segunda-feira, 4 de março de 2024

MULHER!

 MULHER! Nos dias que correm, com o patrocínio de grupos com grande influência, na política e na comunicação social é arriscado fazer-se esta distinção, entre mulher e homem, devido à moda da “discriminação de género”, porém, nós ainda nos atrevemos, por convicção, a designar o género humano pelas suas duas espécies. Não sendo dos que julgam as pessoas pelo seu nascimento, mas considerando-as pela sua conduta e mérito ou demérito, entendemos a Mulher como um Ser diferente e isso só tem enriquecido as diferentes sociedades em que se inserem. A Mulher é mais sensível, mais emoção e, porventura, menos razão. Pelo facto de ter no seu gene a capacidade de gerar vida é mais protectora e mais disponível para o outro. A cultura e a educação fazem dela um suporte indispensável ao crescimento de sociedades construtivas, prósperas, solidárias, plenas de valores humanistas. Se recuarmos no tempo vemos que o papel das mulheres se tem pautado por feitos extraordinários ainda que, quase sempre, na sombra e sem os holofotes dedicados aos homens. Lembremo-nos da Rainha Santa Isabel, que, com o seu carácter solidário, não se coibiu de desenvolver o seu sentido esmoler e de justiça, perante um marido e Rei austero. Mas também na luta por direitos como a Brites de Almeida - Padeira de Aljubarrota – ou a Maria da Fonte, na guerra da patuleia, duas mulheres do povo, que se ergueram em armas para defender a justiça e a liberdade. Mas, se estas se foram da lei da morte libertando, como diria o nosso poeta maior – Luís de Camões – houve tantas mulheres, em Portugal e no Mundo, que foram e são exemplo de abnegação, fortaleza, sabedoria e de amor que, no anonimato, são faróis de cidadania, de bondade e de excelência. Cada um ou cada uma pense na sua própria mãe e terá o retrato de um heroísmo sem igual. A História tem-nos apresentado a Mulher como um ser subalterno. A própria religião seguiu-lhe os passos, numa primeira fase, quando nos apresenta uma Eva pecadora e causa de todos os males do mundo. Porém, a mesma História e a mesma Religião, mais tarde, vem resgatar a Mulher dessa afronta. Desde logo, Nossa Senhora, mãe de Deus e nossa mãe, numa demonstração inequívoca de que não se chega ao Filho, Jesus Cristo, se ela não for mediadora, intercessora. Mas também Cleópatra, Helena de Tróia ou D. Maria I ou D. Filipa de Lencastre, para dar alguns exemplos. Mas nós sabemos e sentimos que nos nossos dias continuamos a ter enormes, gigantes, magníficas mulheres no mundo e no nosso país. Sabemos que a cultura Ocidental, onde nos inserimos, durante séculos reservou à mulher o papel, extremamente difícil e quase sempre de valor relativo, de ser boa mãe, extremosa esposa, dedicada dona de casa. Em outras culturas ainda é pior, porque a mulher nem sequer pode aparecer com a cara descoberta e o seu papel é pouco mais do que um elemento necessário à preservação da espécie, quando não, mesmo, de escrava sexual. Mas todos sabemos e sentimos que, mesmo contra todos os desígnios e toda a repressão, mais ou menos explícita, a mulher afirma-se pela positiva. Sem descurar o seu papel de mãe e de esposa apresenta-se nos diferentes palcos da vida como profissional de excelência, com capacidade, saber e resiliência capaz de se impor num mundo dominado por homens. Basta olharmos para o panorama educacional e verificamos que a maioria dos licenciados são mulheres. Mas, se na educação é assim, no mundo empresarial e organizacional e político não lhe ficam atrás. Sendo menos, em quantidade, são mais, em qualidade. Lembramo-nos do número de médicas, de enfermeiras, de gestoras, de políticas e vem-nos à memória Maria de Lurdes Pintassilgo que foi a primeira mulher a desempenhar o cargo de primeiro-ministro de Portugal. Não esquecemos Leonor Beleza que foi ministra deste país e hoje dirige uma das melhores e mais prestigiadas Fundações nacionais, a Fundação Champalimaud ou Isabel Mota, que dirige a Fundação Gulbenkian, ou a Reitora da Universidade Católica, Isabel Capelo Gil, ou as várias ministras que estão actualmente no poder, desde a ministra da presidência, Mariana Vieira da Silva, à ministra da saúde, Marta Temido, à ministra da agricultura, Maria do Céu Antunes , ou à ministra da Cultura, Graça Fonseca ou a ministra da Coesão Territorial, que até é beirã, Ana Abrunhosa, para falarmos no actual governo, mas podemos lembrar-nos de governos anteriores e de outras mulheres que desempenharam funções semelhantes mas que nos escusamos de nomear para não vos maçar. Mas, também, não podemos esquecer aquelas mulheres que fizeram e fazem a diferença na sociedade de hoje, a quantidade de professoras dos diferentes graus de ensino, que são o esteio do conhecimento de que toda a sociedade beneficia. Igualmente as investigadoras onde pontificam biólogas, químicas, virologistas, matemáticas, engenheiras, arquitectas e até uma informática portuguesa, que teve um papel relevante na odisseia da nave enviada, recentemente, para Marte com um êxito estrondoso. E estas funções todas sem prejudicar o seu papel de mãe, de mulher, de companheira, de parceira na construção de um mundo melhor. Terminamos lembrando todas aquelas mulheres que lutaram para trazer para a visibilidade, a igualdade, a liberdade e equidade nos direitos e nos deveres. Não querendo ser exaustivos lembramos apenas as mulheres de Chicago que lutaram por direitos iguais, no trabalho, salário e horário, mas também as sufragistas que lutaram pelo direito de voto, das quais destacamos a portuguesa, Carolina Beatriz Ângelo, ginecologista, natural da Guarda que, conseguiu depois de uma luta em Tribunal, adquirir o seu direito de voto para a Assembleia Constituinte de 1911. Viva a Mulher. Viva o 8 de Março o dia da Mulher.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

