domingo, 31 de outubro de 2021

NO FIM DO CAMINHO!

 

NO FIM DO CAMINHO!

Foi-se a vida e a valentia

Foi-se a audácia e a galhardia

De quem já tem pouco tempo

Para viver, construir e remediar

Erros, omissões e até de amar

Sempre e a todo o momento.

 

Vai-se o tempo, passa a vida

Sem que se dê conta e medida

De como é breve e passageira

Vive-se em constante correria

Perde-se o sentido e a alegria

Neste mundo de canseira.

 

Nas imensas encruzilhadas

Difíceis foram as escolhas acertadas

Do caminho com menos escolhos

Seguindo conselhos mais avisados

Lá se foi desbravando estados

Que nos custaram, da cara, os olhos.

 

Sempre com espírito aberto

Àquilo que é novo e descoberto

Caminhou-se com esperança

Na senda de bem caminhar

Para a desejada meta alcançar

Em espírito de feliz temperança.


Agora no términus da estrada

De consciência tranquila e alma lavada

Esperamos o encontro transcendente

Num novo começar noutra dimensão

Junto de todos os que estão no coração

Incluindo os que o destino fez ausente.

 

31/10/2021

 

Zé Rainho

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

DESPEDIDA!

 

DESPEDIDA!

A partida traz consigo um aperto no coração.

A partida também traz a chegada com emoção.

Quem parte leva lembranças, recordações.

Quem fica sofre dores a perda e algumas aflições.

 

Fosse eu um poeta e diria neste momento,

Quão grato estou a Deus do firmamento,

Por ter partilhado um pouco da vida consigo,

E poder considerá-lo meu Pastor e muito amigo.

 

Nesta circunstância de despedida e separação,

O sofrimento não pode sufocar a esperança.

Nem a dor deve toldar o discernimento,

 

Da imensa e gratificante vivência de irmão,

Que foi esta partilha da fé e da temperança,

De um viver Igreja, sempre, e em todo o momento.

26/09/2021

Zé Rainho

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

PROIBIÇÕES!

 

PROIBIÇÕES!

Proibições nunca surtiram grande efeito.

Foi possível enfrentá-las, contorná-las, infringi-las, no Estado Novo, no PREC (Processo Revolucionário em Curso), na Escola, na Religião, na Família, no controle de velocidade, só para referir situações mais ou menos contemporâneas, mais ou menos corriqueiras. Parece-me consensual esta afirmação.

Ora, se não servem para mudar comportamentos humanos, impõe-se a pergunta: Para que se proíbe? Não seria muito mais assisado convencer, captar, sensibilizar?

Lembram-se do Maio de 68 cujo mote era “proibido, proibir”. A complexidade humana tem destas coisas e por isso, a Psicologia defende outras formas de agir sem que se parta para a proibição. Mas parece que há gente que não aprende.

Notícia de ontem e de hoje é a proibição de alguns alimentos nas Escolas Públicas.

Desde logo nos vem ao pensamento perguntar porquê nas Escolas Públicas e não em todas as Escolas?

É preciso, é urgente mudar hábitos alimentares, é, sem rebuço e sem dúvida, por questões de saúde. Alteram-se comportamentos alimentares proibindo certo tipo de alimentos nas Escolas Públicas, não, sem rebuço e sem dúvida nenhuma.

Para que servirá proibir o hambúrguer na escola se o paizinho e a mãezinha levam, ao fim-de-semana, quando não diariamente, o menino(a) ao McDonald’s? De pouco, já se vê. Reforça esta ideia a bastonária da ordem dos nutricionistas dizendo que serve para pouco proibir na escola se nas proximidades, em cafés, pastelarias e outros há, à venda, esses mesmos alimentos.

Espantoso é um representante da confederação de Pais vir dizer que se congratula com a medida, mas que o que é indispensável é que os pais mudem os seus comportamentos alimentares. A mim apetece-me perguntar: - então se é na família que se alteram comportamentos para que é que é necessário proibir na Escola? Servirá para alguma coisa?

A pandemia deixou-nos abúlicos. Habituámo-nos a que nos proíbam muitas coisas e já não reagimos. Proibiram-nos de sair de casa, de visitar os nossos velhinhos, os nossos familiares hospitalizados, de fazer casamentos, baptizados e até funerais, de frequentar igrejas, restaurantes, cafés, discotecas e agora também nos proíbem de comer.

Eu dou por mim a pensar: - como é que um Governo, ainda por cima minoritário, consegue proibir tudo e mais alguma coisa sem que vozes se levantem? Nem Deputados, nem activistas, nem sindicatos, nem Partidos Políticos e, muito menos a sociedade civil e concluo que, se não vivemos em Ditadura, vivemos numa democracia menorizada e muito, muito musculada e numa sociedade que não vislumbra futuro e, por isso, não se rebela.

Cá por mim não vou em proibições e considero que estas apenas servem para que a imaginação nos dê ferramentas para as ludibriar.

19/08/2021

Zé Rainho

sábado, 31 de julho de 2021

CENSOS 2021!

 


Já há resultados preliminares dos censos de 2021 e as notícias não são boas.

Cabe aos especialistas na matéria fazerem avisos sérios ao Governo para que os números não sejam apenas números.

Cabe ao Governo tomar medidas para inverter a situação e daqui a dez anos os resultados serem diferentes, mas para melhor.

Nós que não percebemos nada disto temos a convicção que os génios ainda não descobriram que a maior crise que o país atravessa não é a económica, mas sim a demográfica. Que, sendo demográfica é necessário alterar o paradigma vigente e modificá-lo para que possam nascer mais bebés em Portugal.

Faça-se o diagnóstico da situação o que não nos parece muito difícil. Os velhos já não procriam. Os novos parece que têm muita falta de espermatozóides. As mulheres em idade fértil não podem ter filhos devido à situação profissional. Os casais que, por questões profissionais, só se encontram ao fim-de-semana não estão em condições de criar um filho, por isso vão adiando esse projecto de vida. A precariedade no emprego, os baixos salários, rendas de casa caríssimas ou, em alternativa, o empréstimo para quem compra leva a maior parte do rendimento familiar, são motivos, mais do que justificáveis, para ir adiando a procriação. Não se escolhem imigrantes, mas recebem-se os que clandestinamente, através de máfias entram pelo país dentro, não para ficarem, mas para debandarem países cujo nível de vida é muito melhor. Os que ficam são os que menos condições têm para criar filhos que possam ser mais valias para o País.

Feito o diagnóstico é preciso passar para a terapia. Esta pode ser com mesinhas, com antibióticos ou com cirurgias, quando não tratamentos mais agressivos. As mesinhas é o que apresenta o governo com hipotéticos incentivos, que não passam de hipotéticos.

Os antibióticos poderiam passar pela protecção à família em vários domínios. Desde logo uma redução substancial nos impostos directos a quem nasceu um filho, redução exponencialmente atractiva cada vez que nascesse mais um. Mas os antibióticos teriam de ser acompanhados de substâncias que minimizassem os efeitos secundários. Logo, protecção aos cônjuges com filhos para que pudessem estar juntos com empregos de proximidade. Rendas de casa participadas para que estas não sejam obstáculo à procriação. Redução dos impostos ao consumo de artigos indispensáveis à criação de uma criança. Creches, infantários gratuitos, para que os progenitores possam ir trabalhar descansados sabendo que os seus filhos ficam em boas mãos. Protecção às grávidas no emprego público e privado que passa por fiscalização rigorosa junto de empregadores menos conscienciosos. Incentivo às empresas que tenham funcionárias grávidas e com filhos bebés para que o seu absentismo ao trabalho não fosse mais um encargo para a empresa, mas sim da Segurança Social.

Cirurgia, cortar todos os subsídios a quem possa e não queira trabalhar. Eliminar todos os Observatórios, Institutos públicos redundantes dos mais diferentes Organismos estatais a quem deveria ser exigido trabalho e competência para suprir os cortes efectuados. Acabar com a interferência política no recrutamento de funcionários públicos e exigir aos Directores Gerais e só a estes, a responsabilidade sobre o mérito ou demérito dos seus funcionários e dar-lhes a autoridade para mediante um processo transparente poder demitir os calaceiros, os incompetentes, os laxistas e os tachistas. Canalizar todo o dinheiro poupado com as medidas preconizadas para a Segurança Social para fazer face ao aumento das despesas com a aplicação das medidas do antibiótico.

