O poeta é taciturno e humorista.
É sensível, inquieto, um artista
Que joga co’ a palavra, malabarista,
Dos sentidos, não há quem resista,
A um poema como a uma pintura,
Como a um retrato ou escultura,
Natureza morta ou, apenas, madura,
Paisagem álacre ou mesmo escura.
O poeta olha para o papel como o pintor,
Olha para a tela e para a tinta de cor,
Para o desbaste que faz o escultor,
Em pedra bruta sem qualquer valor,
Que depois de tirado o material sobrante
Aparece aos olhos de todo o visitante,
Como pérola esculpida, estonteante,
Com brilho próprio, esvoaçante.
O poeta trabalha a palavra com doçura.
Retrata sentimentos como a loucura,
Como se fossem delírios de brandura,
De quem quer demonstrar candura,
Na abordagem de amor, ódio, desespero
De momento tão vibrante como o medo,
Dum suplício imerecido tão duro e quedo,
Que mais valia ficar sempre no segredo.
O poeta quer dar voz ao sentimento,
A toda hora e a todo o momento,
Para que não haja forma de lamento,
Que ele não traduza seu sofrimento.
Leva o leitor ao pavor do sortilégio
Como se tivesse poder, mesmo régio
De tudo decidir, com seu privilégio
De um deus menor mas um génio.
O poeta vive o seu momento instado,
A escrever para quem está abalado,
Pela dor de sofrer em silêncio, calado,
As agruras de uma vida de desbragado.
Para suavizar toda a árdua tensão,
Que sofre qualquer simples coração
Abandonado, à sua mísera solidão
De não ter quem lhe estenda a mão.
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