ESTUPEFACÇÃO

 

ESTUPEFACÇÃO!

Ando, de facto, muito admirado com o que se passa na campanha eleitoral para as legislativas nacionais. Ouço os líderes partidários e fico abismado com o que dizem, na maior parte da vezes, baboseiras e idiotices.

Comecemos pelo Pedro Nuno Santos, por ser o líder do maior partido político até hoje. Todas as suas declarações não passam de lugares-comuns, de parvoíces, de titubeantes afirmações. Hoje é uma coisa, amanhã é outra, completamente contrária, sobre o mesmo assunto. Não tem uma palavra sobre o futuro. Não se vislumbra uma ideia para além da propaganda gasta e mentirosa a que o partido socialista nos vem habituando há muitos anos e que se verifica no dia-a-dia, que deixa o país onde nada funciona o que depende do Estado que ele controla.

Passemos a Luis Montenegro que, sendo coerente não tem chama, não galvaniza as hostes, apesar das suas ideias inovadoras e com alguma visão de futuro mais apelativo.

Seguindo a ordem, passemos para a terceira força política, o Chega e André Ventura, que muita comunicação social diaboliza e que é isso que o faz crescer, na minha opinião. O Ventura, como homem culto e inteligente que é, vai aproveitando o vazio de projectos e de alterações ao status quo que existe há muito tempo, há demasiado tempo. É travesso, às vezes, malcriado, mas que aborda os assuntos que os outros não querem tratar. É demagogo, porque, na eventualidade de vir a governar o país, não conseguiria fazer metade daquilo que propõe. De qualquer forma é uma pedrada no charco numa campanha que se destaca pela desinformação por parte de todos.