Regular e fiscalizar, com rigor, competência e transparência, toda a possível falcatrua ou vigarice e responsabilizar os prevaricadores.

Mas há muito mais a fazer porque os Censos não demonstraram apenas um decréscimo da população, também evidenciaram que um em cada quatro portugueses, por outras palavras, 40% da população vive nas zonas da Grande Lisboa e do Grande Porto que, em território, corresponde a 3.832 Km2 para um total de 92.145 Km2, ou seja 4,16% do total do território. Conclusão óbvia duas zonas superpovoadas onde tudo é sobrecarregado e nada chega – habitação, acessos, hospitais, escolas, transportes públicos – para 95,84% do território onde sobra espaço para tudo. É bom referir que sobra espaço, mas falta tudo o resto, da saúde à educação, da cultura aos transportes e comunicações, do emprego ao rendimento bruto de cada cidadão. Falta ainda transformar a profissão de agricultor numa actividade de sucesso e bem remunerada através do apoio à produção e comercialização de produtos para que os jovens não sintam necessidade de migrar para outras paragens.

Cabe aos especialistas encontrar soluções para todos estes problemas, mas duma coisa temos a certeza: - é intolerável que haja tanta gente com fome nos grandes centros urbanos e tanto terreno agrícola desperdiçado e ao abandono. O País não se pode dar a esse luxo. O mundo não compreenderá como é possível desprezar um recurso endógeno para a produção de produtos alimentares quando estes não chegam à boca de milhões de seres humanos.

O paradigma tem de ser alterado sob pena de ficarmos para a História como uns egoístas e uns insensíveis.

30/07/2021

Zé Rainho

terça-feira, 27 de julho de 2021

CURIOSIDADES!

 

CURIOSIDADES!

Numa pesquisa efectuada no livro de registos de baptismo da paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Meimoa encontrei alguns dados que considero interessantes. Quero, por isso, partilhá-los convosco.

No ano em que nasci (1943) nesta aldeia remota raiana, em plena 2ª Guerra Mundial, nasceram, ao todo, cinquenta e duas crianças, uma farturinha, graças a Deus.

Houve paridade quanto ao sexo, 26 rapazes e 26 raparigas. Dos cinquenta e dois sobrevivemos, apenas, quarenta na primeira infância. Uma mortalidade infantil superior a 250 por cada mil, um horror, uma calamidade, uma tragédia aos olhos de hoje - 2,4 crianças por mil nascimentos em 2020 - segundo o INE e a PORDATA. Para os familiares dos que morreram foi tudo isso na época, mas para a sociedade de então era normal. Não criava nenhum sobressalto. Até porque era a vontade de Deus e isso era o bastante. Era menos uma boca para dividir o quase nada que havia, o que também contava e muito.

Desta fornada, como é costume dizer-se, estamos vivos 27, o que quer dizer que já morreram 13 na idade adulta. Uns por acidente, outros por doença, mais ou menos prolongada.

Os que ainda cá estamos, todos estamos velhos e com achaques, uns mais e outros menos, como é bom de ver, mas não podemos deixar de nos considerarmos uns sobreviventes, uns lutadores e uns sortudos, uns afortunados.

Muitos de nós vamos procurar estar num convívio, no próximo dia 4 de Setembro, promovido pelo Manuel Fonseca, que se desloca de França de propósito, para um último encontro com os seus amigos de infância, segundo as suas próprias palavras. Queremos que seja uma festança. Há quem se esteja a esforçar na organização para que assim seja.

Há várias curiosidades neste grupo que talvez seja digno de menção. Já referimos a mortalidade infantil, mas não ficamos por aqui. Temos que referir que também nasceu aqui e aqui foi baptizada uma cigana de nome Maria Amélia Aires o que nos podia levar para o campo da integração, contra o racismo e a xenofobia, mas basta referir o facto.

Agora vamos debruçar-nos sobre o sucesso escolar.

Dos quarenta sobreviventes só tiveram pleno aproveitamento escolar, na instrução primária, antiga 4ª classe, sete crianças. Cinco raparigas e dois rapazes o que não invalida que os outros não tivessem sucesso em todos os graus de ensino. Talvez por isso tenha sido necessário haver a primeira classe mista da Meimoa no ano de 1954. Um aproveitamento a rondar os 17,5%. Péssimo sinal dirão os meninos de hoje. Não sejam apressados, se calhar foi um sucesso aceitável.

Naquele tempo era necessária uma memorização extraordinária. Tudo era preciso decorar, desde a tabuada aos rios, das serras às linhas de caminho de ferro, com respectivos ramais. Da História de Portugal à Geografia, onde constavam os territórios ultramarinos, sem esquecer a escrita sem erros ortográficos, sem falar no desenho à vista e nos trabalhos manuais, só para dar alguns exemplos.

Não havia manuais escolares, muito menos material didáctico. Alguns professores não tinham habilitação própria e, pior que isso tudo, havia carência alimentar, carência de vestuário e calçado, muita doença infantil e consequente absentismo e, para culminar alguns não podiam ir à escola por falta de uma bata ou porque residiam a quilómetros de distância da aldeia, em quintas isoladas, onde nem uma candeia havia para fazer os trabalhos escolares, sem esquecermos que ninguém tinha água canalizada, saneamento e até electricidade. Esta última veio em 1951, mas só a metia em casa quem tivesse posses monetárias para tal e esses eram uma minoria.

Apesar disso tudo, todos os sobreviventes, temos uma boa qualidade de vida, ainda que nos queixemos de muita coisa, porventura com muita razão. A maior parte de nós, subindo na vida a pulso, tornou-se especialista em alguma coisa. Desde o Direito à Educação, da Construção à Aviação, da Banca ao Comércio passando pela função pública, para além de muitas outras profissões.

Também temos que referir a emancipação da mulher. Foram estas mulheres que começaram a usar a pílula para controlar a natalidade que pretendiam ter. Foram estas mulheres que começaram a usar mini-saia. Foram estas mulheres que escolheram serem independentes dos maridos e por isso foram trabalhar fora de casa, para terem um salário que as não tornasse dependente destes. Pelo menos três delas tiraram cursos superiores. Presentemente poderão achar pouco, para aquele tempo foi um sucesso imenso. Quando nasceram ainda foram educadas para serem boas mães e melhores donas de casa, sem esquecerem que deveriam ser, igualmente, boas esposas.

Todos nós nascemos com ligações à terra e a nossa expectativa, quando nascemos, era vir a ser agricultores e criadores de gado. Nenhum de nós seguiu essas pisadas, para mal da aldeia, mas para bem dos próprios.

A esmagadora maioria migrou, para dentro ou para fora do país, por lá fez vida e muito poucos foram os que regressaram ao torrão natal, ainda que cá venham sempre que podem.

Num tempo agreste, numa vida duríssima para todos, se esta plêiade de pessoas e as outras com mais meia dúzia ou menos meia dúzia de anos, não merece o respeito e a admiração e algum carinho, quem merece neste país?

Para terminar desafio os meus contemporâneos a contarem as curiosidades que conheçam.

Meimoa, 27/07/2021

Zé Rainho

quarta-feira, 21 de julho de 2021

AUTÁRQUICAS 2021


Aproximamo-nos, a passos largos, das eleições autárquicas de 2021 e assiste-se ao costume.

Nos grandes, ou mesmo médios, centros urbanos, as cúpulas partidárias encarregam-se da distribuição de lugares e hierarquizam listas de concorrentes, com a proverbial passividade dos eleitores e, até, das estruturas partidárias locais. Já nos pequenos burgos a coisa pia mais fino. Nem nos partidos e, muito menos fora deles, há gente disponível para entrar num mundo muito adverso. Um mundo conspurcado por uns quantos aproveitadores. Um mundo onde os dinossauros aproveitadores abocanham os parcos recursos. Um mundo onde pontificam indivíduos como, um imbecil, um escroque, que foi presidente de Junta, disse um dia: “Quem manda é o povo e o povo sou eu”.

Admiro, imenso, a coragem dos que não se resignam e, arrostando com todas as dificuldades e superando todos os obstáculos, ainda se predispõem a deixar a sua tranquilidade e o seu conforto, para batalhar contra os donos disto tudo, com o sentimento de que são úteis a toda a sociedade e não só ao grupelho que gravita em torno do poder.

