sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Responsabilidade!

 

Não gostaria de escrever sobre tanta asneira, tamanha insensatez, mas não posso calar a indignação perante tudo o que vejo e ouço sobre o que se passa no país.

Todos, quase todos, sentimos na pele as dificuldades que o país e o mundo atravessa e não precisávamos de ter de levar com a estupidez de quem tem obrigação de nos servir, porque é para isso que lhes pagamos.

Enquanto os responsáveis não interiorizarem a sua própria responsabilidade e a sua própria culpa, nunca teremos um país melhor, nem uma vida mais feliz. Deixem-me reflectir convosco uma hipotética cena na vida de um mau aluno.

Se um aluno tiver mau aproveitamento porque é relapso, preguiçoso, desinteressado, quezilento, perturbador do ambiente em sala de aula e os pais disserem que a culpa é do professor que não sabe ensinar, se o próprio considerar que a escola não é para ele, porque o que ele gosta é de bola, se a comunidade escolar entender que a culpa é do sistema e o miúdo é apenas uma vítima desse sistema, com toda a certeza que este aluno nunca fará as aprendizagens necessárias e suficientes para atingir os objectivos pressupostos para quem frequenta um qualquer estabelecimento de ensino e progrida na vida adulta e numa qualquer profissão.

Se, ao contrário, a culpa deixar de ser dos outros e passar a ser assumida pelo próprio. Se se capacitar que os maus resultados são fruto do seu desleixo e da sua preguiça e que isso traz consequências à sua vida, sejam elas da parte dos pais, da parte dos professores e até da parte dos colegas, então o menino(a) se não for desprovido de um mínimo de inteligência e raciocínio chegará à conclusão que tem de mudar de vida. Tem de passar algumas horas a estudar a matéria, tem de estar com mais atenção nas aulas. Tem de perguntar e pedir ajuda para as suas dúvidas, certamente verá, mais cedo do que tarde, que começa a ter sucesso escolar e social. Tem melhores notas. É mais aceite pelos professores, recebe elogio dos pais e até os colegas o aceitam no seu grupo por se ter tornado mais sociável.

Assim é na vida do dia-a-dia de cada um de nós. Assim devia ser na vida dos governantes, por maioria de razões, devido à sua incomensurável responsabilidade presente e futura, porque das suas decisões resultam repercussões para toda a sociedade, por vezes por gerações.

Esta semana foi pródiga em manifestações do mau aluno, por parte de governantes, que não assumem as suas responsabilidades e a sua culpa.

Comecemos, hierarquicamente, pela ministra com maior responsabilidade, por ser a segunda na hierarquia governamental. Veio a Manteigas dizer que o Conselho de Ministros vai aprovar medidas que vão deixar a serra da estrela melhor do que estava. Se isto não fosse demagogia era, de certeza, uma tontice. Então para quem perdeu tudo o que construiu numa vida, mesmo que o afoguem com dinheiro, alguma coisa ficará como antes? Então as memórias perdidas, o sofrimento e angústia sentida durante dias e noites sucessivas, alguma vez serão ressarcidas? Então a visão de animais mortos, queimados, para as pessoas que passaram toda a vida a tratá-los como se fossem da família, algum dia se esvairá daquelas cabeças traumatizadas? Esta senhora não tem só falta de sensibilidade tem, igualmente, uma elevada falta de bom senso.

Passemos para a outra tontice sobre o mesmo assunto, desta vez a secretária de estado da protecção civil. Que não falhou nada no combate ao incêndio. Que agora não é altura de investigar o que correu mal para que esta tragédia se desenrolasse em cerca de dez dias. Negar à partida que houve falhas é uma ofensa para quem sentiu na pele o atraso no envio dos meios necessários e suficientes e se viu sozinho a lutar contra o monstro. Dizer que os meios aéreos não puderam actuar no início do incêndio, por ser de noite, e depois não envidar esforços para que esses meios chegassem ao romper da aurora e só chegassem às quatro horas das tarde não é uma contradição, um disparate? Então se não se investiga agora que está tudo fresco na memória das pessoas e há vestígios no terreno, quando é que se investiga? E que resultados espera quando tudo se tiver alterado, esquecimento e vestígios? Que, segundo o algoritmo em que se baseia já devia ter ardido mais trinta por cento do que ardeu. Que, afinal, esta tragédia não foi nada do que podia ser? O que é que esta senhora anda a fazer? Para que serve?