Vamos para o Bloco de Esquerda e a Mariana Mortágua, a tal que mente, descaradamente, sobre a avozinha, envolvendo-a numa campanha rasteira, para atingir e maldizer os adversários, no caso concreto, contra a AD de Luis Montenegro. Esta miúda é uma demagoga do pior. É ditadora, na sua origem, e continua até ao seu ocaso. Odeia quem tem alguma coisa, algum património, no país e quer que todos os portugueses sejam pobrezinhos, mesmo miseráveis. Para além do mais tenta chamar aos eleitores de parvos e desmemoriados, querendo que esqueçam que ela e o seu partido teve responsabilidades no suporte de um governo que não foi sufragado pelo povo português, apoiando o partido socialista num verdadeiro golpe de estado, que tendo perdido as eleições viesse a governar contra quem tinha ganho as eleições que foi o PSD e o CDS em coligação. Esta menina para além de mentirosa é arrogante e incompetente que tenta escamotear tudo aquilo em que se mete e lidera como é o caso da “climáxico” que atira tinta contra quadros e obras de arte e pessoas, parte vidos de montras, corta ruas tornando a vida das pessoas num inferno. Isto para não falar das suas causas contra as pessoas comuns e querendo que as minorias LGBTQ+ se imponham ao país e às populações que não se identificam com estes valores.

Passemos ao PCP e ao Paulo Raimundo que é um novato nestas andanças, é secretário-geral do partido há muito pouco tempo. Parecendo ser um homem sério tem um discurso do século passado que é próprio de um partido comunista e ditatorial. Tenta passar uma mensagem de defesa dos trabalhadores e du povo, que já não existe e nem entende estas posições. É um líder que não se afirma pela sua própria ideia para o país, mas é um papagaio que tenta debitar a cassete do partido que não muda há mais de meio século. É um partido moribundo que esbraceja para tentar mostrar que está vivo. É um partido que está em contraciclo com a História, muito seguidor da Rússia Putinista que idolatra tudo o que é comunismo, mesmo que esse comunismo esteja completamente fora do tempo.

Vamos agora aos pequenos partidos que eu denomino de partidos, essencialmente, urbanos e paroquiais, o PAN de Inês Sousa Real e Rui Tavares do Livre. São partidos sem ideário e sem projectos, mas são partidos dos slogans e dos fundamentalismos. Como tal os dirigentes são os chefes dos gangs lá do sítio e portam-se como tal. São obtusos os dois, em iguais proporções, passando a vida a dizer parvoíces e baboseiras. A Inês tem o descaramento de ofender os eleitores do Chega, quando este partido tem muitos milhares de votos e ela só tem poucas dezenas, acusando-o e aos seus eleitores de ditadores, xenófobos e racistas, quando ela é que propôs e conseguiu a aprovação com o PS de medidas onde tudo é proibido, menos os cãezinhos e os gatinhos, passando as pessoas a ser criminosos e os animaizinhos os deuses, portanto pura ditadura. Já o Rui Tavares não se distingue em nada do PS e apenas existe porque é dissidente do Bloco de Esquerda, tendo sido eurodeputado por este partido e ganhado uma pipa de massa, que não aceitou ser destituído desta mordomia e, para poder voltar a ter o tacho de luxo, criou um partido que chamou de Livre onde a liberdade é apenas para ele e para as suas mordomias. Para além do mais os dois têm telhados de vidro quebradiços. A primeira porque quer proibir a utilização de herbicidas e pesticidas e o marido tem estufas de culturas intensivas. O segundo um arauto da escola pública e tem os seus filhos na escola privada. Defende uma escola pública para os deserdados da sorte e ele, um privilegiado, não a quer e por isso tem os seus filhos a estudar onde os preparam melhor para terem uma vida mais desafogada.

27/02/2024

Zé Rainho

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Intolerável!

 

INTOLERÁVEL!

Há situações que não se podem admitir porque são absurdas, porque são vilipendiosas, porque são injustas, porque são intoleráveis.

Assistimos no final do mês passado, em directo pela televisão, ao aparato policial na Madeira que redundou na prisão de três indivíduos e da demissão do chefe do governo regional.

Passados 21 dias presos, os dois empresários e o ex-presidente da Câmara, que, entretanto, se demitiu, o juiz mandou-os em liberdade e afirmou, no acórdão, que não tinha visto indícios de qualquer crime.

Não é admissível que uma pessoa seja presa por um motivo fútil. Assim, ou o ministério público e a polícia judiciária andaram muito mal neste processo ou o juiz, pura e simplesmente, desvalorizou as provas apresentadas.

