quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Coragem

Coragem!


O penúltimo domingo do ano litúrgico lança-nos o desafio de viver sob o desígnio do medo ou da coragem, da cobardia ou do medo, da aventura ou do comodismo. E, para suportar esta opção, Jesus deixou-nos a parábola dos talentos. 

É evidente que para os não crentes a palavra de Jesus não diz nada, não representa coisa nenhuma, não tem valor algum. Não sabem o que perdem, mas isso é problema deles, não temos nada a ver com isso. O que não invalida que ela encerre lições para a vida de todos e de cada um de nós. 

Basta atentarmos no que vemos por aí, no domínio individual, mas também nos negócios, na política, na governação da (res)pública. Quem tem coragem, quem arrisca, em regra tem sucesso. Quem se acomoda não passa da cepa torta. Isto é visível nas empresas, nas autarquias, no Estado central. 

O exemplo deste último é flagrante no caso do aeroporto de Lisboa, que há mais de cinquenta anos e depois de muitos milhões gastos em estudos, não se vislumbra nenhuma decisão. 

Nas autarquias assiste-se ao desenvolvimento sustentado de diversos concelhos e a estagnação de outros, muitas vezes vizinhos. 

Nas empresas, não é diferente. Aquelas que apostam na inovação, nos seus colaboradores, prosperam a olhos vistos as outras que se agarram ao estereótipo de que basta ser empresário para ter um estatuto superior e explorar os seus trabalhadores na ânsia do maior lucro, rapidamente passa da estagnação à degradação e à falência. 

Mas as palavras de Jesus também apontam os erros e as virtudes de quem coloca os seus talentos ao serviço do bem comum e, a Sua própria Igreja, é interpelada sobre a forma como desempenha a sua missão. 

A responsabilidade partilhada, hierarquia e leigos, que raramente se põe em prática leva, também, ao sucesso ou ao desastre. 

Não sei se é uma questão cultural do nosso povo ou se são resquícios monárquicos da congregação à volta da Corte, o certo é que a tendência centralizadora dos diferentes poderes é transversal a toda a sociedade. É o centralismo do Terreiro do Paço e de certas regiões, a nível político administrativo do país e o centralismo patriarcal e diocesano ao nível da Igreja. 

Ainda ontem assisti a uma demonstração de um certo tipo de centralismo. Num grande centro urbano e numa determinada igreja há, nos fins-de-semana missa ao sábado (vespertina) e duas ao domingo, uma da parte da manhã e outra ao fim do dia. Ontem, a missa vespertina tinha meia dúzia de gatos pingados como participantes e no final, o pároco avisou que a partir do primeiro domingo do próximo ano litúrgico, deixa de haver missa do final do domingo por falta de fiéis participantes. Na minha diocese há muitos lugares onde há muitos Domingos sem missa por falta de sacerdotes celebrantes e bastantes fiéis que se vêem obrigados a assistir à missa pela televisão. 

Se ouvíssemos o Santo Padre, o papa Francisco que, constantemente nos convoca para estarmos atentos às periferias, aos marginalizados, aos mais desprotegidos, aos mais frágeis, talvez o centralismo fosse minimizado, os marginalizados não se tornassem marginais, os frágeis fossem mais fortes. 

Para isto tudo será necessário perder o medo e arriscar. Não ser cobarde, mas corajoso. Ser produtivo de acordo com os talentos de cada um. Somos capazes de ter essa coragem? 

19/11/2023

Zé Rainho 

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