URGENTE!
O mundo das correrias faz-nos acreditar na urgência constante,
persistente e premente. É tudo muito urgente. É tudo para ontem. Não há tempo
para nada, porque os problemas são mais que muitos e é urgente dar-lhes solução
imediata.
Assim, os pais não têm tempo para os filhos e os filhos não
têm tempo para os pais, nem hoje nem no futuro que é já amanhã, por isso quase
que se pode dizer que se nasce nas creches e se morre nos lares.
Enquanto os filhos são pequenos, adolescentes e jovens, os
pais andam num virote a levá-los e a buscá-los aos mais diferentes lugares e
espaços. À escola, depois ao estudo acompanhado, ao desporto escolhido por cada
um, sempre diferente um do outro, raramente à catequese, o pai para um lado, a
mãe para outro, sacrificando descanso, lazer, diálogo, reflexão, para que os
seus pimpolhos não se diferenciem dos outros e que pertençam ao rebanho e não se
dispersem da manada. O que importa é o padrão e não a diferença.
É muito urgente dar tudo para que o menino(a) não se
traumatize. Ir a pé para a escola, ginásio ou local das explicações, mesmo que
não distem mais do que um quilómetro da residência, é impensável, pois pode
estar sujeito a roubos, a acidentes, a bullying dos colegas ou de outros
miúdos. Mantê-los numa redoma, imunes a qualquer tipo de dificuldades, de
obstáculos é um dever e uma obrigação paternal, para que o menino(a) viva no
melhor dos mundos, nem que para isso os pais sofram burnout, depressão ou
qualquer outro tipo de distúrbio emocional.
Nunca, ninguém se questiona sobre para que serve tanta
urgência e se esta é assim tão importante.
Neste estilo de vida alucinante haverá tempo para definir prioridades
e sensibilidade para avaliar o que é, deveras, importante?
Se isto é inquietante ao nível das famílias não deixa de ser
preocupante ao nível da sociedade.
Quando, numa comunicação ao país o senhor primeiro-ministro diz
que é urgente decidir sobre investimentos avultados vem-nos à ideia esta
questão comezinha: o que é mais benéfico para a sociedade, o que é urgente ou o
que é importante?
A urgência na obtenção de investimentos para o
desenvolvimento do país pode ultrapassar a importância da legalidade, da
transparência, do cumprimento das regras iguais para todos, sem favorecimento
de quem quer que seja?
Quando Max Weber estudou e deu ao mundo a teoria sobre a
burocracia estaria a pensar em travar as decisões ou, pelo contrário,
pretenderia harmonizar as decisões com a defesa do bem comum, do interesse
público?
Parece-me que é tempo de conciliar o que é urgente com o que
é importante, dando, primazia ao importante e secundarizar o que é urgente para
que este não se torne numa inutilidade.
Parece-me, ainda, que é preciso destrinçar muito bem o que é
importante para se esbaterem urgências que, de facto, não o são.
Por fim, julgo que toda a sociedade teria muito a ganhar se
se capacitasse que nem tudo o que é urgente é importante, mas que tudo o que é
importante, raramente é urgente.
13/11/2023
Zé Rainho
Sem comentários:
Enviar um comentário