Pensamento!
Em
minha opinião, os velhos deviam eximir-se de pensar, porque lhes faz mal,
irrita-os.
Porque
são velhos, já viram muita coisa e os factos vividos e ou presenciados, fazem
deles seres um tanto objectivos que colidem, facilmente, com a narrativa em
moda e do pensamento veiculado pela opinião publicada e isso torna-os
taciturnos, cépticos e desapontados.
A
História, particularmente a História moderna, é a narrativa de factos, sem
julgamentos, nem opiniões, sem coloridos diferenciados, consoante os
auto-intitulados historiadores da nossa praça.
A
História há muito que passou a ser uma ciência, que se baseia em evidências
científicas irrefutáveis e não se coadunam com opiniões, por mais abalizadas
que elas sejam, nem se compadece com voluntarismos, mais ou menos insensatos,
de investigadores proletários que, por força da sua precariedade laboral, se
vêem forçados a alinhar no modismo vigente de quem paga os seus serviços.
Se
atentarmos no nosso país, fácil será intuir que, em pleno século XX era
constituído por um povo, maioritariamente, ruralizado, analfabeto, numa
enormíssima dimensão. Que tomou uma posição neutral na segunda guerra mundial e
por isso não beneficiou do Plano Marshall, continuando pobre e subdesenvolvido.
Que tinha uma polícia política, que era um estado dentro do Estado, que não
podia ter umas forças armadas capazes, da mesma maneira que não tinha uma
indústria, um comércio e uma agricultura capaz.
O
País foi sempre pobre e sem possibilidades de proporcionar ao seu povo as
necessidades básicas preconizadas por Maxwell.
Houve, porém, nesse período temporal, um facto importante. A escola
passou a ser obrigatória em meados do século e as escolas Normais foram
reactivadas para formar docentes mais capacitados.
Vem
tudo isto a propósito do Golpe de Estado do 25 de Abril de 1974.
Vejamos:
-
No
século XV foram os descobrimentos que ajudaram na subsistência da população.
Seguiu-se o povoamento de territórios descobertos o que aliviava a pressão no
recanto europeu, à beira-mar plantado. Depois uma emigração diversificada,
ainda que de reduzida dimensão, para o Brasil e América Latina.
As
colónias, nomeadamente Angola, servia para receber os condenados pela justiça
que eram designados por degredados. Para os restantes que quisessem demandar
aquele território necessitavam de obter uma carta de chamada, assinada por um
residente com capacidade financeira para assegurar a sobrevivência de quem
chamava e, caso fosse necessário, proceder ao seu repatriamento, documento
reconhecido notarialmente. Daí a dificuldade da emigração para as colónias
ultramarinas, mais tarde designadas por Províncias Ultramarinas.
No
final da década de cinquenta e princípio da década de sessenta iniciou-se uma
emigração clandestina, mas em massa, para a França, seguindo-se, mais tarde,
outros destinos, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, entre outros. Também Angola
recebeu alguns emigrantes autorizados pelo Governo e dirigidos a colonatos
implantados pelo Estado e, a seu reboque, mais alguns que tinham conhecimento
com alguém já instalado no território. Porém, o rácio português indígena era
bastante baixo para um território tão extenso.
Os
europeus, na sua maior parte, tinham colónias em África e, nalguns casos, a
exploração do indígena era, deveras chocante, com apartheid, com discriminação,
com abusos de poder. Não era o caso de Angola, salvaguardando sempre a
possibilidade da existência de alguns casos como os referidos, mas sem a
dimensão e a crueldade de outros territórios. Por exemplo, o Congo Belga
funcionava como uma coutada do Príncipe Leopoldo II da Bélgica.
A
evolução natural é a autodeterminação dos povos. Quanto mais atropelos há em
relação aos direitos humanos, mais se acende a fogueira da insatisfação e o
incêndio no seio da sociedade pela independência é uma realidade num curto
espaço de tempo.
Assim,
em 1960 a Bélgica viu-se obrigada a dar a Independência ao Congo Belga, no meio
de refregas e terror junto da etnia branca. A França faz o mesmo com a Argélia.
