segunda-feira, 22 de março de 2021

RICOS!

  Ricos podres!

Há coisas, por mais que me esforce, que não consigo entender. Deve ser por nunca ter sido um aventureiro e, muito menos, um oportunista ou, quem sabe, devido a inteligência medíocre. Seja do que for não entendo, não compreendo e, por essa mesma razão, não consigo aceitar.

Falo de um tal Alfredo que nasceu pobre e disso não tem culpa nenhuma, viveu pobre até aos seus quarenta anos e, de um momento para o outro ficou rico.

Vamos lá escalpelizar o assunto. Um indivíduo de cerca de 54 anos, nascido e criado lá para os lados de Odivelas, era pobre ao ponto de não poder estudar, numa época em que estudar e tirar um curso superior era ambição de todos os jovens e dos seus pais. Para ter algumas ferramentas para a vida foi a Casa Pia de Lisboa, instituição de solidariedade social que lhe proporcionou algumas habilitações e, porventura, algumas habilidades. 

Começou por trabalhar no concelho de Palmela como trabalhador indiferenciado. Passou para pequeno empresário de transporte de mobílias e, sem saber ler nem escrever, como se costuma dizer, de um momento para o outro torna-se sócio, maioritário, de uma empresa estratégica, de valor astronómico, que gera lucros extraordinários. Trata-se da Groundforce, empresa que, entre muitas outras actividades, se encarrega da bagagem e de passageiros nos aeroportos portugueses. A empresa tem cerca de dois milhares e meio de trabalhadores e um volume de negócios assinalável. Pertenceu, durante anos à TAP mas as regras da concorrência da União Europeia não permitem monopólios e depois de ter adquirido a Groundforce por 31,5 milhões de euros vendeu-a por cerca 4 milhões. A TAP era nossa. Era do Estado. Parece que já voltou a ser!

Grande negócio, não? Pois, ainda foi mais fantástico, porque o comprador o tal Alfredo, ficou com empresa subsidiária da TAP sem ter de desembolsar um cêntimo. Os amigos fizeram um contrato que lhe permitia pagar com os lucros que ia embolsando. Assim também eu seria capaz de fazer negócios, mesmo não percebendo nada dessas coisas.

Não é caso único, há muitos outros casos similares com um aspecto em comum, são sempre negócios com o Estado. 

Mesmo não sendo muito inteligente atrevo-me a concluir que, se um indivíduo se souber rodear dos amigos certos, que estão colocados nos lugares certos, não precisa ser podre de rico para ser tornar, num ápice, um rico podre.

Não se esqueçam que isto não foi sempre assim. Houve tempos em que se nascia rico, se recebiam heranças, ou lhe saia a sorte grande, para se ser rico. Com a casta política do 25 de Abril passou a haver mais esta autoestrada para a riqueza, influências. 

22/03/2021

Zé Rainho 

segunda-feira, 8 de março de 2021

IGUALDADE DE GÉNERO.

 

Alguém, em tempos recuados, propôs-nos que elaborássemos uma pequena reflexão sobre a igualdade de género, em meio rural.

Temos, para nós, que a igualdade de género ou é ou não é; existe ou não existe, independentemente dos diferentes meios ou territórios. É verdade que, quando se fazia agricultura neste País e as mulheres, para além das tarefas domésticas que assumiam, como integralmente suas, ainda tinham que ir trabalhar na agricultura, nas mondas dos cereais, por exemplo, o seu salário era, em regra, metade do salário de um homem. Mas o mesmo se pode dizer para a indústria, para o comércio e até para a função pública. Onde, neste caso concreto, a maioria das chefias é desempenhada por homens, independentemente da qualidade técnica, do saber científico, da capacidade de trabalho e organização de muitas das funcionárias públicas. Há algumas excepções, fruto das especificidades do trabalho a desenvolver em que a paridade salarial é completa e total. Falamos da classe dos professores, dos médicos, dos enfermeiros, dos juízes, procuradores, deputados e outros que, a não ser assim, não só ficaria ferida a igualdade de género como ficaria ferido o princípio constitucional de que, para trabalho igual, não correspondesse salário igual.

