quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

LIBERDADE!

 

LIBERDADE!

Fez anteontem 34 anos que faleceu Zeca Afonso. Os mais novos não têm forma de saber a importância que este homem teve na minha pessoa e na maioria da juventude da minha geração, a nível musical. Era preciso ter contactos nos espaços de venda de discos para se poder comprar um disco do Zeca.

A música do Zeca era especial. Não devido à qualidade, que essa eu não tenho competência para avaliar, mas pelas letras cantadas. Pelo significado das palavras. Pela subtileza das mesmas. Tinha ainda mais dois ou três aspectos que nos aproximavam. A sua proveniência era beirã, muito próximo aqui do nosso burgo e residiu em localidades muito próximas de nós, nomeadamente o Fundão e Belmonte. Outra era o facto de ser um conhecedor e ter vivências de África tal como nós. Viveu em Silva Porto e Coimbra, onde também vivemos e, mais importante, a ânsia e a luta pela Liberdade.

Seguimos caminhos diferentes. Ele chegou a ligar-se ao PCP e esse foi o seu maior erro, quanto a mim. Eu na JOC, Juventude Operária Católica, em contacto com a luta, no terreno, por uma vida mais digna para todos os trabalhadores. Sem radicalismos, mas com propósitos e ideais firmes e objectivos.

Mas não quero, nem me sinto com capacidade para ser biógrafo do Zeca, apenas quero repescar para aqui o seu sentido humanista, a sua luta pela liberdade, o seu desencanto e o seu desalento.

Alturas houve em que Zeca lançava um disco e era, sistematicamente, preso a seguir. Tenho, comprados clandestinamente, a maior parte dos discos em vinil que o Zeca lançou. Conheço a maioria dos temas. Tenho pena de não os saber cantar. Mas ele cantava para alertar o povo para as injustiças. “Eles comem tudo e não deixam nada” é um grito de revolta.

Com este arrazoado quero prestar homenagem ao homem, ao músico, ao português, na data em que se assinala mais um aniversário da sua morte, porque esta é uma forma de contribuirmos para que continue a viver na memória colectiva. Mas, também, para lembrar uma das suas músicas onde ele cantava “NÃO ME OBRIGUEM A IR PARA A RUA GRITAR”, num paralelismo com aquilo que se vive no Portugal de hoje, muito parecido com o garrote do antigo regime.

Um pacifista nunca advoga e, muito menos pratica, a violência, mas não pode pactuar com o silêncio da injustiça.

A Pandemia trouxe para este país um governo eleito democraticamente que governa com tiques antidemocráticos.

O que acontece nos media de condicionamento de jornalistas que afrontam o governo é disso um exemplo cabal.

Há muitas medidas governamentais que são atentatórias aos direitos dos cidadãos. Os grupos de pressão e desinformação que pululam nas redes sociais ao serviço do Partido do Governo são autênticos exércitos de intimidação.

O Confinamento retira capacidade organizativa e de intervenção por parte do cidadão não enfeudado ao partido do poder. O trabalhador, pobre e desprotegido, sente-se ameaçado e não reage com medo das consequências. As empresas que não gravitem na orla do poder sentem-se cada vez mais asfixiadas com medidas castradoras e por sobrecarga de impostos.

Os bens essenciais, como os produtos petrolíferos, gasolina, gás e gasóleo, sobem para preços proibitivos sem que se esboce um desagrado.

Os bancos não param de aumentar as taxas e, na mesma proporção, de baixar os juros dos depósitos que estão no nível zero da remuneração.

O governo decide a seu belo prazer e sem qualquer tipo de escrutínio como delapida o dinheiro dos contribuintes, como é o caso da TAP, mas também em subsídios a organizações de carácter racista como a SOS racismo, ou na feitura de um lago na zona do pinhal interior, Pedrógão Grande, que não serve para nada, enquanto as populações que perderam tudo, ainda esperam pela reconstrução de suas casas, para não se falar na opacidade que existe quanto aos donativos do povo português em 2017, quando da tragédia.

Elencar todas as trapalhadas deste governo e dos seus titulares é tarefa gigantesca e que daria um volumoso livro. Desde o lítio aos comboios, dos aviões aos hospitais, dos incêndios à caça selvagem. Mas também da nomeação do homem de mão para o grupo europeu de combate à corrupção, ao marido da ministra a quem é entregue a gestão da coisa pública no porto de Sines, e à quantidade assustadora de nomeações de membros de família dos titulares de cargos públicos, numa atitude nepotismo insuportável, para não se falar na corrupção generalizada em todo o país desde o terreiro do paço às autarquias mais singelas. Mas estas bastam para se avaliar a prestação do actual governo.

Por isso estou como o Zeca: Não me obriguem a ir para a rua gritar!

25/02/2021

Zé Rainho

 

 

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