quarta-feira, 1 de maio de 2024

Inteligência!

 

INTELIGÊNCIA!

Ao longo dos tempos tem vindo a ser estudadas, pela Psicologia e demais ciências humanas, as diversas formas de apreensão e compreensão de coisas simples e complexas pelo ser humano e, do mesmo modo, tem vindo a ser alterada a definição de inteligência consoante os ângulos em que a mesma é avaliada.

Porém, para o povo simples, comum, a inteligência é sempre entendida como capacidade de aprender coisas novas. Por vezes, também confunde inteligência com esperteza, confusão própria de quem tem pouco conhecimento técnico e baseia o seu juízo nas aparências, na notoriedade ou até nas negociatas.

Não vamos entrar nessa dicotomia e, muito menos, em conceitos etimológica e academicamente fundamentados. Vamos, sim, centrar-nos em atitudes e comportamentos públicos de pessoas inteligentes para percebermos melhor o que se passa no mundo que nos rodeia.

Nos últimos dias Sua Excelência o Senhor Presidente da República tem preconizado afirmações que deixam o comum dos mortais, no mínimo, estupefactos.

É voz corrente, entre os seus pares, amigos e até alguns inimigos, que o Senhor Presidente é dotado de uma inteligência prodigiosa, porventura baseada no seu percurso académico fulgurante, mas a inteligência tem nuances que vão muito para além da academia. Um operário, um agricultor podem ter inteligência acima da média sem conhecer nada de Física, Matemática ou Direito.

Inteligência a nosso ver, também tem a ver com bom senso, racionalidade, ponderação, sentido da conveniência, sageza analítica e capacidade interpretativa das situações diversificadas no tempo e no modo. Numa palavra, postura circunstancial.

A minha postura na minha casa, com os meus, é necessariamente diferente daquela em que me encontro no café com um grupo de amigos, numa sessão solene institucional, ou qualquer outra que implique e impacte com pessoas, sensibilidades, interesses e, até, valores éticos, morais e ideológicos.

Mas a inteligência do Senhor Presidente deve ser tão superlativa que não lhe permite recato, ponderação e, talvez por isso, outra inteligência reconhecida nacionalmente, infelizmente já desaparecida, Vasco Pulido Valente, o tenha apelidado de “picareta falante”.

Com os últimos acontecimentos qualquer pessoa minimamente inteligente inferirá que o VPV tinha toda a razão. O Sr. Presidente fala com a mesma ligeireza de um lance de futebol, de questões de Estado, de apreciações de personalidades, de análise Histórica de um povo com cerca de mil anos de História, de relações de intimidade familiar com o seu filho “Dr. Nuno”, de processos em segredo de justiça e tal despautério só poderá ser fruto de uma inteligência, no mínimo, endeusada.

Talvez por isso não lhe tenha permitido descer à terra quando falou da indemnização às colónias portuguesas, sem atentar nos factores intrínsecos, nas circunstâncias, nas trocas mútuas de conhecimentos, saberes, culturas, nem sequer no desenvolvimento de países que, em si mesmo, nunca o tinham sido por, até então, serem mais ou menos tribais e o foi o povo português com seu denodo e esforço contribuiu, decididamente, para os actuais Estados reconhecidos pelo resto do Mundo.

Também se esqueceu dos milhares de portugueses que perderam vidas e haveres, que foram espoliados e escorraçados de terras que adoptaram como suas, muitos dos quais nelas nasceram e viveram durante gerações e que nunca tiveram outra terra senão aquela onde sempre viveram.

Também se esqueceu que o seu pai protagonizou, como autoridade máxima em Moçambique, o colonialismo político e ideológico, mais do que qualquer português que naquele território procurou fazer vida, trabalhar para engrandecer o território local e nacional, sem outros benefícios que não fossem o fruto do seu labor e do seu esforço.

Também não se lembrou das mordomias que ele próprio usufruiu no palácio do governador, em Lourenço Marques, que possuía serventuários para tudo e mais alguma coisa, pagos com o suor de portugueses e moçambicanos.

Também esqueceu que, coincidentemente ou não, todos os jovens portugueses da sua idade foram mobilizados para um serviço militar obrigatório que os enviou para diferentes teatros de guerra, onde muitos pereceram ou ficaram estropiados física ou psicologicamente, enquanto ele se livrava desse fardo e podia continuar os seus estudos e a sua valorização académica como se nada daquilo estivesse a acontecer.

A inteligência do Senhor Presidente pode ser prodigiosa, mas é, seguramente, selectiva para aquilo que é do seu interesse pessoal e é pouco consentânea com as funções que desempenha que, em última análise, é a defesa intransigente da Pátria, do seu povo, na actualidade e no respeito pelos antepassados que fizeram desta Nação uma nação respeitada e admirada no concerto das nações.

Assim, pela parte que me cabe, aprecio muito mais a inteligência média dos portugueses do que a inteligência divina do Presidente.

1/05/2024

Zé Rainho

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