sábado, 5 de março de 2011

Entrudo!

A tradição já não é o que era. Hoje fala-se em Carnaval. Gastam-se milhões com o Carnaval. Fazem-se cortejos com carros alegóricos. Aparecem umas meninas meio vestidas, ou meio despidas, depende da perspectiva, a bambolear-se ao som de um qualquer samba. Aviso já, para que não me acusem de xenofobia, de que gosto muito de samba e do seu País de Origem (O Brasil). Porém vejo este tipo de Carnaval, não como uma inovação ou evolução, mas um retrocesso. Uma aculturação veiculada pelas Câmara Municipais e ampliada pelos Órgãos de Comunicação Social - a RTP vai cobrir o desfile da Figueira da Foz -, tudo pago com o nosso dinheirinho, sugado por políticos medíocres, sem visão estratégica de desenvolvimento sustentado e com uma táctica, que se baseia no enviar terra para os olhos, do pobre Povo.
Ora em Carnaval andamos nós há anos a mais. A fazer de conta. A viver anestesiados, por uma máquina trituradora, de intoxicação intelectual. A viver em roubalheiras e trafulhices. Em burlas e farsas à custa de todos os que pagam impostos.
Por isso tenho saudade de um entrudo familiar onde se reunia a família e os amigos. Se comiam as carnes de porco tiradas directamente da salgadeira. Se distribuíam alguns enchidos pelas pessoas que, por azar ou carência, não tiveram porco para matar no final do ano anterior. Se faziam uns bailaricos, onde apareciam uns rapazes vestidos de rapariga e vice-versa. Um ou outro embrulhado em mantas de trapos a quem chamavam "entrudo". E tudo acabava na quarta feira de cinzas, dia em que o homem era confrontado com a sua realidade metafísica - "és pó e ao pó hás-de voltar".
Não me venham com ideias feitas de que é bom para o Turismo, façam-me esse favor. Eu não acredito que as receitas sejam superiores às despesas. E se não há saldos positivos melhor seria que se estivesse quieto. Mais vale parado do que em queda livre.
A tradição já não é o que era, mas se esta não se sobrepõe às pseudo inovações, então que se acabe ela.
Deixem o Carnaval para o Brasil e para os Países Tropicais que o sabem fazer, bem feito, e deixem-nos com o nosso Entrudo que também não nos deixava ficar mal.

4 comentários:

  1. A minha experiência carnavalesca não inclui essas meninas. Íamos trajadas ou mascaradas ao bailarico, dançávamos até ao fim e frescas como alfaces (estou a exagerar!!!) no dia seguinte lá íamos para as aulas. E os rapazes a mesma coisa! Tempos de verdadeira folia.

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  2. Zé,
    Fala de um tempo que não conheci e também por isso é um gosto lê-lo.
    Um beijinho e bom fim de semana

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  3. Catarina,
    Era uma folia à portuguesa. Sadia. Salutar. É dessa que eu tenho saudades.
    Beijinho e bom Entrudo com bailarico e tudo.
    Caldeira

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  4. E.A.
    É muito nova para entender estas diferenças. Mas acredite que era mais português, mais saudável, menos importado, mais autêntico e menos dispendioso. Era, porventura, muito mais divertido porque, em vez de espectadores éramos todos actores e participantes activos.
    Bom entrudo e bom bailarico.
    Beijinhos
    Caldeira

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