MULHER! Nos dias que correm, com o patrocínio de grupos com grande influência, na política e na comunicação social é arriscado fazer-se esta distinção, entre mulher e homem, devido à moda da “discriminação de género”, porém, nós ainda nos atrevemos, por convicção, a designar o género humano pelas suas duas espécies. Não sendo dos que julgam as pessoas pelo seu nascimento, mas considerando-as pela sua conduta e mérito ou demérito, entendemos a Mulher como um Ser diferente e isso só tem enriquecido as diferentes sociedades em que se inserem. A Mulher é mais sensível, mais emoção e, porventura, menos razão. Pelo facto de ter no seu gene a capacidade de gerar vida é mais protectora e mais disponível para o outro. A cultura e a educação fazem dela um suporte indispensável ao crescimento de sociedades construtivas, prósperas, solidárias, plenas de valores humanistas. Se recuarmos no tempo vemos que o papel das mulheres se tem pautado por feitos extraordinários ainda que, quase sempre, na sombra e sem os holofotes dedicados aos homens. Lembremo-nos da Rainha Santa Isabel, que, com o seu carácter solidário, não se coibiu de desenvolver o seu sentido esmoler e de justiça, perante um marido e Rei austero. Mas também na luta por direitos como a Brites de Almeida - Padeira de Aljubarrota – ou a Maria da Fonte, na guerra da patuleia, duas mulheres do povo, que se ergueram em armas para defender a justiça e a liberdade. Mas, se estas se foram da lei da morte libertando, como diria o nosso poeta maior – Luís de Camões – houve tantas mulheres, em Portugal e no Mundo, que foram e são exemplo de abnegação, fortaleza, sabedoria e de amor que, no anonimato, são faróis de cidadania, de bondade e de excelência. Cada um ou cada uma pense na sua própria mãe e terá o retrato de um heroísmo sem igual. A História tem-nos apresentado a Mulher como um ser subalterno. A própria religião seguiu-lhe os passos, numa primeira fase, quando nos apresenta uma Eva pecadora e causa de todos os males do mundo. Porém, a mesma História e a mesma Religião, mais tarde, vem resgatar a Mulher dessa afronta. Desde logo, Nossa Senhora, mãe de Deus e nossa mãe, numa demonstração inequívoca de que não se chega ao Filho, Jesus Cristo, se ela não for mediadora, intercessora. Mas também Cleópatra, Helena de Tróia ou D. Maria I ou D. Filipa de Lencastre, para dar alguns exemplos. Mas nós sabemos e sentimos que nos nossos dias continuamos a ter enormes, gigantes, magníficas mulheres no mundo e no nosso país. Sabemos que a cultura Ocidental, onde nos inserimos, durante séculos reservou à mulher o papel, extremamente difícil e quase sempre de valor relativo, de ser boa mãe, extremosa esposa, dedicada dona de casa. Em outras culturas ainda é pior, porque a mulher nem sequer pode aparecer com a cara descoberta e o seu papel é pouco mais do que um elemento necessário à preservação da espécie, quando não, mesmo, de escrava sexual. Mas todos sabemos e sentimos que, mesmo contra todos os desígnios e toda a repressão, mais ou menos explícita, a mulher afirma-se pela positiva. Sem descurar o seu papel de mãe e de esposa apresenta-se nos diferentes palcos da vida como profissional de excelência, com capacidade, saber e resiliência capaz de se impor num mundo dominado por homens. Basta olharmos para o panorama educacional e verificamos que a maioria dos licenciados são mulheres. Mas, se na educação é assim, no mundo empresarial e organizacional e político não lhe ficam atrás. Sendo menos, em quantidade, são mais, em qualidade. Lembramo-nos do número de médicas, de enfermeiras, de gestoras, de políticas e vem-nos à memória Maria de Lurdes Pintassilgo que foi a primeira mulher a desempenhar o cargo de primeiro-ministro de Portugal. Não esquecemos Leonor Beleza que foi ministra deste