Porém, devido à ancestralidade da supremacia masculina no campo militar – em regra os homens é que combatiam – nas religiões em que os homens é que são Pastores, Presbíteros, Sacerdotes trouxe consigo fundamentos de que as sociedades só seriam harmoniosas se houvesse tarefas para homens e tarefas diferentes para as mulheres, profissões masculinas e profissões femininas. Estes arquétipos sociológicos ainda perduram em muitas sociedades e tenderão a desaparecer à medida que homens e mulheres sentirem a necessidade e lutarem para que o equilíbrio se faça no respeito pela individualidade de cada um e não pelos estereótipos enraizados durantes séculos e até milénios.

Sabendo que a tradição tem uma relevante importância na assunção das liberdades, dos direitos de cada um dos seres humanos, nem por isso, podemos deixar de acreditar que este desiderato só poderá ser o resultado da consciência, individual e colectiva, e do respeito que cada ser humano tenha pelo outro.

Será no uso criterioso da liberdade e no respeito meticuloso pelo outro, nas suas especificidades, capacidades, debilidades ou potencialidades que se atingirá, como maior ou menor eficácia essa, pretensa igualdade. E dizemos pretensa porque não se pode querer igual o que é diferente. Poderemos sim, sem ambiguidades, cada um de nós, por ao serviço do outro todos os meios, recursos e vontades para que que, em cada um se manifeste, numa liberdade conscientemente assumida, toda a potencialidade e capacidade de realização com vista a um valor supremo que é, em última análise, a felicidade de cada um, para que se atinja, cada vez mais, a felicidade colectiva.

Dirão que é utopia! Eventualmente. Mas só quem sonha é capaz de realizar grandes feitos. Só quem almeja atinge o que, à partida, parece inatingível. Assim sendo, não nos parece que haja ou, pelo menos, que possa haver diferenças substanciais e substantivas de género, consoante o ambiente em que se viva. Outrossim, já nos parece curial, que tais diferenças existam e se acentuem de acordo com a formação individual dos pares. Com os Valores Éticos de cada um. Com o respeito integral pela dignidade humana nas suas mais específicas e diversificadas realidades.

Historicamente temos assistido a muitas situações demonstrativas de que a desigualdade no tratamento dos seres humanos tem sido uma constante que não se pode iludir. Entre ricos e pobres, patrões e empregados, chefes e subalternos. O mesmo é válido para povos que escravizam outros povos, em função do seu poderio económico e militar. Abusos e faltas de respeito entre as religiões. Mas se isso é verdade, no que se refere ao passado, não deixa de continuar a ser verdadeiro, no presente.

Os déspotas foram homens, na sua esmagadora maioria, mas houve mulheres verdadeiramente diabólicas, maquiavélicas nas suas atitudes para que atingissem os seus fins que, em última instância, era o Poder totalitário de disporem, inclusive, da vida do seu semelhante. Podíamos referir Lucrécia Bórgia, Cleópatra, Catarina de Médicis, mas também a rainha portuguesa Maria Pia e muitas outras mulheres que deixaram rasto da sua prepotência, cupidez e artimanhas para atingir ou manter o Poder.

Ainda hoje, numa Europa cuja génese assenta em princípios de Igualdade, Solidariedade, Fraternidade verificamos todos os dias os atropelos cometidos pelos Países Ricos subjugando pelo poder económico os seus parceiros mais pobres, menos desenvolvidos economicamente, ainda que, na maior parte dos casos, estes sejam portadores duma História e uma Cultura, incomparavelmente, mais rica.

Mas o mercenarismo e a agiotagem não se compadecem com os valores imateriais. Tudo o que não passe pelo poder económico e militar, tem pouca relevância para os povos que entendem a felicidade com o TER e se interessam pouco pelo SER.

O debate sobre esta temática é, por certo, muito interessante mas será, em nosso entender, sempre inconclusivo, enquanto as pessoas não forem reconhecidas pelos seus méritos ou deméritos, independentemente, do género a que pertençam.

Há homens que serão sempre pigmeus, mesmo que se alcandorem aos postos mais elevados das diferentes governações e mulheres que se agigantam na sua sensibilidade, organização, competência, mesmo quando desempenham funções, ditas menores. Esta de funções menores levar-nos-ia a outro debate não menos interessante mas deixemos para uma próxima oportunidade.