Eu sei que alguns dos meus amigos dirão que são todos iguais, que o que eles querem é tacho, que é tudo uma corja e tenho consciência que há razões substantivas para muita gente pensar assim, tantos e tais os casos a que assistimos por esse país fora, mas posso garantir-vos que também há pessoas que estão tão bem na sua zona de conforto e que apenas o altruísmo e o sentido do dever cívico os leva a entrar nesta árdua e espinhosa aventura e esses, seres humanos superiores, merecem de mim o maior respeito, a maior consideração. Isto é verdade no caso das autarquias, mas é igualmente verdade nas instituições e associações locais, nas IPSS, nos clubes recreativos e desportivos e em tudo o mais que tem impacto positivo nas comunidades.

Para estes a minha homenagem e a minha gratidão, porque são inconformados, porque são determinados, porque põem acima dos seus interesses pessoais os interesses da comunidade.

Para os outros, os do lamaçal, os da pocilga o meu mais profundo desprezo.

21/07/2021

Zé Rainho


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Mudança!

 

Mudança!

Nem sempre mudança é evolução, mas eu gosto da mudança, porque perspectivo sempre a evolução.

Mudar faz bem à alma, faz bem ao corpo. Noutros tempos até a medicina prescrevia a “mudança de ares” para a cura de determinadas enfermidades. Se lhe acrescentarmos irreverência, vontade de aprender, curiosidade, temos ingredientes bastantes para que a mudança contribua para que tudo melhore.

Feita esta declaração de princípios já não me podem acusar de ser contra a mudança.

Vem isto a propósito das mudanças que um senhor, que se diz historiador e é cronista habitual do Público, tem feito ao longo dos tempos.

Lembram-se dele no Parlamento Europeu, eleito pelo Bloco de Esquerda, que depois mandou às malvas e continuou com o tacho até ao fim do mandato?

Sim, é esse que depois, porque quer ser presidente de qualquer coisa, nem que seja do clube de sueca lá do bairro, criou o Partido Livre, que se aproveitou da onda narrativa do momento e escolheu para cabeça de lista uma negra, com síndrome de Disfenia, popularmente conhecida por gaguez, porque, perante um povo sensível, era mais fácil captar votos e a afirmar o Partido. Não teve coragem, ele mesmo, de se submeter ao escrutínio porque é um perdedor. Faltar à presença já é perder. E, para culminar, num golpe de teatro manhoso e canastrão, retirou a confiança política à deputada eleita e esta, porque tinha aprendido bem a lição, fez como o seu mestre, não abandonou o cargo de deputada e mantem-se a ganhar o dela, que não é pouco.

O Partido Livre ficou sem representação parlamentar e, pior do que isso, caiu no esquecimento. Em política não há maior desaire do que o esquecimento. Lembram-se daquele adágio “falem bem ou falem mal, mas falem” é a teoria que importa a quem quer ser lembrado, independentemente das razões pelas quais apareça.

Portanto, se o Livre sempre foi irrelevante no panorama político nacional, mesmo quando elegeu uma deputada, passou a não existir a partir da altura em que deixou de ter representação parlamentar e de aparecer nas televisões.

Mas o senhor, de vez em quando, estrebucha e sacode-se para mostrar que está vivo. Começou por ter um arroubo de valentia e declarou candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, mas foi Sol de pouca dura, em menos de meia dúzia de dias declarou que, afinal, já não era candidato a presidente, mas ia a votos em coligação com o candidato do PS, o mais bem posicionado para a corrida autárquica.

Se eu não sou nada, se sou invisível, pelo menos ponho-me aos ombros do gigante para ver se alguém me vê, se alguém nota que existo.

Mas há mais. O caricato da situação é que o gigante não precisa nada do anão para a sua visibilidade local e o seu hipotético triunfo. Então porque é que o gigante se presta a este papel ridículo de levar às costas um pigmeu? Aqui a coisa pode ter outros contornos. Desde logo porque se pagam favores. Favores que o dito historiador faz constantemente na sua coluna do Jornal Público a elogiar o Partido e o Governo a que pertence o gigante. Mas, também, porque convém ter mais um amestrado na comunicação social que faça a propaganda e a publicidade enganosa, com que somos bombardeados, sem que isso possa ser apontado ao núcleo propagandístico do Partido do Poder.

Por fim e porque o objectivo é cavalgar a onda vamos ter, um dia destes, mais um Partido político que desaparece, mas que o seu presidente vai ser qualquer coisa que se sente à mesa do Orçamento do Estado, pela mão do Partido que vai fazer desaparecer o Livre.

Eu gosto muito de mudanças, mas não gosto nada de troca-tintas.

19/07/2021

Zé Rainho

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Descrença!

 

DESCRENÇA!

Viver na desconfiança é uma tristeza. É viver na incerteza, na dúvida, na inquietação que conduz ao isolamento e à solidão e ninguém consegue ser feliz vivendo sozinho.

Ter de estar sempre alerta com receio de uma rasteira passada pelos que estão mais perto é insuportável.

Na nossa democracia pequenina e poucochinha é este o sentimento dominante. A nossa classe política tem feito por isso. Os nossos banqueiros ganham a medalha de ouro da desconfiança. O nosso empresariado, pretensamente, endinheirado leva a palma. A nossa Justiça não sai muito favorecida na fotografia. Os nossos altos quadros empresariais não lhes ficam atrás, porventura são altos quadros por terem facilitado esquemas mais ou menos enviesados.

Todos nos deixam a sensação de incompetência, quando não mais grave, de compadrio, de nepotismo, de corrupção e de ladroagem.

Parece termos voltado ao tempo do tribalismo, na dicotomia, nós e eles, em que para nós se canalizam todos os benefícios e para os eles ficam, apenas, os sacrifícios.

Vivemos nisto há muitos anos, mas parece que agora se agravou a situação ou, pelo menos, se criou essa sensação.  Intui-se que é assim.

Os Partidos Políticos vão-nos entretendo com os números de circo. Distraem-nos mostrando diferenças que, na prática, não existem, porque quando é para distribuir prebendas estão todos de acordo e são todas para eles e para os deles.

Temos eleições à porta. Quase todos os anos temos eleições e, talvez por isso, vivamos em constante e permanente campanha eleitoral, com promessas que passam de um mandato para o outro e que continuam por cumprir e isso, entre outras coisas, faz com que a abstenção seja o maior partido nacional. É muito mau para um povo que viveu gerações sem poder votar. Mas é esta a realidade.

O desinteresse e descrença estão instalados. Cada vez há mais velhos e menos gente disponível para assumir responsabilidades executivas. Era bom que alguém fizesse alguma coisa para restabelecer a confiança. A começar por aqueles que têm mais responsabilidades pelas posições hierárquicas que detêm, mas também cada um de nós que se deve interrogar se não é o seu alheamento que contribui para a mediocridade reinante.

Confiança precisa-se. Descrença dispensa-se.

11/07/2021

Zé Rainho

domingo, 27 de junho de 2021

Lufada de ar fresco!

 

LUFADA DE AR FRESCO!

Num País onde a impunidade impera ver alguém responsabilizado pelos erros cometidos é uma lufada de ar fresco que nos alimenta a esperança num amanhã melhor.

É que a maior parte das Instituições estão entregues à incompetência dos lóbis partidários e dos incapazes e dos rapazes e raparigas que não sabem dizer NÃO e, por isso, só mesmo por isso, é que chegam a lugares de chefia e de relevância social.

Os exemplos são transversais aos Ministérios, Autarquias, Entidades Reguladoras, Serviços diversos.

Todos os dias aparece mais um escândalo. Agora está na berra o caso da devassa dos dados pessoais que vai para além da devassa e entra no domínio criminal do envio desses dados a países estrangeiros, num verdadeiro atentado aos Direitos Humanos, particularmente quando esses dados são enviados a países com regimes ditatoriais, despóticos e que matam indiscriminadamente os adversários políticos, que eles consideram inimigos, seus e da sua pátria. É sempre assim com todos os ditadores desde todos os tempos e em todos os lugares do Planeta.