país e hoje dirige uma das melhores e mais prestigiadas Fundações nacionais, a Fundação Champalimaud ou Isabel Mota, que dirige a Fundação Gulbenkian, ou a Reitora da Universidade Católica, Isabel Capelo Gil, ou as várias ministras que estão actualmente no poder, desde a ministra da presidência, Mariana Vieira da Silva, à ministra da saúde, Marta Temido, à ministra da agricultura, Maria do Céu Antunes , ou à ministra da Cultura, Graça Fonseca ou a ministra da Coesão Territorial, que até é beirã, Ana Abrunhosa, para falarmos no actual governo, mas podemos lembrar-nos de governos anteriores e de outras mulheres que desempenharam funções semelhantes mas que nos escusamos de nomear para não vos maçar. Mas, também, não podemos esquecer aquelas mulheres que fizeram e fazem a diferença na sociedade de hoje, a quantidade de professoras dos diferentes graus de ensino, que são o esteio do conhecimento de que toda a sociedade beneficia. Igualmente as investigadoras onde pontificam biólogas, químicas, virologistas, matemáticas, engenheiras, arquitectas e até uma informática portuguesa, que teve um papel relevante na odisseia da nave enviada, recentemente, para Marte com um êxito estrondoso. E estas funções todas sem prejudicar o seu papel de mãe, de mulher, de companheira, de parceira na construção de um mundo melhor. Terminamos lembrando todas aquelas mulheres que lutaram para trazer para a visibilidade, a igualdade, a liberdade e equidade nos direitos e nos deveres. Não querendo ser exaustivos lembramos apenas as mulheres de Chicago que lutaram por direitos iguais, no trabalho, salário e horário, mas também as sufragistas que lutaram pelo direito de voto, das quais destacamos a portuguesa, Carolina Beatriz Ângelo, ginecologista, natural da Guarda que, conseguiu depois de uma luta em Tribunal, adquirir o seu direito de voto para a Assembleia Constituinte de 1911. Viva a Mulher. Viva o 8 de Março o dia da Mulher.
portugalprofundo
Este espaço pretende ser um local de comunicação com amigos e outros personagens que o queiram enriquecer com as suas ideias e sugestões.
segunda-feira, 4 de março de 2024
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024
ESTUPEFACÇÃO
ESTUPEFACÇÃO!
Ando, de facto, muito admirado com o que se passa na campanha
eleitoral para as legislativas nacionais. Ouço os líderes partidários e fico
abismado com o que dizem, na maior parte da vezes, baboseiras e idiotices.
Comecemos pelo Pedro Nuno Santos, por ser o líder do maior
partido político até hoje. Todas as suas declarações não passam de
lugares-comuns, de parvoíces, de titubeantes afirmações. Hoje é uma coisa,
amanhã é outra, completamente contrária, sobre o mesmo assunto. Não tem uma
palavra sobre o futuro. Não se vislumbra uma ideia para além da propaganda
gasta e mentirosa a que o partido socialista nos vem habituando há muitos anos
e que se verifica no dia-a-dia, que deixa o país onde nada funciona o que
depende do Estado que ele controla.
Passemos a Luis Montenegro que, sendo coerente não tem chama,
não galvaniza as hostes, apesar das suas ideias inovadoras e com alguma visão
de futuro mais apelativo.
Seguindo a ordem, passemos para a terceira força política, o
Chega e André Ventura, que muita comunicação social diaboliza e que é isso que
o faz crescer, na minha opinião. O Ventura, como homem culto e inteligente que
é, vai aproveitando o vazio de projectos e de alterações ao status quo que
existe há muito tempo, há demasiado tempo. É travesso, às vezes, malcriado, mas
que aborda os assuntos que os outros não querem tratar. É demagogo, porque, na
eventualidade de vir a governar o país, não conseguiria fazer metade daquilo
que propõe. De qualquer forma é uma pedrada no charco numa campanha que se
destaca pela desinformação por parte de todos.