Igualdade de género sim mas, só e sempre, quando for fruto do respeito mútuo.

 

Penamacor, 7 de Junho de 2016

José Rainho Caldeira

quarta-feira, 3 de março de 2021

A TEIA DO PODER!

 

A TEIA DO PODER!

Que o Poder corrompe, já toda a gente sabe e até se habituou. Que o Poder só o é porque se rodeia de indefectíveis, também não é novidade. Quanto mais tempo alguém está no Poder maior é o perigo de abuso, corrupção e nepotismo é outra verdade inquestionável. Pergunta-se então: - porque é que não se estimula e promove a alternância, particularmente, nos países ditos democráticos? Porque dilui o poder, digo eu.

Os mais velhos estão lembrados que, no designado Estado Novo, havia verdadeiros estados dentro do estado e isso conduziu ao descontentamento e até à revolta. Os mais velhos, também experienciaram, local, regional e nacionalmente, abusos ditatoriais em tempos democráticos. As sevícias, os mandados de prisão sem nome, os piquetes de civis armados pelo MFA, os ataques e bombas, para não falar dos roubos.

Houve até palavras que ficaram para a história política como “força, força, camarada Vasco, nós seremos a muralha de aço”, “dinossauros”, como referência a autarcas que durante décadas se perpetuaram no poder entre muitas outras diatribes e devaneios de uma certa esquerda totalitária.

Há sinais, quase me atreveria a dizer, há evidências de verdadeiros ditadoreszecos espalhados pelo país, consequentemente, o abuso de poder e a corrupção campeiam nessas latitudes. O Caciquismo que vem do tempo de João Franco, ainda na Monarquia, ganhou raízes que perduram no tempo e no espaço geográfico.

Num Universo de 308 municípios há 74 titulares investigados pela justiça e até há algumas condenações, ainda que não exemplares, como deveriam ser, para obviar aos desmandos praticados. A última conhecida é do vereador de Coimbra que adjudicou, por ajuste directo serviços, ao filho e ao sobrinho, no valor de 300 mil euros.

No parlamento não faltam exemplos de falcatruas, que vão da falta ao serviço martelada pelo companheiro(a) só para receber mais uns trocos mesmo que ilicitamente, passando pelo conflito de interesses até ao arranjinho em negócios.

Nos Governos nem se fala. Desde titulares julgados e punidos pela justiça até aqueles que continuam suspeitos de fantásticas burlas e aproveitamentos pessoais de dinheiros públicos, ao favorecimento de pessoas, empresas, clubes há, de tudo, um pouco, mas em grandes quantidades.

A Justiça também não sai melhor na fotografia pois aparecem titulares do topo de hierarquia indiciados de crimes inenarráveis. O pilar mais importante do Estado de Direito está, cada vez mais torto.

Salta à vista a teia que os poderosos tecem para se protegerem distribuindo benesses de toda a ordem, para que seja inexpugnável e, como atrás se referiu, quanto mais tempo uma pessoa ou um partido estiverem no poder, mais se instala o sentimento de impunidade e maiores atropelos à Lei e à Ordem se praticam. Chega-se ao desplante de se achar um direito aquilo que é um atropelo, só porque se eles podem tudo.

Pequenos exemplos: ministros que saem dos governos para empresas que tutelaram e a quem beneficiaram enquanto governantes. Não é preciso dizer nomes há-os de todos os quadrantes e são conhecidos de toda a gente. Autarcas nomeados para lugares de governação ou para empresas com as quais fizeram negócios de milhões. Isto é válido para o continente, mas não exclui as ilhas onde o procedimento é rigorosamente igual.

Das nomeações para cargos públicos ou semipúblicos até aos ajustes directos, quer com empresas, quer com grandes escritórios de advogados, nem é bom falar.

A teia está montada e é bom que haja alguns besouros capazes de a romper, caso contrário, cada vez ficará mais opaca e mais resistente o que impedirá o seu desmantelamento.

A mudança é necessária. É indispensável. É premente. A teia é preciso ser destruída para se poder respirar ar puro e democrático.

03/03/2021

Zé Rainho