domingo, 26 de abril de 2020

26 de Abril

26 DE ABRIL...
Na ressaca de uma bebedeira de sentidos
Vemos, claramente visto, que os objectivos,
De uma classe política corrupta e oportunista
Celebra, numa feira de vaidades, a sua conquista.
Conseguiu aproveitar-se da ingenuidade da juventude,
Militares de profissão sem conhecimentos doutra latitude,
Fizeram um Golpe de Estado p'ra devolver ao povo a liberdade,
Este, na sua inculta forma de pensar, julgou que era verdade.
Mas nem dos restos caídos dos pratos teve quinhão,
Pois os oportunistas e traidores já tinham decidido a ração,
Que cabia a cada um e seus apaniguados, sem rebuço.
Aquilo que se devia ao Povo foi depressa arrecadado,
Por quem nunca nada fez pela Pátria, a porção,
Que o Jovem pensa dar ao Povo, quando capitão.
Zé Rainho
26 de Abril de 2014

PÓS 25 DE ABRIL..

PÓS 25 DE ABRIL...
Ontem gastaram-se rios de dinheiro,
Em foguetório, comes e bebes, por inteiro.
À custa do contribuinte cumpridor,
P'ra satisfazer a vaidade do grupo mor.
Festejou-se com fanfarra e chuva de cravos,
Numa Lisboa centralista, que tantos agravos,
Pratica contra o País pobre e desprotegido.
Que não tem transportes, hospitais e corre perigo.
Mas isso não interessa aos alfacinhas de gema,
Que da vida social, em comum, têm apenas pena,
Dos coitados dos saloios, que lhes põem pão na mesa.
Julgando-se superiores, só porque são da Capital,
Esquecendo-se, que não foram os outros portugueses,
A trabalhar para eles de borla, já não haveria Portugal.
Zé Rainho
26 Abril de 2014

25 de Abril de 1974

25 de Abril de 1974
Dia de ansiada Revolução,
Dia de fantástica ilusão,
Dia de enorme esperança,
Dia de alegre lembrança.
Dia de grande desilusão,
Propiciador da corrupção,
Dia gerador da Canalha,
Dia da calada metralha..
Dia dos corruptos e ladrões,
Dia dos traidores e papões,
Dia da democracia ditatorial,
Dia que envergonha Portugal.
As afirmações não são certas.
O Dia não tem culpa do desastre.
O ideal não merecia esta parte.
A deriva não é do dia é das bestas.
Era preciso acabar com a ditadura.
Para o povo respirar e aspirar,
A ser mais nobre, culto e falar
Debater ideias, sem medo de sinecura.
Mas o resultado senhores é que foi pior.
Péssimo para o povo que apodrece na rua,
Enquanto os vermes medíocres alcançam a lua,
O mesmo é dizer: enriquecem, na maior.
Então vale a pena dizer, com verdade,
O que era suposto ser uma revolução,
Deu, apenas e só, pulhice e traição,
Querendo fazer crer que é a liberdade.
Zé Rainho.
26 de Abril de 2015

sexta-feira, 24 de abril de 2020

24 de Abril de 1974

Há quarenta anos, faz hoje, precisamente,
Vivia num fulgor de juventude, contente.
Com projecto de futuro onde docemente,
Com calor físico e humano pungente,
De uma terra promissora para toda a gente.
Hoje estou na Guarda a tratar dos ossos,
Com frio na alma e o coração em destroços.
Neste contraste com que a vida nos contempla,
Sem que fossemos ouvidos ou achados,
Mas no qual há, com toda a certeza, culpados.
Que vivem impunes, sem castigo, abastados
De coisas e haveres materiais mal arranjados,
Com a consciência pesada de bastardos,
Se ainda lhes restar alguma lucidez de javardos,
Ao recordarem atitudes e actos malfadados.
Alguns já morreram, que Deus lhes perdoe
Outros vegetarão na sua senilidade e demência
Esperando, porventura, dos outros benevolência
Para tanta tirania e maldade da qual foram mentores,
Em toda a sua ignóbil e miserável existência.
Deus todo Misericordioso os julgará e punirá
Já que os homens com poder não o fizeram.
Então talvez tenham tempo na agonia de cá,
De olhar para trás e terem vergonha do que disseram.
Das atitudes e actos que protagonizaram por cá.
Por nós estamos de consciência em paz
Porque fomos e somos portugueses de honra
De trabalho, de solidariedade, amizade capaz
De tornar esta Nação exemplo e nunca,
Perante outros povos se envergonha.
O mês não tem culpa mas sempre que houve,
Abrilada em séculos próximos ou remotos,
Este Pais demorou anos a erguer-se dos destroços,
Das ruínas que os traidores à pátria foram devotos,
E o povo humilde e patriótico viveu anos a pão e couve.
Zé Rainho.
24ABR2014