Vamos para o Bloco de Esquerda e a Mariana Mortágua, a tal
que mente, descaradamente, sobre a avozinha, envolvendo-a numa campanha
rasteira, para atingir e maldizer os adversários, no caso concreto, contra a AD
de Luis Montenegro. Esta miúda é uma demagoga do pior. É ditadora, na sua
origem, e continua até ao seu ocaso. Odeia quem tem alguma coisa, algum
património, no país e quer que todos os portugueses sejam pobrezinhos, mesmo
miseráveis. Para além do mais tenta chamar aos eleitores de parvos e
desmemoriados, querendo que esqueçam que ela e o seu partido teve
responsabilidades no suporte de um governo que não foi sufragado pelo povo
português, apoiando o partido socialista num verdadeiro golpe de estado, que
tendo perdido as eleições viesse a governar contra quem tinha ganho as eleições
que foi o PSD e o CDS em coligação. Esta menina para além de mentirosa é
arrogante e incompetente que tenta escamotear tudo aquilo em que se mete e
lidera como é o caso da “climáxico” que atira tinta contra quadros e obras de
arte e pessoas, parte vidos de montras, corta ruas tornando a vida das pessoas
num inferno. Isto para não falar das suas causas contra as pessoas comuns e
querendo que as minorias LGBTQ+ se imponham ao país e às populações que não se
identificam com estes valores.
Passemos ao PCP e ao Paulo Raimundo que é um novato nestas
andanças, é secretário-geral do partido há muito pouco tempo. Parecendo ser um
homem sério tem um discurso do século passado que é próprio de um partido
comunista e ditatorial. Tenta passar uma mensagem de defesa dos trabalhadores e
du povo, que já não existe e nem entende estas posições. É um líder que não se
afirma pela sua própria ideia para o país, mas é um papagaio que tenta debitar
a cassete do partido que não muda há mais de meio século. É um partido
moribundo que esbraceja para tentar mostrar que está vivo. É um partido que
está em contraciclo com a História, muito seguidor da Rússia Putinista que
idolatra tudo o que é comunismo, mesmo que esse comunismo esteja completamente
fora do tempo.
Vamos agora aos pequenos partidos que eu denomino de
partidos, essencialmente, urbanos e paroquiais, o PAN de Inês Sousa Real e Rui
Tavares do Livre. São partidos sem ideário e sem projectos, mas são partidos
dos slogans e dos fundamentalismos. Como tal os dirigentes são os chefes dos
gangs lá do sítio e portam-se como tal. São obtusos os dois, em iguais
proporções, passando a vida a dizer parvoíces e baboseiras. A Inês tem o
descaramento de ofender os eleitores do Chega, quando este partido tem muitos
milhares de votos e ela só tem poucas dezenas, acusando-o e aos seus eleitores
de ditadores, xenófobos e racistas, quando ela é que propôs e conseguiu a
aprovação com o PS de medidas onde tudo é proibido, menos os cãezinhos e os
gatinhos, passando as pessoas a ser criminosos e os animaizinhos os deuses,
portanto pura ditadura. Já o Rui Tavares não se distingue em nada do PS e
apenas existe porque é dissidente do Bloco de Esquerda, tendo sido eurodeputado
por este partido e ganhado uma pipa de massa, que não aceitou ser destituído
desta mordomia e, para poder voltar a ter o tacho de luxo, criou um partido que
chamou de Livre onde a liberdade é apenas para ele e para as suas mordomias. Para
além do mais os dois têm telhados de vidro quebradiços. A primeira porque quer
proibir a utilização de herbicidas e pesticidas e o marido tem estufas de
culturas intensivas. O segundo um arauto da escola pública e tem os seus filhos
na escola privada. Defende uma escola pública para os deserdados da sorte e
ele, um privilegiado, não a quer e por isso tem os seus filhos a estudar onde
os preparam melhor para terem uma vida mais desafogada.
27/02/2024
Zé Rainho
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024
Intolerável!
INTOLERÁVEL!
Há
situações que não se podem admitir porque são absurdas, porque são
vilipendiosas, porque são injustas, porque são intoleráveis.
Assistimos
no final do mês passado, em directo pela televisão, ao aparato policial na
Madeira que redundou na prisão de três indivíduos e da demissão do chefe do
governo regional.
Passados
21 dias presos, os dois empresários e o ex-presidente da Câmara, que,
entretanto, se demitiu, o juiz mandou-os em liberdade e afirmou, no acórdão,
que não tinha visto indícios de qualquer crime.
Não
é admissível que uma pessoa seja presa por um motivo fútil. Assim, ou o
ministério público e a polícia judiciária andaram muito mal neste processo ou o
juiz, pura e simplesmente, desvalorizou as provas apresentadas.
