sábado, 31 de julho de 2021

CENSOS 2021!

 


Já há resultados preliminares dos censos de 2021 e as notícias não são boas.

Cabe aos especialistas na matéria fazerem avisos sérios ao Governo para que os números não sejam apenas números.

Cabe ao Governo tomar medidas para inverter a situação e daqui a dez anos os resultados serem diferentes, mas para melhor.

Nós que não percebemos nada disto temos a convicção que os génios ainda não descobriram que a maior crise que o país atravessa não é a económica, mas sim a demográfica. Que, sendo demográfica é necessário alterar o paradigma vigente e modificá-lo para que possam nascer mais bebés em Portugal.

Faça-se o diagnóstico da situação o que não nos parece muito difícil. Os velhos já não procriam. Os novos parece que têm muita falta de espermatozóides. As mulheres em idade fértil não podem ter filhos devido à situação profissional. Os casais que, por questões profissionais, só se encontram ao fim-de-semana não estão em condições de criar um filho, por isso vão adiando esse projecto de vida. A precariedade no emprego, os baixos salários, rendas de casa caríssimas ou, em alternativa, o empréstimo para quem compra leva a maior parte do rendimento familiar, são motivos, mais do que justificáveis, para ir adiando a procriação. Não se escolhem imigrantes, mas recebem-se os que clandestinamente, através de máfias entram pelo país dentro, não para ficarem, mas para debandarem países cujo nível de vida é muito melhor. Os que ficam são os que menos condições têm para criar filhos que possam ser mais valias para o País.

Feito o diagnóstico é preciso passar para a terapia. Esta pode ser com mesinhas, com antibióticos ou com cirurgias, quando não tratamentos mais agressivos. As mesinhas é o que apresenta o governo com hipotéticos incentivos, que não passam de hipotéticos.

Os antibióticos poderiam passar pela protecção à família em vários domínios. Desde logo uma redução substancial nos impostos directos a quem nasceu um filho, redução exponencialmente atractiva cada vez que nascesse mais um. Mas os antibióticos teriam de ser acompanhados de substâncias que minimizassem os efeitos secundários. Logo, protecção aos cônjuges com filhos para que pudessem estar juntos com empregos de proximidade. Rendas de casa participadas para que estas não sejam obstáculo à procriação. Redução dos impostos ao consumo de artigos indispensáveis à criação de uma criança. Creches, infantários gratuitos, para que os progenitores possam ir trabalhar descansados sabendo que os seus filhos ficam em boas mãos. Protecção às grávidas no emprego público e privado que passa por fiscalização rigorosa junto de empregadores menos conscienciosos. Incentivo às empresas que tenham funcionárias grávidas e com filhos bebés para que o seu absentismo ao trabalho não fosse mais um encargo para a empresa, mas sim da Segurança Social.

Cirurgia, cortar todos os subsídios a quem possa e não queira trabalhar. Eliminar todos os Observatórios, Institutos públicos redundantes dos mais diferentes Organismos estatais a quem deveria ser exigido trabalho e competência para suprir os cortes efectuados. Acabar com a interferência política no recrutamento de funcionários públicos e exigir aos Directores Gerais e só a estes, a responsabilidade sobre o mérito ou demérito dos seus funcionários e dar-lhes a autoridade para mediante um processo transparente poder demitir os calaceiros, os incompetentes, os laxistas e os tachistas. Canalizar todo o dinheiro poupado com as medidas preconizadas para a Segurança Social para fazer face ao aumento das despesas com a aplicação das medidas do antibiótico.

Regular e fiscalizar, com rigor, competência e transparência, toda a possível falcatrua ou vigarice e responsabilizar os prevaricadores.

Mas há muito mais a fazer porque os Censos não demonstraram apenas um decréscimo da população, também evidenciaram que um em cada quatro portugueses, por outras palavras, 40% da população vive nas zonas da Grande Lisboa e do Grande Porto que, em território, corresponde a 3.832 Km2 para um total de 92.145 Km2, ou seja 4,16% do total do território. Conclusão óbvia duas zonas superpovoadas onde tudo é sobrecarregado e nada chega – habitação, acessos, hospitais, escolas, transportes públicos – para 95,84% do território onde sobra espaço para tudo. É bom referir que sobra espaço, mas falta tudo o resto, da saúde à educação, da cultura aos transportes e comunicações, do emprego ao rendimento bruto de cada cidadão. Falta ainda transformar a profissão de agricultor numa actividade de sucesso e bem remunerada através do apoio à produção e comercialização de produtos para que os jovens não sintam necessidade de migrar para outras paragens.

