A OCASIÃO…
Os aforismos populares, por vezes, são isso mesmo, aforismos
populares. De tão sintéticos que querem ser tornam-se pouco profundos, pouco
objectivos, pouco certeiros.
Há dias li, ou ouvi, já não me lembro bem, esta preciosidade:
“a ocasião faz o ladrão”. É por demais conhecido este provérbio, mas a sua
explicação é que me demonstrou como isto não é bem assim. Dizia-se, e eu
concordo plenamente, que é falsa a questão. Não é a ocasião que faz o ladrão,
mas é o ladrão que está sempre à espreita da ocasião para efectuar o furto.
Só quem tem espírito de ladrão é que, mal surja a mais ínfima
oportunidade, rouba, porque, quem é sério, pode ter mil oportunidades, mil
ocasiões, que não se apropria do que não é seu.
Felizmente há muita boa gente, por este mundo fora, que já teve
oportunidades de enriquecer ilicitamente, porque a ocasião era propícia, porque
estavam reunidas as condições para executar o roubo sem consequências e, mesmo
assim, não se apropriou de um tostão, enquanto outros viveram e vivem em
constante procura da ocasião para roubar e, à mínima possibilidade,
concretizaram esse roubo.
Eles são desfalques em empresas, em bancos, em organismos
públicos ou, mesmo, bens públicos, desde dinheiro, a poder, desde bens móveis a
bens imóveis, de um gigantesco prédio, ao logradouro público, da parede do
vizinho a um simples caminho vicinal.
Por isso mesmo, muitos são apanhados na teia da justiça e são
apelidados e bem, de ladrões.
De forma simples ficamos então a saber, que não é a ocasião
que faz o ladrão, mas o ladrão procura a ocasião, precisamente porque é,
intrinsecamente, ladrão.
Se olharmos à nossa volta é o que mais vemos, gente que não
se recomenda, porque nem sequer escolhem a ocasião, aproveitam-nas todas para
consumar o seu instinto de bandido, de ladrão e, normalmente, não é o
zé-ninguém, o pilha-galinhas, é o aparente e sofisticado senhor, ou senhora –
aqui o género é irrelevante - muito respeitado.
12/11/2022
Zé Rainho
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