domingo, 14 de janeiro de 2024

Por Vezes...

 

POR VEZES…

Há alturas em que o nosso país me desilude, me irrita, me constrange e me entristece. Acontece muitas vezes.

Quando vejo urgências de hospitais fechadas e doentes em bolandas, de um lado para o outro, com sofrimento atroz, fico triste e zangado.

Quando assisto a notícias de assassínios de mulheres, pelos seus companheiros, crianças maltratadas, esquecidas ou marginalizadas, fico possesso.

Quando vejo pobreza extrema, reflectida no aumento exponencial dos sem-abrigo, em jovens que têm de emigrar, porque não têm salário compatível com uma vida digna, em muitos portugueses a trabalhar para empobrecer, doí-me por dentro, porque não havia necessidade.

Quando assisto à corrupção, não digo generalizada, mas muito difundida, nos corredores dos vários poderes, o chico-esperto a safar-se à grande e o honesto trabalhador, cheio de mérito a ser deixado para trás, ultrapassado de uma forma vergonhosa, tira-me do sério.

Quando assisto a muitas outras situações, como a marginalidade, a libertinagem, a incivilidade, não só me irrita, mas magoa-me.  

Mas, também, há alturas em que sinto um orgulho enorme em ser português e em ter nascido e viver neste país.

Ontem foi um desses dias. Quando vi, numa cidade pequena, Viana do Castelo, mais propriamente, coabitarem em plena liberdade dois extremos políticos sem atropelos nem nenhum tipo de violência. Falo, como é óbvio, da convenção do Chega e de uma reunião de militantes do Bloco de Esquerda.

Não é preciso ser muito sagaz para perceber que ambos os partidos se situam nos extremos do espectro político nacional, mas que qualquer deles representa uma fatia do eleitorado nacional. Representa, pois, portugueses tão genuínos e autênticos, como todos os outros e, quer votem num ou noutro, isso é uma bênção e é preciso dar graças.

Esta liberdade e esta convivência democrática dá-me uma imensa satisfação e leva-me a fazer paralelismos com países enormes, com muito mais potencialidades, com muito mais dinheiro e poder, onde este tipo de coisas não era possível. Estou a lembrar-me da China, da Rússia, da Venezuela, para referir apenas alguns. Infelizmente há muitos mais, até me dói referir a Coreia do Norte, por exemplo, por ser um caso de extrema violência e desumanidade.

Pela liberdade de pensamento, expressão e conduta, digo com muito orgulho, viva Portugal.

Pela convivência democrática, civilizada, educada, apesar das diferenças e concepções políticas, estou agradecido a este país e por isso digo, veementemente, viva Portugal.

14/01/2024

Zé Rainho

 

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