terça-feira, 5 de julho de 2011

Novos Paradigmas

Assistimos, com preocupação, à violência, à pré-bancarrota, à corrupção e a todo um conjunto de situações impróprias de um qualquer Estado Democrático. Mais assustador é ver-se todo este estado de coisas no berço da Democracia – a Grécia – pelas consequências que tal situação pode, por arrastamento e contágio, trazer para a Europa, no seu todo, e para a União Europeia da zona Euro, em particular.

Se associarmos estes acontecimentos aqueles que vemos na Líbia, na Síria, no mundo árabe, em geral, na China, na Índia e em muitos países da América Latina, onde a exploração do homem pelo homem é o pão- nosso-de-cada-dia, a reflexão só nos pode conduzir ao medo, à insegurança e até, mesmo, ao desespero.

Conduzindo o nosso pensamento crítico para o nosso País então a desesperança só pode ser total.

Sabemos que a fuga de capitais, neste último ano é, e continua a ser, um enormidade, mais de cinco mil milhões de Euros. Uma afronta ao povo trabalhador. A falta de sentido de Estado, de sentido Patriótico do Poder político e do Poder económico, são factos que levam o Povo ao desespero. A miséria e a fome atingem valores astronómicos. Mais de 10% da população vive num estado pobreza extrema. Isto não se passa em África ou num qualquer País subdesenvolvido. Passa-se em Portugal. Nação secular com História, com Conhecimento, com pergaminhos ao nível da Ciência, das Letras, da Inovação. Com orgulho de ter dado novos mundos ao Mundo.

Vale, neste momento cruel para muitos portugueses, o sentido solidário daqueles que, em regra, até são os mais necessitados. Que tiram da sua própria pobreza, alguns cêntimos para ajudar outros que nada têm. Valem também as inúmeras IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), as diferentes Igrejas, em particular para a Católica que, por ser maioritária, muita ajuda presta aos mais pobres dos pobres.

Enquanto assistimos a todo este descalabro, à mudança de Governo, à necessidade de cumprir, milimetricamente, os compromissos com a “TROIKA” – União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu – a nossa Comunicação Social (o designado 4º Poder, que em muitos casos é o primeiro) anda distraída ou, pelo menos, anda a escamotear aquilo é, verdadeiramente, importante. Senão vejamos:

• Pela primeira vez na nossa História, de quase um milénio, foi eleita uma mulher para a Presidência da Assembleia da República – a segunda mais importante figura do Estado – e sobre isto as notícias são flaches televisivos ou notas de roda-pé, como se não fosse uma notícia importante para as nossas crianças, adolescentes e jovens, para servir como exemplo e modelo de Mulher, de cidadã e de alguma nobreza política;

• Toma posse o Governo, apresenta o respectivo programa e pouco ou nada se sabe de quais as implicações que isso vai ter na nossa vida, no presente e no futuro, próximo ou longínquo;

• Vemos um jovem português alcançar o patamar do mais caro, porque conceituado, treinador de futebol do Mundo e isso não é mostrado como exemplo de trabalho, preserverança, atitude, inteligência e capacidade, antes é apenas apontado como ganância;

• Faz-se um baptizado de uma criança – fizeram-se centenas no mesmo dia – só porque é filho de um craque do futebol, tem honras de directos televisivos, com multidões a acotovelarem-se para verem de perto o acontecimento. Os outros é como se não existissem.

• Houve um triste e lamentável acidente de viação que atirou para um hospital um jovem de 28 anos, que é um ídolo de uma certa adolescência e juventude mais ou menos alienada e, durante seis dias (6 dias), todos os Telejornais, de manhã, à tarde e à noite, abrem com esta notícia, mostrando a todo o País, uma quantidade de gente que não trabalha, nem estuda, às portas do Hospital, onde a vítima permaneceu internada e onde a família terá sofrido horrores, por consequência digna de toda a nossa solidariedade e compaixão e, os pseudo-jornalistas, quais abutres rodopiando à volta da presa moribunda, cirandam para dizerem, muitas vezes apenas, que não há nada a dizer. Nesses mesmos dias deram entrada nos Hospitais públicos, de acordo com as estatísticas, quinze (15) portugueses vítimas de acidentes igualmente graves e muitos deles faleceram, no imediato, sem uma palavra de alerta para os perigos da circulação rodoviária e respectiva segurança. Uns são filhos, porque mediáticos, outros enteados, porque anónimos.

Para se perceber a hermenêutica da Organização Social, na actualidade, torna-se necessário que a Família, em primeiro lugar, ajudada pela Escola, com instrução, com conhecimento, com lógica, com sentido cívico, sejam os pilares de uma Sociedade crítica esclarecida, onde o senso comum seja um bem a cultivar, onde o sentido da relativização dos acontecimentos seja um paradigma de (con)vivência social.

A Democracia é responsabilidade. A informação é um direito mas não pode ser alienação. A dimensão dos acontecimentos, das manifestações de rua, devem ter a cobertura da comunicação social contida, proporcional e educativa, para que a Sociedade assente em Valores Éticos e Morais que nos apresentem, sejam modelos a seguir, sejam referência que combata o sentimento da vida fácil, do dinheiro fácil, do endeusamento do chico esperto que, em última instância, conduz, a maior parte das vezes ao crime, mais ou menos organizado. Ao ter, não importa de que forma se obtenha. Ao estar na moda nem que isso conduza, a prazo, à degradação social e humana de que são vitimas muitas das sociedades democráticas do Mundo.

É premente mudar de Paradigmas Sociais.

Junho de 2011

José Rainho Caldeira

2 comentários:

  1. Amigo Zé

    "É premente mudar de Paradigmas Sociais."

    Cabe aos defensores deste valores fazerem o seu trabalho e expandi-lo no sentido de uma sensibilização das consciências. Assim como se chegou até aqui (porque certamente muitos braços foram cruzados, também se chegará lá. Basta querermos!

    Abraço
    Ana

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  2. Concordo plenamente Ana.
    Todos temos obrigação de levantar a voz contra esta banalização de heróis com pés de barro. De figuras públicas forjadas e imagens construidas pelo marketing.
    Abraço
    Caldeira

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