Mas, se não bastasse este gravíssimo atentado à democracia apareceu a morte de um trabalhador provocada por uma viatura oficial, onde seguia o ministro da Administração Interna, sem que se saiba o que verdadeiramente se passou. Mas as suspeitas são mais que muitas, desde logo a imprecisão – para não dizer engano – na comunicação ao INEM do acidente o que impediu um socorro célere. Bastou a informação errada do sentido em que seguia a viatura acidentada para, numa auto-estrada, se perder imenso tempo.  Para cúmulo o ministro não se dignou ir ao funeral do trabalhador nem teve a decência de mandar um dos muitos assessores, que nada têm para fazer e que tem ao ser serviço particular. Muito menos mandou investigar e prestar auxílio à viúva e filhas do trabalhador que, segundo o Correio da Manhã, viviam em total e completa dependência do trabalhador vitimado. Isto tudo depois dos inúmeros factos demonstrativos da total falta de vergonha do ministro, da sua exponencial incompetência e do seu habitual abuso de poder, para não falar do tacho que conseguiu para a sua mulher que, depois de não servir para ministra a ganhar cerca de cinco mil euros mensais, serve agora para chefiar, uma das muitas entidades reguladoras, mas a ganhar doze mil euros mensais. Tudo isto não é só um escândalo, nacional e internacional, seria um caso de polícia num país onde a Democracia funcionasse em pleno.

Mas, para que nem tudo seja péssimo, lá aparece um militar, de honra e sentido de serviço público, para dizer que há portugueses de bem, capazes, competentes, inteligentes e com coluna vertebral, que não se verga ao poder político, bolorento e bafiento e quase autocrático.

O Vice-Almirante Gouveia de Melo, ao ter conhecimento de atitudes fraudulentas na vacinação da Região Norte não esteve com meias medidas, pediu à Polícia Judiciária e à Inspecção Geral das Actividades em Saúde para investigarem e exigiu responsabilidades e consequências. De imediato demitiu-se uma responsável pelos actos. Só é de aplaudir. Já não suportamos malandros, como diz o Vice-Almirante.

É de todos os tempos a ideia e o proveito, de que o esperto, o vigarista, o oportunista é que se safa. Que a cunha e o amiguismo desenrascam tudo não importando se isso prejudica o outro. Parece até que o Povo gosta deste tipo de comportamento. Aplaude a vigarice. Mas nenhuma sociedade é, verdadeiramente, civilizada se cada um dos seus elementos não praticar a equidade, a honradez, o trabalho, o conhecimento, a competência e a justiça, para o bem comum. Temos, no nosso seio, demasiados malandros que é preciso educar e sancionar, para que não sintam que a malandrice vale a pena.

Temos, também, ainda homens de bem e portugueses de garra que podem alterar este estado putrefacto de coisas. Esperamos que estes nos ajudem, mais cedo do que tarde, a limpar a estrumeira que se alastra cada vez mais.

O Regime Político precisa de constante vigilância para que não caia em autocracia, no abuso do poder, na apropriação da coisa pública, na delapidação do património cultural e de valores pátrios que tanto custaram a conquistar.

Os Partidos Políticos têm de ser, constante e continuamente, escrutinados para não se considerarem donos da democracia, porque esta não tem donos e pertence a todos, mesmo àqueles que não têm partido.

A Democracia e a conquista da Liberdade tiveram protagonistas, mas não seriam conquistadas sem os actores secundários que, na circunstância, foram todos os portugueses.

Com a atitude do Vice-Almirante renasce a esperança de que há Homens e Mulheres capazes de contribuírem para a mudança que tanta falta faz para que voltemos a ser um País com orgulho do seu passado, com confiança no seu presente e com expectativa de ser melhor no futuro.

26/06/2021

Zé Rainho

 

 

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Lembranças/Recordações

Dia 12 de Junho estive com a família, poucos, porque gostamos de seguir e cumprir, mesmo quando essas regras são pouco compreensíveis, porque pouco coerentes, ziguezagueantes. 

A conversa deslizou para recordações próprias e dos nossos maiores. A saudade bate fundo, porque as lembranças acumulam momentos difíceis com outros muito felizes. 

A preocupação com os mais velhos que ainda resistem à lei da vida por vermos ou pressentirmos que o pavio da vida já tem uma luz mortiça, sinónimo do fim do combustível. 

Nestas lembranças não pudemos deixar de pensar que os nossos bisavós eram ricos de bens materiais, mas os nossos pais já nasceram e cresceram com muita carência dos mesmos. 

Em contrapartida, os nossos pais sempre foram riquíssimos de bens espirituais e afectivos a ponto de de fazerem de nós homens e mulheres de bem e com ferramentas e competências adequadas para singrarmos na vida. E assim se cumpriu o ditado popular: “a filhos chegarás mas de netos não passarás” porque a matéria é finita e efémera.

A nós cabe-nos as memórias mais antigas porque somos mais velhos, os primeiros da terceira geração desta enorme e prestigiada família, perdoe-se-nos a imodéstia. 

Assim, recuar até à década de cinquenta do século passado, leva-nos ao tempo do pós segunda guerra mundial e suas consequências. Racionamento de produtos, miséria quanto baste, vida plena de muito trabalho e proporcional carência. 

Trabalho duro para todos, desde tenra idade. Futuro de horizonte nublado, que não permitia sonhar para além dos limites geográficos da aldeia, do trabalho na agricultura, da monotonia de uma vida sem ambição e sem projecto. Mais uma vez os nossos pais deram a volta à situação enfrentando os obstáculos e ultrapassando-os. Saída dos primeiros para fora da aldeia natal que, qual terra madrasta, não permitia perspectivas de vida, no curto e longo prazos. Até finais da década de cinquenta quase todos rumaram a outras paragens desbravando, novas latitudes almejando novos horizontes. 

Muitos dos presentes já nasceram noutras localidades que não o rincão originário, embora todos mantenham vínculo e se orgulhem da raiz natal dos seus antepassados. 

Por continentes diferentes e terras mais ou menos distantes, com esforço físico e intelectual, com dedicação e perseverança inseriram-se em sociedades diferentes contribuindo para o enriquecimento colectivo e colhendo algum bem-estar pessoal e familiar.

Hoje, já todos entrados na idade, sentimos a tranquilidade do dever cumprido por aquilo que conseguiram para si e para os seus mais próximos, filhos e netos, com orgulho mas sem vaidade e muito menos jactância. 

É neste propósito que deixamos para os vindouros estes pequenos apontamentos para que, tal como nós nos orgulhamos dos nossos pais eles possam lembrar com satisfação o que nós fizemos e construímos. 

17/0372021

Zé Rainho 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Pocilga!

 POCILGA!


São conhecidos os assassinatos perpetrados pela Rússia em vários países do mundo. Não nos esquecemos do que aconteceu em Londres a Litvinenko em 2006 depois deste ex-agente do KGB ter acusado Putin de ter mandado assassinar Berezovsk, magnata russo, seu ferrenho adversário político. 

Está na memória recente, de todos nós, que Putin mandou envenenar o único candidato oposicionista à presidência da Rússia, Navalny.

Se estes factos são do nosso conhecimento, humilde plebeu, não podem ser ignorados pelos nossos governantes nem pelo presidente da Câmara de Lisboa e comentador político, permanente, numa das televisões da nossa praça e presença constante em tudo o que é meio de comunicação social nacional. 

Se sabem que o senhor Putin é um ditador, um déspota, um perigo para o mundo inteiro, devido ao seu feitio belicoso e um impiedoso facínora para com os seus adversários porque diabos se lembraram de enviar os dados pessoais dos seus opositores em Portugal?

Não me venham com conversas de que o Medina pediu desculpas, que o Silva instou a KGB a apagar os dados das pessoas que organizaram a manifestação anti-Putin em Lisboa. Não queiram que eu acredite na história de a culpa foi do amanuense que enviou o email para o sítio errado.

O senhor Medina e o senhor Silva são uma vergonha para todos nós. Um país democrático ter responsáveis políticos que avisam ditadores de que residem em Portugal cidadãos que são contra um regime despótico, ditatorial, desceu ao buraco mais fundo da putrefacção política. Eu não gosto de viver nesse país. Não aceito estes políticos a governar uma Nação que já foi muito respeitada no concerto das Nações. Que foi porto de abrigo para muitos refugiados políticos. Que sempre foi reconhecido como país de acolhimento fraternal.

Se estes dois senhores tivessem vergonha na cara demitiam-se dos cargos públicos que ocupam por indignidade funcional.

Enquanto isto não acontecer este país não passará de uma pocilga. 

