A TEIA DO PODER!
Que o Poder corrompe, já toda a gente sabe e até se habituou.
Que o Poder só o é porque se rodeia de indefectíveis, também não é novidade.
Quanto mais tempo alguém está no Poder maior é o perigo de abuso, corrupção e
nepotismo é outra verdade inquestionável. Pergunta-se então: - porque é que não
se estimula e promove a alternância, particularmente, nos países ditos
democráticos? Porque dilui o poder, digo eu.
Os mais velhos estão lembrados que, no designado Estado Novo,
havia verdadeiros estados dentro do estado e isso conduziu ao descontentamento
e até à revolta. Os mais velhos, também experienciaram, local, regional e
nacionalmente, abusos ditatoriais em tempos democráticos. As sevícias, os mandados
de prisão sem nome, os piquetes de civis armados pelo MFA, os ataques e bombas,
para não falar dos roubos.
Houve até palavras que ficaram para a história política como “força,
força, camarada Vasco, nós seremos a muralha de aço”, “dinossauros”, como
referência a autarcas que durante décadas se perpetuaram no poder entre muitas
outras diatribes e devaneios de uma certa esquerda totalitária.
Há sinais, quase me atreveria a dizer, há evidências de
verdadeiros ditadoreszecos espalhados pelo país, consequentemente, o abuso de
poder e a corrupção campeiam nessas latitudes. O Caciquismo que vem do tempo de
João Franco, ainda na Monarquia, ganhou raízes que perduram no tempo e no
espaço geográfico.
Num Universo de 308 municípios há 74 titulares investigados
pela justiça e até há algumas condenações, ainda que não exemplares, como
deveriam ser, para obviar aos desmandos praticados. A última conhecida é do
vereador de Coimbra que adjudicou, por ajuste directo serviços, ao filho e ao
sobrinho, no valor de 300 mil euros.
No parlamento não faltam exemplos de falcatruas, que vão da
falta ao serviço martelada pelo companheiro(a) só para receber mais uns trocos
mesmo que ilicitamente, passando pelo conflito de interesses até ao arranjinho
em negócios.
Nos Governos nem se fala. Desde titulares julgados e punidos
pela justiça até aqueles que continuam suspeitos de fantásticas burlas e
aproveitamentos pessoais de dinheiros públicos, ao favorecimento de pessoas,
empresas, clubes há, de tudo, um pouco, mas em grandes quantidades.
A Justiça também não sai melhor na fotografia pois aparecem
titulares do topo de hierarquia indiciados de crimes inenarráveis. O pilar mais
importante do Estado de Direito está, cada vez mais torto.
Salta à vista a teia que os poderosos tecem para se
protegerem distribuindo benesses de toda a ordem, para que seja inexpugnável e,
como atrás se referiu, quanto mais tempo uma pessoa ou um partido estiverem no
poder, mais se instala o sentimento de impunidade e maiores atropelos à Lei e à
Ordem se praticam. Chega-se ao desplante de se achar um direito aquilo que é um
atropelo, só porque se eles podem tudo.
Pequenos exemplos: ministros que saem dos governos para
empresas que tutelaram e a quem beneficiaram enquanto governantes. Não é
preciso dizer nomes há-os de todos os quadrantes e são conhecidos de toda a
gente. Autarcas nomeados para lugares de governação ou para empresas com as
quais fizeram negócios de milhões. Isto é válido para o continente, mas não
exclui as ilhas onde o procedimento é rigorosamente igual.
Das nomeações para cargos públicos ou semipúblicos até aos
ajustes directos, quer com empresas, quer com grandes escritórios de advogados,
nem é bom falar.
A teia está montada e é bom que haja alguns besouros capazes
de a romper, caso contrário, cada vez ficará mais opaca e mais resistente o que
impedirá o seu desmantelamento.
A mudança é necessária. É indispensável. É premente. A teia é
preciso ser destruída para se poder respirar ar puro e democrático.
03/03/2021
Zé Rainho
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