PERCEPÇÕES!
Percepções é um dos vocábulos mais em voga na opinião
publicada. São estudos, são gráficos, são rankings, que a indicam. Um desses índices
apresenta-nos Portugal a piorar no que concerne à percepção da corrupção, num
mundo cada vez mais corrupto e mais venal.
Percepções são sensações baseadas em factos individuais que,
facilmente, entram no domínio da generalização por parte das pessoas. Isto tudo
acontece porque, de facto, tem um fundo de verdade. Não cai do céu aos
trambolhões, mas baseia-se em acontecimentos sentidos por alguém em algum lugar.
E de quem é a culpa? Se calhar é de todos nós que não nos
incomodamos com as pequenas ou as grandes cunhas, com as pequenas ou grandes
gorjetas dadas aos servidores públicos para safar uma multa ou para engendrar
uma solução para o nosso problema, sem que nos importemos se isso atropela
alguém que estava à nossa frente na fila.
Mas, certamente, a culpa é da política e dos políticos, da
justiça e dos seus agentes que, com maiores responsabilidades, não acautelam a
equidade entre todos os cidadãos, protegem a impunidade de alguns e não punem,
exemplarmente e em tempo útil, os prevaricadores.
Quando deputados e membros de órgãos do Estado aparecem, em
catadupa, a ser investigados por crimes cometidos, particularmente contra o bem
público, demonstram que a política é frequentada por gente sem escrúpulos, o
que torna uma nobre actividade num chiqueiro nauseabundo.
Quando a justiça demora eternidades a apurar
responsabilidades criminais e deixa prescrever muitos dos crimes por
ultrapassar os prazos previstos na Lei demonstra que não é justiça e que não é
justa, principalmente, para os mais frágeis e os mais desprotegidos. Basta
atentar na última prescrição que aconteceu com o cartel da Banca que deixou de
pagar muitos milhões de euros que foram surripiados aos clientes numa atitude,
comprovadamente, criminosa.
Assim, não admira que o País, a Nação, não fique bem na fotografia
que aprecia os níveis de corrupção e nos coloque ao nível de países do terceiro
mundo, deixando, deste modo, de ser percepções e passam a ser factos reais.
Isto leva-nos a intuir que os corruptos são, na maioria,
políticos e, como os políticos são eleitos e filhos do povo é fácil aduzir que
o povo é corrupto, na sua essência. É duro constatar isto, mas não há como
evitar.
Como é que todo este imbróglio se pode resolver? Com
educação, com formação permanente e ao longo da vida, com sentido ético e
valores morais, com censura permanente do chico-espertismo popular, do
oportunismo, da cunha, do egoísmo, bem ilustrado pelo ditado popular que diz:
“em cama estreita nós na frente”.
Se queremos ombrear com os países mais transparentes com
níveis de vida mais arejado e mais limpo temos de mudar muita coisa logo a
partir da infância. Mas um país membro da União Europeia não pode, ou não deve,
ficar conhecido como um lugar frequentado por gente desonesta e corrupta.
12/02/2025
Zé Rainho