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Ditaduras latentes

 Onde é que eu já vi isto?


Quando a opinião é maltratada pelo séquito de mentecaptos amorfos é preocupante. Quando a história se repete é muito decepcionante.

Há algum desconhecimento, para não dizer desprezo, pela História recente ou passada. Pelos factos e pelas percepções dos sinais. Talvez por isso, este nosso povo seja tão ingénuo que, facilmente, se deixa enganar. 

Se recuarmos ao tempo da monarquia democrática - sim houve em Portugal monarquia democrática - ainda que pouco ou nada se fale disso e, muito menos se ensine aos nossos jovens essa parte da nossa História, verificaremos que, quando um partido político se perpetua no poder passa a haver uma mordaça democrática. Se nos lembrarmos da primeira república constatamos que a volatilidade dos governos conduziu, em poucos anos, ao caos e ao desaparecimento dos partidos responsáveis pela implantação da república. 

Estes dois exemplos extremos seriam suficientes, numa análise simplista, para concluirmos que tão mau é um como outro modelo e que ambos descambam em autoritarismo, quando não em ditaduras. E de democracias musculadas e ditaduras frouxas já temos dose que baste. Vale a pena, pois, estarmos atentos.

O que é local pode, em regra, ser global. Vejamos então o que acontece quando, localmente, um partido político se eterna no poder:

  1. Só para enumerar algumas situações mais correntes e até corriqueiras basta vermos o empregos concedidos aos apoiantes, amigos, familiares e, apenas a estes, sem falar nos ajustes directos aos empresários amigos e com poder angariador de votos e, muitos menos na pequena e até grande corrupção, nem nos abusos de poder verificados quotidianamente. Hoje, a maioria do emprego público não é feito por concurso universal e transparente, mas por entrada pela porta do cavalo, temporária, mas que se vai tornando, a pouco e pouco, definitiva. É claro que é só para quem está nas boas graças dos detentores do poder, os outros não têm hipótese nenhuma de, sequer, sonhar com a possibilidade de um emprego público. Passa, como é óbvio, para uma situação cada vez mais podre, onde a cumplicidade entre benfeitor e beneficiário forma uma teia de interesses que, a dada altura, nem se dão ao trabalho de disfarçar, achando mesmo que é um direito que lhes assiste.
  2. Assistimos a isto no Poder Local, Regional e Nacional, numa promiscuidade que asfixia todos aqueles que não pertencem ao grupo. Se acrescentarmos a influência de associações secretas e uma comunicação social, completamente, domesticada, temos uma mistura explosiva que só pode dar para o torto. 
  3. Pode contrapor-se com o argumento de as eleições esbatem estes perigos eminentes, mas o que a gente vê é a hegemonia, cada vez mais alargada do partido do poder, porque a teia já está de tal modo tecida que as eleições, a maioria das vezes, apenas consolida o poder absoluto, intolerável e perigoso, de quem se encontra no poder. Todos os que não se identificam ou não se acomodam, sofrem as consequências do ostracismo. 
  4. Já vivemos isto no início da segunda república e conhecemos o desfecho, a ditadura militar que veio dar origem ao Estado Novo. 
  5. Nesta democracia com falhas, como é a nossa, segundo relatório internacional, caminhamos, a passos muito largos, para um estado insustentável de abuso de poder, de compadrio, de ocupação sistemática do aparelho do Estado. Veja-se o que aconteceu com a nomeação de um boy para director-geral da segurança social. Um indivíduo sem formação, sem experiência, sem vivência a não ser um militante da jota socialista e de menino de mão dos gabinetes ministeriais. 
  6. O partido socialista está no poder há demasiados anos desde início do regime democrático e, por essa razão é o partido que tem mais casos indiciados de corrupção.
  7. Não se trata aqui de acusar ninguém, mas tão só, uma constatação que pode conduzir ao aparecimento dos tais salvadores da pátria que, regra geral dão mau resultado. 
  8. Esperemos que o mais rápido possível se altere o paradigma, para não nos vermos confrontados com ditaduras sempre latentes.


segunda-feira, 12 de abril de 2021

Estupefacção!

 

Estupefacção!

Em toda a minha vida ouvi dizer que todo o homem tem um preço, afirmação da qual não comungo e muito menos aceito. Não quer dizer que o povo, na sua sabedoria, não tivesse razão para assim pensar, mas quero acreditar que há pessoas que se regem por valores morais e éticos e que consideram que um ladrão é tão ladrão por roubar um tostão, como por roubar um milhão. É o acto que qualifica e não a quantia.

Vem isto a propósito da ordem do dia no País, corrupção, prescrição, culpados, inocentes, juízes e procuradores do Ministério Público. Tenho algumas informações e referências sobre um tal Zé Sapatilhas, que andou aqui pela Covilhã e, ainda jovem, já fazia das suas e não eram bonitas. Filho de pai com poder e com dinheiro, desde cedo, se julgou mais do que ninguém. Depois, passeou-se por Coimbra onde conseguiu um diploma de bacharel em engenharia que lhe deu logo acesso a um lugar na Câmara, como é óbvio por influência e não por concurso público, como deveria ser. Quando já era detentor de muito poder, conseguiu, numa universidade manhosa, um canudo de engenheiro, através de um exame efectuado ao domingo, avaliado por um professor amigo e conivente. Canudo que nunca foi reconhecido pela Ordem dos Engenheiros, logo vale zero, se precisar de o utilizar para comer, com o esforço do seu trabalho. Mas não precisa de trabalhar porque os milhões que lhe passaram pela carteira dão-lhe o conforto de não necessitar de trabalhar. Entretanto tinha assinado uns projectos esquisitos, aprovados por técnicos incapazes, mas detentores de poder, lá para os lados da Guarda. Muitos outros episódios lhe são imputados e são do conhecimento público através da Comunicação Social e, por isso, não vale a pena repeti-los.

Foi, este sujeito, preso e acusado de dezenas de crimes por se ter apropriado, indevidamente, de milhões de euros. Agora há um juiz que diz que o dito sujeito é corrupto, mas que o crime prescreveu e eu fico estupefacto. Então o roubo deixa de ser roubo se se deixar passar algum tempo sem que se descubra ou seja punido pela justiça? Então um ladrão que consegue esconder o produto do seu roubo, e só pelo facto de saber esconder bem o produto de tudo aquilo que roubou, não é punido pela Justiça dos homens? Então um gatuno, só porque roubou muitos milhões e com eles pode pagar a advogados que conhecem os buracos negros da lei - eventualmente, até fazem parte de escritórios a quem pagaram para a elaborar, quando deveria ter sido gizada por juristas competentes e ao ser da causa pública e não dos interesses de uns, poucos - deixa de ser considerado gatuno só por isso, enquanto outro cidadão que rouba um pão no supermercado vai preso? Roubar e não ser apanhado passa a ser virtude?

Então e um juiz, que tem o dever de julgar com justiça e é pago principescamente, para isso, considerando o ordenado médio nacional, tem poder para branquear crimes e não lhe acontece nada?

Será que é lícito a um juiz valorar o testemunho de companheiros e amigos do arguido e desprezar o testemunho de um interveniente no processo que teve conhecimento causal e até participou nos esquemas de corrupção, sem que nada aconteça? Isto é um Estado de Direito ou é uma pocilga?

Sabemos que tudo o que aconteceu na passada sexta-feira não é o fim de nada e até é, nas próprias palavras do visado, o princípio de tudo, mas perante um povo tão sofredor, com bolsas de pobreza inimagináveis, com fome a grassar pelo país fora, muito por culpa desta corja de ladrões, ainda que com a desculpa da pandemia, um cidadão que paute a sua vida pela honestidade pode sentir-se confortável? Não se sentirá incomodado? Não terá de se revoltar?

Dir-se-á que o povo já se revoltou e a prova disso é que anda para aí uma petição, com muitas milhares de assinaturas, para afastar o juiz da magistratura, mas isso vai valer de alguma coisa? O Poder judicial supremo é que tem a competência para tal e a petição é dirigida a um órgão sem a competência devida, como poderá ter efeitos práticos?

Não deveria haver um sobressalto cívico, vastíssimo, de toda a sociedade honesta que não se revê nestes esquemas e nesta sordidez, para que o Poder encarasse o enriquecimento ilícito, seja de quem for e pudesse merecer a dedicação urgente à legislação que impedisse que tal aconteça? Que tal demonstrar já isso nas próximas eleições, não votando em quem esteja, mesmo que seja só indiciado, de práticas contra a ética e contra a moral?

