sexta-feira, 18 de junho de 2021

Lembranças/Recordações

Dia 12 de Junho estive com a família, poucos, porque gostamos de seguir e cumprir, mesmo quando essas regras são pouco compreensíveis, porque pouco coerentes, ziguezagueantes. 

A conversa deslizou para recordações próprias e dos nossos maiores. A saudade bate fundo, porque as lembranças acumulam momentos difíceis com outros muito felizes. 

A preocupação com os mais velhos que ainda resistem à lei da vida por vermos ou pressentirmos que o pavio da vida já tem uma luz mortiça, sinónimo do fim do combustível. 

Nestas lembranças não pudemos deixar de pensar que os nossos bisavós eram ricos de bens materiais, mas os nossos pais já nasceram e cresceram com muita carência dos mesmos. 

Em contrapartida, os nossos pais sempre foram riquíssimos de bens espirituais e afectivos a ponto de de fazerem de nós homens e mulheres de bem e com ferramentas e competências adequadas para singrarmos na vida. E assim se cumpriu o ditado popular: “a filhos chegarás mas de netos não passarás” porque a matéria é finita e efémera.

A nós cabe-nos as memórias mais antigas porque somos mais velhos, os primeiros da terceira geração desta enorme e prestigiada família, perdoe-se-nos a imodéstia. 

Assim, recuar até à década de cinquenta do século passado, leva-nos ao tempo do pós segunda guerra mundial e suas consequências. Racionamento de produtos, miséria quanto baste, vida plena de muito trabalho e proporcional carência. 

Trabalho duro para todos, desde tenra idade. Futuro de horizonte nublado, que não permitia sonhar para além dos limites geográficos da aldeia, do trabalho na agricultura, da monotonia de uma vida sem ambição e sem projecto. Mais uma vez os nossos pais deram a volta à situação enfrentando os obstáculos e ultrapassando-os. Saída dos primeiros para fora da aldeia natal que, qual terra madrasta, não permitia perspectivas de vida, no curto e longo prazos. Até finais da década de cinquenta quase todos rumaram a outras paragens desbravando, novas latitudes almejando novos horizontes. 

Muitos dos presentes já nasceram noutras localidades que não o rincão originário, embora todos mantenham vínculo e se orgulhem da raiz natal dos seus antepassados. 

Por continentes diferentes e terras mais ou menos distantes, com esforço físico e intelectual, com dedicação e perseverança inseriram-se em sociedades diferentes contribuindo para o enriquecimento colectivo e colhendo algum bem-estar pessoal e familiar.

Hoje, já todos entrados na idade, sentimos a tranquilidade do dever cumprido por aquilo que conseguiram para si e para os seus mais próximos, filhos e netos, com orgulho mas sem vaidade e muito menos jactância. 

É neste propósito que deixamos para os vindouros estes pequenos apontamentos para que, tal como nós nos orgulhamos dos nossos pais eles possam lembrar com satisfação o que nós fizemos e construímos. 

17/0372021

Zé Rainho 

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