Já há resultados preliminares dos censos de 2021 e as
notícias não são boas.
Cabe aos especialistas na matéria fazerem avisos sérios ao
Governo para que os números não sejam apenas números.
Cabe ao Governo tomar medidas para inverter a situação e
daqui a dez anos os resultados serem diferentes, mas para melhor.
Nós que não percebemos nada disto temos a convicção que os
génios ainda não descobriram que a maior crise que o país atravessa não é a económica,
mas sim a demográfica. Que, sendo demográfica é necessário alterar o paradigma
vigente e modificá-lo para que possam nascer mais bebés em Portugal.
Faça-se o diagnóstico da situação o que não nos parece muito difícil.
Os velhos já não procriam. Os novos parece que têm muita falta de espermatozóides.
As mulheres em idade fértil não podem ter filhos devido à situação profissional.
Os casais que, por questões profissionais, só se encontram ao fim-de-semana não
estão em condições de criar um filho, por isso vão adiando esse projecto de
vida. A precariedade no emprego, os baixos salários, rendas de casa caríssimas
ou, em alternativa, o empréstimo para quem compra leva a maior parte do
rendimento familiar, são motivos, mais do que justificáveis, para ir adiando a
procriação. Não se escolhem imigrantes, mas recebem-se os que clandestinamente,
através de máfias entram pelo país dentro, não para ficarem, mas para
debandarem países cujo nível de vida é muito melhor. Os que ficam são os que
menos condições têm para criar filhos que possam ser mais valias para o País.
Feito o diagnóstico é preciso passar para a terapia. Esta
pode ser com mesinhas, com antibióticos ou com cirurgias, quando não
tratamentos mais agressivos. As mesinhas é o que apresenta o governo com
hipotéticos incentivos, que não passam de hipotéticos.
Os antibióticos poderiam passar pela protecção à família em
vários domínios. Desde logo uma redução substancial nos impostos directos a
quem nasceu um filho, redução exponencialmente atractiva cada vez que nascesse
mais um. Mas os antibióticos teriam de ser acompanhados de substâncias que
minimizassem os efeitos secundários. Logo, protecção aos cônjuges com filhos
para que pudessem estar juntos com empregos de proximidade. Rendas de casa
participadas para que estas não sejam obstáculo à procriação. Redução dos
impostos ao consumo de artigos indispensáveis à criação de uma criança.
Creches, infantários gratuitos, para que os progenitores possam ir trabalhar
descansados sabendo que os seus filhos ficam em boas mãos. Protecção às
grávidas no emprego público e privado que passa por fiscalização rigorosa junto
de empregadores menos conscienciosos. Incentivo às empresas que tenham
funcionárias grávidas e com filhos bebés para que o seu absentismo ao trabalho
não fosse mais um encargo para a empresa, mas sim da Segurança Social.
Cirurgia, cortar todos os subsídios a quem possa e não queira
trabalhar. Eliminar todos os Observatórios, Institutos públicos redundantes dos
mais diferentes Organismos estatais a quem deveria ser exigido trabalho e
competência para suprir os cortes efectuados. Acabar com a interferência
política no recrutamento de funcionários públicos e exigir aos Directores
Gerais e só a estes, a responsabilidade sobre o mérito ou demérito dos seus
funcionários e dar-lhes a autoridade para mediante um processo transparente
poder demitir os calaceiros, os incompetentes, os laxistas e os tachistas. Canalizar
todo o dinheiro poupado com as medidas preconizadas para a Segurança Social
para fazer face ao aumento das despesas com a aplicação das medidas do
antibiótico.
Regular e fiscalizar, com rigor, competência e transparência,
toda a possível falcatrua ou vigarice e responsabilizar os prevaricadores.
Mas há muito mais a fazer porque os Censos não demonstraram
apenas um decréscimo da população, também evidenciaram que um em cada quatro
portugueses, por outras palavras, 40% da população vive nas zonas da Grande
Lisboa e do Grande Porto que, em território, corresponde a 3.832 Km2 para um
total de 92.145 Km2, ou seja 4,16% do total do território. Conclusão óbvia duas
zonas superpovoadas onde tudo é sobrecarregado e nada chega – habitação,
acessos, hospitais, escolas, transportes públicos – para 95,84% do território
onde sobra espaço para tudo. É bom referir que sobra espaço, mas falta tudo o
resto, da saúde à educação, da cultura aos transportes e comunicações, do
emprego ao rendimento bruto de cada cidadão. Falta ainda transformar a
profissão de agricultor numa actividade de sucesso e bem remunerada através do
apoio à produção e comercialização de produtos para que os jovens não sintam necessidade
de migrar para outras paragens.
Cabe aos especialistas encontrar soluções para todos estes problemas,
mas duma coisa temos a certeza: - é intolerável que haja tanta gente com fome nos
grandes centros urbanos e tanto terreno agrícola desperdiçado e ao abandono. O
País não se pode dar a esse luxo. O mundo não compreenderá como é possível
desprezar um recurso endógeno para a produção de produtos alimentares quando
estes não chegam à boca de milhões de seres humanos.
O paradigma tem de ser alterado sob pena de ficarmos para a
História como uns egoístas e uns insensíveis.
30/07/2021
Zé Rainho