Diz-se com ênfase que todo o criminoso é inocente até trânsito em julgado. No domínio jurídico pode ser assim e, só por isso, o direito já não é direito, penso eu, mas, para mim um criminoso é aquele que comete um crime, independentemente de ser apanhado, ou não, pelas malhas da justiça.

Ontem já era tarde, mas vamos acreditar que ainda há gente de bom senso, de bom carácter e que tudo fará para legislar para que casos destes não se repitam. Alguma coisa tem de ser feita.

12/04/2021

Zé Rainho

 

 

segunda-feira, 22 de março de 2021

RICOS!

  Ricos podres!

Há coisas, por mais que me esforce, que não consigo entender. Deve ser por nunca ter sido um aventureiro e, muito menos, um oportunista ou, quem sabe, devido a inteligência medíocre. Seja do que for não entendo, não compreendo e, por essa mesma razão, não consigo aceitar.

Falo de um tal Alfredo que nasceu pobre e disso não tem culpa nenhuma, viveu pobre até aos seus quarenta anos e, de um momento para o outro ficou rico.

Vamos lá escalpelizar o assunto. Um indivíduo de cerca de 54 anos, nascido e criado lá para os lados de Odivelas, era pobre ao ponto de não poder estudar, numa época em que estudar e tirar um curso superior era ambição de todos os jovens e dos seus pais. Para ter algumas ferramentas para a vida foi a Casa Pia de Lisboa, instituição de solidariedade social que lhe proporcionou algumas habilitações e, porventura, algumas habilidades. 

Começou por trabalhar no concelho de Palmela como trabalhador indiferenciado. Passou para pequeno empresário de transporte de mobílias e, sem saber ler nem escrever, como se costuma dizer, de um momento para o outro torna-se sócio, maioritário, de uma empresa estratégica, de valor astronómico, que gera lucros extraordinários. Trata-se da Groundforce, empresa que, entre muitas outras actividades, se encarrega da bagagem e de passageiros nos aeroportos portugueses. A empresa tem cerca de dois milhares e meio de trabalhadores e um volume de negócios assinalável. Pertenceu, durante anos à TAP mas as regras da concorrência da União Europeia não permitem monopólios e depois de ter adquirido a Groundforce por 31,5 milhões de euros vendeu-a por cerca 4 milhões. A TAP era nossa. Era do Estado. Parece que já voltou a ser!

Grande negócio, não? Pois, ainda foi mais fantástico, porque o comprador o tal Alfredo, ficou com empresa subsidiária da TAP sem ter de desembolsar um cêntimo. Os amigos fizeram um contrato que lhe permitia pagar com os lucros que ia embolsando. Assim também eu seria capaz de fazer negócios, mesmo não percebendo nada dessas coisas.

Não é caso único, há muitos outros casos similares com um aspecto em comum, são sempre negócios com o Estado. 

Mesmo não sendo muito inteligente atrevo-me a concluir que, se um indivíduo se souber rodear dos amigos certos, que estão colocados nos lugares certos, não precisa ser podre de rico para ser tornar, num ápice, um rico podre.

Não se esqueçam que isto não foi sempre assim. Houve tempos em que se nascia rico, se recebiam heranças, ou lhe saia a sorte grande, para se ser rico. Com a casta política do 25 de Abril passou a haver mais esta autoestrada para a riqueza, influências. 

22/03/2021

Zé Rainho 

segunda-feira, 8 de março de 2021

IGUALDADE DE GÉNERO.

 

Alguém, em tempos recuados, propôs-nos que elaborássemos uma pequena reflexão sobre a igualdade de género, em meio rural.

Temos, para nós, que a igualdade de género ou é ou não é; existe ou não existe, independentemente dos diferentes meios ou territórios. É verdade que, quando se fazia agricultura neste País e as mulheres, para além das tarefas domésticas que assumiam, como integralmente suas, ainda tinham que ir trabalhar na agricultura, nas mondas dos cereais, por exemplo, o seu salário era, em regra, metade do salário de um homem. Mas o mesmo se pode dizer para a indústria, para o comércio e até para a função pública. Onde, neste caso concreto, a maioria das chefias é desempenhada por homens, independentemente da qualidade técnica, do saber científico, da capacidade de trabalho e organização de muitas das funcionárias públicas. Há algumas excepções, fruto das especificidades do trabalho a desenvolver em que a paridade salarial é completa e total. Falamos da classe dos professores, dos médicos, dos enfermeiros, dos juízes, procuradores, deputados e outros que, a não ser assim, não só ficaria ferida a igualdade de género como ficaria ferido o princípio constitucional de que, para trabalho igual, não correspondesse salário igual.

Porém, devido à ancestralidade da supremacia masculina no campo militar – em regra os homens é que combatiam – nas religiões em que os homens é que são Pastores, Presbíteros, Sacerdotes trouxe consigo fundamentos de que as sociedades só seriam harmoniosas se houvesse tarefas para homens e tarefas diferentes para as mulheres, profissões masculinas e profissões femininas. Estes arquétipos sociológicos ainda perduram em muitas sociedades e tenderão a desaparecer à medida que homens e mulheres sentirem a necessidade e lutarem para que o equilíbrio se faça no respeito pela individualidade de cada um e não pelos estereótipos enraizados durantes séculos e até milénios.

Sabendo que a tradição tem uma relevante importância na assunção das liberdades, dos direitos de cada um dos seres humanos, nem por isso, podemos deixar de acreditar que este desiderato só poderá ser o resultado da consciência, individual e colectiva, e do respeito que cada ser humano tenha pelo outro.

Será no uso criterioso da liberdade e no respeito meticuloso pelo outro, nas suas especificidades, capacidades, debilidades ou potencialidades que se atingirá, como maior ou menor eficácia essa, pretensa igualdade. E dizemos pretensa porque não se pode querer igual o que é diferente. Poderemos sim, sem ambiguidades, cada um de nós, por ao serviço do outro todos os meios, recursos e vontades para que que, em cada um se manifeste, numa liberdade conscientemente assumida, toda a potencialidade e capacidade de realização com vista a um valor supremo que é, em última análise, a felicidade de cada um, para que se atinja, cada vez mais, a felicidade colectiva.

Dirão que é utopia! Eventualmente. Mas só quem sonha é capaz de realizar grandes feitos. Só quem almeja atinge o que, à partida, parece inatingível. Assim sendo, não nos parece que haja ou, pelo menos, que possa haver diferenças substanciais e substantivas de género, consoante o ambiente em que se viva. Outrossim, já nos parece curial, que tais diferenças existam e se acentuem de acordo com a formação individual dos pares. Com os Valores Éticos de cada um. Com o respeito integral pela dignidade humana nas suas mais específicas e diversificadas realidades.

Historicamente temos assistido a muitas situações demonstrativas de que a desigualdade no tratamento dos seres humanos tem sido uma constante que não se pode iludir. Entre ricos e pobres, patrões e empregados, chefes e subalternos. O mesmo é válido para povos que escravizam outros povos, em função do seu poderio económico e militar. Abusos e faltas de respeito entre as religiões. Mas se isso é verdade, no que se refere ao passado, não deixa de continuar a ser verdadeiro, no presente.

Os déspotas foram homens, na sua esmagadora maioria, mas houve mulheres verdadeiramente diabólicas, maquiavélicas nas suas atitudes para que atingissem os seus fins que, em última instância, era o Poder totalitário de disporem, inclusive, da vida do seu semelhante. Podíamos referir Lucrécia Bórgia, Cleópatra, Catarina de Médicis, mas também a rainha portuguesa Maria Pia e muitas outras mulheres que deixaram rasto da sua prepotência, cupidez e artimanhas para atingir ou manter o Poder.

Ainda hoje, numa Europa cuja génese assenta em princípios de Igualdade, Solidariedade, Fraternidade verificamos todos os dias os atropelos cometidos pelos Países Ricos subjugando pelo poder económico os seus parceiros mais pobres, menos desenvolvidos economicamente, ainda que, na maior parte dos casos, estes sejam portadores duma História e uma Cultura, incomparavelmente, mais rica.