Qualquer destas instituições pode aduzir muitos argumentos para o que aconteceu, mas, para o cidadão comum, houve aqui algo de muito estranho, que pode ir desde o abuso de poder até à interferência judicial na política nacional e, seja qual for, a situação é intolerável.

Logo que se conheceu a decisão do juiz de instrução vieram os advogados de defesa e outros advogados ao serviço do regime a culpabilizar o ministério público. Caso estranho é que esses advogados do regime são sempre os mesmos e sempre atacantes do MP.

O Partido Socialista e o Partido Social Democrata, para além de figuras gradas da política, já vieram, também, questionar a justiça e a sua forma de actuar, particularizando esse ataque, no ministério público e na Procuradora-Geral da República e isso é igualmente intolerável.

A Justiça tem muitas fragilidades, mas isso não pode querer dizer que a política deve interferir nela. Os exemplos que vêm de outras latitudes não são nada abonatórias. Veja-se o caso de Orban da Hungria. Veja-se o caso de Putin da Rússia. Veja-se o caso de Maduro da Venezuela. Veja-se o caso do Irão, de Israel e nunca mais acabaríamos se os continuássemos a enumerar.

É intolerável que se molestem os cidadãos com esta ligeireza. É intolerável que se afrontem os políticos sem provas. É intolerável que não se assaquem responsabilidades aos dirigentes que permitiram que os seus subordinados procedessem desta maneira inqualificável.

Por isso o que se exige à Justiça e a quem a aplica é responsabilidade, imparcialidade e, sobretudo Justiça, quer esta seja protagonizada por Magistrados do Ministério Público ou Magistrados judiciais, mas nunca, nunca mesmo, deixar que a política tente condicionar a Justiça.

16/02/2024

Zé Rainho

 

 

 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Consciência Tranquila

 

CONSCIÊNCIA!

A palavra é simples, o conceito é complexo e abrangente. No domínio da Psicologia leva-nos para o psíquico e respectivo saber sobre o mesmo. Filosoficamente já entra no domínio do conhecimento próprio por distinção daquilo que o rodeia. No campo da moral e da ética pressupõe a capacidade de o indivíduo avaliar os próprios actos e procedimentos. Podíamos continuar para o campo profissional, sentimental, social e por aí adiante, mas para o assunto que queremos abordar podemos ficar por aqui.

Popularmente é comum ouvir dizer-se que, quando uma pessoa desmaia, perdeu a consciência. Também, quando alguém está em coma, num qualquer hospital, que está inconsciente. Ainda, que determinado indivíduo, tem a consciência pesada e por isso não consegue dormir, ou vice-versa, tem a consciência leve e dorme como um anjo.

Independentemente do contexto o conceito de consciência tem variações de acordo com os interesses individuais e, também, com o seu sentido ético, moral e da própria honestidade intelectual.

Assim, a consciência serve para, quase tudo. Por isso é vulgar ouvir-se: tenho consciência de que cumpri, com rigor, o que me propus ou me propuseram. Tenho consciência de que o que fiz e pratiquei foi no sentido do bem próprio e do próximo. Tenho a consciência de que nunca pratiquei qualquer crime ou ofensa contra o outro. Tenho a consciência do dever cumprido. Tenho a consciência de, de, de, …

Porém, todos os dias somos confrontados com notícias de malfeitorias praticadas em todo o mundo, no nosso país, nas grandes cidades e até nas nossas pequenas aldeias, mas, questionados os malfeitores, dizem-se sempre de consciência tranquila e mesmo vítima de cabala, calúnia, ou ofensa, porque estão inocentes, mesmo que os indícios sejam consistentes de que tal afirmação não é verdadeira.

A “consciência tranquila” passou, desta forma a ser a panaceia de todos aqueles que, de facto, só podem estar intranquilos.

No domínio dos cargos públicos, que deveriam ser de serviço ao público, então é a o descalabro total, nas mais diversas esferas e circunstâncias, desde que estejam em lugares de decisão e que envolva dinheiros públicos.

