sexta-feira, 29 de setembro de 2023

 Era uma vez… Qualquer “estoria” que se preze, por princípio, deve começar: “era uma vez”.... Uns dirão que é normal, corriqueiro, antiquado. Outros, pensarão, apenas, que é uma forma prosaica e pouco imaginativa. Não nos activemos a possíveis adjectivações. Apeteceu-nos e, pronto. Sabem? Às vezes, aos velhos também apetecem coisas. Que se há-de fazer? Cá vai a “estória”: Nestes, como noutros tempos, numa qualquer floresta, situada numa qualquer localidade deste planeta, gravemente enferma da globalização, obrigatoriamente consumista, exigentemente conhecedora, cerebral mas não emocional, invejosa q.b., exaustivamente competitiva, assumidamente egoísta, os animais que a habitavam já não sabiam que fazer. Andavam atarantados procurando compreender o alcance das medidas, sistematicamente anunciadas, enfaticamente repetidas e supostamente objectivas, com vista a um amanhã risonho, fraterno, plural, solidário, onde todos tivessem o direito de nascer, crescer e viver cercados de amor, ternura, tranquilidade, segurança e com um mínimo de condições que satisfizessem as necessidades básicas, secundárias e até de prestigio, às quais, um sábio lá do sítio gostava de se referir, como direitos de todos e de cada um, sem excepção e/ou exclusão. Enfim, de levar uma vida, da concepção à morte, sem sobressaltos e angústias e terminar os dias com a dignidade devida a qualquer ser vivente, sem que no final se visse “depositado” numa qualquer caverna destinada a coisas imprestáveis. Apesar das medidas, dos choques, dos sacrifícios de hoje, rotulados como receita para o gozo do amanhã, os animais andavam inquietos: desagradados uns; emproados outros; uns sem um buraco onde se abrigar e sem um trapo para se cobrir, outros rodeados de espaços abertos e cobertos, com aquecimento central, lagos artificiais, campos de diversão e outras coisas mais. Enquanto alguns se viam postergados para as margens do seu habitat transformadas em guetos, mesmo que todos os dias labutassem duramente, do romper do Sol até a noite já ir adiantada. Desde tenra idade até à adultez ou mesmo velhice, num esforço constante e persistente para ser cada vez mais útil, mais capaz, mais competente, mais contribuinte líquido para toda a sociedade, já os outros, por influência dos “padrinhos”, das “cunhas”, dos “magnatas” e dos “nomes família”, mal saíam da adolescência, com uma aprendizagem simplista, sem experiência de vida e de sobrevivência, saltavam para a ribalta da tal globalização como administradores de qualquer coisa, grandes espaços, muitos números, com direito a luxos e mordomias e desta forma, coisas que deveriam ser de todos eram só de uns poucos. Estes poucos não precisavam de suar para ter os tais espaços cobertos, luxuosamente atapetados e adornados, pagos com cartões das empresas que administravam. Às vezes até recebiam prendas, em vez de honorários, para não pagarem o contributo que era devido à manutenção da floresta. É claro que alguns animais mais reflexivos se questionavam sobre o porquê de tanta disparidade, de tanta injustiça, de tanta desigualdade, de tanta iniquidade e cogitavam sobre a forma de mudar o estado daquela sociedade. Logo pensaram: - e se ouvíssemos os entradotes na idade que de tão viajados já conheciam outros modelos sociais? Se bem o pensaram melhor o fizeram. Pediram aos sábios, conselhos. Estes defenderam teorias, elaboraram leis, apresentaram teses mas os dias e os anos passavam e os resultados quando não se mantinham pioravam. As desigualdades em vez de se esbaterem acentuaram-se. Premiava-se a mediocridade e subalternizava-se a excelência. Enfim, o caos estava instalado e a insatisfação levava constantemente a manifestações quando não, mesmo, a actos de violência, vandalismo, ou coisa pior, racismo, xenofobia, terrorismo ou mesmo fundamentalismo. Porque a necessidade era tanta, num belo dia de Sol resolveram reunir-se, em Assembleia-geral, na vã esperança de comparar competências, capacidades, esforços e verem se podiam mudar o “Status Quo” instalado. Estabeleceram critérios de avaliação para procurarem encontrar quem governasse a floresta de uma forma mais justa e equilibrada. Isto exigia de todos e cada um, uma demonstração inequívoca, quer das capacidades intrínsecas quer das competências adquiridas. Desta feita foi decidido convocar um referendo para que a todos fosse dada a possibilidade de mostrarem as tais capacidades inatas e as ditas competências adquiridas, para que depois de avaliadas se elegesse o bicho melhor preparado para governar o que já era um desgoverno. É claro que apareceram os elefantes, as baleias, as orcas, os tubarões, os rinocerontes e outros mastodontes que demonstraram que a sua força era insuperável e até se atreveram a lançar OPAS (Outras Potencialidades Assumidas e Subsidiárias) uns sobre os outros. Vieram depois os mais ágeis: felinos, gazelas e outros, que de tão velozes, em maratonas eram imbatíveis. Também não deixaram de aparecer as serpentes, venenosas ou inofensivas, mas sempre rastejantes e viscosas. As águias-reais de olhar agudo penetrante e velocidade na caça à presa. Enfim, todo o tipo de espécies que habitava a floresta e que de uma forma ou de outra mostravam ali a sua sageza, destreza, corrida, força, natação voo, nas tais coisas básicas e indispensáveis à vida e à sobrevivência de que nos falava o tal sábio do início da “estória”. Analisados os resultados obtidos em função de todos os parâmetros estabelecidos, ao fim de um escrutínio sem truques nem malabarismos, as projecções à boca das urnas falharam todas, e em toda a linha. Porque se uns apontavam o leão como Rei eleito devido ao seu urro aterrorizador, outros diziam que o leopardo ganharia pela sua astúcia e agilidade e outros ainda apostavam no elefante pela sua força descomunal. Engano puro: o leão sendo forte e inteligente, não conseguia voar. Faltavam-lhe requisitos. O leopardo até subia às árvores mas não nadava e muito menos voava, apesar de ser veloz na corrida. Do elefante nem se fala, excepto na força e resistência todos os restantes parâmetros eram prejudicados. Não haveria ninguém que satisfizesse os quesitos? É claro que havia e daí a surpresa. Quem seria? Foi o Pato Bravo. Sim, o Pato. Apesar de não preencher, eficazmente, nenhum dos quesitos conseguia ser medíocre em todos. Voava mal, mas lá dava os seus pequenos voos. Nadava mal, mas não se afogava no lago. Corria pouco, mas lá ensaiava as suas curtíssimas corridas. Conclusão: foi eleito o Pato como o mais apto e mais condizente às necessidades organizativas da floresta. Não sendo bom em nada, não tendo competências para coisa nenhuma, nem sendo excelente em nenhuma tarefa, fazia da sua mediocridade a diferença pretendida. Nesta floresta afinal, não é preciso ser forte, nem inteligente, nem competente, nem ágil, nem eficaz, nem sequer lutador, basta que se seja medíocre. Esta é a condição básica para se chegar ao poder, desfrutar de benesses, ser alguém na vida. Desta feita, ainda que nos custe, lá teremos que aprender e esforçar-nos por sermos Patos, para que um dia qualquer, não nos confrontemos com, o inevitável empurrão, para as valetas da vida. 

