segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Poupança

 Dia nacional da poupança!


Poupança, quem a pode praticar?

Só quem tiver dinheiro para amealhar.

A maioria, nem sequer, tem o essencial

Para fazer face à despesa habitual.


Não fora a crise e o saque dos salários,

Talvez quem trabalha, dos seus honorários,

Pudesse colocar alguma sobra no mealheiro.

Mas, como a vida está, não há sobra de dinheiro.


Assim não se justifica a comemoração duma data,

Que já não tem razão de ser para os portugueses,

Que nem para o dia a dia têm o bastante,


Para pagar contas sempre maiores e constante,

Porque os políticos entendem que somos fregueses,

E, por isso, nós é que devemos pagar os abusos da nata.


Zé Rainho.

Muito frio

ESTA MUITO FRIO!


Está muito frio.

Sinto um arrepio.

Penso no semelhante,

Que por inconstante,

Não se preveniu no Verão,

Para esta época de nevão.


Tenho o coração gelado.

Sai um soluço sufocado,

Pelo sofrimento de alguém,

Que não tem ninguém,

Que lhe acenda a lareira,

Lhe dê calor de toda a maneira.


Morre tanto infeliz,

Com frio até ao nariz,

Que não tem onde cair morto,

Abandonado a direito e a torto,

Por familiares e outros amigos,

Porque deixou de ter abrigos.


E onde está o Humanismo? 

Perguntamos todos, se o abismo

Entre ricos e pobres é colossal,

A ponto de em Portugal,

Sofrer de pobreza extrema,

É quase normal o lema.


Sinto arrepios, não de frio,

Mas da desgraça que já é rio,

Pois avança com grande torrente,

Não poupa ninguém, nem gente,

Que já teve mais que o suficiente,

E hoje não passa de um indigente.


Por culpa de outros ou própria, 

Que transformaram a vida imprópria,

De qualquer ser humano honesto,

De um País civilizado, de resto

Que protege os grandes ladrões

Empregados, governantes ou patrões.


Sinto arrepios e dores no peito,

Por ver a forma e o jeito,

Como velhinhos suportam,

Estes frios gelados que cortam,

Como lâminas afiadas, 

As suas caras lavadas.


Sinto que sou incapaz,

De fazer algo, assaz,

Para minorar tal sofrimento,

Por isso deixo um lamento,

De que faz muito frio,

E quem possa, sinta esse arrepio.


Zé Rainho

sábado, 29 de outubro de 2022

ODE!

 ODE A UMA MENINA!

Menina linda, estouvada,
Olha a tua compostura.
Não vá a gente malvada,
Trazer-te alguma amargura.
Menina linda, amorosa,
Com teus cabelos à solta.
Teus lábios são como a rosa,
Teus seios onda revolta.
Menina linda, brejeira,
Com teu andar donairoso,
Gostas da tua brincadeira,
Desde que não seja maldoso.
Menina linda, corada,
Do ar agreste do campo,
Ficas bem, assim rosada,
Ainda com mais encanto.
Menina linda, teu porte altivo,
Fica-te bem, acredita!
Não deixes por algum motivo,
De seres assim, tão catita.
Menina linda, tua voz,
Parecida com o rouxinol.
Encanta a todos nós,
De manhã ao pôr-do-sol.
Menina linda, de olhar vivo,
Tens um ar de princesa.
Na terra, nem por castigo,
Deixas de ser sua alteza.
Menina linda, morena,
Os teus cabelos esguios,
Inspiram o meu poema,
E orgulham pais e tios.
Zé Rainho.

Maria Cantadeira

 MARIA CANTADEIRA!

Maria da Sé,
Que canta o fado.
Não olha pró lado,
Nem pensa que é,
Maria do fado.
Maria da Sé,
Pequena e formosa.
Que apregoa a rosa,
Sem crer no que é,
Maria da rosa.
Maria da Sé,
Tão bela e tão pura.
Menina ternura,
Que sabe que é,
A Maria amargura.
E naquele momento,
A Maria da Sé,
Demonstra que é,
Um monumento,
Que canta na Sé.
Maria da Sé,
Mulher portuguesa.
Que na singeleza,
Não é da ralé,
Mas é da Nobreza.
Zé Rainho

Sonhar

 SONHAR ACORDADO!

Perscruto para lá do horizonte até a infinito,
Vogando nas ondas do mar imenso, encapelado.
Ouvindo os uivos e o silvo do vento zangado,
Por eu querer conhecer o que me está interdito.
Mas eu quero chegar à etérea e suave Luz,
Onde a paz, a felicidade suprema, será constante,
E a eternidade não será mais que um instante,
Que me atrai, me convida, alicia e me seduz.
Voo neste sonhar acordado que me incentiva,
A encarar a vida como uma etapa a transpor,
Na bonomia de uma inigualável felicidade,
Que se quer de alegria da permanente mocidade,
Ansiosa por viver todas as aventuras de amor,
A mais sublime forma de sentido de vida vivida.
Zé Rainho


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Fados

 NOITE DE FADOS...