São os ajustes directos injustificáveis. São os concursos tipo alfaiate, com fato à medida do concorrente amigo ou subornador. São as nomeações de gente impreparada, ou mesmo desqualificada, mas que tem um cartão partidário e é muito activo na angariação de votos, para o partido do poder. São as fraudes constantes em empresas públicas ou do domínio público, não escrutináveis. Para não falar nos diferentes poderes desde o autárquico, ao regional ou ao central, onde aí é um fartar vilanagem.

Talvez por isto e por muito mais que se poderia enunciar é o que o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça disse, publicamente, que no país há uma corrupção generalizada e, mesmo assim, os visados vêm afirmar, aparentemente convictos, de que estão de consciência tranquila.

A consciência passou assim a ser plástica, moldável, de acordo com as conveniências. Tenhamos consciência disto.

28/01/2024

Zé Rainho

 

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Inércia

 

INÉRCIA!

Atrás de tempo, tempo vem. Deixa andar que o tempo cura tudo. Estas são as ideias que atravessaram e atravessam o pensamento português ao longo dos tempos. Qualquer tipo de mudança leva uma eternidade e encontra sempre muitos entraves, muitos obstáculos, a maior parte deles estapafúrdios.

Talvez seja a pacatez, deste povo de bandos costumes, alicerçada na figura mítica dos “velhos do restelo” que Camões tão bem caracterizou, que nos leva ao constante e permanente impasse.

Fomos os últimos da Europa a implementar a indústria. Fomos os últimos da Europa a libertar as possessões do império português, além-mar. Fomos os últimos, ou dos últimos, da Europa a adoptar o regime democrático. Somos os últimos a ter uma ferrovia arcaica que limita as nossas deslocações à Europa onde estamos inseridos. E por aí adiante. Poderíamos continuar a enumerar o nosso ancestral atraso, que se vai agudizando a cada ano que passa, deixando-nos na cauda do desenvolvimento e, cada vez mais, transformando-nos num país periférico, para além de o sermos, de facto, geograficamente. Talvez seja também pelo facto de sermos os descendentes dos que cá ficaram, como conta a história do avô para o neto à sua pergunta: avô nós somos descendentes dos corajosos e aventureiros marinheiros que deram novos mundos ao mundo? E o avô, pesaroso, respondeu, não filho, nós somos os descendentes dos que cá ficaram.

Mas, pode ser também, uma questão de preguiça, física e mental, que nos transforma nuns deserdados da sorte. Pode ser o laxismo da nossa forma de estar nos diversos sectores da vida nacional, que vai da educação à saúde, da justiça à segurança social, da economia à política, da vida em comunidade e preocupação de todos para com todos.

Certamente haverá justificações que os sociólogos, historiadores, psicólogos, politólogos e outros mestres das ciências sociais, que serão capazes de apresentar, mas, para nós, é mesmo só o desleixo, a impunidade, a corrupção e a falta de rigor e profissionalismo dos vários agentes com responsabilidades na gestão da (rés)pública.

Vem esta conversa a propósito de muitas aleivosias que o país atravessa, das quais destaco duas, que são muito significativas e caracterizam bem o que acabámos de afirmar. A primeira é a pouca-vergonha e desfaçatez de governantes e responsáveis pelo INEM que se viu sem a prestação de serviços de helicópteros no dia 31 de Dezembro passado, porque, em devido tempo, não abriu o concurso público indispensável. E agora vê-se compelido ao pagamento de exorbitâncias, muitos milhões de euros em ajustes directos, para que a população não fique completamente ao abandono, como está e como se verificou ontem, com um homem que pediu socorro e não foi socorrido por falta de ambulâncias e morreu. A segunda é a Lei eleitoral que nos rege há quase cinquenta anos, meio século e não vejo nenhum partido, nenhum deputado, nenhum agente político a alertar para a obsolescência da situação. Acresce a estas anomalias a passividade popular. Ninguém se indigna. Ninguém se incomoda porque estas coisas só acontecem aos outros. Egoísmo popular exacerbado e indiferença político-partidária.