Estes
factos aliados ao, cada vez maior número de jovens angolanos e portugueses,
mais politizados que viviam em Angola fez despertar uma consciência que começou
a tomar corpo. Entre essa juventude até se dizia jocosamente: “Angola é uma
vaca que tem as tetas na Metrópole e os cornos cá. É preciso alterarmos a
situação trazendo as tetas para cá e deixando os cornos lá”. Consequentemente
organizaram-se Movimentos pró-independência fora do território que, desde logo
tiveram apoio das diferentes potências mundiais e o combate aceso das Nações
Unidas a Portugal por se recusar a dar a dita independência.
Para
abreviar, vamos a mais uns factos. Em 4 de Fevereiro de 1961 um grupo mal-organizado,
mas apoiado por alguma cúpula da Igreja Católica e de outras religiões, decidiu
atacar a Casa da Reclusão de Luanda e a sétima Esquadra da Polícia de Segurança
Pública, na tentativa de obrigar o regime político português a ceder aos
interesses dos independentistas e, principalmente, das potências estrangeiras
interessadas nas fontes de riqueza existente no território. Houve algumas
mortes e alguma barbárie pondo em confronto raças até aí conviventes em alguma
harmonia.
Seguiu-se
a revolta dos trabalhadores da Baixa do Cassanje onde a barbárie foi mais
acentuada, com várias mortes e laivos selváticos praticados pelos dois lados da
barricada.
Nessa
época Angola tinha, apenas, um simulacro de Forças Armadas e um corpo policial
reduzido, sendo que a ordem pública era assegurada por Administradores
Distritais e Chefes de Posto Concelhios, com o seu quadro diminuto de sipaios.
A
Metrópole não estava muito melhor em termos de Forças Armadas já que não tendo
entrado na Guerra e fazendo parte da NATO apenas precisava de algumas forças
que não deixassem o país mal na fotografia.
Quando
aconteceu o fenómeno apelidado de terrorismo em Angola, que. pouco mais tarde
alastrou aos restantes territórios, Salazar teve a tirada junto da Brigada do
Reumático (Generais velhos de mente e de corpo) “para Angola, rapidamente e em
força”. De facto, foram enviadas alguns, poucos, militares de avião, no início
da rebelião e pouco a pouco maiores contingentes de navio, a partir de Maio de
1961. Em qualquer dos casos tratou-se de tropas mal preparadas e muito mal apetrechadas
de armamento. A maior parte do armamento era constituído por espingardas Mauser
e pistolas Walter. O Comando era, maioritariamente, das patentes menores,
Alferes e Furriéis, milicianos, que interromperam os seus estudos em níveis
mínimos, respectivamente com o 7º ano do Liceu ou cursos superiores
interrompidos, 2º ou 5º anos liceais e as praças com a 4ª classe. Os capitães
comandavam companhias que, em geral, estavam ou ficavam aquarteladas em
aglomerados populacionais e não entravam em combate.
O,
dito, terrorismo, nunca teve grande expressão nas cidades capitais de Distrito
e, a partir de 1963 foi reduzido a bolsas pouco significativas em todo o
território porque, entretanto, o efectivo militar tinha sido substancialmente
aumentado e o armamento muito melhorado, para além dum número significativo de
tropas especiais, comandos, paraquedistas, fuzileiros e os reforços dos três
ramos das Forças Armadas, exército, armada e força aérea.
Por
outro lado, a economia de todo o território teve um desenvolvimento exponencial
que mitigava algumas injustiças e trazia mais bem-estar a toda a população,
independentemente da raça ou cor da pele.
A
guerra colonial, para além de alastrar territorialmente, alastrou no tempo de
duração e também foi fazendo estragos na motivação da juventude que via a sua
vida condicionada, na maior parte das vezes, por mais de três anos de vida
militar obrigatória.
Independentemente
da consciencialização política o mal-estar foi fazendo o seu percurso ao longo
dos anos, o descontentamento populacional português e angolano foi terreno
fértil para a actividade subversiva, que era desenvolvida interna e
externamente. No exterior era ainda fomentada pelas grandes potências internacionais
e apoiada pelos povos vizinhos dos territórios sob administração portuguesa.
