sábado, 30 de julho de 2011

Rídículo

Certezas! Quem as terá?
Ninguém, concerteza.
A dúvida metódica prevalecerá,
Já a Filosofia nos incutiu esta incerteza.

Não acreditando em bruxas
Como dizem nossos Hermanos, haverá,
Sempre é bom prevenir e não desdenhar,
Porque pode o diabo trazê-las para cá.

A inteligência humana de tudo é capaz,
Do melhor e do mais ridículo disparate.
Basta que o bom senso caia no dislate,

Da piroseira mania da grandeza, assaz,
Doutros tempos, outras épocas, outro quilate,
Em que o homem se humilhava pela pobreza.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Electrificação da Aldeia

Já lá vão sessenta anos e parece que foi ontem, éramos ainda menino de sacola escolar às costas. Dia 29 de Julho de 1951 esta aldeia do interior profundo, raiana de nascimento geográfico, foi agraciada com um dos expoentes do desenvolvimento, ser dotada de Luz Eléctrica nas ruelas e nas casas daqueles que podiam suportar a despesa da instalação . Hoje, um bem essencial. À Época, quase um luxo. Esta aldeia teve primeiro energia do que água ao domicílio o que pode parecer e, eventualmente é, um paradoxo, porque sendo a energia importante a água não deixa de ser vital.
Vicissitudes várias contribuíram para tal feito. A localização geográfica foi, apenas, uma. Seguiu-se o interesse de quem tinha poderes para fazer passar por aqui os postes que traziam para a sede do concelho a electricidade produzida na Serra da Estrela que, por acaso, tinha adoptado esta Terra como sendo sua. Homenagem devida ao Homem que deu o empurrão decisivo. Os mais novos nem sequer lembra o seu nome. Porém foi das pessoas que mais deu a esta Terra, a tal ponto que aqui quis ser sepultado. Falamos do Dr. Mário Pires Bento que, neste dia de comemoração todos dele se lembrem e peçam ao Senhor que a sua Alma descanse em Paz.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Palavra de Deus


Porta principal fechada, Igreja deserta...
Não! talvez alguém lá dentro se esgueirasse pela porta do lado.
Reze, peça fervorosamente ou esteja, apenas, desperta,
Reflectindo, matutando, nas palavras escritas do cartaz dependurado.

Que importa se a Igreja está vazia ou cheia de fiéis?
Se o Senhor disse que todos nós somos as pedras vivas,
 Cada um pode ser pedra angular da base ou capitéis,
E que Cristo carregou na Cruz todas as nossas feridas.

A Palavra tem sentido, tem força e tem voz,
Porque sendo Palavra de Deus vai p'ra além da razão,
Entende-se, sente-se se ecoar dentro de nós,

Tal só é coerente e faz sentido se, dentro do coração
A Palavra for semente, germinar, crescer e der a noz,
De forma a que o Outro seja sempre nosso irmão.






quinta-feira, 14 de julho de 2011

A frustração da aprendizagem.

Acabei de ler os resultados dos exames do ensino básico, deste ano lectivo, e fiquei estarrecido. Em Matemática apenas 41,7% de notas positivas. Todos os resultados pioraram relativamente ao ano anterior.
Deveria estar vacinado contra estas notícias mas não me consigo habituar. Defeito meu, de certeza.
É claro que com políticas de desautorização dos professores, com sistemas de avaliação burocráticos e levados a efeito pelos pares. Com o alargamento de horário de permanência na Escola de alunos e professores onde nem uns nem outros produzem nada de útil, apenas cumprem determinações da 5 de Outubro, (leia-se Ministério da Educação), este resultado nem deveria espantar ninguém, muito menos um velho professor que, modéstia à parte, sabe destas coisas a potes, porque vividas e experienciadas.
Para quando uma revolução no ensino com a participação de todos os actores do sistema? Para quando a prometida autonomia da Escola, no papel, em 1986 (há 25 anos)? Para quando a responsabilização dos pais, dos professores, dos alunos, dos funcionários? Para quando a Escola como um corpo com cabeça, tronco e membros e não um conjunto de partes cuja soma das mesmas, jamais será um todo? Para quando acabar com a facilitismo e a aposta na estatística para Europa ver?
É evidente que nada disto nos deveria espantar, por razões diversas que, se calhar vale a pena enunciar algumas:
Tivemos nos últimos 15 anos governos de um partido cuja matriz assenta na contestação do Maio de 68 em França, cujo lema é "proibido proibir". Temos os alunos filhos dos pais do 25 de Abril de 74, cuja educação foi pautada pela arruaça, pelo desrespeito, pela liberdade sem responsabilidade. Temos professores das ESES cujo conhecimento científico deixa muito a desejar - com excepções, é claro  - e outros que sempre viram a profissão como, apenas, um emprego. Temos um percurso de experimentalismo bacoco, sem sustento e coerência. Temos Novas Oportunidades que são uma fraude onde se gastam milhões para certificar analfabetos funcionais. E não me venha o Roberto Carneiro dizer que não é bem assim por que se certificaram competências. Mas quais competências?
Se calhar a vida profissional sempre esteve e continua divorciada da vida escolar. Eu explico. Para se ser jardineiro não se elabora um concurso com questões relacionadas com plantas, seu desenvolvimento, podas, tratamentos e até geometria. Exige-se a escolaridade obrigatória. Para se concorrer a um lugar de serralheiro ou mesmo mecânico não se exige conhecimento do que é uma esquadria (aplicando o teorema de Pitágoras) mas que tenha um certificado da escolaridade obrigatória. Mas que é isto? E onde fica o saber fazer? O aprender a aprender? A metacognição?
Mas para que estou para aqui a gastar o meu latim? Um Povo que permite que um Primeiro Ministro tire uma licenciatura ao domingo, numa universidade manhosa, que os Tribunais estão a ver se conseguem punir as aldrabices e vigarices de que sempre viveu e, mesmo assim o endeusou durante seis anos, porque é um bom vendedor da banha da cobra, como é que pode esperar um ENSINO DE QUALIDADE E UMA APRENDIZAGEM A CONDIZER?
Ficamos por aqui, tristes, mas é melhor pararmos para não abrir mais a ferida.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Vida campesina.