Cumprindo a responsabilidade que nos cabe enquanto cidadão gostaria de dizer a todos os Partidos que se vão apresentar a sufrágio eleitoral que deveriam incluir nos seus programas uma alínea que, expressamente, dissesse que uma das medidas que iria propor ao Parlamento eleito, em 10 de Março de 2024 será a alteração à Lei eleitoral vigente, que data de 1978. Que indicasse quais as alterações que propunha e, nomeadamente, clarificasse a função e responsabilização do deputado perante o eleitor, independentemente do Partido pelo qual foi eleito. Que todos os votos expressos em urna tivessem igual valor, quer sejam dos grandes centros urbanos, mais populosos, ou de pequenos aglomerados populacionais. Que não houvesse desperdício de centenas de milhares de votos do interior desertificado e se aproveitem poucas dezenas de milhar de votos de Lisboa para eleger um deputado.

Eu sei que é utopia e que pedir clareza, honestidade, transparência e rigor é pedir muito a quem na política está habituado a promover o embuste, o engano, a mistificação, mas não me peçam para ficar calado e não me impeçam de sonhar com um país ambicioso, onde os jovens sintam futuro e os velhos sejam reconhecidos como seus construtores e artífices.

Já agora e para terminar quero pedir aos meus concidadãos que não deixem de ir votar. Que não se abstenham porque é uma vergonha fazê-lo, tendo em conta que é um direito que nos foi negado durante muitos anos e pior, é que se abstendo permitem que uma minoria governe o país e isso não é bom para ninguém e muito menos para a democracia.

23/01/2024

Zé Rainho

 

domingo, 14 de janeiro de 2024

Por Vezes...

 

POR VEZES…

Há alturas em que o nosso país me desilude, me irrita, me constrange e me entristece. Acontece muitas vezes.

Quando vejo urgências de hospitais fechadas e doentes em bolandas, de um lado para o outro, com sofrimento atroz, fico triste e zangado.

Quando assisto a notícias de assassínios de mulheres, pelos seus companheiros, crianças maltratadas, esquecidas ou marginalizadas, fico possesso.

Quando vejo pobreza extrema, reflectida no aumento exponencial dos sem-abrigo, em jovens que têm de emigrar, porque não têm salário compatível com uma vida digna, em muitos portugueses a trabalhar para empobrecer, doí-me por dentro, porque não havia necessidade.

Quando assisto à corrupção, não digo generalizada, mas muito difundida, nos corredores dos vários poderes, o chico-esperto a safar-se à grande e o honesto trabalhador, cheio de mérito a ser deixado para trás, ultrapassado de uma forma vergonhosa, tira-me do sério.

Quando assisto a muitas outras situações, como a marginalidade, a libertinagem, a incivilidade, não só me irrita, mas magoa-me.  

Mas, também, há alturas em que sinto um orgulho enorme em ser português e em ter nascido e viver neste país.

Ontem foi um desses dias. Quando vi, numa cidade pequena, Viana do Castelo, mais propriamente, coabitarem em plena liberdade dois extremos políticos sem atropelos nem nenhum tipo de violência. Falo, como é óbvio, da convenção do Chega e de uma reunião de militantes do Bloco de Esquerda.

Não é preciso ser muito sagaz para perceber que ambos os partidos se situam nos extremos do espectro político nacional, mas que qualquer deles representa uma fatia do eleitorado nacional. Representa, pois, portugueses tão genuínos e autênticos, como todos os outros e, quer votem num ou noutro, isso é uma bênção e é preciso dar graças.

Esta liberdade e esta convivência democrática dá-me uma imensa satisfação e leva-me a fazer paralelismos com países enormes, com muito mais potencialidades, com muito mais dinheiro e poder, onde este tipo de coisas não era possível. Estou a lembrar-me da China, da Rússia, da Venezuela, para referir apenas alguns. Infelizmente há muitos mais, até me dói referir a Coreia do Norte, por exemplo, por ser um caso de extrema violência e desumanidade.

Pela liberdade de pensamento, expressão e conduta, digo com muito orgulho, viva Portugal.