Mas não podemos acabar sem referirmos os dados da mortalidade infantil e da mortalidade em geral, que teve um aumento exponencial. Então não é da responsabilidade de ninguém? Ou é das crianças e das pessoas que quiseram por termo à vida? E das grávidas que tiveram de andar quilómetros para serem assistidas nos seus partos, como foi o caso daquela jovem mãe residente no seixal, que só pôde ser assistida cinco horas depois e andou a ser transportada de um lado para o outro indo parar às Caldas da Rainha a 150 quilómetros de distância. Não há responsáveis? Não há culpa? Ou será culpa da própria que se lembrou de gerar um filho? Há culpados e estes foram todos os ministros da saúde e primeiros-ministros da década de oitenta do século passado, que não deixaram formar mais médicos, segundo a ministra da saúde. Se isto não é uma tontice e um atirar de terra para os nossos olhos, só pode ser uma imoralidade.

As atoardas da ministra da agricultura sobre a seca e do ministro do ambiente sobre o aumento da água também fazem parte deste rol, isto para não falar na atitude do ministro das finanças e da troca de favores e da promiscuidade entre o jornalismo e o estado socialista. São todos inocentes?

E o silêncio ensurdecedor do primeiro-ministro e do presidente da república? Será que estes senhores foram eleitos por um povo que depois da eleição deixou de contar seja para o que for e por isso nem sequer dão a cara para confortar na desgraça que o país atravessa no campo da segurança, da carestia de vida, dos incêndios, do caos no SNS e nem uma palavra, uma atitude? Estão desaparecidos em combate?

Não assumir a responsabilidade e a culpa é não promover a alteração comportamental e não melhorar no futuro. Assim são estes governantes e assim não vamos lá.

25/08/2022

 

Zé Rainho

terça-feira, 16 de agosto de 2022

PROFESSORES?

 

PROFESSORES?

Cito, abaixo, uma ideia, hipoteticamente banal, deixada por quem sabe alguma coisa, há cerca de trinta anos:

“A tarefa de educar a juventude é demasiado importante e complexa para ser deixada … à mercê de progenitores ou estruturas informais”. (Aprender a ensinar, Richard I. Arends, 1995).

O ensino, particularmente depois do século XX, sempre foi uma actividade complexa, difícil, exigente e sustentada em bases científicas. Para tal preparavam-se os professores em início de carreira a dominar conhecimentos e a adquirir competências para os tornar profissionais competentes naquilo que se apelida de arte de ensinar. O professor é, pretende-se que seja, um profissional competente para que a sua acção educativa e de ensino seja eficaz. E para isso as antigas Escolas Normais e as Universidades preparavam os professores com conhecimentos científicos que depois eram complementados com prática em sala de aula, através de estágios tutelados por profissionais mais experientes, para além da formação contínua que todas as profissões requerem e necessitam para serem eficientes, para que a docência seja uma profissão nobre, prestigiada e indispensável à construção de sociedades mais desenvolvidas, mais democráticas, mais solidárias, mais humanas.

Esta é uma constatação em todo o mundo civilizado e em Portugal também foi até agora. Deixou de ser no ano lectivo 2022/2023.

Para ser professor serve qualquer pessoa que possua uma licenciatura, na perspectiva do actual Ministério da Educação português.

Se isto não fosse uma tragédia, com consequências inimagináveis no futuro, daria para rir. Assim dá para chorar, de pena, pelas nossas crianças, adolescentes e jovens, que sem culpa própria, vão ser uns analfabetos funcionais com diplomas dos vários graus de ensino.

Se valesse a pena eu aconselharia o ministro da educação a estudar como se fazia educação em Atenas há dois mil e quinhentos anos, mas não vale a pena, porque só aprende quem tem consciência que ainda lhe falta conhecer muita coisa, quem sabe tudo, recusa-se a aprender, seja o que for.

