domingo, 25 de julho de 2010

Verdade(s)

Há uma tendência natural, de cada ser Humano, de assumir para si a sua verdade. Numa qualquer sociedade, principalmente naquela em que vivemos, a Nossa verdade é sempre mais verdadeira do que a verdade do Outro. Por isso tanto desentendimento, tanto ressentimento, tanta inveja, tanta maldicência.
Em Sociedades abertas e mesmo que democraticamente pobres e limitadas, como aquela em que vivemos, assistimos constantemente, a pretensas verdades que não são mais do que mentiras.
Atentemos nalgumas situações que percorrem o nosso dia a dia:
Temos um Ministro das Finanças que, com todo o desplante do mundo, veio a apresentar, publicamente a sua verdade sobre a derrapagem das Contas do Orçamento Geral do Estado, no primeiro semestre deste ano, que se aproximam dos 500 milhões de Euros. Diz mais: "já esperávamos isso porque restituímos o IRS mais cedo".
Será que o Sr. Ministro julga que todos os portugueses são atrasados mentais? Será que a verdade dele é mais verdadeira do que a verdade da maioria dos portugueses?
Vejamos: O Déficite Público foi sendo apresentado como resultado do elevado valor do salário dos funcionários públicos e, como forma de obviar este handicap, congelam-se os salários. Por cada 3 funcionários que se aposentem, apenas entra um. Agora parece que o rácio passou de cinco para um. Então se os salários não aumentaram, se o número de funcionários diminuiu, como é que aumentaram as despesas? Esta é uma pergunta legítima e pertinente. Até porque o álibi esfarrapado do reembolso do IRS não cola porque, se houve direito a reembolsos é porque houve retenções a mais e, eventualmente, indevidas.
A resposta pode ter várias nuances mas uma coisa é incontornável: - a verdade do Ministro é diferente e oposta à nossa verdade. Sendo assim importa reflectir: é possível acreditarmos na governação? É verosímil que aceitemos com benignidade os sacrifícios que nos estão, todos os dias, a ser pedidos?
Que não há almoços grátis já todos nós percebemos. O que ainda não entendemos é porque se pedem aos pobres esforços, sacrifícios, sentido patriótico e aos políticos, governantes incluídos, não se lhe vê qualquer tipo de austeridade. E não nos venham com a ideia bizarra de reduzir os seus vencimentos em 5% porque essa é uma manobra dilatória, populista e, apenas, tem o objectivo de atirar terra para os olhos dos eleitores.
Sim, não se admirem do que estou a dizer. Esta semana apareceu uma comitiva, alargada, com o PM à cabeça para inaugurar uma mini-hídrica energética, aqui numa aldeia vizinha. Obra que já deveria estar pronta e está há meses. Interessou inaugurar com pompa e circunstância. Com almoços, televisões, fotógrafos, imprensa tudo subjugado a um"Show" previamente planeado para que os telejornais abrissem com esta notícia. A energia produzida não dá para mais do que duas mil famílias.
Não sei se já viram este filme. Um fontanário público numa aldeia perdida entre os montes, tinha honras de inauguração com placa dourada comemorativa, com alusão do membro do Governo que ali se deslocara. Quanto custa esta viagem? Helicóptero até ao heliporto mais próximo. Automóveis de alta gama para trazer e levar suas excelências até ao local da descarga da água que produz energia. Almoço para os convivas. Ajudas de custo para motoristas e funcionários de topo. Será que isto não custa dinheiro? E se estamos em contenção e as IPSS, Associações humanitárias, e as diferentes Igrejas e Religiões são chamadas a responder às necessidades alimentares de muitos milhares de pobres, não poderiam os governantes ter um pingo de dignidade e de vergonha na cara para se coibirem deste novo-riquismo provinciano e bacoco mais primário?
A minha verdade é oposta à verdade governamental logo, pretensamente, a minha é verdadeira e a deles é mentirosa. Cada leitor tire as suas ilações.

3 comentários:

  1. Que não se canse de clamar "o rei vai nu" é o meu voto de hoje.
    Agradeço esta reflexão e dela comungo.

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  2. Boa tarde, Zé!
    Espero que esteja melhor!

    Pela apresentação deste seu texto que evidencia a sua vivacidade e lucidez, parece-me que temos de volta o extraordinário escritor, e isto é verdade :)!
    Só desta forma clara, magnífica e corajosa é possível desnudar as "inverdades" que infelizmente povoam o nosso país.
    Gosto de ler os seus textos, porque não lhe passa pela cabeça o quanto aprendo e o quanto mexem comigo. E quando chego ao ponto final, fico à espera da 2ª e da 3ª partes acreditando convictamente nas suas palavras e querendo ver as mudanças nas mentalidades, nas atitudes...
    Gostava que mais pessoas o lessem e no mundo da blogosfera não parece difícil isso acontecer.

    Bjs

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  3. Obrigado JB.
    Parece que o problema informático está resolvido.
    Fico muito sensibilizado com a sua apreciação às minhas mensagens.
    Bjs
    Caldeira

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