PARCIMÓNIA…
Parcimónia precisa-se, exige-se, em tudo na vida, porque é
discreta, é simples, não é ostensiva nem ofensiva. Mas, também, é esquecida por
causa da vaidade, de protagonismo, de espalhafato. muito procurados por um povo
que gosta e aparências, de dar nas vistas e pouco se importa com a sobriedade,
com a simplicidade, com a dignidade.
O exemplo deste desregramento vem de cima e o papalvo engole
tudo sem mastigar. É pena, porque este comportamento não traz respeito, não
conduz à consideração e. muito menos, à admiração por parte dos outros.
Há acontecimentos que nos deveriam fazer pensar, criticar ou
aplaudir, conforme os casos. É, neste contexto, que quero partilhar convosco a
minha reflexão, o meu sentir.
Comecemos por cima, pelo alto, pelo mais visível e, por isso,
mais responsável.
Sua Excelência o Presidente da República, no seu constante e
permanente vai e vem, de um país para outro, de um lugar para outro, de opinar
sobre tudo e sobre nada, é pouco parcimonioso e há situações em que não sai bem
na fotografia, como Presidente e representante máximo de todo o povo português.
As viagens que fez ao Brasil e Angola, são disso prova bastante, saiu delas
sempre diminuído, pessoalmente e, a nação portuguesa, ficou mal reputada pela
opinião pública alheia. Não quero entrar em todos os dislates, mas refiro
aqueles que foram mais notórios e mais infelizes, devido à pouca parcimónia.
Na primeira viagem não foi recebido pelo Presidente do Brasil
e, pior, foi desconvidado para um almoço previamente acordado. Na segunda, deu
respaldo a um aproveitamento político, miserável, em plena campanha
presidencial daquele país.
Na viagem a Angola não se saiu melhor. Na primeira viagem ao
funeral do ex-presidente, em plena campanha eleitoral, prestou-se ao
aproveitamento político asqueroso, por parte do MPLA. Na tomada de posse do
novo (velho) presidente, Portugal não mereceu menção, nem relevância particular,
por tudo quanto fez e faz pelo povo angolano, sofredor. Faltou-lhe, em todas as
circunstâncias, parcimónia.
Mas não fica por aqui esta falta de comedimento. A pressa com
que promulgou o pacote governamental de apoio às famílias, sem ter acautelado o
escrutínio que deveria ter feito a um diploma que viola a Lei, no caso concreto
das pensões é bem um exemplo de falta de parcimónia. Agora quer emendar o erro
dizendo que o Governo deve explicar as contas. Vem tarde. Tivesse sido parcimonioso
em devido tempo.
Deixemos o Presidente e vamos aos governantes.
Quando, na mesma semana, dois ministros dizem aos deputados,
em pleno Parlamento, que não aceitam lições não é só falta de parcimónia, é
falta de discernimento, é arrogância, é atrevimento da ignorância, é pouca-vergonha,
é desprezo pelos outros. Ninguém sabe tudo e só se é, verdadeiramente
inteligente, se se for capaz de aceitar o saber e o conhecimento do outro. Neste
caso não é só falta de parcimónia, ou é burrice ou querem fazer de nós parvos
e, em qualquer dos casos, é, no mínimo, um descaramento e um desrespeito pelos
eleitos do povo e, simultaneamente, pelo próprio povo. É uma desfaçatez
inqualificável. É um abuso de poder muito próximo da “bota cardada”.
A Comunicação Social não fica melhor nesta falta de
parcimónia.
Há mais de uma semana que temos assistido a uma overdose, macabra,
sobre a morte e funeral da Rainha Isabel de Inglaterra. É a toda a hora e
momento. É a repetição da repetição da repetição, do directo do que foi directo
e do que será directo, um enjoo.
De um momento para o outro parece que desapareceu a Guerra na
Ucrânia. Os crimes de guerra perpetrados pela Rússia. Desapareceu a pandemia, a
violência doméstica, a criminalidade violenta na noite dos grandes centros
urbanos. O roubo e a violência sobre idosos e crianças, a pedofilia, o saque
fiscal, energético e bancário.
Enquanto isso esquece-se de falar sobre os números vindos a
público divulgados pelo INE. Inflação galopante com a respectiva perda do poder
de compra de toda a gente. Dois milhões e trezentos mil pobres no nosso país,
um em cada quatro portugueses. Falta de médicos de família. Carência de
habitação para estudantes do ensino superior deslocados. Número de mortes
excessivas, segundo o Eurostat e tantos outros assuntos de verdadeiro interesse
nacional e de serviço público obrigatório.
Em contraponto ouço um seleccionador nacional de futsal dizer
aos seus jugadores: “que orgulho em todos vós! Cabeça levantada, aconteça o que
acontecer, porque eu tenho muito orgulho em tudo o que já fizestes”. Falou só quando
foi necessário. Disse, apenas, o suficiente. Os jogadores corresponderam
ganhando a finalíssima contra a Espanha.
Parcimónia precisa-se e exige-se, porque não se pode aceitar
o esquecimento das coisas verdadeiramente importantes.
19/09/2022
Zé Rainho
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