quarta-feira, 28 de julho de 2010

Primeira Grande Guerra Mundial?

O título pode ser abusivo, porque guerras houve sempre, desde os primórdios. Talvez com as características que apresentou se possa dizer que foi a primeira guerra mundial. Começou faz hoje 96 anos, se não me engano. E que consequências teve para Portugal? Gravíssimas muitos milhares de mortos e muita humilhação.
A República terá, para sempre, na consciência, esta nódoa. Sabemos que era imberbe, inconsciente, desorganizada, que dentro dela se debatiam, constantemente, lutas intestinas entre maçónicos, carbonários e monárquicos. Sabemos que o povo nunca fora chamado e menos ainda, ouvido sobre a mudança de Regime Político. Conhecemos os dramas da fome, da miséria e da doença (a espanhola) que o mesmo povo sofria. A Elite política entretinha-se com retórica, mais ou menos erudita, mas sempre inócua e ineficaz. Mas tinha necessidade de afirmação externa e, consequentemente, há que mandar para França, um contingente de jovens inexperientes, subalimentados, mal armados e sem motivação, porque forçados.
Foram apelidados de "lanzudos" devido à indumentária. Eram alimentados por soldados Franceses e Ingleses com as sobras das rações que aos mesmos chegavam e que eram mínimas. Morreram de fome, de frio, de pneumonias e com balas no peito. Sim, porque apesar de tudo, foram sempre valentes e nunca viraram as costas.
Foi desta forma displicente que as Elites deste País tratou o seu povo. Tivemos uma Monarquia com uma Corte numerosa e parasitária. Uma Primeira República inconsciente, incapaz, desastrada e correligionária. Uma Segunda República com princípios de Ordem, Paz e Progresso que se foi deteriorando ao longo dos tempos transformando-se numa espécie de ditadura mole e inconsequente - peço desculpa às vítimas objectivas, porque para essas foi violenta - para a maioria do povo. E temos um Terceira República, de todos conhecida, porque é actual. Onde os episódios como o PREC, os extremistas bombistas, de direita e de esquerda, que fizeram vítimas inocentes, a reforma agrária que, rapidamente se transformou em reforma agarra, as nacionalizações pós 11 de Março e as inevitáveis privatizações, com os custos inerentes para o Erário Público, as clientelas partidárias subsequentes propícias à corrupção, compadrio e abuso de Poder e muito mais que, não é o local nem a ocasião para escalpelizar.
Resta questionar: tirámos alguma lição destes episódios mais ou menos negros e deprimentes?
Quanto a mim parece que não, mas porque sou um homem de Esperança, quero acreditar numa, a curto prazo, nova República ou mesmo Monarquia, não me repugna tal ideia, que aprenda com os erros do passado e possa criar as condições de um futuro melhor.

13 comentários:

  1. Aprende-se muito por aqui.Não sabia desse contingente de lanzudos.Sobre as grandes guerras, o meu pai contava histórias de arrepiar... A única coisa que sei é que a idade vai avançando, o tempo mudando e a humanidade sempre gemendo.Já não tenho esperanças. Acredito em alguns homens de boa vontade, acredito na bondade da natureza, que está sempre a mostrar-nos o caminho justo que não queremos seguir.Envelhecemos com a mágoa das guerras triviais e mundiais e vamos criando amizades, virtuais ou não, que nos ajudam a suportar este "vale de lágrimas".

    Gostaria que as palavras da poetisa se concretizassem:A FORMA JUSTA

    Sei que seria possível construir o mundo justo
    As cidades poderiam ser claras e lavadas
    Pelo canto dos espaços e das fontes
    O céu o mar e a terra estão prontos
    A saciar a nossa fome do terrestre
    A terra onde estamos - se ninguém atraiçoasse - proporia
    Cada dia a cada um a liberdade e o reino
    - Na concha na flor no homem e no fruto
    Se nada adoecer a própria forma é justa
    E no todo se integra como palavra em verso
    Sei que seria possível construir a forma justa
    De uma cidade humana que fosse
    Fiel à perfeição do universo

    Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
    E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo.”

    Sophia de Mello Breyner

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  2. Não aprendemos , não, Zé.
    Fazemos sempre, continuamente as mesmas asneiras, muda só o cenário...

    O meu avô paterno foi combatente a 1ª GM, esteve em França e depois foi para África. Era enfermeiro e contava-me , era eu muito pequenina, coisas horrorosas sobre os gaseamentos por ex., as mutilações a frio e tudo o mais.e eu tinha depois pesadelos horrorosos por causa da "dor fantasma" e imaginava os braços e as pernas dos soldados atrás de mim e eles a gritarem com elas para regressarem ao corpo deles. :(
    ...
    abraço

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  3. Claro que não aprendemos. A esperança não morre, é ela que nos mantem vivos mas, lá no fundo, não acreditamos que haja uma mudança benefica para este país. Uma peça de fruta quando começa a apodrecer já não tem hipoteses de se salvar e este país está quase todo contaminado, sem salvação. Uma monarquia, talvez, a espanhola gasta muito menos que a nossa republica. Abraço

