A escola, apesar de ser considerada
retrógrada pelos intelectuais da época, tinha virtudes e defeitos como todas as
organizações sociais.
Na circunstância, esta escola de
aldeia teve professores que, pela entrega e denodo, profissionalismo e espírito
de missão, conseguiu fazer de crianças filhas de analfabetos, na sua esmagadora
maioria, alunos dedicados e ávidos de conhecer, de saber, de conquistar outras
formas de vida.
Nesta aldeia e no final da década
de quarenta e início da década de cinquenta do século vinte pode dizer-se, sem
qualquer tipo de snobismo ou desprimor para as restantes gerações, anteriores
ou posteriores, que conseguiu uma verdadeira geração de ouro.
Nunca antes tinha havido uma plêiade
de gente que tanto tenha conquistado na vida.
Vamos por partes.
Como já se referiu, uma aldeia do
interior profundo, de um Portugal cinzento e pouco dado a inovações, a maior
parte das pessoas nasceu, cresceu e morreu sem ter visto outros horizontes que
distassem mais de vinte ou trinta quilómetros. Consequentemente a vida dos pais
era imitada pelos filhos e já vinha de avós, bisavós e tetravós.
No caso desta geração nascida entre
finais da década de trinta e início da década de quarenta tudo foi diferente.
Muitas raparigas começaram a
estudar fizeram-se professoras, na maioria dos casos, ainda que também houvesse
juristas, escriturárias nos correios, nos registos civis e outros serviços
públicos ou empresariais.
Já os rapazes fruto também da
discriminação de género que era acentuadíssima na época, conquistaram espaços
nas mais diversas actividades profissionais.
Desde logo a ascensão ao posto de
General do Exército Português um dos rapazes desta freguesia é desse tempo e
está vivo.
Médicos distintos. Juristas de
gabarito que se distinguiram nas barras dos tribunais quer como juízes quer
como advogados.
Eminentes sacerdotes exercendo os
mais diversos papéis, incluindo os de missionários da América Latina e África. Professores
de todos os graus de ensino, incluindo o superior.
Mecânicos de diversas tipologias
incluindo a da aeronáutica civil como é o caso da Air France.
Trabalhadores dos diferentes
serviços públicos desde os de mais baixa condição até ao topo das carreiras de
técnicos superiores.
Pilotos da Força Aérea. Militares
de diferentes patentes que defenderam a pátria nos mais diferentes teatros de operações.
Imigrantes que se tornaram
empresários de sucesso no domínio da construção civil, hotelaria e restauração
e muitos outros sectores. Poucos, muito poucos, foram aqueles que seguiram as
pisadas dos pais e ficaram na aldeia.
Foi uma sangria para a localidade
mas foi uma mobilidade social fantástica para os seus filhos.
O Rainho fez parte desta geração e,
também ele, como muito esforço pessoal, atingiu o segundo grau académico mais
elevado, existente no país, mestrado e pós graduação, diploma tirado numa das
mais conceituadas e exigentes universidades públicas do país. A Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa.
A aldeia está mais pobre, de gente,
de jovens, de crianças, mas os avós de hoje estão muito melhor na vida que os
seus bisavôs.
Quando se diz que não há condições
para progredir na vida pessoal e profissional porque não se dão condições aos
jovens, talvez seja bom repensar esta posição. Pois as condições de hoje, de
acesso à formação, à cultura, às novas tecnologias são a antítese daqueles
tempos.
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