Abril de 2006

Zé Rainho 

Poema ao Zé André

 

POEMA AO ZÉ ANDRÉ!

 

Olha Zé, não te esqueças,

Que a vida te pede meças

Sempre que passam os anos,

Porque o fado desta vida,

Tem de ser bem vivida

E não sofrer desenganos.

Mas, se de fado falamos,

É porque contigo contamos

Para cantá-lo com garra,

Com ou sem uma guitarra.

Mesmo que seja à capela,

Com manjerico na lapela,

Neste dia tão especial!

Que com a família e em casal

Os parabéns te cantarem,

Por oitenta anos se passarem,

Desde o dia em que nasceste.

Os momentos que padecestes.

As aventuras vividas,

Por vezes, em revoltos mares,

Que te feriam os olhares

De algumas ilusões perdidas,

Mas que o teu coração de ouro

Fez-te amealhar o tesouro,

De uma família bem-querida,

Que é a razão da tua vida,

Nos dias que vão passando.

Até quando Deus quiser,

Venha de lá o que vier,

Num futuro de sonho,

Com um final muito risonho,

De um dever total cumprido,

Com algum penar sofrido,

Mas com alegrias bastantes,

Para dar graças constantes,

Ao Deus em que acreditas,

E que no final das desditas,

Te receberá em Seu regaço,

De consolo e de abraço,

Pela eternidade sem fim.

Como qualquer querubim,

Da Sua constelação celeste.

 Pelo amor que sempre deste,

Ao teu irmão semelhante,

E uma amizade constante,

No alívio do sofrimento,

Em toda a hora e momento,

Que a dor te circundava,

E o teu ombro amparava,

Com candura fraternal,

Por vários sítios e no Seixal,

Onde passas teus momentos,

Felizes e com tormentos,

Próprios de qualquer ser mortal,

Numa vivência plural,

De uma amizade sincera,

Com honestidade severa,

E uma ética pura e sadia.

Sempre com grande alegria

De aos outros abraçar,

Na roda da dor ou a cantar.

E para poder terminar,

Esta conversa, simples, banal

Mas, sentida e fraternal,

Abraça-te com carinho

O teu amigo Zé Rainho.

 

29/09/2023

Zé Rainho

 

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Quem dera

QUEM ME DERA...


