Alguém, em tempos recuados, propôs-nos que elaborássemos uma pequena reflexão sobre a igualdade de género, em
meio rural.
Temos, para nós, que a igualdade de
género ou é ou não é; existe ou não existe, independentemente dos diferentes meios ou territórios. É verdade que, quando se fazia agricultura neste País e
as mulheres, para além das tarefas domésticas que assumiam, como integralmente
suas, ainda tinham que ir trabalhar na agricultura, nas mondas dos cereais, por
exemplo, o seu salário era, em regra, metade do salário de um homem. Mas o
mesmo se pode dizer para a indústria, para o comércio e até para a função
pública. Onde, neste caso concreto, a maioria das chefias é desempenhada por
homens, independentemente da qualidade técnica, do saber científico, da
capacidade de trabalho e organização de muitas das funcionárias públicas. Há
algumas excepções, fruto das especificidades do trabalho a desenvolver em que a
paridade salarial é completa e total. Falamos da classe dos professores, dos
médicos, dos enfermeiros, dos juízes, procuradores, deputados e outros que, a
não ser assim, não só ficaria ferida a igualdade de género como ficaria ferido
o princípio constitucional de que, para trabalho igual, não correspondesse
salário igual.
Porém, devido à ancestralidade da
supremacia masculina no campo militar – em regra os homens é que combatiam – nas
religiões em que os homens é que são Pastores, Presbíteros, Sacerdotes trouxe
consigo fundamentos de que as sociedades só seriam harmoniosas se houvesse
tarefas para homens e tarefas diferentes para as mulheres, profissões
masculinas e profissões femininas. Estes arquétipos sociológicos ainda perduram
em muitas sociedades e tenderão a desaparecer à medida que homens e mulheres
sentirem a necessidade e lutarem para que o equilíbrio se faça no respeito pela
individualidade de cada um e não pelos estereótipos enraizados durantes séculos
e até milénios.
Sabendo que a tradição tem uma
relevante importância na assunção das liberdades, dos direitos de cada um dos
seres humanos, nem por isso, podemos deixar de acreditar que este desiderato só
poderá ser o resultado da consciência, individual e colectiva, e do respeito
que cada ser humano tenha pelo outro.
Será no uso criterioso da liberdade
e no respeito meticuloso pelo outro, nas suas especificidades, capacidades,
debilidades ou potencialidades que se atingirá, como maior ou menor eficácia
essa, pretensa igualdade. E dizemos pretensa porque não se pode querer igual o
que é diferente. Poderemos sim, sem ambiguidades, cada um de nós, por ao
serviço do outro todos os meios, recursos e vontades para que que, em cada um
se manifeste, numa liberdade conscientemente assumida, toda a potencialidade e
capacidade de realização com vista a um valor supremo que é, em última análise,
a felicidade de cada um, para que se atinja, cada vez mais, a felicidade
colectiva.
Dirão que é utopia! Eventualmente.
Mas só quem sonha é capaz de realizar grandes feitos. Só quem almeja atinge o
que, à partida, parece inatingível. Assim sendo, não nos parece que haja ou,
pelo menos, que possa haver diferenças substanciais e substantivas de género,
consoante o ambiente em que se viva. Outrossim, já nos parece curial, que tais
diferenças existam e se acentuem de acordo com a formação individual dos pares.
Com os Valores Éticos de cada um. Com o respeito integral pela dignidade humana
nas suas mais específicas e diversificadas realidades.
Historicamente temos assistido a
muitas situações demonstrativas de que a desigualdade no tratamento dos seres
humanos tem sido uma constante que não se pode iludir. Entre ricos e pobres,
patrões e empregados, chefes e subalternos. O mesmo é válido para povos que
escravizam outros povos, em função do seu poderio económico e militar. Abusos e
faltas de respeito entre as religiões. Mas se isso é verdade, no que se refere ao
passado, não deixa de continuar a ser verdadeiro, no presente.
Os déspotas foram homens, na sua
esmagadora maioria, mas houve mulheres verdadeiramente diabólicas,
maquiavélicas nas suas atitudes para que atingissem os seus fins que, em última
instância, era o Poder totalitário de disporem, inclusive, da vida do seu
semelhante. Podíamos referir Lucrécia Bórgia, Cleópatra, Catarina de Médicis,
mas também a rainha portuguesa Maria Pia e muitas outras mulheres que deixaram
rasto da sua prepotência, cupidez e artimanhas para atingir ou manter o Poder.
Ainda hoje, numa Europa cuja génese
assenta em princípios de Igualdade, Solidariedade, Fraternidade verificamos
todos os dias os atropelos cometidos pelos Países Ricos subjugando pelo poder
económico os seus parceiros mais pobres, menos desenvolvidos economicamente,
ainda que, na maior parte dos casos, estes sejam portadores duma História e uma
Cultura, incomparavelmente, mais rica.
Mas o mercenarismo e a agiotagem
não se compadecem com os valores imateriais. Tudo o que não passe pelo poder
económico e militar, tem pouca relevância para os povos que entendem a
felicidade com o TER e se interessam pouco pelo SER.
O debate sobre esta temática é, por
certo, muito interessante mas será, em nosso entender, sempre inconclusivo, enquanto as pessoas não forem reconhecidas pelos seus méritos ou deméritos,
independentemente, do género a que pertençam.
Há homens que serão sempre pigmeus, mesmo que se alcandorem aos postos mais elevados das diferentes governações e
mulheres que se agigantam na sua sensibilidade, organização, competência, mesmo
quando desempenham funções, ditas menores. Esta de funções menores levar-nos-ia
a outro debate não menos interessante mas deixemos para uma próxima
oportunidade.
Igualdade de género sim mas, só e
sempre, quando for fruto do respeito mútuo.
Penamacor, 7 de Junho de 2016
José Rainho Caldeira
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