Outro
facto foi o afastamento, por doença, incapacitante, de Salazar do lugar de 1º
Ministro, sendo substituído no cargo pelo Professor Marcelo Caetano que,
sabe-se hoje, nunca conseguiu impor uma política pessoal e foi sendo arrastado
para um pântano onde a PIDE, por um lado e as altas patentes das Forças Armadas
por outro, o enredaram, frustrando uma expectativa muito promissora que
apareceu em 1968.
Ainda
outro facto foi o envolvimento de cerca de um milhão de militares em todo o
teatro de guerra que estava completa e totalmente ganha, em todos os
territórios, com alguma dúvida na Guiné, mas que necessitava de uma cadeia de
comando de mais elevada patente, nomeadamente a nível de capitão, e na
impossibilidade de uma formação adequada, por Despacho Ministerial foi decidido
que os tenentes milicianos poderiam aceder ao posto de capitão, desde que
frequentassem um curso intensivo de um ano. Comparando com os cinco de Academia
Militar que os Capitães do Quadro tinham que fazer e mais, pelo menos sete anos
para chegar ao posto de capitão concluía-se que havia aqui alguma, muita, dose
de injustiça.
A
guerra que iniciou com milicianos passou também a ser feita por militares dos
Quadros logo, uma maior rotatividade e, devido à falta de recursos humanos os
capitães foram obrigados a maior número de mobilizações para comissões, com
poucos anos, ou mesmo meses, de intervalo, o que gerou muito descontentamento.
A
sucessão de factos elencados conduziu ao golpe de Estado corporativo levado a
cabo pelos capitães no dia 25 de Abril de 1974.
A adesão popular a este evento transformou o golpe em revolução que, de
facto não o foi, por várias razões.
As
pessoas estavam sedentas de liberdade o que era deveras compreensível, dado o
silenciamento de mais de quatro décadas. Mas, logo a seguir, surgiram os donos
da liberdade e do próprio golpe de estado. Na circunstância, tentaram
apropriar-se da hipotética revolução o Partido Comunista Português e toda a extrema-esquerda
radical existente no país, ainda que rotulada, pelo antigo regime, de
comunistas.
Os
militares do Conselho da Revolução, mais uns tantos radicais existentes nos
quartéis, muito ligados ao PCP, tentaram definir quem eram os portugueses com
direito à liberdade e quem eram os que deviam ser presos sem culpa formada e
sem qualquer tipo de julgamento.
Álvaro
Cunhal, ministro sem pasta, para poder ter as pastas todas, mandou
instrumentalizar os trabalhadores, operários, trabalhadores rurais e dos
serviços, para que o poder caísse na rua e assim poder avançar para uma nova
ditadura, desta vez, comunista de ideologia soviética, com intervenção directa,
ainda que sub-reptícia da Rússia que então, ainda era a URSS (União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas). Valeram os militares moderados, povo
moderado do Norte e do Centro do País e Mário Soares, Sá Carneiro e Freitas do
Amaral, que frustraram tal ambição.
O
25 de Novembro foi o golpe de misericórdia nas pretensões do PCP que, com a
conivência de Otelo Saraiva de Carvalho passou para a luta armada com as,
tristemente célebres FP 25, que causou morte e dor muito superior à que foi
causada pelo Golpe Militar de 25 de Abril.
Hoje,
passados 48 anos, vemos uns rapazinhos e umas rapariguinhas, que não têm noção,
nem conhecimento e muito menos experiência, querer ditar quem são os donos do
25 de Abril. Tudo gente captada no alfobre socialista que é o ISCTE.
Não
deixaremos que tal aconteça e, nestes quatro anos que agora se iniciam, de
comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, não deixaremos de levantar a
nossa voz contra estes projectos de ditadores e dizer com toda a pujança que o
25 de Abril não tem donos específicos. O 25 de Abril é de todos nós, os
portugueses.
21/04/2022
Zé
Rainho
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