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Estórias de Vida 14


Em meados de Setembro de 1966, numa capelinha afastada do centro urbano, mas não muito longe deste, na presença de cerca de cento e cinquenta convidados que para ali foram transportados por autocarros alugados, presidida pelo Arcipreste da altura, Reverendo Padre Manuel Toscano, realizou-se a cerimónia de casamento entre os nubentes Teresinha e Rainho.
Um dia de felicidade plena se, porventura, há plenitude na felicidade humana enquanto peregrinos neste vale de lágrimas!
Depois de cerimónia, das assinaturas no livro próprio dos registos matrimoniais e das fotografias da praxe - sim, havia um fotógrafo contratado, que veio da sede do distrito e que cobrou 500$00 pelo serviço, uma extravagância cara, mas que valeu a pena, pois deixou umas fantásticas fotografias para memória futura, que o casal guarda com todo o carinho - rumaram à sua aldeia para a “boda”.
A boda eram os comes e bebes para todos os convidados.
O uso e costume era os convidados do noivo irem para a boda do noivo e os convidados da noiva irem para a boda da noiva. Enquanto isso, os noivos iam almoçar a um dos lados e jantar a outro, acompanhados pelos padrinhos de ambos os lados.
Também neste casamento se cumpriu a tradição. Porém, os convidados jovens, solteiros, eram convidados dos dois lados pelo que, ao almoço, se juntaram todos na boda do noivo. Depois de comidos e bem bebidos, de partir do bolo de noiva começaram a verificar-se algumas movimentações, durante o baile, dos jovens amigos.
Começavam a haver, na altura, algumas partidas aos noivos nos automóveis que os conduzissem para fora da aldeia.
Para os que ficava na terra eram as jovens raparigas que se encarregavam, desde tempos muito remotos, de fazer algumas tiranias na cama, para criarem situações embaraçosas na hora de se deitarem.
No nosso caso, como tínhamos um Volkswagen 1300 parado à porta da casa onde decorria o baile, começou a sentir-se que havia segredinhos entre os jovens, rapazes e raparigas, o que nos ia deixando com a pulga atrás da orelha. 
Então, sorrateiramente, com receio justificado, de que os amigos do novo casal fizessem alguma partida que desse brado e mote para as conversas dos dias seguintes, pegaram no carro que o Rainho tinha alugado em Lisboa e partiram para uma Lua-de-mel que teve início na capital de distrito e prosseguiu em Lisboa durante mais oito dias.
Pelas oito horas da manhã do dia 15 de Setembro de 1966 saímos de Castelo Branco rumo a Lisboa. Parámos em Nisa para tomar o pequeno-almoço. Não o tínhamos feito antes porque a Teresinha, naquele tempo, não gostava de comer e quando eu propus que fossemos comer antes de sairmos da cidade ela não quis. Disse não ter vontade. Porventura teria, também, medo de enjoar o que veio a acontecer pouco depois de termos comido. Parámos para ela aliviar e depois retomámos a viagem pela estrada nacional que era miserável, quer em termos de traçado, dimensão e pavimento. Não raro demorava-se mais de cinco horas para se chegar a Lisboa.
A Teresinha, mal retomámos a viagem, adormeceu e, não fora um camião dos bombeiros vir a assinalar a marcha à entrada de Santarém, não sei o que poderia ter acontecido. Também eu adormeci, por segundos, ao volante. Foi um susto que me serviu para parar à saída de Santarém debaixo de uma árvore para dormitar e, assim, me libertar do sono. Também a Teresinha se assustou muito e, nunca mais, até hoje dormiu numa viagem.
A ida para Lisboa em lua-de-mel tinha também algumas obrigações. Desde logo o exame final do estágio nos CTT – Correio, Telefone e Telégrafo de Portugal - que a Teresinha tinha concluído em finais de Agosto. Mas também a confirmação da passagem aérea para ela, que já tinha sido adquirida, mas da qual era necessário resgatar o Bilhete e demais acessórios existentes na altura. Quem viajou naquela época de avião sabe que as companhias ofereciam um saco de viagem muito interessante e muito útil para levar pequenas coisas connosco. A bagagem toda era obrigatório ir no porão.
