Um texto que escrevi há alguns anos mas que julgo actual.
Se…
Num tempo em que a gramática da Língua
Portuguesa se dividia em: morfologia, fonologia e sintaxe havia “orações”
que se classificavam de formas tão diferentes quanto o contexto em que se
inseriam e, por isso, se diziam ser: causais, condicionais, concessivas,
finais, temporais, comparativas, copulativas, adversativas, disjuntivas,
conclusivas, por exemplo. Desta forma a gente entendia-se falando, escrevendo,
contando factos, histórias, aventuras. Hoje, para muitos, principalmente para
os mais jovens, estas coisas são minudências sem nenhum, ou com pouco,
interesse.
Apesar desta discrepância no tempo e no
Conhecimento e da tão famosa TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos
Básico e Secundário) já ser um “nado-morto” considerei ter algum interesse e
quem sabe, para nos divertirmos, debitar para o papel algumas
"orações", "frases", "ideias", como queiram, no
modo condicional mas que eu queria ver alterado para outros modos mais
apelativos, como presente, futuro, passado, por exemplo.
É que me inquieta este constante condicional que,
em meu modesto entender, muitas vezes, não deixa de ser, de algum modo, uma
desculpa, um álibi, para muitos acontecimentos a que assistimos, este
"se". Se tivesse acontecido isto? Se não fora aquilo? Se fosse
aqueloutro? Se não fosse o outro? De alguma forma são questões que,
não resolvendo nada, não deixam de tornar a "alma" mais leve, a
consciência menos pesada e, quiçá, justificação para situações reais,
concretas que desculpam, ou procuram mitigar alguns remorsos - talvez não
remorsos - se calhar apenas arrependimentos.
O Tempo passado, vivido, experienciado, pelos
academistas quase que nos obriga a reviver um passado recheado de
"ses". Mas, sendo esta uma evidência, não poderá deixar que este
condicional nos ofusque o presente, qual dia de nevoeiro intenso, onde não
se vê um palmo à frente do nariz, e não nos permita regressar a um
presente que pode ser futuro e, mesmo que o não seja para usufruto próprio,
possa vir a ser útil aos vindouros. Deixemos pois o condicional e passemos ao
presente: eu quero!
Eu quero muitas coisas. Em primeiro lugar quero
ser um cidadão livre de peias ou mordaças. Depois quero ter a liberdade
de ouvir, olhar, ver e opinar em consciência, mesmo que essa opinião
choque, polemize e traga para à ribalta o outro que, tal como eu, tem os mesmos
direitos e, porventura, os mesmos anseios só que vistos com cores diferentes,
mais vivas ou mais esbatidas, consoante a (de) formação ou o estado de
espírito.
Por isso eu quero uma sociedade mais solidária e
lutarei com todas as forças para que tal aconteça. Anseio o mesmo para esta
Instituição que cada vez mais se vem afirmando como uma Organização plural,
interventiva, social, educativa, promocional da velhice e das suas
potencialidades.
Quero também que a Academia não seja abúlica nas
questões "quentes" da sociedade mas tome parte no debate das questões
relacionadas com a vida do todo Nacional e não só local ou Regional, de forma
a, mesmo que a sua voz não ecoe junto dos corredores do Poder, se faça ouvir por
entre os seus pares e muitos dos que, como nós, têm obrigação de legar aos
descendentes um património cultural, afectivo, emocional e sentimental que seja
a bússola que não erra o destino, porque é capaz de determinar o azimute
certeiro. Quando se fala em bússola não se está a desprezar o GPS ou o Sistema
de Informação Geográfica, tão em moda, nos nossos dias. Uma coisa não invalida
a outra. Sermos capazes de compreender sistemas e utensílios artesanais e
conjugá-los com altas e muito modernas tecnologias é uma das vantagens da
idade, porque só esta dá lugar a um saber de experiência feito, que pode ser
muito útil à Ciência e à Inovação.
Não me conformo, deste modo, com o condicional.
Repito que quero o presente com visão e estratégia prospectiva com vista a um
futuro diferente. Um futuro que não se refugie na frase batida de que "no
meu tempo é que era" e siga em frente com a mesma força e vontade como se
tivéssemos vinte anos, mas com o senso e a ponderação que só os anos passados
são capazes de catalisar.
Vamos lá então todos fazer força para
passarmos do condicional para o presente, conjugar todos os verbos neste tempo
mas, mais do que conjugá-los, pô-los em prática, com vista a um futuro mais
risonho, mais sereno, mas, sobretudo mais auspicioso para o bem-estar da nossa
criançada, juventude e, por que não, velhice.
Os Academistas Seniores, melhor do que ninguém
sabem do que falo porque todos nós passámos por dificuldades mas vislumbrávamos
um luz ao fundo do túnel. Hoje vemos muitos jovens sem esperança e isso não
pode deixar ninguém indiferente. Um jovem desesperado é capaz de tudo: desde
entrar por caminhos tortuosos até ao próprio suicídio. Uma sociedade que deixa
os seus jovens sem esperança é uma sociedade doente e nós, pelo nosso exemplo e
pelo nosso testemunho podemos ajudar. Tenho a certeza disso. Perdoem-me mas
estou farto do "talvez", do "assim, assim". Quero ser
assertivo e contundente. Quero ser afirmativo e inteiramente convicto. Todos
temos de fazer a nossa parte. Eu vou, desde já, com este artigo, iniciar a
minha.
Fevereiro de 07
José Rainho Caldeira
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