 De todo o modo fica a dica: - Em Atenas preparava-se a educação dos jovens, visando atingir o objectivo principal que era a formação de indivíduos completos. O mesmo é dizer que se queriam indivíduos com boa preparação física, psicológica e cultural.

Para tal era necessário a existência de pedagogos - tutores que acompanhavam o jovem em todo o tipo de aprendizagem – que eram as figuras intelectualmente mais bem preparadas existentes nas Cidades-Estado.

Vivemos num País maravilhoso, em pleno século XXI, retrocedendo muitos milhares de anos, mas isso não preocupa nem Primeiro-ministro, nem governantes, nem pais, nem sociedade civil, nem, sequer, o Supremo Magistrado da Nação porque é que eu, velho alquebrado, esclerosado, caduco, me estou a preocupar com estas “ninharias”?

17/08/2022

 

Zé Rainho

 

 

 

 

domingo, 7 de agosto de 2022

Delicado!


Falar de violência é, em si, um acto violento e por isso, muito delicado para quem tenha alguma sensibilidade humana.

A vítima de violência, seja de que género for, merece o maior respeito, o máximo de carinho e compreensão, o maior e melhor apoio, no sentido de minimizar a dor, a angústia, o sofrimento.

O predador, o criminoso, o promotor de violência deve ser, exemplarmente punido, seja ele quem for, independentemente da profissão ou estatuto social de que usufrua.

A Comunicação Social tem a rigorosa obrigação de dar ênfase a todos os casos de violência para que o mundo saiba quem são os criminosos e, independentemente da condenação, que venham a ter, das autoridades judiciais tenham, também, o repúdio da sociedade. 

As autoridades tudo devem fazer para que punir o prevaricador e, publicamente denunciar as atrocidades cometidas. 

Postos estes pontos prévios importa agora separar as águas e dar conta de todas as situações e não só de algumas. 

Todo o bicho careta e até as mais altas individualidades têm feito eco dos abusos sexuais levados a cabo por alguns elementos da Igreja Católica e fizeram muito bem. A própria Igreja e os seus dirigentes máximos devem exigir o apuramento de todos os casos e, no imediato, expulsar do seu seio, os indignos de fazerem parte da sua comunidade. 

Porém, a sociedade não deve ser manipulada com um só assunto até à exaustão para, porventura, se esquecerem todas as formas de violência praticada por outras instituições, serviços, o próprio Estado. 

Há violência grave quando se deixa morrer um bebé porque o hospital da zona de residência da parturiente não tem condições para realizar a função nobilíssima de ajudar a nascer.

Há violência quando se calam os casos denunciados de alunas e alunos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e da Universidade de Aveiro, quem sabe de outras Universidades, e passados meses não acontece nada.

Há violência quando crianças ou idosos desaparecem do seio das suas famílias ou comunidades e passam, dias, semanas e meses sem notícias e, quiçá, sem o empenhamento necessário e indispensável para a sua descoberta e razão do seu desaparecimento. 

Há violência quando se vê uma vida destruída por calamidades, naturais ou provocadas e o Estado não providencia, a tempo e horas, prevenindo e antecipando a possibilidade da sua existência. 

Há violência quando a Lei não acautela o direito das pessoas não serem enganadas pelos burlões individuais ou colectivos, como é, por exemplo, o caso de empréstimos bancários que depois transformam em créditos vendidos a fundos de investimento abutres que, mais tarde, se apropriam de bens de pessoas humildes que deixam na miséria e, muitas vezes, sem abrigo.

Há violência quando uma pessoa trabalha e não aufere o suficiente para suprir as despesas mais básicas como é o caso da própria alimentação. 

Há violência quando o Estado lucra com a miséria da sua população para, depois, malbaratar dinheiro público em ajustes directos a amigos e correligionários. 

Há violência quando um governo se vangloria de apoiar um milhão de portugueses para terem alimentação. Então o governo não deveria trabalhar para acabar com a pobreza extrema e não se colocar numa atitude meramente caritativa, suprindo o seu direito à alimentação, como necessidade básica que é? 

Há tanta violência que é preciso tudo fazer para a erradicar, da Igreja Católica, mas também de todos os demais sectores da vida nacional. 


7/08/2022


Zé Rainho