INTELIGÊNCIA!
Ao longo dos tempos tem vindo a ser estudadas, pela
Psicologia e demais ciências humanas, as diversas formas de apreensão e
compreensão de coisas simples e complexas pelo ser humano e, do mesmo modo, tem
vindo a ser alterada a definição de inteligência consoante os ângulos em que a
mesma é avaliada.
Porém, para o povo simples, comum, a inteligência é sempre
entendida como capacidade de aprender coisas novas. Por vezes, também confunde
inteligência com esperteza, confusão própria de quem tem pouco conhecimento
técnico e baseia o seu juízo nas aparências, na notoriedade ou até nas
negociatas.
Não vamos entrar nessa dicotomia e, muito menos, em conceitos
etimológica e academicamente fundamentados. Vamos, sim, centrar-nos em atitudes
e comportamentos públicos de pessoas inteligentes para percebermos melhor o que
se passa no mundo que nos rodeia.
Nos últimos dias Sua Excelência o Senhor Presidente da
República tem preconizado afirmações que deixam o comum dos mortais, no mínimo,
estupefactos.
É voz corrente, entre os seus pares, amigos e até alguns
inimigos, que o Senhor Presidente é dotado de uma inteligência prodigiosa,
porventura baseada no seu percurso académico fulgurante, mas a inteligência tem
nuances que vão muito para além da academia. Um operário, um agricultor podem
ter inteligência acima da média sem conhecer nada de Física, Matemática ou Direito.
Inteligência a nosso ver, também tem a ver com bom senso,
racionalidade, ponderação, sentido da conveniência, sageza analítica e
capacidade interpretativa das situações diversificadas no tempo e no modo. Numa
palavra, postura circunstancial.
A minha postura na minha casa, com os meus, é necessariamente
diferente daquela em que me encontro no café com um grupo de amigos, numa
sessão solene institucional, ou qualquer outra que implique e impacte com
pessoas, sensibilidades, interesses e, até, valores éticos, morais e
ideológicos.
Mas a inteligência do Senhor Presidente deve ser tão
superlativa que não lhe permite recato, ponderação e, talvez por isso, outra
inteligência reconhecida nacionalmente, infelizmente já desaparecida, Vasco
Pulido Valente, o tenha apelidado de “picareta falante”.
Com os últimos acontecimentos qualquer pessoa minimamente
inteligente inferirá que o VPV tinha toda a razão. O Sr. Presidente fala com a
mesma ligeireza de um lance de futebol, de questões de Estado, de apreciações
de personalidades, de análise Histórica de um povo com cerca de mil anos de História,
de relações de intimidade familiar com o seu filho “Dr. Nuno”, de processos em segredo
de justiça e tal despautério só poderá ser fruto de uma inteligência, no
mínimo, endeusada.
Talvez por isso não lhe tenha permitido descer à terra quando
falou da indemnização às colónias portuguesas, sem atentar nos factores intrínsecos,
nas circunstâncias, nas trocas mútuas de conhecimentos, saberes, culturas, nem
sequer no desenvolvimento de países que, em si mesmo, nunca o tinham sido por,
até então, serem mais ou menos tribais e o foi o povo português com seu denodo e
esforço contribuiu, decididamente, para os actuais Estados reconhecidos pelo
resto do Mundo.
Também se esqueceu dos milhares de portugueses que perderam
vidas e haveres, que foram espoliados e escorraçados de terras que adoptaram
como suas, muitos dos quais nelas nasceram e viveram durante gerações e que
nunca tiveram outra terra senão aquela onde sempre viveram.
Também se esqueceu que o seu pai protagonizou, como
autoridade máxima em Moçambique, o colonialismo político e ideológico, mais do
que qualquer português que naquele território procurou fazer vida, trabalhar
para engrandecer o território local e nacional, sem outros benefícios que não
fossem o fruto do seu labor e do seu esforço.
Também não se lembrou das mordomias que ele próprio usufruiu no
palácio do governador, em Lourenço Marques, que possuía serventuários para tudo
e mais alguma coisa, pagos com o suor de portugueses e moçambicanos.
Também esqueceu que, coincidentemente ou não, todos os jovens
portugueses da sua idade foram mobilizados para um serviço militar obrigatório
que os enviou para diferentes teatros de guerra, onde muitos pereceram ou
ficaram estropiados física ou psicologicamente, enquanto ele se livrava desse
fardo e podia continuar os seus estudos e a sua valorização académica como se
nada daquilo estivesse a acontecer.
A inteligência do Senhor Presidente pode ser prodigiosa, mas
é, seguramente, selectiva para aquilo que é do seu interesse pessoal e é pouco
consentânea com as funções que desempenha que, em última análise, é a defesa
intransigente da Pátria, do seu povo, na actualidade e no respeito pelos
antepassados que fizeram desta Nação uma nação respeitada e admirada no
concerto das nações.
Assim, pela parte que me cabe, aprecio muito mais a
inteligência média dos portugueses do que a inteligência divina do Presidente.
1/05/2024
Zé Rainho
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