Qualquer
destas instituições pode aduzir muitos argumentos para o que aconteceu, mas,
para o cidadão comum, houve aqui algo de muito estranho, que pode ir desde o
abuso de poder até à interferência judicial na política nacional e, seja qual
for, a situação é intolerável.
Logo
que se conheceu a decisão do juiz de instrução vieram os advogados de defesa e
outros advogados ao serviço do regime a culpabilizar o ministério público. Caso
estranho é que esses advogados do regime são sempre os mesmos e sempre
atacantes do MP.
O
Partido Socialista e o Partido Social Democrata, para além de figuras gradas da
política, já vieram, também, questionar a justiça e a sua forma de actuar,
particularizando esse ataque, no ministério público e na Procuradora-Geral da
República e isso é igualmente intolerável.
A
Justiça tem muitas fragilidades, mas isso não pode querer dizer que a política
deve interferir nela. Os exemplos que vêm de outras latitudes não são nada
abonatórias. Veja-se o caso de Orban da Hungria. Veja-se o caso de Putin da
Rússia. Veja-se o caso de Maduro da Venezuela. Veja-se o caso do Irão, de
Israel e nunca mais acabaríamos se os continuássemos a enumerar.
É
intolerável que se molestem os cidadãos com esta ligeireza. É intolerável que
se afrontem os políticos sem provas. É intolerável que não se assaquem
responsabilidades aos dirigentes que permitiram que os seus subordinados procedessem
desta maneira inqualificável.
Por
isso o que se exige à Justiça e a quem a aplica é responsabilidade,
imparcialidade e, sobretudo Justiça, quer esta seja protagonizada por
Magistrados do Ministério Público ou Magistrados judiciais, mas nunca, nunca
mesmo, deixar que a política tente condicionar a Justiça.
16/02/2024
Zé
Rainho
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
Consciência Tranquila
CONSCIÊNCIA!
A palavra é simples, o conceito é complexo e abrangente. No
domínio da Psicologia leva-nos para o psíquico e respectivo saber sobre o mesmo.
Filosoficamente já entra no domínio do conhecimento próprio por distinção daquilo
que o rodeia. No campo da moral e da ética pressupõe a capacidade de o
indivíduo avaliar os próprios actos e procedimentos. Podíamos continuar para o
campo profissional, sentimental, social e por aí adiante, mas para o assunto
que queremos abordar podemos ficar por aqui.
Popularmente é comum ouvir dizer-se que, quando uma pessoa
desmaia, perdeu a consciência. Também, quando alguém está em coma, num qualquer
hospital, que está inconsciente. Ainda, que determinado indivíduo, tem a
consciência pesada e por isso não consegue dormir, ou vice-versa, tem a
consciência leve e dorme como um anjo.
Independentemente do contexto o conceito de consciência tem
variações de acordo com os interesses individuais e, também, com o seu sentido
ético, moral e da própria honestidade intelectual.
Assim, a consciência serve para, quase tudo. Por isso é
vulgar ouvir-se: tenho consciência de que cumpri, com rigor, o que me propus ou
me propuseram. Tenho consciência de que o que fiz e pratiquei foi no sentido do
bem próprio e do próximo. Tenho a consciência de que nunca pratiquei qualquer
crime ou ofensa contra o outro. Tenho a consciência do dever cumprido. Tenho a
consciência de, de, de, …
Porém, todos os dias somos confrontados com notícias de
malfeitorias praticadas em todo o mundo, no nosso país, nas grandes cidades e
até nas nossas pequenas aldeias, mas, questionados os malfeitores, dizem-se
sempre de consciência tranquila e mesmo vítima de cabala, calúnia, ou ofensa,
porque estão inocentes, mesmo que os indícios sejam consistentes de que tal
afirmação não é verdadeira.
A “consciência tranquila” passou, desta forma a ser a
panaceia de todos aqueles que, de facto, só podem estar intranquilos.
No domínio dos cargos públicos, que deveriam ser de serviço
ao público, então é a o descalabro total, nas mais diversas esferas e
circunstâncias, desde que estejam em lugares de decisão e que envolva dinheiros
públicos.
