quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Deuses!

 

deuses!

 

Aos deuses das antigas civilizações, grega, romana e egípcia, para referir apenas algumas, tudo era permitido, por serem considerados superiores aos humanos. Viviam no topo do Olimpo, num céu etéreo e por isso intocáveis.

Como todos os ídolos com pés de barro, desmoronaram-se com o tempo, perderam valimento e, consequentemente, o respeito dos que até aí os adoraram. Caíram em desgraça e esquecimento na memória humana. Pelo menos era isso que nós pensávamos, mas enganámo-nos. Os deuses estão de volta e aterraram todos em Portugal e quedaram-se pelos lados de S. Bento.

Só a um deus é permitido ir contra a Lei, torpedeá-la, afrontá-la, incumpri-la e nada acontecer. Qualquer mortal seria severamente castigado, porque o não cumprimento da Lei é crime e nem lhe acode a desculpa de a desconhecer, no acto da condenação. Ao deus não acontece nada e, pior do que isso, até tem toda a razão, segundo a opinião do Zeus cá do burgo.

E, assim, é ver ministros a gerirem empresas privadas, em flagrante conflito de interesses e contra a lei, como é o caso do ministro da saúde, que não só é dono de uma empresa, que agora disse que se vai desfazer, como delega competências num secretário de estado para tratar assuntos, cuja primeira interessada é a sua mulher. Se delega competências quer dizer que as competências são suas e por isso é que tem poder para as delegar. Não acontece nada porque é um deus. O Zeus disse que não é um caso!

Outro ministro entrega milhares de milhões de euros à TAP, para que esta possa ser concorrencial com as suas congéneres e se levantar da falência e esta empresa, em vez de começar um processo de ressarcimento, gradual, aos portugueses, pelos prejuízos causados, renova a frota automóvel, com viaturas de luxo, para os seus deuses se passearem a si e às suas excelsas famílias, à custa dos simples mortais. Questionado o Zeus disse nada saber!

Ainda outro vem a público com uma crónica – publicada num jornal de referência, ocupando espaço, que deveria ser considerado publicidade e, como tal pago – mas que vem referida como opinião que, em nosso modesto entender só é permitido a colaboradores do jornal, dizendo que a mulher de césar é séria. A um simples mortal não era dada esta oportunidade de propagandear a sua seriedade, a um deus tudo é permitido. O Zeus remete-se ao silêncio!

Outro queria contratar um antigo patrocinador, empregador e protector, como seu assessor, pagando-lhe o favor privado, com dinheiros públicos. Não se consumou porque a opinião pública fez estardalhaço. O deus mantém-se impávido e sereno no lugar, dizendo que o amigo era indispensável, mas agora pode esperar, porque afinal o cargo não é assim tão premente. O Zeus diz que não se mete nos assuntos dos ministros!

Poderíamos continuar, mas o cheiro é tão nauseabundo que mais vale ficar por aqui, tirando apenas uma conclusão: “aos deuses tudo é permitido e o melhor lugar para desenvolverem a sua actividade é Portugal e pela baixa lisboeta”.

6/1072022

Zé Rainho

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