Cabe aos especialistas encontrar soluções para todos estes problemas, mas duma coisa temos a certeza: - é intolerável que haja tanta gente com fome nos grandes centros urbanos e tanto terreno agrícola desperdiçado e ao abandono. O País não se pode dar a esse luxo. O mundo não compreenderá como é possível desprezar um recurso endógeno para a produção de produtos alimentares quando estes não chegam à boca de milhões de seres humanos.

O paradigma tem de ser alterado sob pena de ficarmos para a História como uns egoístas e uns insensíveis.

30/07/2021

Zé Rainho

terça-feira, 27 de julho de 2021

CURIOSIDADES!

 

CURIOSIDADES!

Numa pesquisa efectuada no livro de registos de baptismo da paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Meimoa encontrei alguns dados que considero interessantes. Quero, por isso, partilhá-los convosco.

No ano em que nasci (1943) nesta aldeia remota raiana, em plena 2ª Guerra Mundial, nasceram, ao todo, cinquenta e duas crianças, uma farturinha, graças a Deus.

Houve paridade quanto ao sexo, 26 rapazes e 26 raparigas. Dos cinquenta e dois sobrevivemos, apenas, quarenta na primeira infância. Uma mortalidade infantil superior a 250 por cada mil, um horror, uma calamidade, uma tragédia aos olhos de hoje - 2,4 crianças por mil nascimentos em 2020 - segundo o INE e a PORDATA. Para os familiares dos que morreram foi tudo isso na época, mas para a sociedade de então era normal. Não criava nenhum sobressalto. Até porque era a vontade de Deus e isso era o bastante. Era menos uma boca para dividir o quase nada que havia, o que também contava e muito.

Desta fornada, como é costume dizer-se, estamos vivos 27, o que quer dizer que já morreram 13 na idade adulta. Uns por acidente, outros por doença, mais ou menos prolongada.

Os que ainda cá estamos, todos estamos velhos e com achaques, uns mais e outros menos, como é bom de ver, mas não podemos deixar de nos considerarmos uns sobreviventes, uns lutadores e uns sortudos, uns afortunados.

Muitos de nós vamos procurar estar num convívio, no próximo dia 4 de Setembro, promovido pelo Manuel Fonseca, que se desloca de França de propósito, para um último encontro com os seus amigos de infância, segundo as suas próprias palavras. Queremos que seja uma festança. Há quem se esteja a esforçar na organização para que assim seja.

Há várias curiosidades neste grupo que talvez seja digno de menção. Já referimos a mortalidade infantil, mas não ficamos por aqui. Temos que referir que também nasceu aqui e aqui foi baptizada uma cigana de nome Maria Amélia Aires o que nos podia levar para o campo da integração, contra o racismo e a xenofobia, mas basta referir o facto.

Agora vamos debruçar-nos sobre o sucesso escolar.

Dos quarenta sobreviventes só tiveram pleno aproveitamento escolar, na instrução primária, antiga 4ª classe, sete crianças. Cinco raparigas e dois rapazes o que não invalida que os outros não tivessem sucesso em todos os graus de ensino. Talvez por isso tenha sido necessário haver a primeira classe mista da Meimoa no ano de 1954. Um aproveitamento a rondar os 17,5%. Péssimo sinal dirão os meninos de hoje. Não sejam apressados, se calhar foi um sucesso aceitável.

Naquele tempo era necessária uma memorização extraordinária. Tudo era preciso decorar, desde a tabuada aos rios, das serras às linhas de caminho de ferro, com respectivos ramais. Da História de Portugal à Geografia, onde constavam os territórios ultramarinos, sem esquecer a escrita sem erros ortográficos, sem falar no desenho à vista e nos trabalhos manuais, só para dar alguns exemplos.

Não havia manuais escolares, muito menos material didáctico. Alguns professores não tinham habilitação própria e, pior que isso tudo, havia carência alimentar, carência de vestuário e calçado, muita doença infantil e consequente absentismo e, para culminar alguns não podiam ir à escola por falta de uma bata ou porque residiam a quilómetros de distância da aldeia, em quintas isoladas, onde nem uma candeia havia para fazer os trabalhos escolares, sem esquecermos que ninguém tinha água canalizada, saneamento e até electricidade. Esta última veio em 1951, mas só a metia em casa quem tivesse posses monetárias para tal e esses eram uma minoria.

Apesar disso tudo, todos os sobreviventes, temos uma boa qualidade de vida, ainda que nos queixemos de muita coisa, porventura com muita razão. A maior parte de nós, subindo na vida a pulso, tornou-se especialista em alguma coisa. Desde o Direito à Educação, da Construção à Aviação, da Banca ao Comércio passando pela função pública, para além de muitas outras profissões.

