segunda-feira, 8 de março de 2021

IGUALDADE DE GÉNERO.

 

Alguém, em tempos recuados, propôs-nos que elaborássemos uma pequena reflexão sobre a igualdade de género, em meio rural.

Temos, para nós, que a igualdade de género ou é ou não é; existe ou não existe, independentemente dos diferentes meios ou territórios. É verdade que, quando se fazia agricultura neste País e as mulheres, para além das tarefas domésticas que assumiam, como integralmente suas, ainda tinham que ir trabalhar na agricultura, nas mondas dos cereais, por exemplo, o seu salário era, em regra, metade do salário de um homem. Mas o mesmo se pode dizer para a indústria, para o comércio e até para a função pública. Onde, neste caso concreto, a maioria das chefias é desempenhada por homens, independentemente da qualidade técnica, do saber científico, da capacidade de trabalho e organização de muitas das funcionárias públicas. Há algumas excepções, fruto das especificidades do trabalho a desenvolver em que a paridade salarial é completa e total. Falamos da classe dos professores, dos médicos, dos enfermeiros, dos juízes, procuradores, deputados e outros que, a não ser assim, não só ficaria ferida a igualdade de género como ficaria ferido o princípio constitucional de que, para trabalho igual, não correspondesse salário igual.

Porém, devido à ancestralidade da supremacia masculina no campo militar – em regra os homens é que combatiam – nas religiões em que os homens é que são Pastores, Presbíteros, Sacerdotes trouxe consigo fundamentos de que as sociedades só seriam harmoniosas se houvesse tarefas para homens e tarefas diferentes para as mulheres, profissões masculinas e profissões femininas. Estes arquétipos sociológicos ainda perduram em muitas sociedades e tenderão a desaparecer à medida que homens e mulheres sentirem a necessidade e lutarem para que o equilíbrio se faça no respeito pela individualidade de cada um e não pelos estereótipos enraizados durantes séculos e até milénios.

Sabendo que a tradição tem uma relevante importância na assunção das liberdades, dos direitos de cada um dos seres humanos, nem por isso, podemos deixar de acreditar que este desiderato só poderá ser o resultado da consciência, individual e colectiva, e do respeito que cada ser humano tenha pelo outro.

Será no uso criterioso da liberdade e no respeito meticuloso pelo outro, nas suas especificidades, capacidades, debilidades ou potencialidades que se atingirá, como maior ou menor eficácia essa, pretensa igualdade. E dizemos pretensa porque não se pode querer igual o que é diferente. Poderemos sim, sem ambiguidades, cada um de nós, por ao serviço do outro todos os meios, recursos e vontades para que que, em cada um se manifeste, numa liberdade conscientemente assumida, toda a potencialidade e capacidade de realização com vista a um valor supremo que é, em última análise, a felicidade de cada um, para que se atinja, cada vez mais, a felicidade colectiva.

Dirão que é utopia! Eventualmente. Mas só quem sonha é capaz de realizar grandes feitos. Só quem almeja atinge o que, à partida, parece inatingível. Assim sendo, não nos parece que haja ou, pelo menos, que possa haver diferenças substanciais e substantivas de género, consoante o ambiente em que se viva. Outrossim, já nos parece curial, que tais diferenças existam e se acentuem de acordo com a formação individual dos pares. Com os Valores Éticos de cada um. Com o respeito integral pela dignidade humana nas suas mais específicas e diversificadas realidades.

Historicamente temos assistido a muitas situações demonstrativas de que a desigualdade no tratamento dos seres humanos tem sido uma constante que não se pode iludir. Entre ricos e pobres, patrões e empregados, chefes e subalternos. O mesmo é válido para povos que escravizam outros povos, em função do seu poderio económico e militar. Abusos e faltas de respeito entre as religiões. Mas se isso é verdade, no que se refere ao passado, não deixa de continuar a ser verdadeiro, no presente.

Os déspotas foram homens, na sua esmagadora maioria, mas houve mulheres verdadeiramente diabólicas, maquiavélicas nas suas atitudes para que atingissem os seus fins que, em última instância, era o Poder totalitário de disporem, inclusive, da vida do seu semelhante. Podíamos referir Lucrécia Bórgia, Cleópatra, Catarina de Médicis, mas também a rainha portuguesa Maria Pia e muitas outras mulheres que deixaram rasto da sua prepotência, cupidez e artimanhas para atingir ou manter o Poder.

Ainda hoje, numa Europa cuja génese assenta em princípios de Igualdade, Solidariedade, Fraternidade verificamos todos os dias os atropelos cometidos pelos Países Ricos subjugando pelo poder económico os seus parceiros mais pobres, menos desenvolvidos economicamente, ainda que, na maior parte dos casos, estes sejam portadores duma História e uma Cultura, incomparavelmente, mais rica.

Mas o mercenarismo e a agiotagem não se compadecem com os valores imateriais. Tudo o que não passe pelo poder económico e militar, tem pouca relevância para os povos que entendem a felicidade com o TER e se interessam pouco pelo SER.

O debate sobre esta temática é, por certo, muito interessante mas será, em nosso entender, sempre inconclusivo, enquanto as pessoas não forem reconhecidas pelos seus méritos ou deméritos, independentemente, do género a que pertençam.

Há homens que serão sempre pigmeus, mesmo que se alcandorem aos postos mais elevados das diferentes governações e mulheres que se agigantam na sua sensibilidade, organização, competência, mesmo quando desempenham funções, ditas menores. Esta de funções menores levar-nos-ia a outro debate não menos interessante mas deixemos para uma próxima oportunidade.

Igualdade de género sim mas, só e sempre, quando for fruto do respeito mútuo.

 

Penamacor, 7 de Junho de 2016

José Rainho Caldeira

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