sábado, 4 de dezembro de 2010

Dia Fatídico

Faz hoje 30 anos que, de forma macabra, desapareceu Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e outros companheiros, num Cesna bi-motor, que se despenhou, sem razão aparente, numa rua do Bairro de Camarate, arredores do Aeroporto da Portela, Lisboa.
Fizeram-se juras de que se apuraria toda a verdade. Se fora acidente ou atentado. À boa maneira portuguesa, este é um segredo que nem a História poderá desvendar.
Lembro-me como se fosse hoje. Viviam-se, à altura, dias conturbados, sob o ponto de vista social e político. A Democracia era criança com pouco mais de 5 anos. As emoções estavam, sempre, ao rubro e discutia-se política como se fosse o futebol do Estado Novo. A revolução de Abril - é melhor chamar-lhe Golpe de Estado. A revolução pressupõe outros requisitos - ainda se viviam dias de euforia e de confrontos, mais ou menos, acirrados por todas as partes em confronto. Por um lado, os Partidos Políticos, por outro as Forças Armadas, que ainda não estavam remetidas ao seu reduto natural, o quartel, com os simpatizantes de uns e de outros a tecerem armas (palavras) pelos que apoiavam.
A música, a literatura, as artes o espectáculo estavam no seu apogeu e, cada qual procurava afirmar-se, numa sociedade que se queria democrática, mas que desconhecia o sentido e o valor da Democracia. Um povo com índices de analfabetismo a rondarem os 30%, pouco poderia ajudar a consolidar um regime que desconheciam na sua totalidade.
Havia, por outro lado, uns grupos extremistas de extrema-esquerda e de extrema-direita que, pela via mais violenta, ia fazendo umas vítimas, por esse País fora.
Sá Carneiro  era um homem de roturas e conseguia congregar, com igual intensidade, amores e ódios. Apesar de uma doença que o retirou da ribalta, durante mais de um ano, para receber tratamento em Londres, regressou com forças e vontade de romper com interesses instalados. Consegue mesmo uma debandada de muitos notáveis do seu Partido. Mas nem isso fez com que a sua determinação o deixasse de ganhar as eleições legislativas com a Coligação Partidária AD, composta pelo PPD; CDS e PPM.
Estava, na altura, uma grande disputa para as presidenciais entre Eanes e Soares Carneiro. Eanes que fora eleito contra a Esquerda no primeiro mandato, foi depois apoiado por esta no segundo. Eram apenas visões de um povo pouco politizado.
À época todas as posições eram vividas com paixão. O então Primeiro Ministro e o Ministro da Defesa faziam parte de uma plêiade de políticos de alto gabarito e que viviam a política com sentido de serviço público e nunca servir-se do que era público para o partidário ou para o amiguismo.
Passados 30 anos fica a interrogação: - Como seria o Portugal de Hoje se não tivesse havido este dia fatídico de 4 de Dezembro de 1980? Respostas não há. Seria certamente diferente. Para melhor, para pior, só Deus o saberá.

5 comentários:

  1. Caro Zé

    Incrível não é, como não "se consegue" apurar a verdade!

    Lembro-me que após o 25 de Abril, os escaparates das tabacarias mostravam revistas da mais crua pornografia. E enquanto eu com os meus 19 anos, desviava o olhar, outros comentavam eufóricos, "isto é que é a liberdade".

    Pobre povo este! Pouco ou nada evoluiu desde esses tempos. Também não me recordo que os "fazedores" de Abril, tivessem alguma preocupação em implementar a educação para a
    cidadania, ficando assim ao critério de cada um o conceito de liberdade, que descambou como se sabe para os atropelos que conhecemos!

    Bom fim de semana
    Abraço
    Ana Almeida

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  2. Ora viva Ana,
    É, talvez, pelas observações que faz que eu chamei Golpe de Estado e não de Revolução dos cravos como, geralmente, é apelidada.
    Aquilo foi uma rebelião dos Militares de Carreira que se viam ultrapassados pelos Milicianos. Foi uma questão corporativa que, muito bem aproveitada, pelo Comunismo e Capitalismo Imperiais, deram nesta miséria. Prejudicaram o Povo Português e, principalmente, os povos dos Palops, que vivem na maior miséria, contrastando com o luxo mais desbragado.
    Abraço
    Caldeira

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  3. Zé, sou leiga na história do seu país (que um dia vou conhecer e não vai demorar), mas, o que sei é que em todo lugar há este descaso, aqui no Brasil crimes acontecem e prescrevem
    Ninguém faz caso (com suas exceções).
    Na verdade, como se diz, o preço da liberdade ainda é a vigilância.
    Bjs.

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  4. Silviah,
    Este dia 4 de Dezembro de 1980 roubou a esperança a milhões de portugueses porque um acaso fortuito roubou a vida a seis pessoas e, passados 30 anos não se sabe se foi crime ou acidente. Passou a ser um não caso, mesmo quando tirou a vida ao Primeiro Ministro e ao Ministro da Defesa de Portugal, na altura. É triste.
    Beijinhos
    Caldeira

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  5. Não me recordo bem, era adolescente, tinha a atenção virada para os estudos, tinha chegado há pouco tempo de Moçambique, vivia obcecada pelo regresso, que nunca aconteceu, da conjuntura politica da altura. Tenho, no entanto, a certeza que ele não era amado por aqueles que vivem dos e para os interesses pessoas, que era um Homem decidido e sem medo e por isso mataram-no. Tudo que não é explicado em Portugal é porque foi crime. Certo? Alguém com muito poder para ter conseguido abafado tudo. Beijinhos

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