Depois de tantas notícias sobre a crise. O Orçamento do Estado. Aprova/chumba. Reduz aqui, poupa ali. Sofre isto e mais aquilo. confesso que estou a ficar enjoado de tantas notícias, ainda por cima, desencontradas. Todo o bicho careta opina e, consequentemente, aparece pressuroso o Jornalista que quer, legítima e profissionalmente, dar a notícia em primeira mão.
Eis que ontem, a meio de um telejornal de uma qualquer televisão, nem sei bem qual, enquanto lia um livro no qual estava mais interessado, "mas sempre com um olho no burro e outro no cigano", e o que é que ouço? "os portugueses, por causa da crise, poupam até no sexo". Olhei com mais atenção e aparece uma Senhora Dra. Sexóloga a explicar as razões que levam a esta poupança. Fiquei espantado, o que não é difícil, diga-se em abono da verdade. Parece que, ultimamente, é o meu estado natural.
Como diz o meu amigo Henrique, este é um Povo que começou mal, não admira que acabe pior. Por tudo isto, eu que não sei nada de poesia mas da qual gosto muito, não me perguntem como é que isto pode ser porque não saberia explicar, lembrei-me de estabelecer um certo paralelismo, abusivo já se vê, entre um Poema de Florbela Espanca e o País. Pois aqui vai, com a devida vénia:
ÓDIO?
Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto ...
Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo!
Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não ... não vale a pena ...
Florbela Espanca
ahahahah também ouvi essa, penso que foi na TVI mas, acabei por não saber bem qual era o paralelismo que fizeram, andava de um lado para o outro mas, se não me engano falaram na pouca vontade que existe devido às preocupações. Daí a ligarem com poupança! Devo ter perdido qualquer coisa no meio. Só pode. Foi mais acertado o paralelismo que tu fizeste com o poema da Florbela e o país. Excelente. Beijinhos
ResponderEliminarBrown Eyes,
ResponderEliminarIsto aconteceu e depois eu fiz uma brincadeira com estas coisas.
Ainda bem que gostaste.
Beijinhos.
Caldeira
Ó meninos é só pensar um bocadinho.:D
ResponderEliminarpara já não vi o tal programa (quase não vejo televisão)...mas vejamos:
a crise deprime, certo?
se deprime, a libido fica pelas ruas da amargura...
se fica pelas ruas da amargura para quê gastar dinheiro com coisas relacionadas com o aspecto físico e apelativo? tipo limpezas de pele, depilações, lingerie, perfumes, modelitos,cabeleireiro (isto para as mulheres) programinhas, restaurantes,discotecas bares etc e tal (para mulheres e homens)??? Com isto, não quero dizer que os homens também não gastem dinheiro, nas coisas que os fazem parecer mais bonitos exteriormente.
agora só uma curiosidade para quem não sabe.
a cidade de Olhão tem uma freguesia (rural) chamada Quelfes, onde ainda existe a casa onde a Florbela Espanca passou uns tempos, acho que com o irmão.
Beijo, Zé.
Em@,
ResponderEliminarNão sabia da existência da freguesia de Quelfes próximo de Olhão, que conheço razoavelmente bem.
Mas olha que a crise e as más notícias não devem fazer esmorecer a líbido porque aí é a desgraça total. Valha-nos ao menos uma boa dose de romantismo. Pelo menos durante algum tempo concentramo-nos em coisas agradáveis e que dão prazer. Ainda que haja que ter cuidado! Sempre ouvi dizer que o que dá prazer ou faz mal ou é pecado.
Beijinho
caldeira
Zéamigo
ResponderEliminarPoupança? Sem esperança. Nestas coisas as Çenhouras Dótouras cékeçólogas éke a sabem toda.
Crise é crise, dê lá pra onde der. Diria mesmo mais: crise há só uma: a do sexo e mais nenhuma.
Andam, realmente, a brincar ca gente. Todos juntos, Sócrates, Coelho, Jerónimo, Louçã, Portas & correlativos, enfiados num cofre de segurança e atirados ao Tejo, por baixo da Ponte 25 de Abril, era uma festa.
Porém - uma pergunta só. E depois, quem viria? Lá diz o Povo, depois de mim virá... Portanto, berá-xe cumo diz o xeguinho.
Abs
Zé,
ResponderEliminarLer a sua prosa é uma delícia e isso já não é novidade!
Ler a sua prosa associada à poesia de Florbela Espanca, só pode ser a delícia da criatividade no palco da lucidez! :)
Um paralelismo muito bem "apanhado", Zé!
Parabéns!
Lendo os outros comentários, gostava de acrescentar que é bom que continuemos no mínimo "flores belas" (homens e mulheres) porque caso contrário... não sei o que chamaríamos a um país desgovernado, pobre, perdido, "que poupa até no sexo" e descabelado :):):)........
Com todo o respeito pelo seu texto, belíssimo como sempre na forma como o teceu, mas hoje não resisti e apeteceu-me "brincar" com toda esta situação... temos de rir um pouco, com tudo isto!
Um grande beijinho, Zé!
Zé, fala com psis 8ou mesmo ocm muitos médicos generalistas) e logo vês o que te dizem eles...Portugal é um país de deprimidos e a depressão dá mesmo cabo da libido...
ResponderEliminartemos que ser combativos porque caso nos deixemos "amoxar" estamos tramados.
beijo no coraçao
Ó zé caldeira, como eu gostei de passar agora por aqui antes de fazer óó.
ResponderEliminarQuanto ao país, não comento.Quanto ao resto vou para a cama...
E vivam os poetas e de quem deles se lembra!!!!
Meus queridos amigos, Henrique, JB, Em@ e Ibel.
ResponderEliminarMuito grato pelos vossos comentários. Todos eles de uma pertinência e lucidez extraordinárias.
Quanto à depressão tenho para vós uma notícia. Uma amiga minha com quarenta e poucos anos, duas filhas adolescentes, teve um cancro da mama e sofreu horrores. Depois separou-se do marido, ou o marido dela, isso já não sei e, um dia, escreve-me estas palavras: "Zé, não morri do cancro mas ia morrendo de depressão. Agora aprendi que a vida é para ser vivida com alegria, no dia a dia". Mais ou menos isto já se vê, complementando com desabafos sobre o divórcio.
Por isso meus caros. Vamos lá encarar isto de frente, como um forcado valente, e ir para os cornos do touro sem medo. Não podemos é esperar por D. Sebastião porque aí as coisas complicam-se.
Olhai, em minha modesta opinião nós, com estas conversas, já estamos a dar o nosso contributo.
Abraços e beijos.
Caldeira
A vida é dura
ResponderEliminarDura de roer
A vida é bela
Haja quem souber.
Um abraço, Zé!
Agostinho,
ResponderEliminarA vida é dura de roer. Mas haja dentes e vontade e tudo se há-de resolver.
Um abraço.
Caldeira
Oportuno e certeiro!
ResponderEliminarFlorbela Espanca... um encanto!
Bem haja!
Abraço de Amigo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarFlorbela Espanca é sempre divinal.
ResponderEliminarPareceu-me que este poema pode resumir o sentimento, muito alargado, de amor e ódio por este Portugal moribundo, nos dias de hoje.
Abraço amigo Serrano
Caldeira