Para além destas questões de ordem prática havia também o interesse em conhecer melhor a cidade de Lisboa, frequentar alguns espectáculos e cinemas, tudo aquilo que a Teresinha ainda não tinha podido usufruir.
Não sei se já se disse mas nós, até casarmos e, desde os 14 anos de idade, éramos cinéfilos compulsivos. Em Luanda corríamos todos os cinemas e víamos todos os filmes em cartaz e, alguns, até víamos mais do que uma vez.
Fizemos questão de ir ver uma revista com o Raul Solnado no Teatro Vilaret, recém-inaugurado, junto a Picoas. Uma peça interessantíssima mas da qual já não recordo o nome. Mas que estava na Moda em Lisboa já que o Solnado, naquela altura, era um expoente máximo do teatro da comédia em Portugal.
Fomos passar um dia com a Laura, a melhor amiga da Teresinha que, por trabalhar no SNI – Serviço Público muito virado para a propaganda política do regime – não pôde assistir ao casamento. Desde logo resolvemos passar um dia diferente. Apanhámos a Cacilheiro e fomos até Cacilhas almoçar a um dos melhores e mais conceituados restaurantes, o Ginjal. Depois de almoço regressámos a Lisboa e fomos ao cinema e ao fim da noite fomos levar a Laura à casa onde vivia que era de um seu tio.
Um episódio deveras interessante se passou no dia 15 de Setembro à chegada a Lisboa. Como conhecíamos mal a cidade resolvemos estacionar o carro no Campo das Cebolas, um espaço enorme, apenas terraplanado muito próximo do Terreiro do Paço e apanhar um táxi que nos levasse a um hotel na Baixa. O taxista homem bastante simpático, depois de lhe expormos a nossa pretensão resolveu levar-nos até ao Hotel Bragança junto ao Cais do Sodré no início da Rua do Salitre. O tal Hotel onde viveu o Eça de Queirós. Deu-nos por conselho que fossemos lá ver se havia quartos disponíveis antes de retirarmos a bagagem do táxi pois, caso não houvesse levava-nos a outro hotel.
Fui lá eu como é bom de ver. Fui em mangas de camisa, uma triple marfel preta, de veludo, que estava na moda. Barba por fazer de dois dias. Como é expectável, o aspecto não seria dos melhores. E o aspecto era extremamente importante no País naquele tempo. Quem não usasse fato e gravata era mais ou menos labrego.
Dirigi-me à recepção onde um recepcionista, já entradote na idade muito aperaltado, me atendeu. Quando lhe perguntei se tinha disponíveis quartos de casal o senhor, num misto de delicadeza e desconfiança devolveu-me a pergunta assim: “sabe que isto é um hotel?”. De sobrolho franzido respondi-lhe: “eu perguntei-lhe se tinha quartos disponíveis não lhe perguntei que tipo de estabelecimento era”. O senhor não estaria à espera de obter de um jovem de 23 anos e um pouco mal vestido para os padrões ficou muito atrapalhado e respondeu que sim. Então disse-lhe: vou ao táxi buscar as malas e a minha mulher e já volto para fazer efectuarmos os procedimentos normais.
Assim foi e, depois de tudo tratado por um período de oito dias, o senhor para compensar fez questão de me ir mostrar o quarto e levar as malas. Quando chegámos ao quarto dei-lhe uma nota de vinte escudos (20$00) de gorjeta. Abriu muito os olhos, até porque vinte escudos era muito dinheiro naquele tempo, e então desfez-se em amabilidades, que ia mandar servir o jantar no quarto que faria tudo o que nós precisássemos, etc. Rimo-nos muito com a situação mas era a prática num país cinzento onde a servidão era total mas também o abuso dos pequenos poderes e os preconceitos eram o pão nosso de cada dia.
Depois destes dias passados em Lisboa regressámos à aldeia, deste Portugal Profundo que, sem estradas condignas, mais parecia situar-se no fim do mundo, para se viverem mais uns dias em que se sentia a angústia dos pais, dos irmãos e, especialmente, do avô da Teresinha por sentirem a separação, que cada dia que se passava mais se aproximava da sua concretização. Um misto de angústia e inevitabilidade. A separação dos entes queridos, seja temporária ou permanente, causa dano. Machuca o coração.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