A vida de outros tempos, no mesmo lugar,
Era pacata, simples, monótona e rotineira.
Trabalho, campo, família, vizinhos, altar,
Serões animados, com cantoria à lareira.

Agora, dias sem Jornais, Internet, Televisão,
São horas infindas de bocejo, modorra e neurose,
Como se viver dependesse da tecnologia e da razão,
Esquecendo pessoas que falam, historiam, em osmose.

Hoje a vida não tem passado nem presente.
Vive-se em função do amanhã, do futuro,
Esquecendo-se que o ontem é já ausente.

O amanhã é uma incógnita permanente,
Desperdiçar os dias com o depois, inseguro,
Será, porventura, loucura e tontaria imprudente.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Que Pena!!!???

FOI ESCRITO NO DIA 7 DE MARÇO PASSADO, MAS ACHO ACTUAL E POR ISSO VOU PUBLICAR. TENHO MUITO ESPERANÇA NO NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO. ELE, COMO EU ENTENDE QUE DEVEMOS ACABAR DE VEZ COM O EDUQUÊS E O BOLONHÊS QUE SÓ TRAZEM PARA A SOCIEDADE A IGNORÂNCIA CERTIFICADA.


Acabei de ver uma reportagem televisiva que me deixou abalado. Não pelos resultados que, esses, conheço-os de cor e salteado, mas pela lástima de um País, um Povo, um Sistema Educativo miserável.
Diz a reportagem, referindo-se aos Censos de 2001, que Portugal é o País da Europa com maior taxa de analfabetismo, 9% da população.
Triste realidade quando se assiste a vidas dramáticas que existem e se justificavam no Estado Novo, mas que são inadmissíveis 36 anos após o 25 de Abril de 1974.
No Estado Novo atravessámos algumas carências do pós-guerra e também desinteresse pelo Conhecimento, pelo Saber, com receio de revoltas, rebeliões. E agora, tem-se medo de quê?
Lembremo-nos de que a morte dos velhos que tinham cerca de 50 anos no 25 de Abril, foi uma forma de reduzir a taxa de analfabetismo. É uma verdade crua, mas é indesmentível. Entretanto o que fez o Ministério da Educação? E agora, o que é que faz que pessoas com 15, 22, 40, 47 e 49 anos, não saibam uma letra do tamanho de um comboio? Como é possível um miúdo de 15 anos ter frequentado o 8º ano de escolaridade e não saber quantos anos tem, em que dia nasceu e não sabe ler uma única palavra?
Como é possível que uma directora de um Agrupamento de Escolas não tenha tido a coragem de dizer que "o rei vai nu" e que a Escola se viu forçada a transitar este aluno de ano, sucessivamente, para que a Estatística funcione a favor dos ditames governamentais?
Como é possível vivermos este pesadelo e não permitirmos a concretização de sonhos que cada Ser Humano tem direito?
Como podemos dizer que pertencemos ao grupo de Países desenvolvidos?
Não quero continuar. Só me permito dizer que sinto revolta pelo que vi e muita pena de gente, como nós, que excluímos da vida em sociedade.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Novos Paradigmas

Assistimos, com preocupação, à violência, à pré-bancarrota, à corrupção e a todo um conjunto de situações impróprias de um qualquer Estado Democrático. Mais assustador é ver-se todo este estado de coisas no berço da Democracia – a Grécia – pelas consequências que tal situação pode, por arrastamento e contágio, trazer para a Europa, no seu todo, e para a União Europeia da zona Euro, em particular.

Se associarmos estes acontecimentos aqueles que vemos na Líbia, na Síria, no mundo árabe, em geral, na China, na Índia e em muitos países da América Latina, onde a exploração do homem pelo homem é o pão- nosso-de-cada-dia, a reflexão só nos pode conduzir ao medo, à insegurança e até, mesmo, ao desespero.