Ai! se pudesse dizer-te,

O que me vai na alma,

Se fosse como Talma,

Para nesta vida, merecer-te.


Ai! se fosse capaz,

De deixar a timidez,

Que ajuda a sisudez,

A calar o que me apraz.


Ai! que loucura doce,

De poder amar-te,

Sem razão ou medo.


Ai! se o desânimo fosse,

Apenas pequena parte,

Duma vida de degredo.


Zé Rainho

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Poeta

O POETA!


O poeta é taciturno e humorista.

É sensível, inquieto, um artista,

Que joga co’ a palavra, malabarista,

Dos sentidos, não há quem resista,

A um poema como a uma pintura,

Como a um retrato ou escultura,

Natureza morta ou, apenas, madura,

Paisagem álacre ou mesmo escura.


O poeta olha para o papel como o pintor,

Olha para a tela e para a tinta de cor,

Para o desbaste que faz o escultor,

Em pedra bruta sem qualquer valor,

Que depois de tirado o material sobrante

Aparece aos olhos de todo o visitante,

Como pérola esculpida, estonteante,

Com brilho próprio, esvoaçante.


O poeta trabalha a palavra com doçura.

Retrata sentimentos como a loucura,

Como se fossem delírios de brandura,

De quem quer demonstrar candura,

Na abordagem de amor, ódio, desespero

De momento tão vibrante como o medo,

Dum suplício imerecido tão duro e quedo, 

Que mais valia ficar sempre no segredo.


O poeta quer dar voz ao sentimento,

A toda hora e a todo o momento,

Para que não haja forma de lamento, 

Que ele não traduza seu sofrimento.

Leva o leitor ao pavor do sortilégio

Como se tivesse poder, mesmo régio

De tudo decidir, com seu privilégio

De um deus menor mas um génio.


O poeta vive o seu momento instado,

A escrever para quem está abalado,

Pela dor de sofrer em silêncio, calado,

As agruras de uma vida de desbragado.

Para suavizar toda a árdua tensão,

Que sofre qualquer simples coração

Abandonado, à sua mísera solidão

De não ter quem lhe estenda a mão.


Zé Rainho

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Gémeos

 GÉMEOS!


Os gémeos, particularmente os monozigóticos, sentem as dores e as alegrias de cada um. A experiência mostrou-me que quando um gémeo sofre qualquer contrariedade intensa o outro sente-a como sua, chora ou manifesta a sua dor como se ele próprio fosse o sujeito atingido. 

Conheci um caso de dois gémeos do sexo masculino, adultos, muito adultos, é um deles faleceu. O sobrevivente nunca mais se conseguiu olhar ao espelho porque, quando o fazia, não se via a si mas via o irmão falecido. Um sofrimento atroz que durou pouco tempo porque também este faleceu num curto espaço de tempo. 

Esta introdução para analisar o comportamento do Sanchez, espanhol e o Kosta português. Não sei se repararam, mas o Sanchez chegou e quer manter-se no poder sem ter ganho as eleições livre e democráticas. O Kosta, durante quatro anos fez precisamente o mesmo. 

O Kosta cedeu à esquerda radical em todos os seus casos que quiseram fazer crer que eram causas. Cedeu a todos os indiciados pela justiça alegando que “à justiça o que é da justiça e à política o que é da política”.

O Sanchez, antes de iniciar o anterior mandato, disse que se fosse governo mandava prender o Puigdemont. Nunca o fez e agora diz que o caso de Puigdemont não é de justiça mas é da política e quer amnistiá-lo para se poder manter no governo. 

Ouvindo e vendo a TVE é afirmado por vários intervenientes, que hoje em Espanha se trabalha para ser pobre. Em Portugal sente-se que se trabalha para ser paupérrimo, mas a RTP e hipotéticos interventores, dizem nada. 

Portugal e Espanha já foram muito diferentes, hoje são gémeos, porque os respectivos povos se consideram irmãos. Os principais protagonistas da política de ambos os países são gémeos nas políticas de empobrecimento e, para se manterem no poder não se importam de vender a alma ao diabo. 

Em Espanha já há três línguas faladas no parlamento local. É preciso aparelhos de tradução simultânea para que os deputados se entendam. Os socialistas mais respeitados em toda a Espanha, como nação, não concordam e apelam à desobediência dos restantes socialistas. Em Portugal o presidente do partido socialista pede ao governo mais diálogo, menos arrogância, remodelação governamental para que o governo, finalmente funcione em prol dos jovens, do povo, em geral e do desenvolvimento nacional, o Kosta faz orelhas moucas e não dá cavaco a ninguém porque ele é que sabe. 

Não nos podemos esquecer do que o Kosta fez ao Tó Zé Seguro. Não podemos esquecer o que o “Cravino” fez ao Jorge Seguro quando este quis apurar como se gastou dinheiro no ministério das tropas. 

Eu não acredito em bruxas mas que “las hai? las hai”.