São os ajustes directos injustificáveis. São os concursos tipo
alfaiate, com fato à medida do concorrente amigo ou subornador. São as
nomeações de gente impreparada, ou mesmo desqualificada, mas que tem um cartão
partidário e é muito activo na angariação de votos, para o partido do poder.
São as fraudes constantes em empresas públicas ou do domínio público, não
escrutináveis. Para não falar nos diferentes poderes desde o autárquico, ao
regional ou ao central, onde aí é um fartar vilanagem.
Talvez por isto e por muito mais que se poderia enunciar é o
que o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça disse, publicamente, que no
país há uma corrupção generalizada e, mesmo assim, os visados vêm afirmar,
aparentemente convictos, de que estão de consciência tranquila.
A consciência passou assim a ser plástica, moldável, de
acordo com as conveniências. Tenhamos consciência disto.
28/01/2024
Zé Rainho
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Inércia
INÉRCIA!
Atrás de tempo, tempo vem. Deixa andar que o tempo cura tudo.
Estas são as ideias que atravessaram e atravessam o pensamento português ao
longo dos tempos. Qualquer tipo de mudança leva uma eternidade e encontra sempre
muitos entraves, muitos obstáculos, a maior parte deles estapafúrdios.
Talvez seja a pacatez, deste povo de bandos costumes, alicerçada
na figura mítica dos “velhos do restelo” que Camões tão bem caracterizou, que
nos leva ao constante e permanente impasse.
Fomos os últimos da Europa a implementar a indústria. Fomos
os últimos da Europa a libertar as possessões do império português, além-mar. Fomos
os últimos, ou dos últimos, da Europa a adoptar o regime democrático. Somos os
últimos a ter uma ferrovia arcaica que limita as nossas deslocações à Europa
onde estamos inseridos. E por aí adiante. Poderíamos continuar a enumerar o
nosso ancestral atraso, que se vai agudizando a cada ano que passa,
deixando-nos na cauda do desenvolvimento e, cada vez mais, transformando-nos
num país periférico, para além de o sermos, de facto, geograficamente. Talvez
seja também pelo facto de sermos os descendentes dos que cá ficaram, como conta
a história do avô para o neto à sua pergunta: avô nós somos descendentes dos
corajosos e aventureiros marinheiros que deram novos mundos ao mundo? E o avô,
pesaroso, respondeu, não filho, nós somos os descendentes dos que cá ficaram.
Mas, pode ser também, uma questão de preguiça, física e
mental, que nos transforma nuns deserdados da sorte. Pode ser o laxismo da
nossa forma de estar nos diversos sectores da vida nacional, que vai da
educação à saúde, da justiça à segurança social, da economia à política, da
vida em comunidade e preocupação de todos para com todos.
Certamente haverá justificações que os sociólogos,
historiadores, psicólogos, politólogos e outros mestres das ciências sociais,
que serão capazes de apresentar, mas, para nós, é mesmo só o desleixo, a
impunidade, a corrupção e a falta de rigor e profissionalismo dos vários
agentes com responsabilidades na gestão da (rés)pública.
Vem esta conversa a propósito de muitas aleivosias que o país
atravessa, das quais destaco duas, que são muito significativas e caracterizam
bem o que acabámos de afirmar. A primeira é a pouca-vergonha e desfaçatez de
governantes e responsáveis pelo INEM que se viu sem a prestação de serviços de
helicópteros no dia 31 de Dezembro passado, porque, em devido tempo, não abriu
o concurso público indispensável. E agora vê-se compelido ao pagamento de
exorbitâncias, muitos milhões de euros em ajustes directos, para que a
população não fique completamente ao abandono, como está e como se verificou
ontem, com um homem que pediu socorro e não foi socorrido por falta de
ambulâncias e morreu. A segunda é a Lei eleitoral que nos rege há quase
cinquenta anos, meio século e não vejo nenhum partido, nenhum deputado, nenhum
agente político a alertar para a obsolescência da situação. Acresce a estas
anomalias a passividade popular. Ninguém se indigna. Ninguém se incomoda porque
estas coisas só acontecem aos outros. Egoísmo popular exacerbado e indiferença político-partidária.
