quinta-feira, 14 de julho de 2011

A frustração da aprendizagem.

Acabei de ler os resultados dos exames do ensino básico, deste ano lectivo, e fiquei estarrecido. Em Matemática apenas 41,7% de notas positivas. Todos os resultados pioraram relativamente ao ano anterior.
Deveria estar vacinado contra estas notícias mas não me consigo habituar. Defeito meu, de certeza.
É claro que com políticas de desautorização dos professores, com sistemas de avaliação burocráticos e levados a efeito pelos pares. Com o alargamento de horário de permanência na Escola de alunos e professores onde nem uns nem outros produzem nada de útil, apenas cumprem determinações da 5 de Outubro, (leia-se Ministério da Educação), este resultado nem deveria espantar ninguém, muito menos um velho professor que, modéstia à parte, sabe destas coisas a potes, porque vividas e experienciadas.
Para quando uma revolução no ensino com a participação de todos os actores do sistema? Para quando a prometida autonomia da Escola, no papel, em 1986 (há 25 anos)? Para quando a responsabilização dos pais, dos professores, dos alunos, dos funcionários? Para quando a Escola como um corpo com cabeça, tronco e membros e não um conjunto de partes cuja soma das mesmas, jamais será um todo? Para quando acabar com a facilitismo e a aposta na estatística para Europa ver?
É evidente que nada disto nos deveria espantar, por razões diversas que, se calhar vale a pena enunciar algumas:
Tivemos nos últimos 15 anos governos de um partido cuja matriz assenta na contestação do Maio de 68 em França, cujo lema é "proibido proibir". Temos os alunos filhos dos pais do 25 de Abril de 74, cuja educação foi pautada pela arruaça, pelo desrespeito, pela liberdade sem responsabilidade. Temos professores das ESES cujo conhecimento científico deixa muito a desejar - com excepções, é claro  - e outros que sempre viram a profissão como, apenas, um emprego. Temos um percurso de experimentalismo bacoco, sem sustento e coerência. Temos Novas Oportunidades que são uma fraude onde se gastam milhões para certificar analfabetos funcionais. E não me venha o Roberto Carneiro dizer que não é bem assim por que se certificaram competências. Mas quais competências?
Se calhar a vida profissional sempre esteve e continua divorciada da vida escolar. Eu explico. Para se ser jardineiro não se elabora um concurso com questões relacionadas com plantas, seu desenvolvimento, podas, tratamentos e até geometria. Exige-se a escolaridade obrigatória. Para se concorrer a um lugar de serralheiro ou mesmo mecânico não se exige conhecimento do que é uma esquadria (aplicando o teorema de Pitágoras) mas que tenha um certificado da escolaridade obrigatória. Mas que é isto? E onde fica o saber fazer? O aprender a aprender? A metacognição?
Mas para que estou para aqui a gastar o meu latim? Um Povo que permite que um Primeiro Ministro tire uma licenciatura ao domingo, numa universidade manhosa, que os Tribunais estão a ver se conseguem punir as aldrabices e vigarices de que sempre viveu e, mesmo assim o endeusou durante seis anos, porque é um bom vendedor da banha da cobra, como é que pode esperar um ENSINO DE QUALIDADE E UMA APRENDIZAGEM A CONDIZER?
Ficamos por aqui, tristes, mas é melhor pararmos para não abrir mais a ferida.

9 comentários:

  1. Zé esse último poema que comentei, gostaria de saber se posso postar no blog da Folha Cultural Pataxó, se você autorizar postarei de hoje a sábado com os devidos créditos a você, vou ver se posto num dos meus blogs na segunda e indicar seu espaço para meus leitores.Aguardo sua resposta, lindo dia pra você, com muita paz.

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  2. Arnoldo,
    Faça o favor de postar o poema. É uma honra para mim.
    Esteja à vontade. Fico-lhe grato.
    Grande abraço
    Caldeira

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  3. Zé,
    só se está a colher o que foi semeado...
    beijo com :)))

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  4. Em@,
    É verdade. A gente às vezes esquece o que deixou para trás.
    Beijinho
    Caldeira

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  5. Postei seu poema no blog abaixo.

    http://fcpataxo.blogspot.com/2011/07/vida-campesina-jose-candeias.html

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  6. Arnoldo,
    Muito obrigado por ter postado o meu poema. Eu até tenho pruridos em chamar ao que escrevo em forma de poesia, de poemas. Continuo a pensar que não escrevo nada de jeito.
    Adorei a fotografia que o ilustra porque lhe dá maior dimensão à mensagem.
    Fico muito grato.
    Só uma pequena observação: não sou José Canddeias. O meu nome é José Rainho Caldeira
    Grande abraço
    Caldeira

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  7. Um feliz dia do amigo pra você Zé, que Deus o abençoe.

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  8. Zé,

    Gostei das suas reflexões.Estou a escrever uma carta ao Sr. ministro da Educação,sobre a pouca vergonha dos critérios de correção, que só favorecem os medíocres.Claro, que ele não tem culpa, mas necessita de ser alertado.
    Abraço

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  9. Ibel,
    Faz bem em enviar a carta ao Sr. Ministro. Eu tenho muita fé nele e no seu pragmatismo. Espero que ele consiga neutralizar o "polvo" que se movimenta no Ministério da Educação, Departamentos Centrais e Direcções Regionais.
    Bom Fim de semana e grande abraço.
    Caldeira

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