Mas o mercenarismo e a agiotagem não se compadecem com os valores imateriais. Tudo o que não passe pelo poder económico e militar, tem pouca relevância para os povos que entendem a felicidade com o TER e se interessam pouco pelo SER.

O debate sobre esta temática é, por certo, muito interessante mas será, em nosso entender, sempre inconclusivo, enquanto as pessoas não forem reconhecidas pelos seus méritos ou deméritos, independentemente, do género a que pertençam.

Há homens que serão sempre pigmeus, mesmo que se alcandorem aos postos mais elevados das diferentes governações e mulheres que se agigantam na sua sensibilidade, organização, competência, mesmo quando desempenham funções, ditas menores. Esta de funções menores levar-nos-ia a outro debate não menos interessante mas deixemos para uma próxima oportunidade.

Igualdade de género sim mas, só e sempre, quando for fruto do respeito mútuo.

 

Penamacor, 7 de Junho de 2016

José Rainho Caldeira

quarta-feira, 3 de março de 2021

A TEIA DO PODER!

 

A TEIA DO PODER!

Que o Poder corrompe, já toda a gente sabe e até se habituou. Que o Poder só o é porque se rodeia de indefectíveis, também não é novidade. Quanto mais tempo alguém está no Poder maior é o perigo de abuso, corrupção e nepotismo é outra verdade inquestionável. Pergunta-se então: - porque é que não se estimula e promove a alternância, particularmente, nos países ditos democráticos? Porque dilui o poder, digo eu.

Os mais velhos estão lembrados que, no designado Estado Novo, havia verdadeiros estados dentro do estado e isso conduziu ao descontentamento e até à revolta. Os mais velhos, também experienciaram, local, regional e nacionalmente, abusos ditatoriais em tempos democráticos. As sevícias, os mandados de prisão sem nome, os piquetes de civis armados pelo MFA, os ataques e bombas, para não falar dos roubos.

Houve até palavras que ficaram para a história política como “força, força, camarada Vasco, nós seremos a muralha de aço”, “dinossauros”, como referência a autarcas que durante décadas se perpetuaram no poder entre muitas outras diatribes e devaneios de uma certa esquerda totalitária.

Há sinais, quase me atreveria a dizer, há evidências de verdadeiros ditadoreszecos espalhados pelo país, consequentemente, o abuso de poder e a corrupção campeiam nessas latitudes. O Caciquismo que vem do tempo de João Franco, ainda na Monarquia, ganhou raízes que perduram no tempo e no espaço geográfico.

Num Universo de 308 municípios há 74 titulares investigados pela justiça e até há algumas condenações, ainda que não exemplares, como deveriam ser, para obviar aos desmandos praticados. A última conhecida é do vereador de Coimbra que adjudicou, por ajuste directo serviços, ao filho e ao sobrinho, no valor de 300 mil euros.

No parlamento não faltam exemplos de falcatruas, que vão da falta ao serviço martelada pelo companheiro(a) só para receber mais uns trocos mesmo que ilicitamente, passando pelo conflito de interesses até ao arranjinho em negócios.

Nos Governos nem se fala. Desde titulares julgados e punidos pela justiça até aqueles que continuam suspeitos de fantásticas burlas e aproveitamentos pessoais de dinheiros públicos, ao favorecimento de pessoas, empresas, clubes há, de tudo, um pouco, mas em grandes quantidades.

A Justiça também não sai melhor na fotografia pois aparecem titulares do topo de hierarquia indiciados de crimes inenarráveis. O pilar mais importante do Estado de Direito está, cada vez mais torto.

Salta à vista a teia que os poderosos tecem para se protegerem distribuindo benesses de toda a ordem, para que seja inexpugnável e, como atrás se referiu, quanto mais tempo uma pessoa ou um partido estiverem no poder, mais se instala o sentimento de impunidade e maiores atropelos à Lei e à Ordem se praticam. Chega-se ao desplante de se achar um direito aquilo que é um atropelo, só porque se eles podem tudo.

Pequenos exemplos: ministros que saem dos governos para empresas que tutelaram e a quem beneficiaram enquanto governantes. Não é preciso dizer nomes há-os de todos os quadrantes e são conhecidos de toda a gente. Autarcas nomeados para lugares de governação ou para empresas com as quais fizeram negócios de milhões. Isto é válido para o continente, mas não exclui as ilhas onde o procedimento é rigorosamente igual.

Das nomeações para cargos públicos ou semipúblicos até aos ajustes directos, quer com empresas, quer com grandes escritórios de advogados, nem é bom falar.

A teia está montada e é bom que haja alguns besouros capazes de a romper, caso contrário, cada vez ficará mais opaca e mais resistente o que impedirá o seu desmantelamento.

A mudança é necessária. É indispensável. É premente. A teia é preciso ser destruída para se poder respirar ar puro e democrático.

03/03/2021

Zé Rainho

 

domingo, 28 de fevereiro de 2021

DISTRACÇÃO!

 

DISTRACÇÃO!

Devo andar distraído porque não li, nem ouvi, uma palavra do Governo Português, sobre a expulsão da diplomata da União Europeia, da Venezuela, que por acaso até é portuguesa.

Não li, nem ouvi, uma palavra da oposição com assento parlamentar sobre o mesmo assunto.

Casualmente, ou talvez não, Portugal desempenha, neste semestre, a presidência da União Europeia e também não ouvi um reparo da Presidência da União Europeia. Já houve uma situação caricata do representante diplomático europeu com a Rússia, também durante a presidência de Portugal da União Europeia e a Presidência fica muda e queda. Não há uma reacção, nem do Governo nem dos meios de escrutínio, nomeadamente dos meios de Comunicação Social, da sociedade civil, de ninguém.

O Diário de Notícias de hoje traz uma sondagem sobre a popularidade que apresenta o Presidente da República com 68% de opiniões positivas e 56% de aprovação ao primeiro-ministro. O Povo não anda só distraído, está anestesiado.

O País vive ligado às máquinas. Está nos cuidados intensivos. Desemprego, lay-off, falências em catadupa, economia parada, milhares de cirurgias por realizar e centenas de milhares de consultas adiadas, os mortos por covid e não covid são uma enormidade, não se passa nada.

As Instituições sociais caritativas, de onde destacamos a Cáritas por entrarmos na semana que lhe é dedicada, a solicitar mais e maior empenhamento e donativos, para suprir tantas carências, inclusive, alimentares.

Os mais de sete mil sem abrigo existentes no País que, ao invés de verem o seu número reduzido a cada ano o vêem aumentado, a ponto de o responsável estatal para a problemática já ter vindo a admitir que não será possível erradicar este flagelo nacional antes de 2030, como se dez anos, para esta gente que nada tem, não fosse uma eternidade.

Em contraponto as nomeações, sem qualquer tipo de concurso para funções públicas, nos gabinetes ministeriais são um maná para os apoiantes e seguidores do partido do governo, com salários e benesses negadas aos demais portugueses. Falamos apenas das nomeações oficiais, não sabemos o número de avenças ou contratos de prestação de serviços, por ajuste directo.

Como disse atrás parece que ando distraído e, eventualmente andamos todos, mas neste último ponto, quero concretizar com exemplos factuais: O primeiro-ministro tem 2 secretários de estado a trabalhar directamente com ele. São os secretários de estado adjunto e o secretário de estado dos assuntos parlamentares. Tem 1 chefe de gabinete, 10 assessores, 7 adjuntos, 3 técnicos especialistas, 7 secretárias pessoais – porventura é uma para cada dia da semana – 2 de apoio administrativo, 11 motoristas e 2 pessoal auxiliar. Apetece-me perguntar se os conhece a todos? Isto traduzido em dinheiro é uma pipa de massa. O Chefe de Gabinete ganha qualquer coisa como 5.706,03€ mensais; cada assessor ganha 4.548,47€ mensais; cada adjunto 3.988,36€; os técnicos especialistas 3.988,36€ cada; as secretárias 2.370,82€; os do apoio administrativo 1.752,85€; os motoristas 2.127,38€ e o pessoal auxiliar 1.134,98€. A estes vencimentos mensais brutos acresce o subsídio diário de refeição e eventuais ajudas de custo e respectivos descontos, é evidente.

