sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pontos de Vista...

Todas as situações contém, em si, várias interpretações. As diferentes verdades. Sim, porque não há uma única verdade. Não há, mas devia haver, permitam-me a ousadia. Os antónimos são isso mesmo: verdade/mentira; bonito/feio; bom/mau; magro/gordo, honesto/desonesto, etc.,etc.
Quem for isento, de espírito livre e bem formado, sob o ponto de vista ético e moral, só pode ver estes conceitos da forma que se aproxime do modelo social, padrão. O mesmo é dizer, pela visão maioritária. Por muito controversa que seja esta afirmação é, para mim, um dado adquirido que, em Democracia, a maioria vence, mesmo que não lhe assista razão. Isto é uma questão de princípio. A não ser assim, sobreleva a anarquia e o caos. E por muito que se queira fazer parte dos contestários deste princípio, qualquer cidadão consciente, sabe que não pode ir por aí. Ainda que se respeite a opinião individual, esta não se pode sobrepor à colectiva. É uma linha de pensamento como outra qualquer e vale o que vale.
Vem isto a propósito do corte dos salários na função pública - sabem do que falo, não preciso esmiuçar - e a atitude de um tal senhor César que se julga dono de uma parte do País, da Nação.
Para mim esta atitude é inaceitável e nenhum argumento, por mais erudito ou ardiloso que se apresente, cai pela base. E porquê? Simples.
Sou, por princípio e formação, contra qualquer discriminação. Não aceito, por consequência, o corte dos salários da função pública, sejam eles de 1501€ ou de 5000€, mensais. Não que deixe de achar escandalosos alguns valores de salários e outras mordomias. Não que não ache criminoso o leque escandaloso de salários existentes e a "decalage" entre os que menos ganham e os que mais recebem. Não que aceite que haja aumentos percentuais. Nunca considerei essa política uma forma justa de actualização salarial. É óbvio que um trabalhador que ganha cem, se for aumentado 10%, recebe dez. Pelo contrário se outro trabalhador ganhar mil e for aumentado os mesmos 10%, recebe cem. Esta será, porventura, a forma mais injusta de atribuição de salários. As consequências, imediatas, são o fosso salarial exponencial, em poucos anos. Mas... há sempre um mas. Qualquer trabalhador estabelece com a sua entidade patronal um contrato que é assumido por ambas as partes, quer sejam justas ou injustas. É a Lei. E,"dura lex sed lex".
Partindo deste raciocínio não consigo compreender onde é que o tal sr. César foi buscar o dinheiro, para pagar suplementos aos trabalhadores, que sejam abrangidos pelos cortes, por determinação de uma Lei da República. Será que o dinheiro nasceu? Caiu do Céu? Geriu bem? Mesmo a última hipótese, não colhe, porque todos nós lhe pagamos para gerir bem os dinheiros públicos. 
Quando a República se farta de enviar milhões para as regiões Autónomas, algumas perguntas se impõem:
Porque não se faz o mesmo para Trás-os-Montes, Minho, Beiras, Alentejo, Estremadura, Algarve. Não farão parte do País, estas regiões?
E como é possível que indivíduos, ditos de esquerda, venham aplaudir a medida de um ditador, que nem aos Órgãos máximos da República obedece?
São estas visões e apreciações distorcidas, de acordo com as conveniências eleitorais, que me repugnam. 
Sejamos claros e verdadeiros, no sentido mais rigoroso do termo. As regiões autónomas fazem parte do País e, se acham que não, então conceda-se-lhes a independência, sem hesitações ou vacilações.
Não me venham com demagogia. O senhor César disse que "mais valia dar um suplemento aos funcionários do que ampliar um campo de futebol". Concordo. Mas também deve dizer isso ao PM de Portugal para, em vez de encomendar estudos de milhões em consultorias, por ajuste directo, construir estradas, que um quilómetro custa, qualquer coisa, como 9,2 milhões de Euros, por ajuste directo, continue a apostar num TGV que não é nem deixa de ser, mas que custa milhões, poupar esse dinheiro e não cortar os salários da função pública.
É que o dinheiro, seja ele qual for, vem sempre do mesmo sítio: o bolso dos contribuintes.
Goste-se ou não da minha opinião, sobre este assunto só posso dizer: o sr. César é um populista, demagogo, comprador de votos, um político sem ética, sem valores e sem princípios. Mete-me nojo a sua atitude. Causa-me náuseas a sua falácia e a dos seus apaniguados como o Louçã, o Alegre, o Lopes e outros menores, que querem fazer de nós uma cambada de patetas.
Oxalá o Tribunal Constitucional reprove tal procedimento e, se não reprovar, ficará, para sempre, refém do poder político e deixará de ser um Tribunal, passará a ser um grupelho sem credibilidade.

11 comentários:

  1. Zé,
    Às vezes questiono-me se este arremedo de democracia em que vivemos, bem representativa dos povos do sul da Europa, não contempla já margem de manobra para estes desabafos, como se, depois do grito, tudo voltasse à normalidade do sol e da esplanada; às vezes questiono-me se a verdadeira afirmação do exercício de cidadania não será o voto em branco; às vezes questiono-me sobre o que verdadeiramente temos feito para que a dignidade seja nossa companheira na vida; às vezes...

