Temos no arquétipo da nossa memória algumas das consequências
da Guerra Civil de Espanha e da segunda Guerra Mundial, com vivências e
experiências. Vivemos bastantes anos da nossa vida em paz, liberdade,
desenvolvimento e alguma prosperidade.
Habituámo-nos a olhar para as instituições democráticas como
elite e suporte de uma sociedade participativa, tolerante, solidária e inclusiva.
Dávamos por adquirido que as lideranças eram impolutas,
conhecedoras, altruístas, trabalhadoras para a sustentação e consolidação do
Estado de Direito.
Sentíamos todos estes efeitos na sociedade portuguesa, mas
também, nas sociedades democráticas do mundo, particularmente, naquelas que,
vulgarmente, se designam por civilização ocidental, onde sobressai a Europa
Ocidental, Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Reino Unido.
Assistimos, com preocupação, à degradação acelerada, até
vertiginosa, de valores na sociedade e à decadência das instituições basilares
desta civilização.
Vemos, com apreensão, alguns acontecimentos inquietantes. Desde
logo, a campanha eleitoral nos Estados Unidos da América. Os putativos
presidentes serão: um idoso diminuído nas suas capacidades físicas e
intelectuais, ou um idoso truculento de carácter belicoso que convive mal com a
verdade e a seriedade na política, mas também nos negócios, nas obrigações
fiscais, no respeito pelo universalismo e pela diversidade. Interrogo-me se um
país tão grande, tão próspero e tão diverso, não conseguirá gerar, no seu seio,
outro tipo de candidatos, mais capazes, mais jovens, mais alinhados com os
valores da democracia e do respeito pelo outro, sendo que o outro são as
pessoas daquela sociedade, mas também as pessoas do resto do mundo.
Questiono-me sobre a liderança da Rússia, belicista e
confrontacional, e a acomodação de um povo amordaçado há séculos.
Vejo, com inquietação, os interesses, mesquinhos, que grassam
numa União Europeia da paz, da solidariedade, da entreajuda, da pluralidade e
do respeito pela Lei, pela Ordem e pelo Progresso.
Assisto, no nosso país, a um aumento exponencial do discurso
do ódio, à mediocridade das lideranças políticas parlamentares, ao aumento
desmesurado do descrédito da justiça e seus agentes, à fragilidade da educação da
nossa juventude, cada vez mais, balizada por baixo, a pouco mais que sofrível
informação dos média, ao pouco respeito e valor pela cultura, popular e erudita,
o acelerar da insegurança com desacatos diários que resultam em mortes, a pouca
consideração dada às forças de segurança, aos militares, aos professores, aos
médicos, aos enfermeiros, aos clérigos, aos pensadores, escritores, músicos,
artistas sérios e capazes, por contraponto com as minorias propagadas pela
moda, pela televisão, pelas redes sociais, fúteis, e inúteis.
Lastimo o que está a acontecer a um povo tão hospitaleiro,
ordeiro, franco, e que tem medo de passear em determinados locais, cidades,
bairros, vilas e até aldeias, porque é assaltado, espancado, brutalizado,
principalmente se é criança ou idoso.
Tenho pena da degradação do conceito e vivência da família
tradicional, que é ostracizada por uma narrativa de falsa liberdade individual,
mas também da mulher e do homem que pretendem ser inteiros, na sua
individualidade, complementando-se na sua diversidade, porque parece ser pecado
ser macho e fêmea. Não sei a quem aproveita isto de nos querem fazer crer que o
que é normal e respeita os direitos humanos é ser um híbrido.
Por fim, mas não por último, porque muito mais haveria a
dizer, apoquentam-me as rivalidades mesquinhas e a inveja que grassa nesta
sociedade que cataloga, permanentemente, o nós e os outros, os bons e os maus,
sendo que o nós e os nossos são sempre os bons e os outros são sempre os maus. Irrita-me
o sentido de vida tribal em que a minha tribo é bestial e a tribo alheia é,
simplesmente, besta. Preocupa-me o fundamentalismo de posições que não é capaz
de ver que a razão também pode estar do outro lado.
Procuremos, cada um com as suas possibilidades inverter este
tipo de coisas e situações para que leguemos aos vindouros um mundo melhor.
1/07/2024
Zé Rainho
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