Cumprindo a responsabilidade que nos cabe enquanto cidadão
gostaria de dizer a todos os Partidos que se vão apresentar a sufrágio
eleitoral que deveriam incluir nos seus programas uma alínea que,
expressamente, dissesse que uma das medidas que iria propor ao Parlamento
eleito, em 10 de Março de 2024 será a alteração à Lei eleitoral vigente, que
data de 1978. Que indicasse quais as alterações que propunha e, nomeadamente,
clarificasse a função e responsabilização do deputado perante o eleitor,
independentemente do Partido pelo qual foi eleito. Que todos os votos expressos
em urna tivessem igual valor, quer sejam dos grandes centros urbanos, mais
populosos, ou de pequenos aglomerados populacionais. Que não houvesse desperdício
de centenas de milhares de votos do interior desertificado e se aproveitem
poucas dezenas de milhar de votos de Lisboa para eleger um deputado.
Eu sei que é utopia e que pedir clareza, honestidade, transparência
e rigor é pedir muito a quem na política está habituado a promover o embuste, o
engano, a mistificação, mas não me peçam para ficar calado e não me impeçam de
sonhar com um país ambicioso, onde os jovens sintam futuro e os velhos sejam
reconhecidos como seus construtores e artífices.
Já agora e para terminar quero pedir aos meus concidadãos que
não deixem de ir votar. Que não se abstenham porque é uma vergonha fazê-lo,
tendo em conta que é um direito que nos foi negado durante muitos anos e pior,
é que se abstendo permitem que uma minoria governe o país e isso não é bom para
ninguém e muito menos para a democracia.
23/01/2024
Zé Rainho
domingo, 14 de janeiro de 2024
Por Vezes...
POR VEZES…
Há alturas em que o nosso país me desilude, me irrita, me
constrange e me entristece. Acontece muitas vezes.
Quando vejo urgências de hospitais fechadas e doentes em
bolandas, de um lado para o outro, com sofrimento atroz, fico triste e zangado.
Quando assisto a notícias de assassínios de mulheres, pelos
seus companheiros, crianças maltratadas, esquecidas ou marginalizadas, fico
possesso.
Quando vejo pobreza extrema, reflectida no aumento exponencial
dos sem-abrigo, em jovens que têm de emigrar, porque não têm salário compatível
com uma vida digna, em muitos portugueses a trabalhar para empobrecer, doí-me
por dentro, porque não havia necessidade.
Quando assisto à corrupção, não digo generalizada, mas muito
difundida, nos corredores dos vários poderes, o chico-esperto a safar-se à
grande e o honesto trabalhador, cheio de mérito a ser deixado para trás,
ultrapassado de uma forma vergonhosa, tira-me do sério.
Quando assisto a muitas outras situações, como a marginalidade,
a libertinagem, a incivilidade, não só me irrita, mas magoa-me.
Mas, também, há alturas em que sinto um orgulho enorme em ser
português e em ter nascido e viver neste país.
Ontem foi um desses dias. Quando vi, numa cidade pequena,
Viana do Castelo, mais propriamente, coabitarem em plena liberdade dois
extremos políticos sem atropelos nem nenhum tipo de violência. Falo, como é
óbvio, da convenção do Chega e de uma reunião de militantes do Bloco de
Esquerda.
Não é preciso ser muito sagaz para perceber que ambos os
partidos se situam nos extremos do espectro político nacional, mas que qualquer
deles representa uma fatia do eleitorado nacional. Representa, pois,
portugueses tão genuínos e autênticos, como todos os outros e, quer votem num
ou noutro, isso é uma bênção e é preciso dar graças.
Esta liberdade e esta convivência democrática dá-me uma
imensa satisfação e leva-me a fazer paralelismos com países enormes, com muito
mais potencialidades, com muito mais dinheiro e poder, onde este tipo de coisas
não era possível. Estou a lembrar-me da China, da Rússia, da Venezuela, para
referir apenas alguns. Infelizmente há muitos mais, até me dói referir a Coreia
do Norte, por exemplo, por ser um caso de extrema violência e desumanidade.
Pela liberdade de pensamento, expressão e conduta, digo com
muito orgulho, viva Portugal.