Também temos que referir a emancipação da mulher. Foram estas mulheres que começaram a usar a pílula para controlar a natalidade que pretendiam ter. Foram estas mulheres que começaram a usar mini-saia. Foram estas mulheres que escolheram serem independentes dos maridos e por isso foram trabalhar fora de casa, para terem um salário que as não tornasse dependente destes. Pelo menos três delas tiraram cursos superiores. Presentemente poderão achar pouco, para aquele tempo foi um sucesso imenso. Quando nasceram ainda foram educadas para serem boas mães e melhores donas de casa, sem esquecerem que deveriam ser, igualmente, boas esposas.

Todos nós nascemos com ligações à terra e a nossa expectativa, quando nascemos, era vir a ser agricultores e criadores de gado. Nenhum de nós seguiu essas pisadas, para mal da aldeia, mas para bem dos próprios.

A esmagadora maioria migrou, para dentro ou para fora do país, por lá fez vida e muito poucos foram os que regressaram ao torrão natal, ainda que cá venham sempre que podem.

Num tempo agreste, numa vida duríssima para todos, se esta plêiade de pessoas e as outras com mais meia dúzia ou menos meia dúzia de anos, não merece o respeito e a admiração e algum carinho, quem merece neste país?

Para terminar desafio os meus contemporâneos a contarem as curiosidades que conheçam.

Meimoa, 27/07/2021

Zé Rainho

quarta-feira, 21 de julho de 2021

AUTÁRQUICAS 2021


Aproximamo-nos, a passos largos, das eleições autárquicas de 2021 e assiste-se ao costume.

Nos grandes, ou mesmo médios, centros urbanos, as cúpulas partidárias encarregam-se da distribuição de lugares e hierarquizam listas de concorrentes, com a proverbial passividade dos eleitores e, até, das estruturas partidárias locais. Já nos pequenos burgos a coisa pia mais fino. Nem nos partidos e, muito menos fora deles, há gente disponível para entrar num mundo muito adverso. Um mundo conspurcado por uns quantos aproveitadores. Um mundo onde os dinossauros aproveitadores abocanham os parcos recursos. Um mundo onde pontificam indivíduos como, um imbecil, um escroque, que foi presidente de Junta, disse um dia: “Quem manda é o povo e o povo sou eu”.

Admiro, imenso, a coragem dos que não se resignam e, arrostando com todas as dificuldades e superando todos os obstáculos, ainda se predispõem a deixar a sua tranquilidade e o seu conforto, para batalhar contra os donos disto tudo, com o sentimento de que são úteis a toda a sociedade e não só ao grupelho que gravita em torno do poder.

Eu sei que alguns dos meus amigos dirão que são todos iguais, que o que eles querem é tacho, que é tudo uma corja e tenho consciência que há razões substantivas para muita gente pensar assim, tantos e tais os casos a que assistimos por esse país fora, mas posso garantir-vos que também há pessoas que estão tão bem na sua zona de conforto e que apenas o altruísmo e o sentido do dever cívico os leva a entrar nesta árdua e espinhosa aventura e esses, seres humanos superiores, merecem de mim o maior respeito, a maior consideração. Isto é verdade no caso das autarquias, mas é igualmente verdade nas instituições e associações locais, nas IPSS, nos clubes recreativos e desportivos e em tudo o mais que tem impacto positivo nas comunidades.

Para estes a minha homenagem e a minha gratidão, porque são inconformados, porque são determinados, porque põem acima dos seus interesses pessoais os interesses da comunidade.

Para os outros, os do lamaçal, os da pocilga o meu mais profundo desprezo.

21/07/2021

Zé Rainho


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Mudança!

 

Mudança!

Nem sempre mudança é evolução, mas eu gosto da mudança, porque perspectivo sempre a evolução.

Mudar faz bem à alma, faz bem ao corpo. Noutros tempos até a medicina prescrevia a “mudança de ares” para a cura de determinadas enfermidades. Se lhe acrescentarmos irreverência, vontade de aprender, curiosidade, temos ingredientes bastantes para que a mudança contribua para que tudo melhore.

Feita esta declaração de princípios já não me podem acusar de ser contra a mudança.

Vem isto a propósito das mudanças que um senhor, que se diz historiador e é cronista habitual do Público, tem feito ao longo dos tempos.

Lembram-se dele no Parlamento Europeu, eleito pelo Bloco de Esquerda, que depois mandou às malvas e continuou com o tacho até ao fim do mandato?

Sim, é esse que depois, porque quer ser presidente de qualquer coisa, nem que seja do clube de sueca lá do bairro, criou o Partido Livre, que se aproveitou da onda narrativa do momento e escolheu para cabeça de lista uma negra, com síndrome de Disfenia, popularmente conhecida por gaguez, porque, perante um povo sensível, era mais fácil captar votos e a afirmar o Partido. Não teve coragem, ele mesmo, de se submeter ao escrutínio porque é um perdedor. Faltar à presença já é perder. E, para culminar, num golpe de teatro manhoso e canastrão, retirou a confiança política à deputada eleita e esta, porque tinha aprendido bem a lição, fez como o seu mestre, não abandonou o cargo de deputada e mantem-se a ganhar o dela, que não é pouco.

