Em tempos - Setembro de 2009 - lembrei-me de escolher para um blogue, em regime experimental, o título de "Escandinavo". Saiu o que se segue e agora quero partilhar com os meus seguidores:
Não sei o que me deu ao escolher este nome para o blogue. Eu que nem gosto de frio e adoro calor e praias de águas cálidas. Lembrar-me da Escandinávia deve haver aqui alguma dose de loucura ou, pelo menos, de senilidade.
Mas já está, já está. E não vale a pena a gente aprofundar muito as coisas. Incomodarmo-nos à procura de justificação para todas as coisas é uma chatice. E há muitas que não merecem o tempo nem o incómodo de reflectir sobre elas.
Hoje está um daqueles dias de domingo que não me apetece fazer nada. Se calhar estou melancólico porque a minha Raquel saiu há pouco, para ir para Évora, depois de passar pouco mais do que um dia e meio ao pé de nós.
Cada um tem a sua vida e ela tem de tratar da sua. Por isso calcorreia estas estradas para nos vir ver e depois regressar ao seu trabalho.
Já agora, não sei se repararam: não falei de emprego falei de trabalho e fi-lo sem estar a meditar nas palavras. É que estas minhas filhas fazem parte dos portugueses, cada vez mais exíguos, que procuram e obtêm trabalho. A ordem do dia hoje é arranjar emprego, porque trabalho que o leve o diabo.
É uma cultura que se criou, principalmente no pós 25 de Abril de 1974, que o que era preciso era ter emprego e o dinheirinho a cair certinho ao fim do mês. O trabalho já não interessava a não ser ao patronato, quer ele fosse um magnata, quer fosse um pequeno empregador de meia dúzia de pessoas. Os direitos "inalienáveis" dos trabalhadores conquistados com o 25 de Abril era para usufruir à tripa forra.
Sem saudosismo, mas com saudade da responsabilização, do direito e da ética dos valores Sociais que nos foram transmitidos pelos nossos maiores de que "sem trabalho não há nada" vejo esta cultura conduzir-nos a lado nenhum. Cada vez estamos pior. Cada vez temos uma classe média mais empobrecida. Cada vez temos jovens mais desalentados e sem esperança no futuro. Cada vez temos idosos que toda a sua vida labutaram para fazer deste País uma Pátria onde valesse a pena viver, abandonados em lares miseráveis de condições sub-humanas ou em casa, sozinhos, com as pensões que mal chegam para comprar os medicamentos que necessitam para continuarem a viver, e a verem que cada vez sobra menos para comerem refeições de jeito ou comprarem um trapito para se agasalharem.
Se calhar, este último parágrafo deu-me a explicação para o termo que escolhi para o blogue. É que na Dinamarca, na Noruega, na Holanda, na Finlândia estas coisas não acontecem. Primeiro porque toda a gente, enquanto pode, trabalha e produz o máximo e, em contrapartida, tem uma assistência social e uma protecção na infância e na velhice.
Sabem? Eu gosto de escrever ao correr da pena. Sobre tudo e sobre nada. Despejar o que me vem à cabeça na hora. Sem manuscrito ou muito reflectir sobre o que estou a debitar para o computador. Ele é o meu confidente e aos confidentes a gente diz o que nos vem à cabeça, sem muito pensar ou discutir. Principalmente quando falamos à vontade, sem necessidade de escolher as palavras ou as frases.
Desta forma, quando não tenho ninguém com quem discutir assuntos sérios, desço até ao escritório, dirijo-me ao computador e penso que posso dizer o que me dá na gana. Talvez um dia, alguém, venha a ler estas confidências e me fique a conhecer melhor por dentro. A ler nas entrelinhas aquilo que eu sou verdadeiramente e o que penso a cada momento.
Agora me lembra antes de terminar. Pode ser que me tenha vindo à cabeça este "username" porque gosto de democracia a sério. Não me identifico com esta fantochada de democracia em que vivemos. Não suporto políticos corruptos e oportunistas que andam na política até que alcancem alguma projecção para depois se alcandorarem nas grandes empresas, públicas ou privadas, como administradores para ganharem "roubarem" uma pipa de massa e viverem à custa de quem, efectivamente trabalha e produz. Enriquecerem à custa do zé povinho "sem saberem ler nem escrever" mas que foram sempre uns "yes man" junto dos poderosos da política e depois lá vem a recompensa. Não do conhecimento; não do trabalho; não da dedicação à causa pública; não da competência; não da honestidade; mas sim da subserviência, de coluna vertebral, qual enguia, que ginga consoante os ventos e os poderes ou os candidatos melhor posicionados, para atingir os seus objectivos.
