sábado, 8 de novembro de 2025

TRALHA!

 

TRALHA!

Passamos a vida a guardar coisas. São papéis, são objectos com maior ou residual valor material, são peças de vestuário, de decoração ou, simplesmente, coisas banais repletas de inutilidade e, de um momento para o outro, vemos que temos a casa, o quarto, a sala, ou qualquer outra dependência, atulhada de tralha. Tralha que é preciso descartar porque deixa de haver espaço para coisas novas, mais ou menos necessárias, mas que a renovação e o mundo consumista exige.

E, de repente, questionámo-nos: para quê tanta coisa?

Quando somos velhos levamos a pergunta mais longe: Porquê e para quem vai servir esta tralha quando eu morrer?

Uns dirão que serão para os filhos. Outros para os netos. Porém, poucos ou nenhuns se questionarão sobre a mesma questão quando, por vicissitudes da vida, não houver descendentes directos, ou mesmo indirectos, que venham a usufruir de tanta acumulação de coisas materiais.

Temos, para nós, que há muito boa gente que passa a vida inteira a privar-se do que a faria feliz para aferrolhar, para acumular para o futuro. Não, que tal atitude seja por nós criticável, mas a efemeridade das coisas materiais, na perecibilidade do mundano nos parecia mais adequado, mais ajustado. Que tal apostar mais em si mesmo, nos seus, no quotidiano, na comunidade, nas pessoas em geral, de forma a aproveitar melhor os bens que podem trazer mais felicidade a todos?

Preocupamo-nos, demasiado, com a matéria perecível e negligenciamos o que é perene, o que nunca morre. Valorizamos a imanência e esquecemos a transcendência.

 Muitas vezes esquecemo-nos de que não levamos nada para a nova dimensão e que, mais importante de tudo não será deixar bens, mas será deixar memórias do que fomos, do bem que fizemos, das amizades que construímos e preservámos, das relações afectivas que estabelecemos e que serão lembranças prazerosas.  

Santo Agostinho, um homem sábio, culto, que teve a sorte, mas também a lucidez, de aprender com os próprios erros, é um bom exemplo para arrepiarmos caminho, com a certeza de que nunca é tarde para o fazer porque, como diz o Evangelho, haverá mais regozijo no Céu por um pecador arrependido do que por cem justos que não necessitam de arrependimento.

Não se pretende dar conselhos e muito menos lições a quem quer que seja, mas pensando na tralha que mais dia menos dia temos de nos desfazer, talvez fosse avisado encher o nosso coração de amor, de tolerância, de compaixão, particularmente para com aqueles que nos estão mais próximos e mais frágeis.

Porventura uma escuta mais atenta, uma palavra de apreço, consolo, no momento de dor, seriam jóias a coleccionar.

Como Santo Agostinho, eu pecador me confesso: preciso de mudar muito a minha forma de estar na vida para cumular tesouros no Céu. Libertar-me da muita tralha que tenho espalhada pelos diversos cantos da casa e, quiçá, no meu coração.

07/11/2025

Zé Rainho

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