O Partido Livre ficou sem representação parlamentar e, pior do que isso, caiu no esquecimento. Em política não há maior desaire do que o esquecimento. Lembram-se daquele adágio “falem bem ou falem mal, mas falem” é a teoria que importa a quem quer ser lembrado, independentemente das razões pelas quais apareça.

Portanto, se o Livre sempre foi irrelevante no panorama político nacional, mesmo quando elegeu uma deputada, passou a não existir a partir da altura em que deixou de ter representação parlamentar e de aparecer nas televisões.

Mas o senhor, de vez em quando, estrebucha e sacode-se para mostrar que está vivo. Começou por ter um arroubo de valentia e declarou candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, mas foi Sol de pouca dura, em menos de meia dúzia de dias declarou que, afinal, já não era candidato a presidente, mas ia a votos em coligação com o candidato do PS, o mais bem posicionado para a corrida autárquica.

Se eu não sou nada, se sou invisível, pelo menos ponho-me aos ombros do gigante para ver se alguém me vê, se alguém nota que existo.

Mas há mais. O caricato da situação é que o gigante não precisa nada do anão para a sua visibilidade local e o seu hipotético triunfo. Então porque é que o gigante se presta a este papel ridículo de levar às costas um pigmeu? Aqui a coisa pode ter outros contornos. Desde logo porque se pagam favores. Favores que o dito historiador faz constantemente na sua coluna do Jornal Público a elogiar o Partido e o Governo a que pertence o gigante. Mas, também, porque convém ter mais um amestrado na comunicação social que faça a propaganda e a publicidade enganosa, com que somos bombardeados, sem que isso possa ser apontado ao núcleo propagandístico do Partido do Poder.

Por fim e porque o objectivo é cavalgar a onda vamos ter, um dia destes, mais um Partido político que desaparece, mas que o seu presidente vai ser qualquer coisa que se sente à mesa do Orçamento do Estado, pela mão do Partido que vai fazer desaparecer o Livre.

Eu gosto muito de mudanças, mas não gosto nada de troca-tintas.

19/07/2021

Zé Rainho

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Descrença!

 

DESCRENÇA!

Viver na desconfiança é uma tristeza. É viver na incerteza, na dúvida, na inquietação que conduz ao isolamento e à solidão e ninguém consegue ser feliz vivendo sozinho.

Ter de estar sempre alerta com receio de uma rasteira passada pelos que estão mais perto é insuportável.

Na nossa democracia pequenina e poucochinha é este o sentimento dominante. A nossa classe política tem feito por isso. Os nossos banqueiros ganham a medalha de ouro da desconfiança. O nosso empresariado, pretensamente, endinheirado leva a palma. A nossa Justiça não sai muito favorecida na fotografia. Os nossos altos quadros empresariais não lhes ficam atrás, porventura são altos quadros por terem facilitado esquemas mais ou menos enviesados.

Todos nos deixam a sensação de incompetência, quando não mais grave, de compadrio, de nepotismo, de corrupção e de ladroagem.

Parece termos voltado ao tempo do tribalismo, na dicotomia, nós e eles, em que para nós se canalizam todos os benefícios e para os eles ficam, apenas, os sacrifícios.

Vivemos nisto há muitos anos, mas parece que agora se agravou a situação ou, pelo menos, se criou essa sensação.  Intui-se que é assim.

Os Partidos Políticos vão-nos entretendo com os números de circo. Distraem-nos mostrando diferenças que, na prática, não existem, porque quando é para distribuir prebendas estão todos de acordo e são todas para eles e para os deles.

Temos eleições à porta. Quase todos os anos temos eleições e, talvez por isso, vivamos em constante e permanente campanha eleitoral, com promessas que passam de um mandato para o outro e que continuam por cumprir e isso, entre outras coisas, faz com que a abstenção seja o maior partido nacional. É muito mau para um povo que viveu gerações sem poder votar. Mas é esta a realidade.

O desinteresse e descrença estão instalados. Cada vez há mais velhos e menos gente disponível para assumir responsabilidades executivas. Era bom que alguém fizesse alguma coisa para restabelecer a confiança. A começar por aqueles que têm mais responsabilidades pelas posições hierárquicas que detêm, mas também cada um de nós que se deve interrogar se não é o seu alheamento que contribui para a mediocridade reinante.

Confiança precisa-se. Descrença dispensa-se.

11/07/2021

Zé Rainho