Pela convivência democrática, civilizada, educada, apesar das diferenças e concepções políticas, estou agradecido a este país e por isso digo, veementemente, viva Portugal.

14/01/2024

Zé Rainho

 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Gratidão

 

GRATIDÃO!

A nobreza de carácter vê-se e sobressai, em atitudes e comportamentos simples. Sem espalhafato, sem muitas, ou nenhumas, palavras, e caracteriza-se muito pela forma como tratamos o outro. Com delicadeza, com empatia, com solicitude e até com alegria. Sorriso rasgado, sem fingimento. Abraço caloroso.

Um simples obrigado ou, como dizemos cá na nossa Beira Interior, bem-haja, enche o coração de quem o recebe e, a quem o dá, custa tão pouco. Esta afirmação é ousada, porque só é verdadeira quando nos referimos à tal nobreza de carácter, já que quem a não tem não é capaz destes gestos simples. Destas atitudes, que vêm do berço, da educação recebida, do respeito e consideração pelo outro e, sobretudo, do sentir-se grato pelo que se recebeu para benefício próprio.

Há no nosso burgo um ditado antigo que diz mais ou menos isto: “quem dá não pode dar sempre e quem precisa, precisa sempre”. Por norma é verdadeiro e intemporal. Por isso é tão importante reconhecer ao dador a benemerência, o desapego, a solidariedade. E todos nós recebemos mais do que damos, por isso todos temos razões de sobra para sermos gratos.

Desde logo o dom da vida, o primeiro, o mais importante e imprescindível bem. O benefício de ter uma família. De ter uma casa. De viver em comunidade e em comunhão com os outros. Mas há tantas outras graças e bênçãos que recebemos diariamente e que, infelizmente, nem sequer nos damos conta dessa dádiva. A saúde, a lucidez, a idade. Tanto e tantos benefícios que seria demasiado exaustivo enumerar, mas que sentimos, a toda a hora e momento, se estivermos atentos e, sobretudo se formos, minimamente gratos.

Quando vemos a falta de sentido de alguém que não tem a capacidade de agradecer o que recebe é uma triste e vil vida, porque falha de carácter, generosidade e muito cheia de egoísmo. A ingratidão é demonstrativa da falta de reconhecimento do valor da dádiva. E esta pode ser uma palavra, um alimento, um cobertor, uma cama para dormir ou um benefício fiscal, um subsídio de sobrevivência, se falarmos de bens materiais. Mas, se falarmos do intangível, como o discernimento, a capacidade de pensar, de amar, de sofrer, mas também de rir e de nos alegrarmos por nós e pelos outros, então a gratidão deve ser maior porque a dádiva é incomensurável.

Pena é quando, quem recebe, entende que é dever daquele que dá e não reconhece o benefício recebido.  

Por isso entendemos que a gratidão é uma atitude nobre e o seu antónimo é uma atitude vil. A primeira, objecto de enaltecimento e a segunda, de profundo desprezo.

Por nós queremos agradecer tudo o que temos e somos. Queremos agradecer a família que temos, os amigos que possuímos, as pessoas que conhecemos, a idade que já alcançámos, a saúde que ainda nos brinda no dia-a-dia e, sobretudo, a alegria de acordarmos diariamente e ouvirmos o chilrear dos passarinhos, nos arbustos do quintal do vizinho.

Queremos agradecer por ter nascido neste rectângulo à beira-mar plantado, ainda que, muitas vezes, nos zanguemos com os governantes que tal mal nos tratam e gostássemos de ter uma vida em que nos sentíssemos respeitados e tratados com equidade e não abandonados neste interior onde tudo falta, menos a paisagem luxuriante, o ar puro respirável e a água límpida dos ribeiros e a generosidade dos seus habitantes.

Queremos agradecer o sistema social em que vivemos, onde a liberdade ainda é um bem sentido, se compararmos com outras latitudes, onde essa falta é motivo de discriminação e silenciamento.

Por fim, que deveria ser o princípio, queremos agradecer a Deus tudo o que nos dá e, particularmente, o Seu amor e misericórdia.

10/01/2024

Zé Rainho