Conduzindo o nosso pensamento crítico para o nosso País então a desesperança só pode ser total.

Sabemos que a fuga de capitais, neste último ano é, e continua a ser, um enormidade, mais de cinco mil milhões de Euros. Uma afronta ao povo trabalhador. A falta de sentido de Estado, de sentido Patriótico do Poder político e do Poder económico, são factos que levam o Povo ao desespero. A miséria e a fome atingem valores astronómicos. Mais de 10% da população vive num estado pobreza extrema. Isto não se passa em África ou num qualquer País subdesenvolvido. Passa-se em Portugal. Nação secular com História, com Conhecimento, com pergaminhos ao nível da Ciência, das Letras, da Inovação. Com orgulho de ter dado novos mundos ao Mundo.

Vale, neste momento cruel para muitos portugueses, o sentido solidário daqueles que, em regra, até são os mais necessitados. Que tiram da sua própria pobreza, alguns cêntimos para ajudar outros que nada têm. Valem também as inúmeras IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), as diferentes Igrejas, em particular para a Católica que, por ser maioritária, muita ajuda presta aos mais pobres dos pobres.

Enquanto assistimos a todo este descalabro, à mudança de Governo, à necessidade de cumprir, milimetricamente, os compromissos com a “TROIKA” – União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu – a nossa Comunicação Social (o designado 4º Poder, que em muitos casos é o primeiro) anda distraída ou, pelo menos, anda a escamotear aquilo é, verdadeiramente, importante. Senão vejamos:

• Pela primeira vez na nossa História, de quase um milénio, foi eleita uma mulher para a Presidência da Assembleia da República – a segunda mais importante figura do Estado – e sobre isto as notícias são flaches televisivos ou notas de roda-pé, como se não fosse uma notícia importante para as nossas crianças, adolescentes e jovens, para servir como exemplo e modelo de Mulher, de cidadã e de alguma nobreza política;

• Toma posse o Governo, apresenta o respectivo programa e pouco ou nada se sabe de quais as implicações que isso vai ter na nossa vida, no presente e no futuro, próximo ou longínquo;

• Vemos um jovem português alcançar o patamar do mais caro, porque conceituado, treinador de futebol do Mundo e isso não é mostrado como exemplo de trabalho, preserverança, atitude, inteligência e capacidade, antes é apenas apontado como ganância;

• Faz-se um baptizado de uma criança – fizeram-se centenas no mesmo dia – só porque é filho de um craque do futebol, tem honras de directos televisivos, com multidões a acotovelarem-se para verem de perto o acontecimento. Os outros é como se não existissem.

• Houve um triste e lamentável acidente de viação que atirou para um hospital um jovem de 28 anos, que é um ídolo de uma certa adolescência e juventude mais ou menos alienada e, durante seis dias (6 dias), todos os Telejornais, de manhã, à tarde e à noite, abrem com esta notícia, mostrando a todo o País, uma quantidade de gente que não trabalha, nem estuda, às portas do Hospital, onde a vítima permaneceu internada e onde a família terá sofrido horrores, por consequência digna de toda a nossa solidariedade e compaixão e, os pseudo-jornalistas, quais abutres rodopiando à volta da presa moribunda, cirandam para dizerem, muitas vezes apenas, que não há nada a dizer. Nesses mesmos dias deram entrada nos Hospitais públicos, de acordo com as estatísticas, quinze (15) portugueses vítimas de acidentes igualmente graves e muitos deles faleceram, no imediato, sem uma palavra de alerta para os perigos da circulação rodoviária e respectiva segurança. Uns são filhos, porque mediáticos, outros enteados, porque anónimos.

Para se perceber a hermenêutica da Organização Social, na actualidade, torna-se necessário que a Família, em primeiro lugar, ajudada pela Escola, com instrução, com conhecimento, com lógica, com sentido cívico, sejam os pilares de uma Sociedade crítica esclarecida, onde o senso comum seja um bem a cultivar, onde o sentido da relativização dos acontecimentos seja um paradigma de (con)vivência social.

A Democracia é responsabilidade. A informação é um direito mas não pode ser alienação. A dimensão dos acontecimentos, das manifestações de rua, devem ter a cobertura da comunicação social contida, proporcional e educativa, para que a Sociedade assente em Valores Éticos e Morais que nos apresentem, sejam modelos a seguir, sejam referência que combata o sentimento da vida fácil, do dinheiro fácil, do endeusamento do chico esperto que, em última instância, conduz, a maior parte das vezes ao crime, mais ou menos organizado. Ao ter, não importa de que forma se obtenha. Ao estar na moda nem que isso conduza, a prazo, à degradação social e humana de que são vitimas muitas das sociedades democráticas do Mundo.

É premente mudar de Paradigmas Sociais.

Junho de 2011

José Rainho Caldeira