Mas não fica por aqui. O secretário de estado adjunto também tem um chefe de gabinete que ganha 4.786,52€ mensais, com os acréscimos, que são comuns a todos os outros funcionários; 3 adjuntos com vencimento de 3.700,39€, 2 técnico especialista a ganhar também 3.700,39€, 2 secretária pessoal com 2.370,82€, 2 motoristas com 2.127,38€, 1 pessoal auxiliar 1.134,89€.

Já o secretário de estado dos assuntos parlamentares têm 1 chefe de gabinete, 4 adjuntos, 4 técnico especialista, 2 secretária pessoal, 2 de apoio técnico administrativo e 2 motoristas com vencimentos iguais.

E sobre todos estes assuntos ninguém fala. Ninguém se preocupa. Anda tudo muito distraído ou será que a sondagem faz a pergunta apenas a quem está escorada nas pessoas com os salários que acima se mencionaram? Porventura deve ser assim mesmo e eu é que dou importância aquilo que o não tem.

28/02/2021

Zé Rainho  

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

ESTADO D EMERGÊNCIA!

 

12º ESTADO DE EMERGÊNCIA!

Os diversos Estados de Emergência têm dado, ao Governo, a possibilidade de utilizar todas as medidas consideradas necessárias para fazer face à pandemia que nos assola.

Já o disse, mais do que uma vez, que sou contra a generalização desta prerrogativa constitucional. A figura do Estado de emergência deve estar reservada a situações, verdadeiramente, excepcionais de grande catástrofe, pelo menos esse é o espírito da Constituição da República Portuguesa.

Mesmo com estas condicionantes o Senhor Presidente da República tem respaldado, com os sucessivos decretos de estado de emergência, a exigência do Governo para que os problemas resultantes da pandemia sejam obviados e resolvidos.

Nem sempre o Governo tem utilizado este instrumento da melhor forma e da forma mais correcta. Na minha opinião tem havido extrapolação, para não dizer abusos, em muitas situações, que colidem, abertamente, com os direitos liberdades e garantias dos cidadãos. Vezes houve que o Governo solicitou o respaldo do Presidente da República e da Assembleia da República e depois regulamentou como muito bem lhe apeteceu. Um pequeno e singelo exemplo: no estado de emergência anterior tinha como pressuposto base a testagem massiva da população, nomeadamente em Escolas, Construção Civil e Empresas. Em vez de se aumentar a testagem, para se tornar massiva, reduziu-se a mesma, passando dos cerca de 75.000 testes diários, para menos de 30.000. Perante esta evidência o Governo diz que está a fazer um estudo para agilizar a testagem e com isto passaram-se quinze dias. Ora, segundo os técnicos, esta pandemia só pode ser atacada se for no início, caso contrário o seu crescimento é exponencial. Qualquer atraso significa o desastre, como aliás se viu. O pior país do mundo durante cerca de um mês.

O Decreto do Presidente da República para o 12º Estado de Emergência, desta vez, traz algumas novidades. Em vez de generalidades, que permitem roda livre ao governo, aponta metas, objectivos. Desta vez afirma-se, claramente, que é preciso “que sejam aumentadas as taxas de testagem” e “planear o desconfinamento por fases, com base nas recomendações dos peritos e em dados objectivos, como a matriz de risco, com mais testes e mais rastreio”.  

Não gosto, reafirmo, de Estados de Emergência, mas subordinado a parâmetros inultrapassáveis, já os aceito com maior benevolência. Espero que os Partidos Políticos com assento na Assembleia da República o aprovem com baias bem definidas, para não permitir que o Governo nos continue a proibir de tudo e mais alguma coisa e nos continue a enganar com promessas nunca cumpridas.

Espero, ansiosamente, que seja este o último estado de excepção, porque estou farto de que me coarctem as minhas liberdades individuais.

25/02/2021

Zé Rainho

 

LIBERDADE!

 

LIBERDADE!

Fez anteontem 34 anos que faleceu Zeca Afonso. Os mais novos não têm forma de saber a importância que este homem teve na minha pessoa e na maioria da juventude da minha geração, a nível musical. Era preciso ter contactos nos espaços de venda de discos para se poder comprar um disco do Zeca.

A música do Zeca era especial. Não devido à qualidade, que essa eu não tenho competência para avaliar, mas pelas letras cantadas. Pelo significado das palavras. Pela subtileza das mesmas. Tinha ainda mais dois ou três aspectos que nos aproximavam. A sua proveniência era beirã, muito próximo aqui do nosso burgo e residiu em localidades muito próximas de nós, nomeadamente o Fundão e Belmonte. Outra era o facto de ser um conhecedor e ter vivências de África tal como nós. Viveu em Silva Porto e Coimbra, onde também vivemos e, mais importante, a ânsia e a luta pela Liberdade.

Seguimos caminhos diferentes. Ele chegou a ligar-se ao PCP e esse foi o seu maior erro, quanto a mim. Eu na JOC, Juventude Operária Católica, em contacto com a luta, no terreno, por uma vida mais digna para todos os trabalhadores. Sem radicalismos, mas com propósitos e ideais firmes e objectivos.

Mas não quero, nem me sinto com capacidade para ser biógrafo do Zeca, apenas quero repescar para aqui o seu sentido humanista, a sua luta pela liberdade, o seu desencanto e o seu desalento.

Alturas houve em que Zeca lançava um disco e era, sistematicamente, preso a seguir. Tenho, comprados clandestinamente, a maior parte dos discos em vinil que o Zeca lançou. Conheço a maioria dos temas. Tenho pena de não os saber cantar. Mas ele cantava para alertar o povo para as injustiças. “Eles comem tudo e não deixam nada” é um grito de revolta.

Com este arrazoado quero prestar homenagem ao homem, ao músico, ao português, na data em que se assinala mais um aniversário da sua morte, porque esta é uma forma de contribuirmos para que continue a viver na memória colectiva. Mas, também, para lembrar uma das suas músicas onde ele cantava “NÃO ME OBRIGUEM A IR PARA A RUA GRITAR”, num paralelismo com aquilo que se vive no Portugal de hoje, muito parecido com o garrote do antigo regime.

Um pacifista nunca advoga e, muito menos pratica, a violência, mas não pode pactuar com o silêncio da injustiça.

A Pandemia trouxe para este país um governo eleito democraticamente que governa com tiques antidemocráticos.

O que acontece nos media de condicionamento de jornalistas que afrontam o governo é disso um exemplo cabal.

Há muitas medidas governamentais que são atentatórias aos direitos dos cidadãos. Os grupos de pressão e desinformação que pululam nas redes sociais ao serviço do Partido do Governo são autênticos exércitos de intimidação.

O Confinamento retira capacidade organizativa e de intervenção por parte do cidadão não enfeudado ao partido do poder. O trabalhador, pobre e desprotegido, sente-se ameaçado e não reage com medo das consequências. As empresas que não gravitem na orla do poder sentem-se cada vez mais asfixiadas com medidas castradoras e por sobrecarga de impostos.

Os bens essenciais, como os produtos petrolíferos, gasolina, gás e gasóleo, sobem para preços proibitivos sem que se esboce um desagrado.

Os bancos não param de aumentar as taxas e, na mesma proporção, de baixar os juros dos depósitos que estão no nível zero da remuneração.

O governo decide a seu belo prazer e sem qualquer tipo de escrutínio como delapida o dinheiro dos contribuintes, como é o caso da TAP, mas também em subsídios a organizações de carácter racista como a SOS racismo, ou na feitura de um lago na zona do pinhal interior, Pedrógão Grande, que não serve para nada, enquanto as populações que perderam tudo, ainda esperam pela reconstrução de suas casas, para não se falar na opacidade que existe quanto aos donativos do povo português em 2017, quando da tragédia.

Elencar todas as trapalhadas deste governo e dos seus titulares é tarefa gigantesca e que daria um volumoso livro. Desde o lítio aos comboios, dos aviões aos hospitais, dos incêndios à caça selvagem. Mas também da nomeação do homem de mão para o grupo europeu de combate à corrupção, ao marido da ministra a quem é entregue a gestão da coisa pública no porto de Sines, e à quantidade assustadora de nomeações de membros de família dos titulares de cargos públicos, numa atitude nepotismo insuportável, para não se falar na corrupção generalizada em todo o país desde o terreiro do paço às autarquias mais singelas. Mas estas bastam para se avaliar a prestação do actual governo.

Por isso estou como o Zeca: Não me obriguem a ir para a rua gritar!

25/02/2021

Zé Rainho