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  4. Ibel!
    A poetisa Sophia tem razão. E a esperança, como bem diz o povo "é a última a morrer". A guerra é a aberração da natureza humana. O homem foi criado livre de pensamento e acção, com os limites impostos pela regra de que o outro também nasceu livre e independente. Se ainda não leu remeto-a para a minha página "viver a vida" que procura ser uma metáfora da vida Social Humana.
    Obrigo por me trazer a sua opinião e me deixar a Sophia, no seu esplendor de poetisa.
    Bjs
    Caldeira

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  5. Em@!
    Tenho pena de lhe vir lembrar horrores de infância mas só se todos, nos lembrarmos dos pesadelos conseguiremos evitar novos sofrimentos.
    A esperança é a última a morrer. Vamos acreditar.
    Abraço
    Caldeira

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  6. Brown Eyes!
    Vamos ter que acreditar. E que tal uma Monarquia para reduzir o déficit, como a Espanhola, por exemplo?
    O mundo dá muitas voltas. Quem conhece, verdadeiramente, o dia de amanhã? Quem sabe o que pode acontecer?
    Quem diria, aqui há 20 anos atrás, que iríamos ter o Zé Sapatilhas como PM deste País e, no entanto, já carregamos com ele há cerca de seis anos.
    Abraço amigo
    Caldeira

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  7. Começaste nos fins da monarquia e na I República, mas poderias ter recuado mais. Mais, muito mais, até aos primórdios. Não foi sempre esse o destino dos humildes?
    "É o destino", dizem eles, habituados que estão à canga. Um destino desenhado por outros, um destino consentido ao longo dos tempos. E sempre o acenar da eterna esperança, do sebastianismo, do V Império...
    Que é lá isso? Que conformismo é esse? Não será, dessa forma mais rebuscada, a continuação do fado?
    Depois, outra constatação: não somos únicos na intempérie. O problema agora é global, não é nosso exclusivo. O exército dos despojados está a aumentar a olhos vistos à escala planetária. Os nossos problemas são os problemas dos outros, um grão de arroz que falta ali vai repercutir-se acolá. Ainda temos resquícios de colonizadores, em que o mal só nos atinge quando os outros estão de rastos, mas esse tempo já era. O mal é global, Caldeira, e o que se sente é apenas o início. Infelizmente. Porque se desenha, no horizonte, o contorno da besta que tudo decepa... E nós por aqui,preocupados apenas com o nosso cantinho. Oxalá fosse apenas isso. Era bom sinal para a maioria do mundo.
    Uau, isto está a cheirar-me a desabafo. O bom senso aconselha-me a que fique por aqui.

    Um forte abraço

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  8. Ai havemos de aprender: ou a bem ou a mal.
    Belo texto.
    Obrigado.
    Abraço

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  9. Agostinho!
    Tens toda a razão, poderia ter começado muito atrás, mas como era a efeméride da 1ª Grande Guerra, ative-me apenas a ela. Como tens razão quando dizes "que se desenha, no horizonte a besta que tudo decepa".
    Também tens razão em tudo o resto e concluis que te cheira a desabafo. Isto é o que eu faço sempre que escrevo, é sempre um pouco de desabafo.
    Obrigado por passares por aqui. Enriqueces este espaço.
    Abraço amigo.
    Caldeira

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  10. Caro amigo Serrano!
    Obrigado por passar por aqui.
    às vezes apetece-me desabafar sobre desilusões que com que somos confrontados hoje e, também, ao longo da vida.
    Ainda bem que gostou.
    Abraço amigo.
    Caldeira

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  11. Caro amigo Serrano!
    O comentário ficou um bocado atabalhoado. Acordei agora. Pode ser a desculpa. Queria começar com A (maiúsculo e eliminar o primeiro que, a seguir a desilusões). Da forma que está não tem nexo. Perdoe-me.
    Abraço
    Caldeira

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  12. Fico extasiada com os exemplos para os quais nos remete sempre de forma tão clara e sábia.
    Não me lembro de coisas que nomeia, porque andei cá e lá entre França e Portugal, mas do que ouvi, li e estudei parece-me que quando se chega ao ponto de uma guerra é porque ou já não há solução ou porque há outros interesses camuflados. Neste momento, pressinto uma guerra há muito silenciosa com imensos interesses camuflados por quem nem procura solução.
    Também este é apenas um desabafo, que não acrescenta nada ao seu belíssimo texto!
    Mais uma vez fico muito feliz por enriquecer lendo-o e reflectindo-o num prosa bem temperada.

    Bjs

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  13. JB!
    Obrigado pelas palavras elogiosas, mas imerecidas. São como disse e eu corroboro, desabafos que pretendem que, quem lê, procure reflectir no que estamos a preparar para os nossos descendentes. E acredite. Não é nada animador.
    Este País está conspurcado de cima a baixo. E parafraseando um conterrâneo meu, conselheiro do Rei D. Luis "a revolução há-de fazer-se. Quer seja de cima para baixo, na Ordem, na Paz e no Progresso ou de baixo para cima na anarquia, na desordem e no retrocesso".
    Esta é uma certeza de que comungo. E acho que o tempo se está a esgotar. O estado da Justiça é um prenúncio muitíssimo preocupante.
    Bjs
    Caldeira

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