Se não vejamos: - na antiguidade clássica - Helénica e Espartana - o termo e o conceito de cidadão era aplicado, com rigor, àqueles a quem era reconhecido esse estatuto social, compreendendo nele, todos os direitos e deveres inerentes. Se havia favorecimento no tratamento e nas tarefas cometidas, este comportava a responsabilidade de obedecer a regras, valores e a formalismos correspondentes.
Durante séculos, porque a democracia fora outro sentimento e prática perdidos, o termo e, mais do que o termo o conceito, foram perdendo sentido, significado e importância e, rapidamente entraram em desuso, no quotidiano social.
O ciclo da vida traz destas coisas. Nasce-se, cresce-se e morre-se. O mesmo se passa com as palavras seus significados e significantes. Não admira pois, que também a cidadania tenha sido interpretada, ao longo dos tempos, de acordo com conveniências pessoais ou de grupo. Em sintonia com o Poder dominante, conforme as diferentes épocas.
É politicamente correcta, quando serve os interesses do Poder instalado. É detestável, quando discorda ou se opõe a uma certa visão de cidadania submissa e bajuladora.
Isto tem a ver com a cultura dos povos e com o exercício responsável de cada cidadão. Infelizmente para nós, o Povo dos “brandos costumes” da “serenidade”, sempre foi um entrave ao exercício, pleno, da cidadania. Pelo que é frequente assistirmos às injustiças mais clamorosas, quase sempre tendo como protagonistas os mais desfavorecidos, material e culturalmente. Sim, porque os poderosos, é nesta espécie de Limbo, que mais facilmente se apropriam das fragilidades democráticas e coarctam o direito do outro a rebelar-se e a usar o seu direito de cidadão.
Normalmente, esta atitude traz consequências muito graves que, apesar disso, caiem no esquecimento ou na indiferença. E se os ditos poderosos pensam que isso é bom porque não os afecta a eles, como estão enganados! Há sempre um momento de desespero dos oprimidos, que os faz recorrer aos seus instintos mais primários e a partir daí não há muros que segurem a fúria da intempérie que se avizinha.
É por isso que vamos conhecendo a prisão e por vezes a morte dos abusadores da violência. Da retaliação dos gangues dos guetos sobre as autoridades. Da afronta directa ou camuflada à democracia.
Também é no desrespeito pela Natureza que a cidadania se compromete. E como pode ser cruel a sua revolta. São os tufões, as derrocadas, os sismos, os incêndios e tantas outras catástrofes a que assistimos diariamente. O Homem, em vez de respeitar o Ambiente e a Biodiversidade, olha para o seu umbigo e o que lhe importa sãos os seus interesses individuais imediatos, não conseguindo discernir, que tudo o que destruir hoje, alguém pagará a factura amanhã, podendo ser o próprio ou seus descendentes. Serão, com toda a certeza, os seus semelhantes num qualquer lugar ou parte do Mundo.
Por tudo o que se referiu e pelo muito que se omitiu não há nada melhor que, cada um de nós aprofunde, em conhecimento e atitude, este Valor inestimável que é a Cidadania. Hoje não reduzida à dimensão geográfica Nacional mas a um nível mais alargado, que é o Direito e o Dever da Cidadania Europeia.
Se queremos uma Justiça mais célere e mais Justa; uma Educação mais eficaz e mais exigente; uma Cultura mais democrática; uma Saúde mais global e sempre pronta; uma Democracia plena; uma Segurança mais presente e mais próxima; uma Segurança Social mais rigorosa e mais selectiva; uma Fiscalidade mais equitativa; não podemos alijar para os outros a responsabilidade individual que nos cabe a todos e a cada um.
Junho de 2010
José Rainho Caldeira
Publicado na Revista da Academia Sénior da Covilhã nº 8 - 2010 - ISSN 1645-7978
Zé sabes que concordo a 100% com o que aqui escreves mas nunca é demais destacar a necessidade que cresce de o povo português se tornar um povo solidário, preocupado e responsável. Beijinhos
ResponderEliminarBrown Eyes,
ResponderEliminarEstamos em sintonia. É premente que este Povo se torne mais trabalhador, mais responsável e menos individualista.
