sábado, 22 de janeiro de 2011

Reflexão

Hoje, constitucionalmente, é considerado um dia de reflexão para o dia das eleições. Estou a cumprir o preceito.
Mas vagueando pelas ruelas da minha aldeia, com calçadas manhosas, de paralelos de granito pouco apurados, geometricamente, escurecidos pelo tempo, dou por mim a olhar, inadvertidamente, para uma distância que vai para lá dos 20 metros e vejo uma coisa espantosa. Uma espécie de relvado, muito verde e miudinho, que se eleva acima das pedras.
Não era suposto que nascesse erva na calçada, penso eu. E como é dia de reflexão também dei por mim a cogitar: - Porque será que isto acontece? A calçada foi assente em terra? Olhei melhor e vi que não. Era areia a sua base. Logo, se a lógica não falha, não deveria haver erva. Aqui está um imbróglio. Então como aparece um relvado, não muito espesso, é um facto, mas um relvado. E continuo a reflectir. Se não era suposto nascer erva na calçada porque é que a rua mais parece um relvado do que uma verdadeira rua?
Depois de muito matutar cheguei lá. Eureka! Descobri. Nas ruas não passa gente. Nem a pé, nem de carro, nem animais. Está descoberto o segredo. Esta aldeia, que já teve 3.000 fogos, hoje não tem ninguém. Ninguém, não é bem verdade. Tem velhos que não podem sair de casa e jovens que passam a semana fora para estudar ou ganhar o seu sustento. 
Mas isso - dirão os sociólogos - é fruto da desertificação. Concordo, mas acrescento: - É fruto do abandono do mundo rural, que uma classe política imbecilizada, não viu ou não quis ver. Depois falam de crise, cortam nos salários dos funcionários públicos, e mantém o TGV do Poceirão ao Caia. E os campos que poderiam dar uma grande ajuda na redução das importações em produtos alimentares, enchem-se de silvas e ervas daninhas. Não se produz nada.
Talvez seja isto que eles querem e que nós merecemos! 

8 comentários:

  1. Embora o campo não me seja estranho, não entendo nada de agricultura, mas também eu tenho pensado como é importante que certas culturas se desenvolvam e mantenham para o bem futuro de todos. Se não se produz, importa-se e se se importar mais do que se exporta, não é necessário ser-se um génio para deduzir os resultados. Sem motivação e subsídios governamentais ninguém se vai aventurar com a agravante que depois também não há quem trabalhe os campos. Será que ainda veremos um país a andar para a frente nos nossos dias?

    ResponderEliminar
  2. Catarina,
    Tenho as minhas dúvidas que ainda vejamos o País andar para a frente. Isto é histórico. Desde a Monarquia que alimentava uma Corte numerosa e parasitária, passando pela República que delapidou o Património e fez o Povo passar fome e morte na 1ª Guerra Mundial, passando pelo Estado Novo onde, apesar dos pesares, se produziu alguma coisa, nomeadamente os cereais "época em que se dizia que beber vinho era dar pão a um milhão de portugueses e que o Alentejo era o celeiro de Portugal) e agora por esta república das bananas, em que o que é bom é importar, para dar nas vistas. Vender o que resta. Desde a antiga Sorefame, que mandou milhares de portugueses para o Desemprego e agora mandamos o material circulante a reparar a Espanha, até à venda de mais de 400 toneladas de ouro, e ao abandono total dos campos, tudo é um desastre neste País. Por isso estou céptico. Não pelo Povo que esse tem garra e é capaz. Mas pelos governantes e toda a classe política, que são uma corja.
    Beijos
    Caldeira

    ResponderEliminar

  3. Acho de muito bom gosto ser receptível, ter a alma aberta á aprender com a natureza, ela nos dá lições que humano nenhum nos daria.
    Percebes que o gramado nasceu na “areia”, areia não é solo fértil, fica a verdade de que pouco durará, por não poder se enraizar...
    Linda reflexão.

    ResponderEliminar
  4. Sem mais, Zé. Comecei a minha carreira em T-os-M, depois andei pela Beira Baixa, Alentejo e por opção vim parar + a Sul. Os meus avós paternos tinham uma quinta e eu , no fundo de mim,sempre aspirei viver no campo. só não vivo e optei por viver numa zona histórica porque , também por opção, não conduzo.já viste o inferno que se tornaria a minha vida com a falta de transportes que há?
    das coisas que mais me encantaram nas minhas viagens por Paris e Berlim foi ter descoberto os jardins verticais. cá também já há empresas queo fazem. paredes que viram autênticos jardins e pouco mais precisam que uma tela com alguns aditivos que as alimentam. ainda um dia hei-de ter um jardim desses. :D
    beijo
    _______
    Vota bem!
    eu vou votar por volta da hora do almoço como sempre .

    ResponderEliminar
  5. Silviah,
    Muito obrigado pela forma linda como entendeu a minha reflexão.
    Beijinhos
    Caldeira

    ResponderEliminar
  6. Em@,
    É uma longa volta pelo País profundo essa odisseia profissional.
    Também é uma óptima opção viver numa cidade histórica. Tem memórias que facilitam a vida de quem pensa em alguma coisa.
    Eu gosto muito de viver aqui maas sinto que a interioridade tem algumas carências que são difíceis de suportar.
    Na minha situação isso torna maior relevância porque me sinto "preso", já que tenho muitas dificuldades em sair para "arejar" por causa do apoio que necessito dar aos meus "velhotes".
    Preciso muito de me perder em Bibliotecas, Museus, bons espectáculos e outros motivos de divertimento. Não posso, por agora, e espero que por bastante tempo. O motivo justifica.
    Beijo
    Caldeira

    ResponderEliminar
  7. É isto que merecemos porque abandonamos o paraíso, a vida sã e pacifica para nos embrenharmos na cidade onde tudo é frio como o cimento. Parece que agora as coisas estão a modificarem-se, as pessoas estão a aperceberem-se que a vida está no campo, na aldeia. Beijinhos

    ResponderEliminar
  8. Brown Eyes,
    O campo pode ser uma boa aposta para ultrapassar a crise, mas a imbecilidade governativa só vê multidões de votos.
    Beijinhos
    Caldeira

    ResponderEliminar