FRATERNIDADE


FRATERNIDADE

Em tempo de reclusão e confinamento
Devido a um poderoso invisível inimigo
Surge no correio electrónico o pedido
De partilha de um poema de algum alento.

É impossível ficar mudo e não participar
Já que o objectivo é dar alguma esperança
A quem o desânimo retira toda a perseverança
E precisa de sentir como é bom viver e amar.

O Vírus é matreiro, mas vai ser derrotado.
Leva tempo mas não há outra solução
Por que, todos unidos, somos invencíveis

Já alcançámos vitórias de outra ordem e lado
Quando, como um todo e uma una Nação
Fomos capazes de ir além de todos os possíveis.

Zé Rainho



segunda-feira, 13 de abril de 2020

REFLEXÃO


REFLEXÃO
Esta mania que os velhos têm de pensar, reflectir sobre as coisas e os acontecimentos tem que se lhe diga. O facto de terem tempo disponível ajuda a cultivar essa mania, quase vício. Mas tem os seus contras. É que, muitas vezes, com o seu pensamento, começam a dissertar sobre assuntos incómodos para os próprios e para os outros.
Como estamos incluídos nesta faixa etária e porque cultivamos muito esta arte de pensar – sim, pensar é uma arte que os mais jovens desconhecem ou minimizam – cá estamos a questionar-nos sobre estas coisas da vida, ou da morte, segundo o ponto de vista, que merecem a nossa reflexão.
Então vamos ao caso: - O que levará um nonagenário que passou por muito na vida trabalhou, que nem um escravo, na terra natal e no estrangeiro, que tem uma vida, sob o ponto de vista económico, bastante boa, a equacionar por termo à vida com as suas próprias mãos e, para agravar, no Domingo de Páscoa? Será desamor ou, pelo contrário, será uma imensa prova de amor, por não querer dar trabalho, incómodo, noites sem dormir?
O que levará um homem desta estirpe a socorrer-se de um modelo arcaico de por fim à vida – enforcamento – quando hoje é fácil o recurso a doses maciças de barbitúricos ou, em última análise, a um tiro na cabeça, sabendo, como se sabe, que são métodos mais indolores e mais expeditos, que não requerem todo um ritual de preparação antecipada, a corda, o nó corredio, o alçapão? Mais, o que levará um homem, desta idade, a preparar tudo em total e absoluta solidão, longe do olhar de todos, inclusive da sua mulher, sem ninguém dar por nada?
Que dor tão profunda sentirá no seu coração e no mais recôndito da sua alma? Sendo, como era, um homem sensível que se comovia com a dor alheia, que chorava sem rebuço quando se emocionava num funeral ou, mesmo uma cerimónia religiosa, que sofrimento atroz o atormentaria, para o conduzir a este desfecho sem dar alerta de que tal seria possível?
Sabíamos que andava doente há cerca de dois anos e que, com mais frequência do que seria desejar tinha que recorrer ao Hospital para desentupir canais biliares que, quando entupidos, lhe provocavam muitas dores, mas não era doença de matar, irreversível.
Custa-nos a crer que fosse só por causa da doença. Um homem robusto que já tinha passado por muito não se iria abaixo pela dor física. A dor que sentia teria, forçosamente, de ser muito lancinante para conduzir ao total desespero. Não conseguimos entender e temos uma imensa pena. Ninguém merece, ao fim de noventa anos de vida, ainda que muitos desses anos tenham sido muito sofridos, acabar desta forma.
A Igreja Católica, a religião que ele professava, não advoga nem aceita que se pratique a morte, própria ou de outrem e, este homem tinha plena consciência deste mandamento. Porquê, então?
Não encontrando explicação para o acontecido só peço a Deus, infinitamente misericordioso, que se apiede da sua alma.
Porventura não devia pensar sobre estes acontecimentos que me incomodam, que me fazem sofrer e pensar como pode ser ingrata a vida de um semelhante mas, que hei-de fazer? São coisas de velho.
Meimoa, 13 de Abril de 2020

