deuses!
Aos deuses das antigas civilizações, grega, romana e egípcia,
para referir apenas algumas, tudo era permitido, por serem considerados
superiores aos humanos. Viviam no topo do Olimpo, num céu etéreo e por isso
intocáveis.
Como todos os ídolos com pés de barro, desmoronaram-se com o
tempo, perderam valimento e, consequentemente, o respeito dos que até aí os
adoraram. Caíram em desgraça e esquecimento na memória humana. Pelo menos era
isso que nós pensávamos, mas enganámo-nos. Os deuses estão de volta e aterraram
todos em Portugal e quedaram-se pelos lados de S. Bento.
Só a um deus é permitido ir contra a Lei, torpedeá-la, afrontá-la,
incumpri-la e nada acontecer. Qualquer mortal seria severamente castigado, porque
o não cumprimento da Lei é crime e nem lhe acode a desculpa de a desconhecer,
no acto da condenação. Ao deus não acontece nada e, pior do que isso, até tem
toda a razão, segundo a opinião do Zeus cá do burgo.
E, assim, é ver ministros a gerirem empresas privadas, em
flagrante conflito de interesses e contra a lei, como é o caso do ministro da
saúde, que não só é dono de uma empresa, que agora disse que se vai desfazer,
como delega competências num secretário de estado para tratar assuntos, cuja
primeira interessada é a sua mulher. Se delega competências quer dizer que as
competências são suas e por isso é que tem poder para as delegar. Não acontece
nada porque é um deus. O Zeus disse que não é um caso!
Outro ministro entrega milhares de milhões de euros à TAP,
para que esta possa ser concorrencial com as suas congéneres e se levantar da
falência e esta empresa, em vez de começar um processo de ressarcimento,
gradual, aos portugueses, pelos prejuízos causados, renova a frota automóvel,
com viaturas de luxo, para os seus deuses se passearem a si e às suas excelsas
famílias, à custa dos simples mortais. Questionado o Zeus disse nada saber!
Ainda outro vem a público com uma crónica – publicada num
jornal de referência, ocupando espaço, que deveria ser considerado publicidade
e, como tal pago – mas que vem referida como opinião que, em nosso modesto
entender só é permitido a colaboradores do jornal, dizendo que a mulher de
césar é séria. A um simples mortal não era dada esta oportunidade de
propagandear a sua seriedade, a um deus tudo é permitido. O Zeus remete-se ao
silêncio!
Outro queria contratar um antigo patrocinador, empregador e
protector, como seu assessor, pagando-lhe o favor privado, com dinheiros
públicos. Não se consumou porque a opinião pública fez estardalhaço. O deus
mantém-se impávido e sereno no lugar, dizendo que o amigo era indispensável,
mas agora pode esperar, porque afinal o cargo não é assim tão premente. O Zeus
diz que não se mete nos assuntos dos ministros!
Poderíamos continuar, mas o cheiro é tão nauseabundo que mais
vale ficar por aqui, tirando apenas uma conclusão: “aos deuses tudo é permitido
e o melhor lugar para desenvolverem a sua actividade é Portugal e pela baixa
lisboeta”.
6/1072022
Zé Rainho
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