EDUCAÇÃO!
Um artigo, no Jornal Público de hoje, de Cristiana Faria
Moreira sob o título “é necessária uma estratégia nacional para a formação de
adultos” relata um panorama preocupante, no que diz respeito às competências
dos adultos portugueses em idade activa para o mercado do trabalho.
É sabido que menos competências educativas correspondem a
menos salário, mais precariedade, menos oportunidades de progressão na
carreira, numa palavra, mais pobreza intelectual e material.
O problema já vem de longe e, apesar do que se fez nas
últimas quatro décadas, a avaliação realizada pela OCDE, revela que “40% dos
adultos que vivem no país, apenas é capaz de compreender textos elementares ou
de resolver problemas matemáticos muito simples” e, acrescento eu, apesar do dinheiro
despejado sobre este problema é um número que não pode deixar de nos
interrogarmos.
A Lei de Bases do Sistema Educativo 46/86 instituiu o 9º ano
de escolaridade como ensino obrigatório, o que quer dizer que os nascidos em
1980, hoje com 45 anos de idade, já tiveram a oportunidade de uma alfabetização
e uma literacia suficientes para obstar a que os resultados apresentados fossem
outros e bem melhores. Acresce que desde 2009/2010, o ensino obrigatório é o
12º ano de escolaridade ou os 18 anos de idade o que indicia que, passados
quinze anos, teríamos adultos muito mais escolarizados e muito mais
conhecedores que não se encaixassem nos referidos 40% referidos pela OCDE.
Acrescento que, na década de setenta do século passado, mais
precisamente no seu final, 1979, durante um governo presidido por Sá Carneiro, se
iniciou um processo de combate ao analfabetismo literal, que foi sendo
desenvolvido durante as últimas duas décadas do século XX, com resultados bastantes
significativos. Este projecto teve um maior incremento com o apoio do Fundo
Social Europeu durante as negociações com a, então designada CEE que foi sempre
aumentando com o PRODEP, depois da adesão do nosso país àquele projecto
europeu. Na educação, em geral e na de adultos, em particular, naquele período,
não se fez tudo, mas fez-se muito, até se mudar de política educativa.
Seria demasiado exaustivo apresentar aqui todos os malefícios
cometidos contra a Educação Pública, desde a indisciplina dos alunos, ao desprestígio
dos professores, da permissividade na avaliação, às condições sociais das
famílias portuguesas e muitas outras situações potenciadoras de abandono
precoce da escola e do nível medíocre de ensino-aprendizagem. Não é o lugar nem
o espaço para o fazer, mas pode-se dizer que se podia ter feito mais e melhor.
A mudança era possível. Era, até, necessária. Mas era preciso
fazer-se uma avaliação séria sobre o que se fez bem, o que se fez menos bem e o
que se fez mal, para definir caminhos que levassem este sector educativo para
patamares, que permitissem aos portugueses, que não tiveram oportunidades de
aprender na infância e juventude, o fizessem na idade adulta, enquanto
desenvolviam a sua actividade profissional e os jovens que tivessem um
aproveitamento melhor enquanto passam doze anos da sua vida na Escola.
Não foi assim. Neste país não se planifica e, muito menos, se
monitoriza e avalia o que quer que seja e a educação tem sido um laboratório de
experiências nunca avaliado. O que não invalidou que, no final do século XX, fosse
criada uma agência para levar a cabo uma Educação de Adultos que nos colocasse
ao nível dos nossos parceiros europeus. O que se fez?
Acabaram com o ensino recorrente, as unidades capitalizáveis,
e engendraram um esquema de certificação de competências, as célebres RVCC, que
são as mais procuradas pelos adultos que necessitam de certificação, vá se lá
saber porquê?
Qual o resultado? O mínimo que se pode dizer é que é
medíocre. Melhoraram as estatísticas, as certificações, mas pioraram os
conhecimentos. E isto tem responsáveis.
Desde logo os responsáveis pela alteração, e falta de
monitorização do novo modelo, mas também todos aqueles que continuaram a
alimentar um modelo que não mostra resultados satisfatórios em todo o sistema
educativo público, escola regular e escola recuperativa.
Neste país chora-se sobre o leite derramado, nunca se exige
responsabilidade e por isso, assim estamos.
9/12/2025
Zé Rainho
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