segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Parcimónia

 

PARCIMÓNIA…

Parcimónia precisa-se, exige-se, em tudo na vida, porque é discreta, é simples, não é ostensiva nem ofensiva. Mas, também, é esquecida por causa da vaidade, de protagonismo, de espalhafato. muito procurados por um povo que gosta e aparências, de dar nas vistas e pouco se importa com a sobriedade, com a simplicidade, com a dignidade.

O exemplo deste desregramento vem de cima e o papalvo engole tudo sem mastigar. É pena, porque este comportamento não traz respeito, não conduz à consideração e. muito menos, à admiração por parte dos outros.

Há acontecimentos que nos deveriam fazer pensar, criticar ou aplaudir, conforme os casos. É, neste contexto, que quero partilhar convosco a minha reflexão, o meu sentir.

Comecemos por cima, pelo alto, pelo mais visível e, por isso, mais responsável.

Sua Excelência o Presidente da República, no seu constante e permanente vai e vem, de um país para outro, de um lugar para outro, de opinar sobre tudo e sobre nada, é pouco parcimonioso e há situações em que não sai bem na fotografia, como Presidente e representante máximo de todo o povo português. As viagens que fez ao Brasil e Angola, são disso prova bastante, saiu delas sempre diminuído, pessoalmente e, a nação portuguesa, ficou mal reputada pela opinião pública alheia. Não quero entrar em todos os dislates, mas refiro aqueles que foram mais notórios e mais infelizes, devido à pouca parcimónia.

Na primeira viagem não foi recebido pelo Presidente do Brasil e, pior, foi desconvidado para um almoço previamente acordado. Na segunda, deu respaldo a um aproveitamento político, miserável, em plena campanha presidencial daquele país.

Na viagem a Angola não se saiu melhor. Na primeira viagem ao funeral do ex-presidente, em plena campanha eleitoral, prestou-se ao aproveitamento político asqueroso, por parte do MPLA. Na tomada de posse do novo (velho) presidente, Portugal não mereceu menção, nem relevância particular, por tudo quanto fez e faz pelo povo angolano, sofredor. Faltou-lhe, em todas as circunstâncias, parcimónia.

Mas não fica por aqui esta falta de comedimento. A pressa com que promulgou o pacote governamental de apoio às famílias, sem ter acautelado o escrutínio que deveria ter feito a um diploma que viola a Lei, no caso concreto das pensões é bem um exemplo de falta de parcimónia. Agora quer emendar o erro dizendo que o Governo deve explicar as contas. Vem tarde. Tivesse sido parcimonioso em devido tempo.

Deixemos o Presidente e vamos aos governantes.

Quando, na mesma semana, dois ministros dizem aos deputados, em pleno Parlamento, que não aceitam lições não é só falta de parcimónia, é falta de discernimento, é arrogância, é atrevimento da ignorância, é pouca-vergonha, é desprezo pelos outros. Ninguém sabe tudo e só se é, verdadeiramente inteligente, se se for capaz de aceitar o saber e o conhecimento do outro. Neste caso não é só falta de parcimónia, ou é burrice ou querem fazer de nós parvos e, em qualquer dos casos, é, no mínimo, um descaramento e um desrespeito pelos eleitos do povo e, simultaneamente, pelo próprio povo. É uma desfaçatez inqualificável. É um abuso de poder muito próximo da “bota cardada”.

A Comunicação Social não fica melhor nesta falta de parcimónia.

Há mais de uma semana que temos assistido a uma overdose, macabra, sobre a morte e funeral da Rainha Isabel de Inglaterra. É a toda a hora e momento. É a repetição da repetição da repetição, do directo do que foi directo e do que será directo, um enjoo.

De um momento para o outro parece que desapareceu a Guerra na Ucrânia. Os crimes de guerra perpetrados pela Rússia. Desapareceu a pandemia, a violência doméstica, a criminalidade violenta na noite dos grandes centros urbanos. O roubo e a violência sobre idosos e crianças, a pedofilia, o saque fiscal, energético e bancário.

Enquanto isso esquece-se de falar sobre os números vindos a público divulgados pelo INE. Inflação galopante com a respectiva perda do poder de compra de toda a gente. Dois milhões e trezentos mil pobres no nosso país, um em cada quatro portugueses. Falta de médicos de família. Carência de habitação para estudantes do ensino superior deslocados. Número de mortes excessivas, segundo o Eurostat e tantos outros assuntos de verdadeiro interesse nacional e de serviço público obrigatório.

Em contraponto ouço um seleccionador nacional de futsal dizer aos seus jugadores: “que orgulho em todos vós! Cabeça levantada, aconteça o que acontecer, porque eu tenho muito orgulho em tudo o que já fizestes”. Falou só quando foi necessário. Disse, apenas, o suficiente. Os jogadores corresponderam ganhando a finalíssima contra a Espanha.

Parcimónia precisa-se e exige-se, porque não se pode aceitar o esquecimento das coisas verdadeiramente importantes.  

19/09/2022

Zé Rainho