OS CLÁSSICOS!
Faz bem à alma, de vez em quando, revisitar os clássicos.
Aprende-se sempre alguma coisa. Recordam-se outras tantas que, porventura, já
estavam na prateleira do esquecimento.
Ainda não há muito tempo que reli um grande romance do
Alexandre Dumas (pai), o Conde de Monte Cristo, um dos clássicos, publicado em
meados do século XIX, que li, pela primeira vez, há mais de sessenta anos.
Há dias comecei a reler os Sermões do Padre António Vieira,
publicado no início da segunda metade do século XVII, que também já li há umas
boas décadas.
Não é saudosismo é aprendizagem. Tenho consciência que alguns
dos meus amigos, que me lêem, cogitarão que estou velho e é essa a razão de eu recuar
a um passado tão longínquo. Não os contrario, porque tenho plena consciência de
que estou cada vez mais velho, mas também não lhes dou razão, quanto à
necessidade de revisitar o passado, pois sou dos que aprendi, ao longo dos
anos, que é no passado que se alicerça o presente e se projecta o futuro.
Mas voltemos ao assunto deste arrazoado. Senti-me bem ao
relembrar que o Padre António Vieira dizia: “um homem para se ver a si mesmo é
preciso três coisas: olhos, espelho e luz”. Como o eminente pregador tinha e continua,
nos dias de hoje, a ter total razão. O indivíduo tem de ter olhos de ver e não
só de olhar. Tem de ter o espelho do outro, para entender as semelhanças e as
diferenças e tem que ter iluminação suficiente, para que as sombras não distorçam
a imagem.
Mas ensina muito mais. Ensina que se deve comunicar bem. De
forma eficaz, com clareza, com verdade, com autoridade de quem é exemplo na
palavra e na acção, porque se não for assim a palavra é descabida e mais valia
não ter sido pronunciada.
Como é que se pode entender a retórica balofa de quem não é
exemplo? Quem não tem vida? Quem não tem ciência, conhecimento? Quem não tem
acções? Quem não fez obra? Não se entende e, muito menos, se pode aceitar.
Por isso é bom ir aos clássicos, mas também ir aos
contemporâneos. Aos bons jornalistas. Aos bons escritores. Aos bons políticos.
Aos bons cientistas. Aos bons professores. Aos bons mestres em diferentes
áreas. É que assim, se limpam teias de aranha que enredam e condicionam a mente.
Assim se eliminam, ou pelo menos reduzem, os preconceitos, as ideias feitas, as
verdades absolutas. Assim se deixa de dar importância a discursos redondos sem
conteúdo, que se ouvem no dia-a-dia, nos órgãos de comunicação social ou se
lêem nas redes sociais e, talvez, nos obrigue a pensar em opções tomadas,
levianamente. Em decisões inconscientes. Em opções que comprometem, ou podem
comprometer, o futuro próprio e do nosso semelhante.
Talvez estes considerandos levassem os povos a valorizar,
muito mais, a arma democrática que é o voto. A utilizá-la, não com a carteira individual,
mas com o pensamento altruísta, do melhor para todos. Com a vontade de legar um
amanhã melhor. Mais fraterno. Mais justo. Mais equitativo.
Não quero dar lições, quero apenas, contar-vos como me faz
bem à alma, esta revisita aos clássicos. Como me faz bem comunicar convosco.
Como me faz bem desabafar em amena cavaqueira, virtual, com todos os meus
amigos.
Fico-vos muito grato pelo tempo que dispensaram a ler estes
estados de alma.
4/06/2022
Zé Rainho
Sem comentários:
Enviar um comentário