DESERTIFICAÇÃO!
Utiliza-se este termo em contexto diverso, mas, no essencial,
significa degradação, erosão, aridez, pobreza, logo, situação muito grave,
preocupante, que urge remediar, sob pena de aumentar a calamidade inerente.
Normalmente associa-se ao solo e, ainda que nessa
circunstância, seja de extrema relevância existe noutros contextos, igualmente
importantes. A desertificação humana do interior do país é um exemplo cabal.
Há fenómenos que estão na origem das diferentes formas de
desertificação. Alguns são externos e outros internos, mas todos, igualmente,
nefastos.
No solo a escassez de água é uma causa directa, mas também a
erosão provocada por tempestades, ventos, agricultura intensiva e outras, como
causa indirecta, provoca o mesmo tipo de desertificação.
Na população, as condições de vida das famílias que impedem a
natalidade, a emigração e imigração, a escassez de recursos, o egoísmo, o
individualismo são condições externas e internas favoráveis à desertificação
humana.
Na política, a aridez de ideias, a prepotência partidária, a
confusão entre Estado e Partido, quando este se apropria, indevidamente,
daquele, pondo ao serviço de uns, poucos, o que deveria ser de todos. A
escassez de alternativa de governação, o monolitismo, o nepotismo, o compadrio,
o silenciamento de vozes discordantes, o uso e abuso do que é público em
proveito do grupo de apaniguados, o encarceramento da Justiça, que deixa de o
ser, para passar a veículo de sustentação tentacular do poder. O aprisionamento
da educação e da cultura a modelos monocolores de via única. A criação de
batalhões de cães de fila, como tropa de combate à diferença e à insubmissão, a
troco de benesses individuais, quase sempre traduzidas em pouco mais do que um
prato de lentilhas, dados aos esfomeados. A promoção do caciquismo, como forma
de perpetuação no poder, com recurso a estratégias de intimidação e coacção. O
uso e abuso de terminologia cara ao populacho, como liberdade, igualdade, para
enaltecer alguns e fascismo, nazismo, racismo, xenofobia para denegrir os
outros, os que não pertencem ao clube.
Atente-se na verificação de absorção ávida, de qualquer
pequena gota de orvalho, pelos terrenos sequiosos e desertificados. Faça-se o
paralelismo para com as pessoas que se encontram nas periferias sociais,
carenciadas de tudo. Também estas absorvem as migalhas que o poder lhes dá, em
forma de esmola, em vez de reivindicaram uma vida com decência que, por direito
humanitário, lhes deveria ser reconhecido.
Em Portugal vivemos um tempo de desertificação. Vivemos um
tempo de uma democracia amputada onde o Direito é a lei do mais forte e o mais
forte é o poder. O poder do Estado sobre o cidadão e o poder do dinheiro sobre
toda a sociedade. Estão suspensas as liberdades fundamentais. Está silenciada a
palavra do jornalista, do escritor, do crítico independente. Sobra a opinião do
seguidista, da voz do dono, do bajulador, do sabujo, do rafeiro que se queda à
espera da migalha que caia da mesa do opíparo banquete do senhor.
O País vive da propaganda e da desinformação. Do
aproveitamento, indevido, de todos os recursos sem qualquer tipo de escrutínio.
Perdeu Instituições de contrapoder. Desapareceram os defensores dos pobres e
dos desprotegidos. Não há regulação nem fiscalização sobre a forma como se
administra a coisa pública, porque se colocam os cúmplices em lugares-chave de
decisão.
Temos um parlamento concentrado em casos e não em causas, com
gente medíocre, sem valores, sem ética e sem moral, que se serve a si e não
serve quem o elegeu. Que se entretém a discutir o sexo dos anjos em vez de ser
Órgão de Fiscalização governativa.
Temos tribunais sem meios e sem condições de aplicarem, em
tempo útil, a justiça que se impõe aos crimes de lesa pátria, deixando muitos
dos crimes prescrever. Temos uma democracia assente em Partidos que secam tudo
à sua volta, para que não haja alternância nem alternativa. Os beneficiários
são sempre os mesmos e, assim, o país regride em vez de avançar.
Comprova-se tudo o que aqui se reitera com a última Lei que
regulamenta as candidaturas independentes às autarquias que, em vez de
facilitar a participação cívica dos cidadãos, lhes causa dificuldades com a
burocracia acrescida.
Revela-se, na sanha raivosa, como elementos do partido do
poder se atiraram à Presidente de uma Câmara do Norte do País que se atreveu a
fazer críticas à forma como se está a desenvolver a vacinação no seu concelho.
A desertificação do solo, da política, da democracia,
demográfica é palpável e não há quem deite a mão a isto. É pena. Nós, por aqui,
procuraremos que as escassas gotas de orvalho sejam absorvidas antes de
evaporarem.
10/02/2021
Zé Rainho
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