Uma voz a cantar,

Um fado corrido,

Uma guitarra a tocar,

Num som sustenido.


Uma noite de luar,

Uma viela florida,

Uma voz a cantar,

Um Fado da vida.


Uma alma a sentir,

O trinado em Tom Maior,

Uma voz a impedir,

O coração de ter dor.


Uma noite de fados,

Caldo verde e sangria,

Uma chouriça aos bocados,

Minora a vida vazia.


Numa Lisboa nocturna, 

Uma vida boémia,

Esquece a luta diurna,

Vive a noite, leva a Célia.


De Alfama ao Bairro Alto,

Passando pela Madragoa,

Canta o fado em contralto,

É uma voz de Lisboa.


Zé Rainho

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

HORROR!

 HORROR DOS HORRORES...

Não sei se quero saber,
Não sei se quero compreender,
O que se passa à minha volta,
O que vejo é um mundo à solta.
Como entender a maldade
Em nome da divindade?
Homens que matam crianças
Por dizerem urgentes as mudanças.
Recuso a gatuita violência,
Seja a que título e principio for,
Quando em nome de Deus é horror.
Tantos inocentes em dor!
Tantos malvados em furor!
Deus traz o homem à essência.
Zé Rainho

Gosto!

 GOSTO!

Gosto de gostar
Gosto de amar
Gosto de viver
Gosto de saber
Gosto de correr
Gosto de escrever
Gosto de te olhar
Gosto de te beijar
Gosto do que sou
Gosto como estou
Gosto do teu gosto
Gosto do teu rosto.
Gosto de gostar
Gosto de estar
Gosto de ser
Gosto de saber.
Gosto de conhecer
Gosto de rever
Gosto de trilhar
Gosto de caminhar
Gosto de descobrir
Gosto de encobrir
Gosto de mostrar
Gosto de encantar
Gosto de ganhar
Gosto de somar
Gosto de ouvir
Gosto de sentir.
Gosto, gosto,gosto...
Zé Rainho

O sábio!

 O sábio imprudente!

Um sábio ao pescador surpreendeu,
E perguntou: - Se tinha habilitações, sabia ler,
O pescador a sorrir lhe respondeu
Não conheci Escola, como podia aprender?
O sábio do alto da sua arrogância,
Diz ao pescador que não saber ler
É patetice e fá-lo com tal petulância,
Que o pescador sofreu por não saber.
Foi mais cruel o sábio no seu pendor atrevido
Diz que quem não sabe ler é um pateta,
Porque tem olhos e não vê o que é devido
Pois ter olhos é para ver a letra que interessa..
Mas a vida dá voltas e tudo se modifica.
O sábio precisa de atravessar o mar
E ao pescador, sem remédio, solicita
Um lugar no barquito velho quase a afundar.
A meio da viagem, sacode a nau a ondulação,
A pontos de ficar próximo o naufragar
E o sábio em pavor quase morre de aflição,
E pede ao pescador ajuda, não sabe nadar.
Então o pescador na sua humildade respondeu,
Oh! senhor, vós sábio, é que nos podeis salvar
Eu sou apenas um pateta que não viu nem leu
Cá por mim não espero mais e vou já nadar.
Mas eu não sei nadar diz o sábio muito aflito
E o pescador disse: quem não sabe nadar é um pateta
Ter braços e não saber nadar nem um pouquito
É o mesmo que os não ter e querer ser atleta.
Zé Rainho.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Saudade!

 SAUDADE DE LUANDA...

Ai minha Luanda, paixão
Da Mutamba e do Baleizão.
Da Corimba à Marginal,
E o Mussulo, praia capital.
Ai minha Luanda dos amores
Juvenis, teus encantos e flores,
Dos jardins onde os namorados
Passeavam, felizes, apaixonados.
Ai minha Luanda do Restauração,
Do Nacional, Tropical ou Colonial,
Onde vi espectáculos e cinema.
Ai minha Luanda, quanta pena,
Quanta saudade da chuva torrencial
Do cheiro, odores e gentes com coração.
Zé Rainho

Palavra de Deus!

 Palavra de Deus

Porta principal da Igreja deserta...
Não! Talvez haja alguém lá dentro,
No silêncio reflexivo, o pensamento,
Reze, peça, agradeça, ou esteja, apenas, desperta,
Reflectindo, nas palavras escritas no cartaz do lugar.
Cada um pode ser da base ou capitel, pedra angular.
O Senhor disse que todos nós somos as pedras vivas,
E que Cristo carregou na Cruz todas as nossas feridas.
Que importa se a Igreja está vazia ou cheia de fiéis?
Se a Igreja somos todos e cada um de nós,
E que, sendo assim, a Igreja não é só Templo.
É a casa de Deus que também habita em nós,
Através da Palavra, da Fé, do Sentimento
Que faz do Cristão um Ser com grandes papéis.
Zé Rainho.

domingo, 23 de outubro de 2022

SONHAR!

 SONHAR COM LUANDA!