sexta-feira, 10 de abril de 2020

HUMILDADE


A HUMILDADE

Neste dia de quinta-feira santa, dia em que Cristo nos deu a maior lição de humildade que pode haver no ser humano ao lavar os pés aos seus discípulos temos obrigação de reflectir sobre o assunto.
O egocêntrico tem razão de ser? É gratificante viver sem o outro? Não é solitário? Podíamos continuar a questionar o modo de vida nestes tempos. Mas basta pensar que temos vivido como se fossemos pequenos deuses. Tudo podemos. Tudo decidimos. Não olhamos aos sinais que nos têm sido dados nestes últimos tempos. Os furacões que tudo destroem. Os incêndios que ceifam vidas e deixam outras em suspenso porque levaram tudo o que foi construído durante décadas. Os sismos que tudo derrubam como se de castelos de cartas se tratasse e tantas outras catástrofes a que temos assistido impotentes e incapazes de lhes por termo.
Como a ciência humana se desenvolveu e continua a desenvolver rapidamente muito boa gente transfere o sentido de transcendência para a imanência científica. Temos aprendido muito pouco apesar da ciência.
Hoje podemos constatar que um ser não vivo desprezível, invisível mostrou, de repente que é capaz de derrubar um paradigma civilizacional em duas penadas.
Infecta, difunde-se, multiplica-se com a ajuda preciosa do hospedeiro e coloca o mundo da cabeça para os pés. É resistente o suficiente para matar sem piedade e arrasa com qualquer economia por mais poderosa que esta seja.
Dizem muitos estudiosos que vivemos uma situação de guerra sem inimigos visíveis e todos sabemos os malefícios de uma qualquer guerra. É a perda de vidas mas é também a carência de toda a ordem. Carência de saúde mas também de alimentação e tudo aquilo a que nos habituamos a chamar bens essenciais. Passamos de ima vida de luxo e desperdício para uma vida de miséria e fome.
Vamos ver se, depois de passar esta calamidade, cada um de nós mas também os governantes do mundo inteiro tiram algumas ilações e lições para o futuro.
Vamos ver se sobressai a humildade para estabelecer pontes em vez de muros. Para criar modelos de sociedade onde ninguém fique para trás. Para que o coração se sobreponha à razão no que respeita aos bens materiais e as sociedades passem a ser mais solidárias, mais amigas do semelhante e da natureza.
Oxalá assim seja.
Meimoa 10 de Abril de 2020
Zé Rainho  

