possível. Era já noite quando se soube que o caso reportado
era da Meimoa. Bastante mais tarde soube-se quem era.O Domingos é um doente com
outras co morbilidades que tem tudo para um desfecho trágico. Tem graves
problemas pulmonares, prostáticos, asma, psoríase entre outras.
Está confinado em casa mas não
tem ninguém que o apoie. Vive sozinho. Só tem contactos com uma irmã que vive
na Covilhã. Não sabe dos filhos nem dos netos. É viúvo. É um praticante da
seita religiosa Jeová. Não se lhe conhecem pessoas de suporte. Não é assistido
pelo Centro de Dia, por escolha própria. Não tem nenhum parente próximo que
viva nesta aldeia. Só convive, pouco, com um pequeno grupo de ex-emigrantes que
jogam a “petanca”. Este grupo vai fazer hoje, segundo se consta, o teste ao
Covid-19. Espero que não seja mais uma desgraça.
28 de Maio de 2020.
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