Olho o oceano imenso que banha a minha cidade.
Vejo as sereias tisnadas pelo Sol brincando na praia.
Admiro o pôr-do-sol avermelhado cuja alacridade,
Repete diariamente sem pudor nem nada que retraia.
A minha atenção debruça-se, sem querer, sobre a mulata,
Que rebola a anca de forma sensual para atrair o olhar,
Do rapaz que, com alguma timidez, se acerca com lata
De quem não quer nada, mas que tudo faz para a captar.
Sonho que esta cidade se diverte com a mulher feitiço,
Com as meninas atrevidas, provocantes, de ar risonho,
Que o olhar guloso do macho latino, preto branco, mestiço
É característico da alegria da cidade do encanto e do sonho.
Vejo a cidade que acorda e se olha ao espelho no seu mar,
Para se sentir bela, estonteante, atraente, não trambolho.
Sinto que a vida assim é bela, é linda, e que vale a pena amar.
Depois acordo e sinto, com muita saudade, que afinal foi um sonho.
Zé Rainho.

sábado, 22 de outubro de 2022

NATA!

 NATA SEM NATA...

A nata da nata é fantástica
A nata da nata bem quente,
E, com canela, é bombástica,
A nata da nata melhor, é gente.
A nata da nata que é doce,
É a nata mais sublime e nobre.
Se a nata da nata queimada fosse,
Aquela nata da nata que não sofre.
Então a nata da nata pode,
Tornar-se nata que domina,
Como nata do sabor e poder.
Mas a nata que é nata comida,
É superior à nata de gente que sobe
Ao cume da nata, sem nada saber.
Zé Rainho.

Vicio!

 VÍCIO?

Quem disse que o vício é pernicioso?
Que o vício de amar é perigoso?
Que o vício não é uma forma intensa
De viver cada momento desde nascença.
O vício só será péssimo malfeitor
Se por razões mesquinhas, gente menor,
Fizer do vício um acto displicente
Que prejudica, em seu redor, toda a gente.
O vício não é só fumar, beber, drogar,
É mais prejudicial a desmedida ambição,
Que maltrata o semelhante sem contenção.
Roubando a esperança, o trabalho, o pão,
De quem, por vício, só sabe trabalhar
Em prol da sociedade e de toda a Nação.
Zé Rainho.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O tempo

O TEMPO!


O tempo deu um tempo ao frio,

Apareceu radiante de Sol e calor.

A praia recebeu os corpos com amor,

A gente aproveita o que é mar ou rio.


O tempo tem sido tão inconstante,

A chuva, o frio, o cinzento do céu,

Deu lugar a dias quentes, corpos ao léu,

Como se tratasse de Vento Levante.


O tempo tem várias caras e facetas,

Temos de o aproveitar como ele aparece,

Se quisermos sol na eira e chuva no nabal,


Queremos o impossível, e outras tretas.

Quem manda manda bem e estabelece,

Que todo o tempo tem seu bem e seu mal.


Zé Rainho.

Dia do poeta

 Dia do poeta!


Não é poeta quem quer,

Será poeta quem sonha. 

Mas ser poeta requer

Mais do que simples pessoa.


Ser da palavra um inventor

Do projecto um sonhador.

Da luta pela igualdade 

Com esforço e dignidade.


Da ética um arauto paladino

Para uma sociedade melhor 

Vive num mundo idealizado 


Sente como seu o destino 

Alertar o próximo que é senhor 

De si e do seu estado.


Zé Rainho  

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Penso...

 PENSO, LOGO EXISTO...

Penso e quero acreditar,
Que eu sou capaz de mudar
O mundo, se me empenhar
Na ambição de ser e sonhar.
Que querer é poder e andar,
Atrás do sonho é alcançar,
A meta que o sonho desejar.
De que vale a pessoa ser triste,
Andar no mundo de dedo em riste,
Apontando os males em xiste,
Aos outros e não resiste,
A apontar culpas, por isso desiste,
De ser autêntico e fazer o despiste,
Dos erros cometidos, quando partiste.
Vou, pois, arrepiar caminhos,
Mudar comportamentos com espinhos,
Que me destroem e retiram miminhos,
Que necessito para viver com risinhos
De alegria, cantando para os vizinhos,
O amor que me ajuda com seus carinhos,
A mudar o mundo em favor dos pobrezinhos.
Zé Rainho

domingo, 16 de outubro de 2022

Ser professor

 SER PROFESSOR!


Num país de analfabetismo funcional,

Toda a gente quer ser chamado de doutor.

Esquecem que doutor é um título normal,

Já uma profissão, indispensável, é professor.


Só que os professores parecem querer

Que as pessoas diminuam o  seu valor,

Ao não exigir a consideração ao seu ser 

E dizem aos alunos que os chamem de doutor.


Ser professor é, na sociedade, fundamental.

É ser primeiro, indispensável, mesmo basilar,

Para que haja doutores ou engenheiros


Para curarem doentes, a indústria, os dinheiros.

São os professores os primeiros a ensinar,

Com o seu saber o que deve ser uma vida normal.


Zé Rainho