Porventura, no meu ID Freudiano, tenho pena de não ter nascido em países civilizados e com sentido de justiça e igualdade nos direitos, nos deveres, e onde a meritocracia é premiada e mediocridade ostracizada.
É capaz de ser isso.
Mas vamos lá a acabar. Já me começam a doer as costas de estar aqui há um bom bocado, não só a escrever mas a ver umas notícias na Net, mais uns E_Mails e isto de ser sexagenário e meio já começa a pesar nas articulações.
Cá fica mais um desabafo num dia de melancolia e também de saudade, de uma Angola em que vejo um Partido de Corruptos, que há trinta anos governam um Potentado de recursos e deixam um grande povo morrer de fome e delapidarem tudo aquilo que os portugueses lá construíram. Aparecem na televisão com aquele ar triunfante de que ganharam as eleições de forma justa e com toda a imparcialidade, quando toda a gente sabe e vê, observadores oficiais ou simples mortais, que estas eleições não passaram de uma farsa para dar continuidade à impunidade e à corrupção, ao luxo desbragado e à miséria mais profunda, traduzida na fome, na doença, na falta de educação, de assistência médica, nas condições infra-humanas em que vive a esmagadora maioria daquele povo que nada fez para merecer tais governantes.
Fico-me por aqui para não me irritar. Pedindo apenas a Deus que se lembre daquele e do nosso povo para que um dia sejamos governados por gente digna, respeitável e honesta.
Regressei e vim deixar-lhe um abraço. Amanhã regresso aqui para comentar o texto.
ResponderEliminarMuito mal vão as coisas, sem dúvida, e o retrato que fazes se calhar ainda peca por defeito.
ResponderEliminarTalvez seja por isso que, de há uns tempos para cá, procuro fixar-me em coisas positivas. Às vezes é preciso procurar muito bem, mas tenho encontrado gratas surpresas. É que é preciso cultivar a esperança...
Abraço
Bem-Haja Ibel,
ResponderEliminarEspero que tenha aproveitado bem as férias. Eu ainda não saí. Tenciono sair no fim do próximo mês.
Beijinhos
Caldeira
Olá Agostinho,
ResponderEliminarFazes bem em procurar coisas positivas. E é verdade que as há. Mas, tenho para mim, que são como as jóias, raras.
Cultivar a esperança é o que todos nós devemos fazer mas o mundo que nos rodeia deixa-nos pouca margem para acreditar.
Ainda, assim, acho que vale a pena.
Grande abraço
Caldeira
Zé!!! Que saudades!!!
ResponderEliminarEstou a tentar regressar, após alguns momentos difíceis que a vida nos prega e que os humanos tendem em complicar...
Quero e vou ler tudo o que escreveu!!! Que pena não ter podido acompanhar as suas crónicas!
È engraçado e com todo o respeito... não o conheço pessoalmente mas senti a sua falta, a falta das suas palavras, a falta das suas histórias, das suas verdades, dos seus desabafos... :)
Voltarei assim que possa, para continuar a minha viagem nas marés das suas incomparáveis palavras!
Beijinhos!
JB,
ResponderEliminarQue bom ter voltado. Também senti muito a sua falta. Das suas palavras, da sua maravilhosa poesia.
Espero que o que lhe aconteceu de complicado na vida não tenha nada a ver com a saúde e paz, dois bens indispensáveis. O resto é preciso relativizarmos, porque depois de tempo, tempo vem, e aquilo que hoje nos parece uma tragédia, amanhã pode não ter assim tanta importância.
Acredite que tenho alguma experiência em desilusões e em ataques pessoais gravíssimos, de pessoas medíocres a quem tive o azar de dar alguma importância. Hoje arrependo-me de o ter feito, porque gentinha, não merece que lhes demos o prazer de nos aborrecerem. Mas o tempo tudo cura.
Espero que possa ultrapassar, eventuais, dissabores e escreva para aliviar e passe por aqui, quando puder. Eu verei sempre o azul das sua palavras.
Beijinho
Caldeira