quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Manhã de Inverno.

Todas as Estações do ano têm a sua beleza, intrínseca. Ainda que, no calendário, estejamos no Outono, no Portugalprofundo é pleno Inverno. Uma geada, daquelas, que até arrepia. Um friozinho que penetra os ossos. Mas o dia está esplendoroso. Sol radiante. Céu azul, sem uma nuvem, a toldar a paisagem.

As pessoas, em geral, ainda que poucas, porque estamos a falar de uma terra de velhos - com carinho, respeito e muito afecto - andam numa roda viva, a colher a azeitona que virá a dar um dos azeites melhores do País e, quiçá, do Mundo. Tudo Extra-Virgem, de uma qualidade insuperável. É um trabalho difícil, como difícil é todo o trabalho do campo. Mas, paradoxo, é, ao mesmo tempo, muito alegre. Os mais velhos relembram, cantando com vozes sumidas e, em geral, desafinadas, as melodias de outros tempos e, que trazem à memória a sua juventude, de força e de despique, para ver quem, ao fim do dia tinha mais "sacas" - assim se fala cá na terra - cheias do precioso fruto.

Os de meia-idade - qualquer que seja a designação que se lhe queira dar - ficam surpresos com as proezas e os sacrifícios que seus maiores passaram, quando tinham a idade que eles agora têm. Alguns, mais descrentes, até julgam que se trata de prosápia. Como estão enganados. É a verdade nua e crua. Porque no tempo dos mais velhos não havia maquinaria, de género nenhum e, muito menos, para a agricultura que, fora sempre, cá por estes lados, de pura sobrevivência, e o parente pobre, deste País paupérrimo.

Isto tudo para dizer que, apesar da manhã ser de Inverno, no silêncio dos campos, entrecortado pelas gargalhadas de alguns e pelo canto de outros, se vive num paraíso de ar puro, saudável e, muito, muito aprazível. Com os contras semelhantes aos demais modos de vida das pessoas que vivem nos Centros Urbanos, mas com as compensações de poder ouvir o chilrear dos passarinhos e admirar os autênticos cachos de azeitona que, devido à quantidade, faz mergulhar os ramos das oliveiras mais carregadas. 

Apesar, dos pesares, viva o autêntico mundo Rural.

9 comentários:

  1. Zé,
    Encantaste-me com o teu texto. Apesar da interioridade dos nossos sítios, há coisas por aqui que não têm preço. Mas olha, oxalá o Ministro das Finanças não te leia. É que ele é homem para lançar um imposto sobre a mais valia de se ouvir passarinhos. :)

    Um abraço

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  2. Agostinho,
    Era só que faltava vir um Santos qualquer, tirar-nos o pouco que ainda temos.
    Se temos muitas razões de queixa relativas ao Terreiro do Paço, não nos podemos queixar da Natureza com que fomos bafejados.
    Um abraço
    Caldeira

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  3. Zé,
    Se o seu texto é "Manhã de Inverno" garanto-lhe que senti por aqui um calorzinho vindo da descrição que fez dessa ainda viva tradição. Ainda hoje vi fazerem o mesmo!
    Acho que hoje foram as azeitoninhas que ficaram deliciadas com o seu texto!:) Eu fiquei!
    E que viva o mundo Rural e que continue a ser assim pintado!

    E agora vou espreitar a sua poesia...

    Beijinhoss

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  4. Zé que bom viver e poder usufruir da calma e da beleza do campo. Trabalha-se muito, passa-se muito frio, muito calor mas, só o som da cotovia ou da perdiz nos aquece a alma. Beijinhos

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  5. Muito poético, Zé! Quase que sinto saudades de viver essas experiências que só vivi esporadicamente. Hoje gostaria de viver no campo... só para ter a certeza que isto não é pura fantasia minha! : )

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  6. JB,
    Felizmente para nós,que cá vivemos, mesmo as nossas cidades do interior, têm o se quê de Rural. E isso é uma mais-valia que ninguém nos pode tirar.
    A vida do campo é dura, pouco rendosa, mas muito sadia. Não que eu perceba muito disso porque não pratico. Mas vou-me apercebendo, em episódios esporádicos, que é uma festa apesar da canseira.
    Beijinhos
    Caldeira

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  7. Brown Eyes,
    É verdade só o canto da cotovia e da perdiz nos aquece a alma.
    É uma vida muito dura e não respeitada pelos nossos concidadãos. Muitos "intelectualoides" acham até desprestigiante. Esquecem-se, porém, duma coisa basilar: é do campo que vem a comidinha que aparece nas suas mesas. Quando todos nos fartarmos de ser penalizados e acabar a importação, então lá se lembrarão da utilidade do campo. Basta vir uma guerrazinha.
    Beijinhos
    Caldeira

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  8. Catarina,
    Que te descreve estas situações é um velho (67 anos) que foi toda a sua vida um citadino. Vivi sempre em grandes cidades excepto na minha meninice e agora depois de aposentado.
    Tenho as duas experiências e cada uma tem o seu encanto. Mas, entendo que grandes áreas metropolitanas são cada vez mais, um problema e o campo é um refúgio agradável.
    Beijinhos
    Caldeira

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  9. Catarina,
    Onde digo Que, queria dizer Quem.

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