segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Educação!

 

EDUCAÇÃO!

Um artigo, no Jornal Público de hoje, de Cristiana Faria Moreira sob o título “é necessária uma estratégia nacional para a formação de adultos” relata um panorama preocupante, no que diz respeito às competências dos adultos portugueses em idade activa para o mercado do trabalho.

É sabido que menos competências educativas correspondem a menos salário, mais precariedade, menos oportunidades de progressão na carreira, numa palavra, mais pobreza intelectual e material.

O problema já vem de longe e, apesar do que se fez nas últimas quatro décadas, a avaliação realizada pela OCDE, revela que “40% dos adultos que vivem no país, apenas é capaz de compreender textos elementares ou de resolver problemas matemáticos muito simples” e, acrescento eu, apesar do dinheiro despejado sobre este problema é um número que não pode deixar de nos interrogarmos.

A Lei de Bases do Sistema Educativo 46/86 instituiu o 9º ano de escolaridade como ensino obrigatório, o que quer dizer que os nascidos em 1980, hoje com 45 anos de idade, já tiveram a oportunidade de uma alfabetização e uma literacia suficientes para obstar a que os resultados apresentados fossem outros e bem melhores. Acresce que desde 2009/2010, o ensino obrigatório é o 12º ano de escolaridade ou os 18 anos de idade o que indicia que, passados quinze anos, teríamos adultos muito mais escolarizados e muito mais conhecedores que não se encaixassem nos referidos 40% referidos pela OCDE.

Acrescento que, na década de setenta do século passado, mais precisamente no seu final, 1979, durante um governo presidido por Sá Carneiro, se iniciou um processo de combate ao analfabetismo literal, que foi sendo desenvolvido durante as últimas duas décadas do século XX, com resultados bastantes significativos. Este projecto teve um maior incremento com o apoio do Fundo Social Europeu durante as negociações com a, então designada CEE que foi sempre aumentando com o PRODEP, depois da adesão do nosso país àquele projecto europeu. Na educação, em geral e na de adultos, em particular, naquele período, não se fez tudo, mas fez-se muito, até se mudar de política educativa.

Seria demasiado exaustivo apresentar aqui todos os malefícios cometidos contra a Educação Pública, desde a indisciplina dos alunos, ao desprestígio dos professores, da permissividade na avaliação, às condições sociais das famílias portuguesas e muitas outras situações potenciadoras de abandono precoce da escola e do nível medíocre de ensino-aprendizagem. Não é o lugar nem o espaço para o fazer, mas pode-se dizer que se podia ter feito mais e melhor.

A mudança era possível. Era, até, necessária. Mas era preciso fazer-se uma avaliação séria sobre o que se fez bem, o que se fez menos bem e o que se fez mal, para definir caminhos que levassem este sector educativo para patamares, que permitissem aos portugueses, que não tiveram oportunidades de aprender na infância e juventude, o fizessem na idade adulta, enquanto desenvolviam a sua actividade profissional e os jovens que tivessem um aproveitamento melhor enquanto passam doze anos da sua vida na Escola.

Não foi assim. Neste país não se planifica e, muito menos, se monitoriza e avalia o que quer que seja e a educação tem sido um laboratório de experiências nunca avaliado. O que não invalidou que, no final do século XX, fosse criada uma agência para levar a cabo uma Educação de Adultos que nos colocasse ao nível dos nossos parceiros europeus. O que se fez?

Acabaram com o ensino recorrente, as unidades capitalizáveis, e engendraram um esquema de certificação de competências, as célebres RVCC, que são as mais procuradas pelos adultos que necessitam de certificação, vá se lá saber porquê?

Qual o resultado? O mínimo que se pode dizer é que é medíocre. Melhoraram as estatísticas, as certificações, mas pioraram os conhecimentos. E isto tem responsáveis.

Desde logo os responsáveis pela alteração, e falta de monitorização do novo modelo, mas também todos aqueles que continuaram a alimentar um modelo que não mostra resultados satisfatórios em todo o sistema educativo público, escola regular e escola recuperativa.

Neste país chora-se sobre o leite derramado, nunca se exige responsabilidade e por isso, assim estamos.

9/12/2025

Zé Rainho

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