DEGRADAÇÃO!
Nos últimos dias temos assistido a factos que não cabem nem
no imaginário mais criativo.
O Governo, através das suas ministras da Presidência e dos
Assuntos parlamentares, respectivamente Mariana Vieira da Silva e Ana Catarina
Mendes afirma, oralmente e por escrito, que o governo não entrega, à CPI
(Comissão Permanente de Inquérito), o parecer que fundamenta o despedimento da
CEO da TAP e do Presidente da mesma empresa, porque a sua divulgação pode
prejudicar o interesse público. Por sua vez, o ministro das Finanças, Fernando
Medina, afirma perante os deputados no Parlamento, que não há parecer nenhum e
é essa a razão de não o poder apresentar.
Em que é que ficamos? Há ou não há parecer? Se há, o ministro
das finanças mentiu aos representantes do povo, logo mentiu ao povo e a um
servidor do povo não lhe é permitido que minta. Se não há parecer o ministro diz a verdade e
cumpre assim o seu dever, mas, então, as ministras mentiram. E, se mentiram,
têm de ser penalizadas, porque não estão a cumprir com os deveres de lealdade
para com o povo português.
Na conjuntura actual em que a pobreza extrema apresenta
números muito preocupantes o Estado, todos nós contribuintes, não se pode dar
ao luxo de desperdiçar dinheiro com, eventuais, condenações em tribunal que, ao
que tudo indica, é o que vai acontecer e que vai fazer ver à populaça, que a
indemnização à administradora que foi despedia da TAP, Alexandra Reis, são
trocos, comparados com os milhões que vão ter que pagar à CEO despedida na
televisão por dois ministros com pouco sentido de Estado, para dizer o mínimo.
O actual governo demonstra-nos, à evidência, que confunde e
mistura os interesses do Partido com os interesses do país e, na maioria das
vezes, em favor daquele e em detrimento deste.
Já vivemos situação similar em épocas recuadas e o resultado
nunca foi bom. Lembremo-nos de Afonso Costa, o homem do chicote de nove rabos,
de Salazar, entre outros. Temos exemplos de outras latitudes e doutros tempos
em que o rei dizia que o estado sou eu – Luis XIV, L’ Etat c’est moi – numa
demonstração de poder absoluto e as coisas também não correram bem.
Numa altura em que celebramos mais tempo de liberdade,
conquistada com o 25 de Abril de 1974, do que durou a ditadura do Estado Novo
assistimos, com muita desilusão, a esta degradação governativa e presenciamos,
cada vez maior, autoritarismo, a todos os títulos reprovável. Vemos um silêncio
ensurdecedor do PM. Sentimos um poder musculado para com os contestatários, que
são muitos, desde professores a médicos, de agricultores a inquilinos e
senhorios, de empresários a trabalhadores dos mais diversos sectores de
actividade.
Damos conta do desmantelamento do serviço nacional de saúde,
da destruição da escola pública, do desprestigio da justiça, das forças
armadas, das forças de segurança, de tudo aquilo que é o alicerce de uma
verdadeira e autêntica democracia e não podemos assobiar para o lado.
Quando o 25 de Abril de 1974 faz 49 anos não podemos deixar
de questionar a classe dirigente sobre o que é que andam a fazer? O que esperam
que aconteça para arrepiarem caminho? E, sobretudo, pedir-lhe que não façam de
nós otários. Que não nos mintam. Que respeitem a confiança que depositamos
neles quando votamos.
24/04/2023
Zé Rainho
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