Beijinhos
Não podia estar mais de acordo com estas palavras..."Por tudo o que se referiu e pelo muito que se omitiu não há nada melhor que, cada um de nós aprofunde, em conhecimento e atitude, este Valor inestimável que é a Cidadania. Hoje não reduzida à dimensão geográfica Nacional mas a um nível mais alargado, que é o Direito e o Dever da Cidadania Europeia"
ResponderEliminarBeijo d'anjo
Muito obrigado sonho de Anjo por ter passado por aqui e ter gostado do post.
ResponderEliminarPassei pelo seu e adorei a forma determinada e bela como descreve a inevitável morte.
Obrigado. Beijo
Caldeira
É certo e sabido que somos, em larga medida, seres egoístas. O sentido do viver em comunidade e, acima de tudo, em humanidade, perde-se muitas vezes no seio dos nossos interesses menores, das nossas atitudes comezinhas. E mesmo os actos de bondade, aparentemente genuínos, quantas vezes não serão o reflexo de uma certa vaidade interior?
ResponderEliminarTambém gostei muito do seu post anterior. Aqui deixo um beijinho para si, para os seus pais e para a sua esposa.
ResponderEliminarquem não exerce o seu direito e dever de cidadania, não pode nem deve reclamar do que está mal!
ResponderEliminarbeijo, Zé.
Minhas amigas E.A. e Em@
ResponderEliminarComo eu estou inteiramente de acordo convosco!
Somos seres egoistas e até "os actos de bondade" podem ser "o reflexo de uma certa vaidade interior". Quantas vezes não é isto que se passa?
Quem não exerce o seu "direito e dever de cidadania, não pode nem deve reclamar", na mouche.
Beijos para vocês.
Com a acutilância e perspicácia a que já nos habituou, um belo texto sobre Cidadania, na sua riqueza de Direitos e de Deveres. De Justiça e de Igualdade no tratamento. Só assim se entende a Democracia.
ResponderEliminarBem haja!
Amigo Serrano,
ResponderEliminarÉ a minha forma de estar na vida: digo o penso, pensando no que digo. Frontalidade é coisa a que fui habituado desde miúdo.
Abraço amigo
Muito bem, Zé!
ResponderEliminarCreio que, com este e outros textos, estás a exercer da melhor forma o teu direito de cidadania. Que, no caso, é em simultâneo um direito e um dever.
Abraço
Também acho Agostinho. É uma forma, entre outras, como assistir às Assembleias de Freguesia e Municipais e intervir sempre que seja possível.
ResponderEliminarTenho pena de que nossos jornalistas não façam o seu trabalho perguntando ao cidadão anónimo como se sente em relação à classe partidária. Repara que disse partidária e não política como é comum aparecer referida. É que políticos temos de ser nós todos.
Abraço
Caldeira
Zé,
ResponderEliminarRetirei estas frases do seu belíssimo texto, porque acho que encerram o Ser Cidadão colocando este tema numa esfera literária e político-social.
"O ciclo da vida traz destas coisas. Nasce-se, cresce-se e morre-se. O mesmo se passa com as palavras seus significados e significantes."
"...não podemos alijar para os outros a responsabilidade individual que nos cabe a todos e a cada um."
A forma como se expressa consegue tornar este tema "apetitoso", no sentido de nos aguçar o apetite e de nos questionarmos profundamente sobre o verdadeiro sabor que encerra a palavra CIDADANIA.
Depois de tudo o que aqui já foi referido, ainda há quem só se lembre deste "Valor inestimável" quando a sua "pessoa" se sente ofendida.
Mais uma vez, Zé, um texto relevante numa tela magnificamente pintada!
Beijinhos!
JB,
ResponderEliminarObrigado pela visita e pelo comentário. A sua generosidade para comigo chega a ser comovente.
Bem-Haja por ser minha amiga.
Beijinhos
Caldeira