POR VEZES…
Há alturas em que o nosso país me desilude, me irrita, me
constrange e me entristece. Acontece muitas vezes.
Quando vejo urgências de hospitais fechadas e doentes em
bolandas, de um lado para o outro, com sofrimento atroz, fico triste e zangado.
Quando assisto a notícias de assassínios de mulheres, pelos
seus companheiros, crianças maltratadas, esquecidas ou marginalizadas, fico
possesso.
Quando vejo pobreza extrema, reflectida no aumento exponencial
dos sem-abrigo, em jovens que têm de emigrar, porque não têm salário compatível
com uma vida digna, em muitos portugueses a trabalhar para empobrecer, doí-me
por dentro, porque não havia necessidade.
Quando assisto à corrupção, não digo generalizada, mas muito
difundida, nos corredores dos vários poderes, o chico-esperto a safar-se à
grande e o honesto trabalhador, cheio de mérito a ser deixado para trás,
ultrapassado de uma forma vergonhosa, tira-me do sério.
Quando assisto a muitas outras situações, como a marginalidade,
a libertinagem, a incivilidade, não só me irrita, mas magoa-me.
Mas, também, há alturas em que sinto um orgulho enorme em ser
português e em ter nascido e viver neste país.
Ontem foi um desses dias. Quando vi, numa cidade pequena,
Viana do Castelo, mais propriamente, coabitarem em plena liberdade dois
extremos políticos sem atropelos nem nenhum tipo de violência. Falo, como é
óbvio, da convenção do Chega e de uma reunião de militantes do Bloco de
Esquerda.
Não é preciso ser muito sagaz para perceber que ambos os
partidos se situam nos extremos do espectro político nacional, mas que qualquer
deles representa uma fatia do eleitorado nacional. Representa, pois,
portugueses tão genuínos e autênticos, como todos os outros e, quer votem num
ou noutro, isso é uma bênção e é preciso dar graças.
Esta liberdade e esta convivência democrática dá-me uma
imensa satisfação e leva-me a fazer paralelismos com países enormes, com muito
mais potencialidades, com muito mais dinheiro e poder, onde este tipo de coisas
não era possível. Estou a lembrar-me da China, da Rússia, da Venezuela, para
referir apenas alguns. Infelizmente há muitos mais, até me dói referir a Coreia
do Norte, por exemplo, por ser um caso de extrema violência e desumanidade.
Pela liberdade de pensamento, expressão e conduta, digo com
muito orgulho, viva Portugal.
Pela convivência democrática, civilizada, educada, apesar das
diferenças e concepções políticas, estou agradecido a este país e por isso digo,
veementemente, viva Portugal.
14/01/2024
Zé Rainho
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