Pela convivência democrática, civilizada, educada, apesar das
diferenças e concepções políticas, estou agradecido a este país e por isso digo,
veementemente, viva Portugal.
14/01/2024
Zé Rainho
quinta-feira, 11 de janeiro de 2024
Gratidão
GRATIDÃO!
A nobreza de carácter vê-se e sobressai, em atitudes e
comportamentos simples. Sem espalhafato, sem muitas, ou nenhumas, palavras, e
caracteriza-se muito pela forma como tratamos o outro. Com delicadeza, com
empatia, com solicitude e até com alegria. Sorriso rasgado, sem fingimento. Abraço
caloroso.
Um simples obrigado ou, como dizemos cá na nossa Beira
Interior, bem-haja, enche o coração de quem o recebe e, a quem o dá, custa tão
pouco. Esta afirmação é ousada, porque só é verdadeira quando nos referimos à
tal nobreza de carácter, já que quem a não tem não é capaz destes gestos
simples. Destas atitudes, que vêm do berço, da educação recebida, do respeito e
consideração pelo outro e, sobretudo, do sentir-se grato pelo que se recebeu
para benefício próprio.
Há no nosso burgo um ditado antigo que diz mais ou menos
isto: “quem dá não pode dar sempre e quem precisa, precisa sempre”. Por norma é
verdadeiro e intemporal. Por isso é tão importante reconhecer ao dador a
benemerência, o desapego, a solidariedade. E todos nós recebemos mais do que
damos, por isso todos temos razões de sobra para sermos gratos.
Desde logo o dom da vida, o primeiro, o mais importante e
imprescindível bem. O benefício de ter uma família. De ter uma casa. De viver
em comunidade e em comunhão com os outros. Mas há tantas outras graças e
bênçãos que recebemos diariamente e que, infelizmente, nem sequer nos damos
conta dessa dádiva. A saúde, a lucidez, a idade. Tanto e tantos benefícios que
seria demasiado exaustivo enumerar, mas que sentimos, a toda a hora e momento,
se estivermos atentos e, sobretudo se formos, minimamente gratos.
Quando vemos a falta de sentido de alguém que não tem a
capacidade de agradecer o que recebe é uma triste e vil vida, porque falha de
carácter, generosidade e muito cheia de egoísmo. A ingratidão é demonstrativa
da falta de reconhecimento do valor da dádiva. E esta pode ser uma palavra, um
alimento, um cobertor, uma cama para dormir ou um benefício fiscal, um subsídio
de sobrevivência, se falarmos de bens materiais. Mas, se falarmos do intangível,
como o discernimento, a capacidade de pensar, de amar, de sofrer, mas também de
rir e de nos alegrarmos por nós e pelos outros, então a gratidão deve ser maior
porque a dádiva é incomensurável.
Pena é quando, quem recebe, entende que é dever daquele que
dá e não reconhece o benefício recebido.
Por isso entendemos que a gratidão é uma atitude nobre e o
seu antónimo é uma atitude vil. A primeira, objecto de enaltecimento e a
segunda, de profundo desprezo.
Por nós queremos agradecer tudo o que temos e somos. Queremos
agradecer a família que temos, os amigos que possuímos, as pessoas que
conhecemos, a idade que já alcançámos, a saúde que ainda nos brinda no
dia-a-dia e, sobretudo, a alegria de acordarmos diariamente e ouvirmos o
chilrear dos passarinhos, nos arbustos do quintal do vizinho.
Queremos agradecer por ter nascido neste rectângulo à
beira-mar plantado, ainda que, muitas vezes, nos zanguemos com os governantes
que tal mal nos tratam e gostássemos de ter uma vida em que nos sentíssemos
respeitados e tratados com equidade e não abandonados neste interior onde tudo
falta, menos a paisagem luxuriante, o ar puro respirável e a água límpida dos
ribeiros e a generosidade dos seus habitantes.
Queremos agradecer o sistema social em que vivemos, onde a
liberdade ainda é um bem sentido, se compararmos com outras latitudes, onde
essa falta é motivo de discriminação e silenciamento.
Por fim, que deveria ser o princípio, queremos agradecer a
Deus tudo o que nos dá e, particularmente, o Seu amor e misericórdia.
10/01/2024
Zé Rainho