QUINTA-FEIRA SANTA


QUINTA-FEIRA SANTA
Para os católicos a quinta-feira santa é um dia especialmente importante porque é neste dia que se comemora a Instituição da Eucaristia.
“Tomai e comei isto é o Meu Corpo, tomai e bebei isto é o Meu Sangue… fazei isto em memória de mim” disse Nosso Senhor Jesus Cristo quando se preparava a celebração da Páscoa em Jerusalém e foi com base nesta cerimónia que nos deixou a possibilidade de viver junto ao seu Corpo Vivo. Ao lado do Jesus Ressuscitado quando da consagração do pão e do vinho nas nossas Missas ao mesmo tempo que celebramos a instituição do sacerdócio.
Infelizmente, devido ao maldito vírus Covid-19, não nos podemos reunir em comunidade para dar início ao Tríduo Pascal com a cerimónia do lava-pés e a Eucaristia.
Vamos tentar, nesta reclusão forçada em casa, sem a companhia dos filhos, que estão impedidos de viajar, sair das suas residências por força do estado de emergência, viver em união com o nosso pároco, o nosso bispo, o nosso papa e todos os nossos irmãos em Cristo , este tempo favorável à conversão pedindo ao nosso Deus que alivie os que mais sofrem e nos livre a todos desta pandemia que virou o mundo da cabeça para os pés e nos deixa a vida suspensa.
Pedimos a Nosso Senhor Jesus Cristo, que tudo deu por amor à humanidade, que nos torne melhores seres humanos e que os ensinamentos que devemos tirar desta desgraça colectiva para fazermos deste mundo um local melhor para todos vivermos, para darmos mais valor ao ser do que ao ter, Que aprendamos com Cristo que o maior no reino dos céus é aquele que melhor serviu o irmão e mais humilde foi na sua vida terrena.
Meimoa 9 de Abril de 2020
Zé Rainho

RESTRIÇÕES


RESTRIÇÕES
Os dias passam devagar e, já lá vai um mês, confinados a quatro paredes. Os noticiários são deprimentes só com notícias que magoam. A falta de confiança nas informações dos dirigentes políticos acentua-se a cada dia que passa. As contradições que saltam à vista desarmada levam a esta descrença. Continuamos a ver Câmaras Municipais a substituir-se ao Estado Central nomeadamente à Direcção Geral de Saúde e ao respectivo Ministério adquirindo materiais para proteger as suas populações.
Os Lares de idosos, está a verificar-se agora, que são autênticos barris de pólvora que começam a explodir.
A quantidade de profissionais de saúde infectados com o Covid-19 é alarmante, já ultrapassa, em muito o milhar.
A não existência de medicamento curativo para a pandemia ou o desconhecimento de que alguns medicamentos existentes podem aliviar o drama começa a dar que pensar e a estabelecer alguma analogia com a falta de munições nas trincheiras de uma guerra convencional.
O amanhã não existe. O País está encerrado e não se sabe quando poderá reabrir. Nenhum responsável dá um sinal de esperança aos muitos que vão ficar sem emprego e sem sustento para si e para as suas famílias.
As restrições à liberdade individual são cada vez mais alargadas. Amanhã, dia 9 de Abril de 2020 entra-se no período em que ninguém pode sair do seu concelho de residência o que, no mínimo, é um absurdo.
A segurança e o confinamento social não passa, em nosso entender, por este tipo de medidas anacrónicas só entendíveis na mente de luminárias desta cultura urbana dominante. Basta analisar o que acontece nas grandes áreas metropolitanas mas também nas áreas rurais. Por exemplo, todos sabemos que a divisão concelhia é apenas uma linha existente no mapa e que não tem correspondência com a realidade. Senão vejamos: quem é que sabe onde acaba o concelho de Lisboa e começa o concelho de Oeiras, Loures ou Odivelas? Apenas os moradores devido às necessidades de contactar as instituições públicas estatais porque todas as outras não conseguem destrinçar se têm um pé num concelho ou noutro. Aqui pela nossa zona o caso não é muito diferente e compreende-se mal que um morador no Vale da Senhora da Póvoa ou no Meimão não possa ir ao Sabugal apesar de ser muito mais perto e económico do que vir à sede do seu concelho que é Penamacor.
A vida está difícil. Todas as restrições apresentadas são muito prejudiciais para os mais desprotegidos. Se olharmos para a Europa, à qual pertencemos de corpo inteiro o panorama não muda muito. Os ricos não querem ajudar os pobres esquecendo-se que, a prazo, poucos ou nenhuns produtos que produzem possam vender aos países mais pobres porque não haver dinheiro para tal e, consequentemente, não conseguirão escoar os produtos e ficarão mais pobres. As posições da Europa que todos pagamos como entidade supra nacional parece não existir.