    Um abraço

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  2. Agostinho,
    Dizes bem: "arremedo de democracia". Também dizes bem que "depois do grito, tudo volta à normalidade do sol e da esplanada". Também tens razão de te questionares sobre a dificuldade de, cada um de nós, exercer o seu direito e dever de cidadania. Não me parece que a resposta à questão, seja o voto em branco. Passo a explicar: o voto em branco é um voto de demissão das responsabilidades e, isso, não se compagina com o dever de cidadania.
    Já se me apresenta como melhor solução votar nulo com uma cruz a todo o tamanho do boletim.
    Sabes, é que a nossa classe política é de compreensão lenta, e não entenderia a mensagem do voto em branco. As estatísticas não lhes mostariam o grau de descontentamento que, na circunstância, seria um voto de revolta, contra todos.
    Nestas coisas não há soluções perfeitas mas, quanto a mim, lutar contra as injustiças, no dia a dia é uma contribuição para melhorar a dignidade política. Assinar petições. Denunciar abusos. Participar em Assembleias Municipais e de Freguesia. Intervir, intervir, intervir. Essa é a nossa responsabilidade. Se o tivéssemos feito desde o 25 de Abril, talvez esta bandalheira não chegasse tão longe.
    Grande abraço
    Caldeira

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  4. Amigo Zé

    Subscrevo o texto assim como a sua resposta ao comentário do AC. Quanto ao voto em branco, há quem defenda que tendo em conta a falta de honestidade dos políticos, caso a percentagem dos votos em branco fosse relevante, haveria sempre alguém disposto a transformá-los em outra coisa qualquer. Quanto à intervenção, é uma cultura que temos que adquirir, e devemos começar pelas crianças e adolescentes, aproveitar o seu potencial reivindicativo (em relação aos pais) e canalizá-lo para o exercício da cidadania, está nas mãos dos adultos (conscientes) de hoje preparar os adultos de amanhã.
    (Eu tenho uma filha adolescente e esta é das coisas que me dá mais prazer na sua educação).

    Beijinhos
    Ana Almeida

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  5. Zé,

    Mais um texto brilhante, escrito com um extraordinário conhecimento, lúcido e bem explícito.
    A ideia do TGV, entre outras, é um autêntico disparate, atendendo à situação que o nosso país atravessa... mas como diz e bem "a nossa classe política é de compreensão lenta" e a velocidade não lhes cabe na cabeça... pelos vistos só nos bolsos!
    A ideia de "lutar contra as injustiças" é o ponto de partida e isso só se consegue com atitude e determinação, há que perder o "medo" de actuar...

    Beijinhos

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  6. Zé,
    A questão do voto em branco não surge de ânimo leve, mas sim após profunda reflexão. Aliás, a questão não é nova, já houve quem a alvitrasse. Para além disso, a sua utilização não significa demissão do exercício do direito de cidadania, muito pelo contrário. Significa, sim, que já não há paciência para mais margem de manobra dos políticos. E tu sabes perfeitamente que eles a conseguem sempre, e sentem-se nela como peixe na água.
    Fica a ideia no ar, tendo eu a convicção de que, mais tarde ou mais cedo, ela ganhará acuidade.

    Abraço

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  7. Fenix,
    Gostei da sua mensagem de vida: educar uma filha adolescente para exercer o seu direito e dever de cidadania.
    É como eu costumo dizer: intervir com todas as forças ao nosso alcance é preciso. Mais, é imperioso.
    Portanto, todos os meios são legítimos desde que tenham como princípio a Ética e os Valores morais e Sociais.
    Beijinhos
    Caldeira

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  8. JB,
    Há que perder o medo de actuar. É este o ponto central. Deixarmos de ser egoistas e de pensarmos só em nós. Temos o dever de chamar "os bois pelos nomes, sem medo". A Consttuição permite-nos a liberdade de expressão. Devemos utilizá-la em todas as suas vertentes. Hoje até se pode fazer denúncia no anonimato ao DCIAP-PGR sobre as falcatruas que se vão conhecendo por aí.
    Beijinhos
    Caldeira

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  9. Agostinho,
    Não imaginas como eu adoraria que a ideia que sugeres fizesse o seu caminho e aparecesse urgentemente. Seja lá o que for é preciso fazermos alguma coisa. Isto assim não pode continuar, sob pena de ou irmos parar ao manicómio ou nos tornarmos em justiceiros, o pior que nos poderá acontecer.
    Abraço
    Caldeira

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  10. Este episódio doa Açores é mais uma acha para uma fogueira que alastra sem luz.Penso que o Presidente da República deveria actuar, perante estas situações discrepantes que dividem o país em duas fatias:os que vão ver os seus vencimentos emagracer e os que ficam com a carteira incólume. É de bradar aos céus este país de faz de conta e da roleta russa.
    Quanto ao voto em branco, talvez os políticos apanhassem um valente susto.O que aconteceria?
    Pagava para ver.
    Abraço, Zé:

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  11. Ibel;
    Este País é como diz o Agostinho: "vive um arremdo de democracia". Vive sem rei nem roque. Está propício para os aventureiros. Para os abusadores.
    Quanto ao voto em branco sou franco, tenho as minhas dúvidas que funcione. Sabe que os fundamentalistas, os apaniguados partidários e os aparelhistas, irão sempre votar no seu Partido e, consequentemente, a estatística não funcionaria como aviso à navegação.
    Tem razão o Presidente da República quando diz que a Democracia não pode viver sem Partidos mas, os Partidos existem para servir a Democracia e não o contrário.
    Talvez um novo Movimento Para a Cidadania, sem outra ideologia que não fosse a PÁTRIA PORTUGUESA, salvasse a Nação.
    Beijinhos Ibel
    Caldeira

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