GRATIDÃO!
A nobreza de carácter vê-se e sobressai, em atitudes e
comportamentos simples. Sem espalhafato, sem muitas, ou nenhumas, palavras, e
caracteriza-se muito pela forma como tratamos o outro. Com delicadeza, com
empatia, com solicitude e até com alegria. Sorriso rasgado, sem fingimento. Abraço
caloroso.
Um simples obrigado ou, como dizemos cá na nossa Beira
Interior, bem-haja, enche o coração de quem o recebe e, a quem o dá, custa tão
pouco. Esta afirmação é ousada, porque só é verdadeira quando nos referimos à
tal nobreza de carácter, já que quem a não tem não é capaz destes gestos
simples. Destas atitudes, que vêm do berço, da educação recebida, do respeito e
consideração pelo outro e, sobretudo, do sentir-se grato pelo que se recebeu
para benefício próprio.
Há no nosso burgo um ditado antigo que diz mais ou menos
isto: “quem dá não pode dar sempre e quem precisa, precisa sempre”. Por norma é
verdadeiro e intemporal. Por isso é tão importante reconhecer ao dador a
benemerência, o desapego, a solidariedade. E todos nós recebemos mais do que
damos, por isso todos temos razões de sobra para sermos gratos.
Desde logo o dom da vida, o primeiro, o mais importante e
imprescindível bem. O benefício de ter uma família. De ter uma casa. De viver
em comunidade e em comunhão com os outros. Mas há tantas outras graças e
bênçãos que recebemos diariamente e que, infelizmente, nem sequer nos damos
conta dessa dádiva. A saúde, a lucidez, a idade. Tanto e tantos benefícios que
seria demasiado exaustivo enumerar, mas que sentimos, a toda a hora e momento,
se estivermos atentos e, sobretudo se formos, minimamente gratos.
Quando vemos a falta de sentido de alguém que não tem a
capacidade de agradecer o que recebe é uma triste e vil vida, porque falha de
carácter, generosidade e muito cheia de egoísmo. A ingratidão é demonstrativa
da falta de reconhecimento do valor da dádiva. E esta pode ser uma palavra, um
alimento, um cobertor, uma cama para dormir ou um benefício fiscal, um subsídio
de sobrevivência, se falarmos de bens materiais. Mas, se falarmos do intangível,
como o discernimento, a capacidade de pensar, de amar, de sofrer, mas também de
rir e de nos alegrarmos por nós e pelos outros, então a gratidão deve ser maior
porque a dádiva é incomensurável.
Pena é quando, quem recebe, entende que é dever daquele que
dá e não reconhece o benefício recebido.
Por isso entendemos que a gratidão é uma atitude nobre e o
seu antónimo é uma atitude vil. A primeira, objecto de enaltecimento e a
segunda, de profundo desprezo.
Por nós queremos agradecer tudo o que temos e somos. Queremos
agradecer a família que temos, os amigos que possuímos, as pessoas que
conhecemos, a idade que já alcançámos, a saúde que ainda nos brinda no
dia-a-dia e, sobretudo, a alegria de acordarmos diariamente e ouvirmos o
chilrear dos passarinhos, nos arbustos do quintal do vizinho.
Queremos agradecer por ter nascido neste rectângulo à
beira-mar plantado, ainda que, muitas vezes, nos zanguemos com os governantes
que tal mal nos tratam e gostássemos de ter uma vida em que nos sentíssemos
respeitados e tratados com equidade e não abandonados neste interior onde tudo
falta, menos a paisagem luxuriante, o ar puro respirável e a água límpida dos
ribeiros e a generosidade dos seus habitantes.
Queremos agradecer o sistema social em que vivemos, onde a
liberdade ainda é um bem sentido, se compararmos com outras latitudes, onde
essa falta é motivo de discriminação e silenciamento.
Por fim, que deveria ser o princípio, queremos agradecer a
Deus tudo o que nos dá e, particularmente, o Seu amor e misericórdia.
10/01/2024
Zé Rainho
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